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segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Madame (2017)

Madame (2017). Dir: Amanda Sthers. Amazon Prime. Comédia dramática que poderia ter rendido bem mais, "Madame" lembra um pouco "Que horas ela volta?", filme brasileiro em que Regina Casé interpretava uma empregada "da família" em uma casa de São Paulo. Aqui, uma família americana rica tem uma casa enorme em Paris. O casal principal é interpretado pelos grandes Harvey Keitel e Toni Collette, excelentes. A empregada é Rossy de Palma, espanhola vista em vários filmes de Almodóvar.

A americana organiza um jantar de gala em que até o prefeito de Londres estará presente, mas há um problema: o filho de Harvey Keitel, Steven (Tom Hughes) aparece de surpresa, o que faz com que a mesa tenha 13 convidados. Para fazer um número par, a patroa pede que a empregada coloque um vestido e se sente à mesa ("fale pouco, beba pouco"). Só que um convidado, um vendedor de arte inglês (Michael Smiley), acaba se apaixonando pela espanhola (que ele acredita ser da realeza da Espanha).

Está armada uma comédia de erros em que o rico inglês começa a sair com a empregada espanhola, acreditando que ela é uma rica excêntrica, enquanto que a patroa americana não se conforma que a empregada tenha uma vida amorosa melhor do que a dela. Toni Collette está muito bem como uma mulher rica mas mal amada, que acha que a empregada deve voltar "ao seu lugar". O tom cômico se torna mais dramático conforme o ciúme da patroa aumenta e ela começa a interferir no romance da empregada. Harvey Keitel está divertido e Rossy de Palma está muito bem. É um filme bem europeu, com produção francesa mas falado em inglês. O tema poderia ter rendido mais, mas não é um filme ruim. Disponível na Amazon Prime.
 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

O Grande Hotel Budapeste

"O Grande Hotel Budapeste" é como uma daquelas bonecas russas, ricamente decoradas, que se abrem revelando outras bonecas dentro delas. A cada nova camada se descobre outra obra de arte ainda mais elaborada do que a anterior. É também uma declaração de amor à etiqueta, às boas maneiras, ao profissionalismo e uma Europa que, provavelmente, nunca existiu na verdade, a não ser como um ideal na cabeça de personagens como M. Gustave (Ralph Fiennes, extraordinário), concierge do "Grande Hotel Budapeste". Dizer que foi escrito e dirigido por Wes Anderson ("Moonrise Kingdom") se torna redundante a partir do primeiro frame do filme, que tem todas as características do estilo do diretor.

Anderson cria uma espécie de conto de fadas adulto, um roteiro francamente literário que começa com o busto de um "Autor" (interpretado por Tom Wilkinson quando velho e Jude Law quando mais moço). Ainda usando a imagem da boneca russa, a trama é contada em várias camadas, começando pelo Autor em 1985, passando por Jude Law na década de 1960 e finalmente retrocedendo até a década de 1930, no período entre guerras. Cada época é filmada em uma proporção diferente (2.35: 1, 1.85:1 e 1.37:1), em boa e velha película cinematográfica com ótima direção de fotografia de Robert Yeoman (habitual colaborador de Wes Anderson).


A parte principal da trama se passa nos anos 1930, quando o "Grande Hotel Budapeste" estava no auge do luxo e clientela. M. Gustave (Fiennes) é responsável não só por manter o hotel funcionando impecavelmente como também atende às hóspedes mais velhas com uma atenção especial; "Eu durmo com todas as minhas amigas", diz ele em dado momento. Uma das suas conquistas é a Madame D. (uma irreconhecível Tilda Swinton), que morre de forma misteriosa e deixa um quadro de valor inestimável a Gustave. Isso causa a ira do filho da Madame D., Dimitri (Adrien Brody), que conspira para enviar M. Gustave para uma prisão de segurança máxima, de onde ele vai tentar escapar com a ajuda de seu protegido, um mensageiro do hotel chamado Zero (o ótimo estreante Tony Revolori). É praticamente impossível falar muito sobre a trama, que envolve regras de etiqueta, o crescimento de uma nação fascista na Europa, honra entre ladrões, um elaborado plano de fuga e uma série incrível de personagens secundários. O elenco impressiona, com papéis coadjuvantes interpretados por nomes como F. Murray Abraham, Mathieu Almaric, Jeff Goldblum, Willem Dafoe, Harvey Keitel, Edward Norton, Bill Murray, Bob Balaban, Saoirse Ronan, Léa Seydoux, Jason Swartzman, Owen Wilson e vários outros atores.

É um filme de Wes Anderson, o que significa qualidade técnica impecável, quase obsessiva. A direção de arte é brilhante, fazendo bom uso de locações reais (filmadas na Alemanha e Polônia), estúdio e cenas de efeitos especiais envolvendo miniaturas e animação. A trilha sonora de Alexandre Desplat vai mudando e se adaptando praticamente a cada plano, acompanhando a narração. Wes Anderson tem tanto admiradores quanto detratores, e com este filme não vai ser diferente. Para mim, "O Grande Hotel Budapeste" é seu melhor filme, impecavelmente bem feito, divertido e inventivo ao extremo.

Câmera Escura

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Moonrise Kingdom

Associar o adjetivo "estranho" ao diretor e roteirista americano Wes Anderson é uma redundância. "Genial" pode também ser usado, com mais parcimônia. O trabalho de Anderson sempre carrega uma preocupação com o ligeiramente bizarro, pela direção de arte precisa e por grandes atores em papéis normalmente não associados a eles (quem imaginaria George Clooney dublando uma raposa na animação "O Fantástico Sr. Raposo"?).

"Moonrise Kingdom" traz todas estas características em um filme que, na falta de uma melhor classificação, está sendo chamado de "infantil". Ele se passa em uma ilha habitada por poucas pessoas. O ano é 1965 e longos planos iniciais mostram crianças brincando antes da era da informática, escutando discos de música clássica, jogando pingue pongue, lendo ou acampando. É de um campo de escoteiros que foge o herói da trama, um órfão chamado Sam  (Jared Gilman) que parte em direção ao norte da ilha com uma canoa e grande quantidade de equipamento. Ele vai se encontrar com Suzy (Kara Hayward), uma menina igualmente precoce e inteligente que é filha dos advogados interpretados por Bill Murray e Frances MacDormand. Tanto Sam quanto Susy são infelizes, têm problemas em casa e querem escapar para um lugar melhor. Eles se apaixonaram à primeira vista durante uma apresentação de teatro infantil sobre a Arca de Noé, e haviam trocado cartas desde então, combinando a fuga. O roteiro (de Anderson e Roman Coppola, indicados ao Oscar) nunca os trata como crianças, pelo contrário, são os adultos que agem como tal. Bruce Willis é o Sr. Sharp, um policial solitário que tem um caso com a mãe de Susy. Edward Norton é o pobre líder do "Acampamento Ivanhoé" de escoteiros, de onde Sam foge; após se reunir com sua "tropa" e traçar os planos para tentar encontrar o garoto fujão, um garoto lhe pergunta se ele precisa de um "Phd" para fazer aquele trabalho. Há outros coadjuvantes famosos em pequenas pontas, como Harvey Keitel, Jason Schwartzman e Tilda Swinton (a "vilã" que quer enviar Sam para fazer um "tratamento" com choques elétricos).

Outro ponto notável é que não há nada de infantil no romance entre Sam e Susy. Os dois seguem uma antiga trilha indígena e vão parar em uma praia deserta onde montam acampamento e, em cenas que devem ter dado dor de cabeça aos censores americanos, começam a se aproximar de modo bastante físico (embora não vulgar). Anderson constrói planos extremamente precisos, auxiliado pela bela fotografia de Robert D. Yeoman e cenários de Adam Stockhausen. A duração enxuta (94 minutos) é bem-vinda, e "Moonrise Kingdom" nunca deixa de ser interessante.