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terça-feira, 15 de novembro de 2022

Medieval (2022)

Medieval (2022). Dir: Petr Jákl. Netflix. Filme tcheco falado em inglês e com atores hollywoodianos, "Medieval" é uma espécie de "Coração Valente" com toques de "Gladiador". A trama é um tanto confusa, aquele tipo de filme que, de tanto em tanto tempo, você se pega perguntando "Quem é esse cara mesmo?".

Europa, início do século 15; o grande Michael Caine, em uma narração, conta como a Igreja está com problemas. Dois papas foram oficialmente anunciados (um em Roma, outro na França) e o rei Wenceslau da Boêmia (antiga República Tcheca) tem que ir a Roma para ser coroado imperador. Ben Foster é um mercenário chamado Jan Žižka; ele é contratado para sequestrar a Lady Catarina (Sophie Lowe), que seria usada para forçar o apoio de um nobre ao novo rei. Complicado? Pois é.

Toda a parte política serve de pano de fundo para sangrentas batalhas corpo a corpo. A câmera adora pegar em detalhes cenas de membros decepados e cabeças cortadas. O roteiro tenta, em vão, criar algum "romance" entre o mercenário Jan e Lady Catarina. Ben Foster é um ótimo ator, mas seu personagem é monossilábico demais para ser o líder popular que o filme quer que ele seja. Há vários ecos de cenas de "Coração Valente" e batalhas de "Gladiador", mas sem o carisma de um Mel Gibson ou Russell Crowe. Michael Caine melhora o nível do filme em todas as cenas que participa e "Medieval" tem vários bons momentos, mas poderia ser bem melhor. Tá na Netflix.

domingo, 9 de novembro de 2014

Interestelar

Um ótimo filme de ficção científica de uma hora e meia, no máximo duas horas, existe dentro de "Interestelar", o novo e ambicioso épico de Christopher Nolan. O problema é que, como em quase todo filme de Nolan, ele é longo demais, explicativo demais e chega ao público com longas três horas de duração.

Não me entenda mal, há muito que se elogiar em "Interestelar". O elenco é muito bom, encabeçado por Matthew McConaughey, ator que viveu um "renascimento" ultimamente na carreira, coroado com o Oscar de melhor ator por "Clube de Compras Dallas". O grande Michael Caine bate ponto novamente em um filme de Nolan (como fez na trilogia "Batman" e em "O Grande Truque") e há uma garota (Mackenzie Foy) que faz a filha de McConaughey, que quase rouba o filme. O visual é muito bom, capitaneado pelo diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema (de "Ela"), que substituiu Wally Pfister, o habitual fotógrafo de Nolan (que foi dirigir outra ficção científica, o decepcionante "Trancendente").

Gostar ou não do filme vai depender muito do quanto o espectador gosta ou não do estilo exagerado de Christopher Nolan. Uma coisa, porém, é certa: "Interestelar" não é nenhum "2001 - Uma Odisséia no Espaço", filme que o próprio Nolan tem citado em entrevistas por aí. Não se trata de comparar Nolan com Kubrick. O caso é que falta muito em "Interestelar" o que sobra em "2001": silêncios. Nolan consegue fazer um filme de três horas de duração em que praticamente não há um respiro, um momento contemplativo sequer. Como faria bem ao filme ter uma sequência espacial sem que a música de Hans Zimmer não estivesse tocando a todo volume. Como faria bem ao filme ter uma sequência de mistério que não fosse explicada minuciosamente por algum personagem. De duas, uma; ou Nolan não confia em seu espetador ou acha que deve conduzi-lo pela mão, passo a passo, por cada sequência de seu filme.

Tanto assim que a melhor parte do filme é o início, situado em uma fazenda de milho cujo cenário e personagens lembram muito "Sinais", de M. Night Shyamalan. Assim como no filme do indo-americano, um viúvo mora em uma casa de fazenda com um casal de filhos e o sogro (no filme de Shyamalan, era um irmão). A Terra está passando por um período de grande fome; bilhões de pessoas já morreram e quase todos os sobreviventes são plantadores de milho, uma das últimas culturas que ainda crescem no planeta. Assim como em "Sinais", coisas inexplicáveis estão acontecendo na casa da família de Cooper (McConaughey), um ex-piloto e engenheiro. Sua filha Murph diz que um "fantasma" tem derrubado os livros da estante. Alguma coisa está atraindo para a casa as máquinas colheitadeiras robóticas e até mesmo um "drone" entra em pane perto da fazenda de Cooper. Em uma tempestade de areia, Cooper e a filha percebem sinais formados pelo pó no chão do quarto dela. São coordenadas de algum lugar misterioso. (leia mais abaixo)



Há nesta primeira parte um suspense e mistério que fazem falta no resto do filme. Cooper é recrutado pelo que restou da NASA para encontrar um planeta adequado a receber os últimos seres humanos do planeta. A Terra está condenada e a NASA descobriu que alguém colocou um "buraco de minhoca" ("wormhole", em inglês, basicamente um portal para outra parte da galáxia) nas proximidades de Saturno. A referência a "2001" é clara, já que o escritor Arthur C. Clarke também colocou seu "Monolito" próximo a Saturno em seu livro (Kubrick, no filme, mudou para Júpiter).

Cooper, em companhia de Anne Hathaway, Wes Bentley, David Gyasi e um robô chamado TARS partem para a aventura a bordo da espaçonave Endurance (que não foi feita em computação gráfica, mas com as boas e velhas miniaturas de antigamente). É então que, paradoxalmente, o filme perde força. O mistério e os bons dramas familiares são trocados por longas conversas sobre a Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, e temas bem menos científicos, como uma teoria sobre a função do amor.

Nolan já havia brincado com a noção relativa do tempo em "A Origem", que dizia que ele corre em velocidades diferentes dependendo em que nível do sonho o personagem estava. Há uma passagem de "Interestelar" que diz que cada hora passada em determinado planeta equivaleria a sete anos na Terra. O conceito é interessante e cientificamente comprovado (o roteiro teve consultoria do físico teórico Kip Thorne), mas Nolan não o usa em todo seu potencial. Há uma passagem em que um personagem envelhece 23 anos entre uma sequência e outra, mas a não ser por alguns cabelos brancos permanece exatamente o mesmo. Até a conversa continua como se nada muito extraordinário houvesse acontecido.

Por outro lado, há boas sequências quando a personagem da filha de Cooper, Murph, volta à cena encarnada pela ótima Jessica Chastain (de "Árvore da Vida", este sim bastante similar a "2001"). Chastain consegue imprimir uma boa dose de drama à personagem, dividida entre o amor à ciência e a mágoa pela ausência do pai. É inevitável, porém, não lembrar da personagem de Jodie Foster em "Contato", baseado em livro de Carl Sagan, que também tratava de viagens intergalácticas em wormholes. A relação entre a personagem de Foster e o pai também era o centro dramático daquele filme.

Assim, há de tudo um pouco em "Interestelar". Ou melhor, há muito de tudo em "Interestelar". O filme se beneficiaria com o corte de algumas sequências (como a passada em um planeta coberto de água, por exemplo, que não é fundamental ao roteiro); acredito também que teria sido um filme muito mais interessante se Nolan não quisesse explicar tudo nos mínimos detalhes. "Antigamente nós olhávamos para o céu e nos maravilhávamos", diz Cooper em uma cena. Nada como um bom e velho mistério.

João Solimeo
Câmera Escura

sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Último Amor de Mr. Morgan

Para um filme que passa quase duas horas falando sobre como enfrentar a depressão, passar por cima do passado e voltar a viver, "O Último Amor de Mr. Morgan" tem um final completamente incoerente e inacreditável. É uma pena, porque durante a primeira hora assistimos a um filme charmoso e interessante.

Michael Caine, sempre ótimo, é Matthew Morgan, um professor aposentado de Filosofia que mora em Paris. Desde a morte da esposa Joan (a veterana Jane Alexander), que ele venerava, ele vagueia pela cidade imaginando a mulher ao seu lado, tendo conversas imaginárias com ela ou passeando de mãos dadas. Um dia, no ônibus, ele conhece uma jovem e doce francesa chamada Pauline (Clémence Poésy), que imediatamente simpatiza com ele. Os dois engatam uma amizade que é uma mistura de companheirismo, amor paternal e, talvez, algo mais. É interessante o modo como nenhum dos dois questiona ou discute o que está acontecendo; eles apenas gostam de estar juntos e passear por paisagens idílicas de Paris e arredores, acompanhados por uma trilha suave de Hans Zimmer. (leia mais abaixo)


É então que o personagem de Michael Caine acha que é hora de "voltar para casa", e ele tenta se suicidar tomando uma overdose de pílulas para dormir. Ele falha, e é visitado no hospital não apenas por Pauline (que lhe diz que "tomou uma decisão") mas pelos filhos que voaram dos Estados Unidos para a França para ver o pai. Eles são Miles (Justin Kirk), um rapaz extremamente ressentido (e chato) com o pai e Karen (uma surpreendente Gillian Anderson, a eterna Dana Scully da série "Arquivo X"). De repente, o filme sai totalmente dos trilhos. O que começou como uma bonita história de amor e redenção entre um viúvo e uma jovem se torna uma discussão interminável entre Matthew e seus filhos (principalmente Miles) que não têm motivos para achá-lo um grande pai. Pauline, colocada no meio de uma discussão de família, perde qualquer traço da personalidade que tinha até então. O tal "último amor do Sr. Morgan" dá lugar a cenas intermináveis em que Miles acusa o pai de tê-lo castrado quando criança,  discussões sobre quem vai herdar o dinheiro de uma casa de campo, problemas no casamento de Miles e outras coisas que, francamente, o espectador não está interessado.

O final, repito, vai contra tudo o que se construiu durante a narrativa. "O Último Amor de Mr. Morgan" é escrito e dirigido por Sandra Nettelbeck; o filme vale pela interpretação de Michael Caine e por algumas belas cenas durante a primeira hora. Quando os filhos entram em cena, porém, se torna um filme enfadonho e sem direção. Em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Truque de Mestre

Filmes sobre assaltos têm muito em comum com truques de mágica. "Onze homens e um segredo" e suas continuações, por exemplo, seguem sempre a mesma fórmula, um plano elaborado para enganar não só os policiais mas (principalmente) a platéia. O dinheiro some magicamente do cofre, os alarmes de segurança não funcionam, e assim por diante. "Truque de Mestre" tem uma premissa bastante interessante. Que tal misturar a fórmula consagrada dos filmes de assalto com truques de mágica? Melhor ainda, que tal acrescentar um elenco de primeira classe, com nomes como Michael Caine e Morgan Freeman, para tornar tudo mais atraente? Premissa boa, elenco afinado, faltava um roteiro à altura, e é aí que os problemas de "Truque de Mestre" começam.

sábado, 19 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas


Em meu texto sobre "Batman Begins", em 2005, eu terminei dizendo: "Em alguns anos, imagina-se, Batman estará de volta. Agora que seu início já foi contado, vai ser difícil fazer uma continuação tão interessante quanto este primeiro episódio". Eu estava enganado. Em vários aspectos, "Batman - O Cavaleiro das Trevas" é tão bom quanto seu predecessor. Em outros, é até melhor. Este é um filme mais pesado que o anterior. O diretor e roteirista Christopher Nolan resolveu explorar ainda mais o lado sombrio de seu personagem principal trazendo tons trágicos para a narrativa. O que inclui a morte de personagens principais, um clima de insegurança constante e a criação de dois personagens que são como os lados opostos da mesma moeda: o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart, muito bem no papel) e o vilão Coringa. Este último, para aumentar ainda mais o tom trágico do filme, foi interpretado por Heath Ledger, jovem ator que morreu de overdose de remédios pouco depois das filmagens. O ator estava com problemas pessoais (separação da esposa e filha) e a overdose pode não ter sido acidental. Há quem diga que interpretar o Coringa pode ter contribuído para sua morte. Jack Nicholson, que interpretou o mesmo personagem na versão de Tim Burton em 1989, ao saber da morte de Ledger, teria dito apenas: "Eu avisei ele".


Gothan City está em guerra com os mafiosos, e Batman tem ajudado secretamente seu amigo Jim Gordon (Gary Oldman) a combater os criminosos. Mas agora há um rosto novo (e horrível) na cidade. O Coringa (cuja origem nunca é explicada direito) tem realizado grandes roubos do dinheiro da Máfia e o está usando para aterrorizar a cidade. Ele começa a matar inocentes e diz que só vai parar quando Batman revelar sua identidade. A cidade conta com a presença de Batman para ajudá-la embora, no fundo, ele seja considerado um justiceiro criminoso até pelo promotor Harvey Dent, que aparece como uma nova esperança. Dent é chamado de "cavaleiro branco" e há esta interessante oposição entre sua figura limpa e decente e a figura sombria e conturbada de Batman. O "Cavaleiro das Trevas", no fundo, está mais próximo do Coringa do que de Dent, e ele tem consciência disto. Christian Bale, novamente no papel de Bruce Wayne/Batman, é um ator completo, que consegue passar tanto a imagem do rico "playboy" que aparentemente não liga para nada quanto sua sombra vestida de morcego. Seu Batman parece uma máquina quando enfrenta os criminosos, e sua voz não soa humana. Mas o filme é plausível o suficiente para você acreditar que uma pessoa comum (extremamente bem treinada e equipada) poderia fazer o que Batman faz. Katie Holmes, atual senhora Tom Cruise, foi substituída no papel da promotora Rachel Dawes por Maggie Gyllenhaal, e foi uma boa troca. Ela é mais talentosa e serve como ponto de apoio entre Harvey Dent e Bruce Wayne.


O "fantasma" do 11 de setembro paira sobre o filme. O Coringa é chamado várias vezes de "terrorista" e certas cenas lembram o ataque que destruiu o World Trade Center. O próprio poster do filme (veja acima), me lembrou muito a imagem do avião invadindo as Torres Gêmeas (compare ao lado). O Coringa não está interessado em dinheiro. Como diz Alfred (o grande Michael Caine) a seu patrão, algumas pessoas só querem ver o circo pegar fogo. Heath Ledger desaparece na figura terrível do Coringa, cujas cicatrizes no rosto o deixam permanentemente com um sorriso macabro. A trilha sonora (de Hans Zimmer e James Newton Howard) criou uma nota distorcida que fica soando toda vez que o Coringa está em cena, e há a sensação de que algo ruim pode acontecer a qualquer momento. O tema do antagonismo, da existência de lados opostos e da escolha permeia todo o filme. O Coringa representa o próprio "Medo" encarnado, a existência de um mundo sem ética, moral ou regra de qualquer espécie. Há uma cena em que Batman está batendo nele, tentando tirar uma informação, e ele diz simplesmente que não há nada que ele possa fazer para assustá-lo, pois ele não conhece limites. Até Batman tem limites e regras, como foi visto no primeiro filme (quando Bruce Wayne, em seu treinamento no Oriente, se recusou a matar um homem desarmado).
Há um ótimo símbolo no filme na forma de uma moeda que tem o mesmo desenho nas duas faces. É com ela que Harvey Dent aparentemente "tira a sorte" quando quer decidir alguma coisa. Mas o que aconteceria se esta moeda deixasse de ter apenas uma face? Será que ele se tornaria tão cruel quanto o assassino de "Onde os fracos não têm vez"? Não é sempre que um "blockbuster" de verão como este levanta questões tão interessantes sobre moral e ética. Christopher Nolan seguiu a cartilha de George Lucas quando criou "O Império Contra Ataca", o sombrio segundo capítulo da trilogia original de "Guerra nas Estrelas", em 1981.
"O Cavaleiro das Trevas" termina de forma depressiva, mas com a esperança de que, em um terceiro capítulo que certamente virá, as coisas melhorem.