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quinta-feira, 27 de julho de 2023

Oppenheimer (2023)

Oppenheimer (2023). Dir: Christopher Nolan. Depois de meses de uma das campanhas publicitárias mais massivas (e estranhas) de todos os tempos, chega finalmente aos cinemas o mais novo filme de Christopher Nolan. Juro que tentei ver na estreia, mas fui afogado por um mar de pessoas usando rosa.

"Oppenheimer" é um filme de Christopher Nolan, o que já carrega algumas coisas: é longo (são três horas de duração), é pesado e teatral (as paredes literalmente tremem quando Oppenheimer está nervoso), os personagens não param de falar (até em uma cena de sexo Oppenheimer está lendo um livro em sânscrito), a trilha sonora é constante e opressora (surpresa, não é de Hans Zimmer, mas o compositor Ludwig Göransson está fazendo uma imitação perfeita), e o visual é incrível (o filme foi feito em película Kodak, em IMAX 70mm, pelo diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema).

Isto posto, "Oppenheimer" é um grande filme. Cillian Murphy está excelente como um cientista brilhante com uma vida pessoal conturbada. J. Robert Oppenheimer foi um dos primeiros físicos a descrever um buraco negro, mas também sabia ler Karl Marx no original, aprendeu holandês em seis meses e lia em sânscrito. Também flertou com o Partido Comunista Americano (embora nunca tenha se filiado) e mandava dinheiro para os refugiados da Guerra Civil Espanhola; ao mesmo tempo, ajudou a criar uma arma de destruição em massa que matou perto de 200 mil pessoas.

O filme de Nolan conta a vida e "obra" de Oppenheimer partindo de dois julgamentos (ou melhor, "audiências"); em uma, o próprio Oppenheimer tem sua credibilidade posta em cheque em uma audiência que pretende revogar suas credenciais. Em outra, no Senado americano, o personagem de Robert Downey Jr., Lewis Strauss, tenta confirmar sua indicação a um alto posto no governo. Nolan, como de costume, não conta as histórias de forma linear e alterna várias linhas de tempo misturando preto e branco e colorido. Em uma decisão ousada, Nolan não coloca datas na tela e cabe ao espectador usar sua bagagem cultural para entender em que fase da História (com H maiúsculo) estamos. Às vezes fica bem confuso.

Até a explosão da primeira bomba atômica no teste de Trinity, no Novo México, diria que o filme é brilhante. Nolan consegue mostrar o processo de recrutamento dos cientistas para o Projeto Manhattan, a construção da base secreta em Los Alamos, a vida pessoal complicada de Oppenheimer, entre vários outros assuntos, de forma muito bem montada. A cena do primeiro teste nuclear, a propósito, é ótima (e você tem que ver este filme em uma tela IMAX gigante, com o som fazendo a cadeira tremer). O filme perde bastante o ritmo em sua hora final. Nolan exagera em seus maneirismos e fica difícil entender o que seu personagem está pensando quando o cenário está literalmente tremendo, a música está estridente e uma luz brilhante cega tudo por vários segundos (e não estou falando do teste nuclear, mas um simples interrogatório na tal audiência). É aposta certa que o filme vai render várias indicações ao Oscar. Resta saber se a bomba atômica, para Nolan, não vai se chamar Barbie. 

domingo, 9 de novembro de 2014

Interestelar

Um ótimo filme de ficção científica de uma hora e meia, no máximo duas horas, existe dentro de "Interestelar", o novo e ambicioso épico de Christopher Nolan. O problema é que, como em quase todo filme de Nolan, ele é longo demais, explicativo demais e chega ao público com longas três horas de duração.

Não me entenda mal, há muito que se elogiar em "Interestelar". O elenco é muito bom, encabeçado por Matthew McConaughey, ator que viveu um "renascimento" ultimamente na carreira, coroado com o Oscar de melhor ator por "Clube de Compras Dallas". O grande Michael Caine bate ponto novamente em um filme de Nolan (como fez na trilogia "Batman" e em "O Grande Truque") e há uma garota (Mackenzie Foy) que faz a filha de McConaughey, que quase rouba o filme. O visual é muito bom, capitaneado pelo diretor de fotografia Hoyte Van Hoytema (de "Ela"), que substituiu Wally Pfister, o habitual fotógrafo de Nolan (que foi dirigir outra ficção científica, o decepcionante "Trancendente").

Gostar ou não do filme vai depender muito do quanto o espectador gosta ou não do estilo exagerado de Christopher Nolan. Uma coisa, porém, é certa: "Interestelar" não é nenhum "2001 - Uma Odisséia no Espaço", filme que o próprio Nolan tem citado em entrevistas por aí. Não se trata de comparar Nolan com Kubrick. O caso é que falta muito em "Interestelar" o que sobra em "2001": silêncios. Nolan consegue fazer um filme de três horas de duração em que praticamente não há um respiro, um momento contemplativo sequer. Como faria bem ao filme ter uma sequência espacial sem que a música de Hans Zimmer não estivesse tocando a todo volume. Como faria bem ao filme ter uma sequência de mistério que não fosse explicada minuciosamente por algum personagem. De duas, uma; ou Nolan não confia em seu espetador ou acha que deve conduzi-lo pela mão, passo a passo, por cada sequência de seu filme.

Tanto assim que a melhor parte do filme é o início, situado em uma fazenda de milho cujo cenário e personagens lembram muito "Sinais", de M. Night Shyamalan. Assim como no filme do indo-americano, um viúvo mora em uma casa de fazenda com um casal de filhos e o sogro (no filme de Shyamalan, era um irmão). A Terra está passando por um período de grande fome; bilhões de pessoas já morreram e quase todos os sobreviventes são plantadores de milho, uma das últimas culturas que ainda crescem no planeta. Assim como em "Sinais", coisas inexplicáveis estão acontecendo na casa da família de Cooper (McConaughey), um ex-piloto e engenheiro. Sua filha Murph diz que um "fantasma" tem derrubado os livros da estante. Alguma coisa está atraindo para a casa as máquinas colheitadeiras robóticas e até mesmo um "drone" entra em pane perto da fazenda de Cooper. Em uma tempestade de areia, Cooper e a filha percebem sinais formados pelo pó no chão do quarto dela. São coordenadas de algum lugar misterioso. (leia mais abaixo)



Há nesta primeira parte um suspense e mistério que fazem falta no resto do filme. Cooper é recrutado pelo que restou da NASA para encontrar um planeta adequado a receber os últimos seres humanos do planeta. A Terra está condenada e a NASA descobriu que alguém colocou um "buraco de minhoca" ("wormhole", em inglês, basicamente um portal para outra parte da galáxia) nas proximidades de Saturno. A referência a "2001" é clara, já que o escritor Arthur C. Clarke também colocou seu "Monolito" próximo a Saturno em seu livro (Kubrick, no filme, mudou para Júpiter).

Cooper, em companhia de Anne Hathaway, Wes Bentley, David Gyasi e um robô chamado TARS partem para a aventura a bordo da espaçonave Endurance (que não foi feita em computação gráfica, mas com as boas e velhas miniaturas de antigamente). É então que, paradoxalmente, o filme perde força. O mistério e os bons dramas familiares são trocados por longas conversas sobre a Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, e temas bem menos científicos, como uma teoria sobre a função do amor.

Nolan já havia brincado com a noção relativa do tempo em "A Origem", que dizia que ele corre em velocidades diferentes dependendo em que nível do sonho o personagem estava. Há uma passagem de "Interestelar" que diz que cada hora passada em determinado planeta equivaleria a sete anos na Terra. O conceito é interessante e cientificamente comprovado (o roteiro teve consultoria do físico teórico Kip Thorne), mas Nolan não o usa em todo seu potencial. Há uma passagem em que um personagem envelhece 23 anos entre uma sequência e outra, mas a não ser por alguns cabelos brancos permanece exatamente o mesmo. Até a conversa continua como se nada muito extraordinário houvesse acontecido.

Por outro lado, há boas sequências quando a personagem da filha de Cooper, Murph, volta à cena encarnada pela ótima Jessica Chastain (de "Árvore da Vida", este sim bastante similar a "2001"). Chastain consegue imprimir uma boa dose de drama à personagem, dividida entre o amor à ciência e a mágoa pela ausência do pai. É inevitável, porém, não lembrar da personagem de Jodie Foster em "Contato", baseado em livro de Carl Sagan, que também tratava de viagens intergalácticas em wormholes. A relação entre a personagem de Foster e o pai também era o centro dramático daquele filme.

Assim, há de tudo um pouco em "Interestelar". Ou melhor, há muito de tudo em "Interestelar". O filme se beneficiaria com o corte de algumas sequências (como a passada em um planeta coberto de água, por exemplo, que não é fundamental ao roteiro); acredito também que teria sido um filme muito mais interessante se Nolan não quisesse explicar tudo nos mínimos detalhes. "Antigamente nós olhávamos para o céu e nos maravilhávamos", diz Cooper em uma cena. Nada como um bom e velho mistério.

João Solimeo
Câmera Escura

domingo, 21 de setembro de 2014

Transcendence

A foto de Johnny Depp ao lado o mostra, provavelmente, assistindo a este filme.

"Transcendence" marca a estréia na direção de Wally Pfister, competente diretor de fotografia conhecido principalmente por sua parceria com Christopher Nolan. É compreensível que a convivência com Nolan (que não faz nada pequeno) o tenha levado a arriscar seu primeiro longa metragem em um filme ambicioso e cheio de grandes ideias. O roteiro também foi escrito por um iniciante, Jack Paglen, o que só ajuda a explicar os problemas do filme.

As boas credenciais de Pfister conseguiram trazer um elenco de peso, composto quase todo por atores da "trupe" habitual de Nolan, como Morgan Freeman (da série "Batman"), Cillian Murphy (também de Batman e de "A Origem") e Rebecca Hall (de "O Grande Truque"). O britânico Paul Bettany está no lugar de Michael Caine e o papel de Johnny Depp, se fosse em um filme de Nolan, provavelmente seria interpretado por Christian Bale ou Hugh Jackman.

Johnny Depp interpreta Will Caster, um cientista que está desenvolvendo uma I.A. (Inteligência Artificial) que, se bem sucedida, poderia resolver os problemas da Humanidade. O caso é que um grupo de ativistas anti-tecnologia (chefiados por uma inexpressiva Kate Mara, de "House of Cards") realiza uma série de atentados em que diversos cientistas são mortos e Caster é envenenado por uma substância radioativa. A esposa de Caster, Evelyn (Rebecca Hall, o único sopro de humanidade em todo o filme), dedica as últimas semanas de vida do marido a fazer um "upload" das memórias dele para a Inteligência Artificial. (leia mais abaixo)


Há uma porção de boas ideias aqui. Seria possível transferir todo o conteúdo do cérebro de uma pessoa para um computador? Em caso positivo, este conjunto de memórias seria considerado um "ser vivo"? A personalidade seria mantida? Ela seria "humana"? Imortal? Estas questões são aludidas no filme de Pfister, mas de forma tão rasa que ficam enterradas sob uma trama absurda e incoerente. Fica patente a inexperiência do diretor em dar vida ao material, que é visualizado em belas, mas frias, imagens.

Johnny Depp está particularmente ruim. Seu cientista, enquanto humano, já não tinha muito a mostrar. Depp mantém uma expressão única por todo o filme e um tom de voz mais inexpressivo que o do tradutor do Google, e quando é transferido para o computador fica pior ainda. Rebecca Hall, Paul Bettany e mesmo Morgan Freeman tentam inserir um pouco de vida a personagens vazios e mal desenvolvidos. Cillian Murphy, coitado, anda pela tela sem saber direito o que está fazendo por lá.

E em quê, na verdade, se transformou Will Caster? O roteiro, indeciso, ora dá a entender que o "ser" que habita o computador se trata do mesmo homem que ele era em vida, ora mostra que se trata de outra consciência. Aparentemente, nem o roteirista sabe o que está acontecendo. 

"Transcendence", ao invés de levantar questões, gera dúvidas. Chega-se ao final da mesma forma com que se começou. Com nada.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

O Grande Truque (Netflix)

AVISO: Este é um filme com muitos segredos e reviravoltas; fica difícil escrever a respeito sem revelar alguns. Assim, esteja avisado da possibilidade de SPOILERS.

Entre "Batman Begins" (2005) e "Batman: O Cavaleiro das Trevas" (2008), Christopher Nolan fez este sombrio retrato da rivalidade entre dois mágicos. Curiosamente, ele foi lançado com apenas alguns meses de diferença de "O Ilusionista" (2006), outro filme sobre mágicos, passado mais ou menos na mesma época, estrelado por Edward Norton e dirigido por Neil Burger.

"O Grande Truque" sofre do problema de quase todo filme de Nolan: ele peca pelo excesso. O que não impede que ele seja intrigante, inteligente e interessante de se assistir (novamente, como quase toda produção do diretor). O roteiro (de Nolan, escrito em parceria com o irmão Johathan) fala não só sobre a mágica como um ofício, mas também sobre obsessão, show business, ciência, ciúmes e rivalidade. Robert Algiers (Hugh Jackman, de "X-Men: Dias de um futuro esquecido") e Alfred Borden (Christian Bale, de "Império do Sol") são assistentes de um mágico na Inglaterra do final do século 19. Uma rivalidade surge entre os dois quando a mulher de Robert morre durante um truque em que ela deveria escapar de um tanque de vidro cheio de água. Robert culpa Alfred por ter apertado muito forte o nó que amarrava a esposa e os dois iniciam uma disputa que vai durar o resto da vida deles.

Michael Caine ("O Último Amor de Mr. Morgan") faz seu tradicional papel de figura paterna como o engenheiro de Hugh Jackman, Cutter, mas ele também faz as vezes de narrador do filme. Ele explica que todo bom truque de mágica precisa ter três partes ("apresentação", "virada" e "truque", em tradução livre para "the pledge", "the turn" e "the prestige"), o que basicamente segue toda cartilha de roteiro de Hollywood, com primeiro, segundo e terceiro atos. Não basta mostrar um passarinho e fazê-lo desaparecer. É necessário trazê-lo de volta. O que "O Grande Truque" quer mostrar é que nem tudo é tão inocente. No caso do canário, Nolan mostra que é necessário matar um animal a cada apresentação, o que não só mostra que truques de mágica podem ser cruéis como também dá o tom para os eventos do próprio filme (que discutiremos mais à frente).



Quando vi este filme nos cinemas, em 2006, confesso que não gostei muito do que vi. Ou, talvez, eu simplesmente não estivesse olhando direito, o que é um dos temas do filme. Revendo agora pela Netflix, me surpreendi como ele funciona muito melhor da segunda vez e creio que haja uma explicação para isto. Na primeira você tenta descobrir o segredo da trama e, quando chega o final (que tem vários problemas), há grandes chances de você se decepcionar. Na segunda vez, livre do peso de tentar decifrar o filme, você fica mais livre para perceber como o roteiro é engenhoso. É um filme sobre duplos, sobre truques e sobre mágica. E também sobre sacrifícios enormes em nome da fama, ou simplesmente da satisfação de ser melhor do que o outro. O personagem de Christian Bale é frio e metódico. Já Hugh Jackman é sanguíneo e apaixonado. Há uma cena em que os dois vão assistir à apresentação de um mágico chinês que consegue fazer coisas impossíveis para a idade dele. Depois do show, Bale e Jackman o veem saindo do teatro, velhinho, caminhando lentamente em direção à carruagem, e Bale diz: "Este é o verdadeiro truque". Os irmãos Nolan também fazem um truque com o personagem de Bale durante todo o filme, mas poucos percebem. Seu personagem, Bolder, cria um show do "Homem Transportado" que atrai multidões e leva Robert à loucura, tentando descobrir como ele o realiza. Nolan já havia dado a dica antes de que o personagem de Bale estaria interpretando um papel a vida toda. Um papel duplo que leva até ao suicídio da  esposa, interpretada por Rebecca Hall.

A busca de Robert o leva aos Estados Unidos, onde procura o cientista Nikolas Tesla (figura real interpretada por um surpreendente David Bowie), que conseguia feitos com a eletricidade que podiam passar por mágica. Há uma bela cena noturna em que Hugh Jackman está com Andy Sekis (sim, o ator do Gollun de "O Senhor dos Anéis" e do César de "Planeta dos Macacos") em um campo e Tesla acende centenas de lâmpadas espalhadas pela paisagem. Robert quer que Tesla lhe construa uma máquina que o faria o melhor mágico do mundo. Tesla lhe pergunta se ele estaria disposto a pagar o preço. "Dinheiro não é problema", responde Robert. "Mas você está disposto a pagar o custo?", pergunta Tesla.



Novamente, aviso de SPOILERS.

O caso é que tanto Bolder quanto Robert estão fazendo jogos duplos. Bolder tem um irmão gêmeo que só é revelado nos instantes finais, apesar de haver várias pistas durante o filme. A mulher de Bolder, por exemplo, diz que há dias em que ela acredita no "eu te amo" do marido. Em outros dias, não. O mesmo vale para a amante dele(s), interpretada por Scarlett Johansson. Quanto ao "duplo" de Robert é que o filme é mais ousado (e onde, ao mesmo tempo, peca mais). O crítico americano Roger Ebert chega a dizer que o "segredo" do filme é uma trapaça, e ele pode ser encarado desta forma. Eu acho que, se não é uma trapaça, é no mínimo uma contradição. Cenas como a morte do canário, no início do filme, mostram como um truque de mágica não tem nada de "mágico". Já o segredo do truque de "teletransporte" que Hugh Jackman apresenta - usando a máquina construída por Tesla - acaba sendo que não há nenhum segredo. A máquina realmente funciona, é "mágica" de verdade (ou, no máximo, ficção-científica). Há apenas um porém; a máquina não transporta Jackman de um lugar para outro, mas o duplica. O que faz com que ele crie um sistema que representa o sacrifício final de um performer para com sua platéia. Toda noite, ao entrar na máquina, ele tem consciência de que seu duplo vai continuar vivendo, mas ele não. Interessante que o modo como ele escolheu para morrer todas as noite seja afogado, assim como aconteceu com sua esposa. Interessante notar também o paralelismo entre os duplos de Robert e os gêmeos de Bolder. Há uma cena em que Bolder perde dois dedos da mão esquerda quando um truque dá errado, o que significa que seu duplo também teria que perder estes dois dedos. Até que ponto vai o compromisso com a arte?

É um conceito e tanto, embora conduzido pela mão pesada e séria de Nolan. E só funciona, repito, se o espectador conseguir aceitar a "trapaça" de que o truque de Tesla é real. Creio que teria sido mais interessante se a revelação do truque fosse outra. Ou, talvez, eu esteja apenas reagindo da forma que Michael Caine diz em uma parte do filme: a partir do momento em que um truque é revelado, ele não vale nada. "O Grande Truque" está disponível na Netflix.

Câmera Escura

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Side by Side

Quando estava filmando "Zodíaco" com David Fincher, Robert Downey Jr. resolveu fazer um protesto. O fato do filme estar sendo captado em digital significava que não havia mais as pausas comuns em sets de filmagem para recarregar as câmeras com os rolos de filme, e Fincher fazia os atores trabalhar por 14 horas seguidas. Downey Jr. começou a urinar em potes de vidro e espalhar pelo set, para mostrar que ele precisava parar de vez em quando.

Esta é uma das boas histórias ouvidas no ótimo documentário "Side by Side" ("Lado a Lado", não lançado no Brasil), uma investigação feita pelo ator Keany Reeves sobre uma mudança de paradigma na produção cinematográfica, de película para digital. Por um século, filmes foram feitos usando a película cinematográfica de 35mm (ou, em algumas ocasiões, de 16mm ou 65mm), o que tinha vantagens e desvantagens. A película funciona através de um processo fotoquímico; a luz passa pelas lentes da câmera e impressionam uma tira de filme coberta com material sensível. O filme, depois de exposto, tem que ser revelado (em negativo) e impresso em uma cópia positiva, que era assistida pelo diretor e equipe apenas no dia seguinte às filmagens. A qualidade é excelente, mas o processo é caro e só o Diretor de Fotografia era responsável pela captação das imagens.

No digital a imagem é capturada por um chip eletrônico que, no início, tinha qualidade muito inferior à película cinematográfica, mas havia algumas vantagens; as câmeras digitais são menores, mais leves e portáteis que as pesadas câmera de cinema. Também é possível gravar tomadas com até quarenta minutos de duração (ao contrário dos dez minutos, no máximo, de uma câmera de cinema). Diretores como David Lynch e Danny Boyle contam como isso lhes deu enorme liberdade para lidar com os atores, que podiam interpretar longas cenas sem ter que ficar esperando que as câmeras de cinema fossem recarregadas. Já Christopher Nolan diz que os atores e a equipe não conseguem ficar concentrados por tanto tempo e precisam de uma pausa técnica de vez em quando.


Keanu Reeves explora esta mudança de película para digital não só na captação das imagens, mas também na edição e pós-produção. Até a década de 1990 os filmes eram montados manualmente; os editores trabalhavam diretamente com a película em grandes máquinas chamadas "moviolas". Martin Scorsese conta como as pontas dos dedos chegavam até a sangrar de tanto se cortar e colar pedaços de película com as mãos. Tudo mudou com a chegada de programas de edição como o Avid ou o Final Cut, que trabalham com uma versão digitalizada da película, que era escaneada e transferida para dentro do computador. Também os efeitos especiais, antes feitos com processos físicos caros e demorados, passaram a ser feitos digitalmente no computador. Com a captação das imagens feita em digital, todo este processo de digitalização da película não existe mais.

Scorsese levanta a questão de que, hoje, o espectador não sabe mais o que é "real" na tela. James Cameron, diretor de Avatar (que tem 3/4 das imagens criadas totalmente em computador) rebate dizendo que, no cinema, nunca se filmou a realidade. "O que é real?", pergunta ele a Keanu Reeves. "Há dezenas de pessoas em um set de filmagem, há um cara segurando o boom do microfone, há um técnico em cima da escada mostrando o traseiro. Nada disso é real". O surgimento de câmeras digitais especializadas em cinema, como a RED e a ARRI Alexa, aparentemente, enterraram de vez a película cinematográfica. "Eu tenho vontade de ligar para a película e dizer que conheci outra pessoa", diz Steven Soderbergh, que é um dos defensores do cinema digital. Há diretores como Steven Spielberg, Christopher Nolan, Zach Syder e Martin Scorsese, porém, que ainda trabalham com película, e vários filmes ainda são feitos em filme em Hollywood. Mas o fim da película é inevitável.

Tudo isso pode parecer técnico ou nerd demais para o espectador comum, mas o documentário levanta questões que interessam a todos. Esta mudança do analógico para digital não engloba só o cinema, mas praticamente tudo à nossa volta. Transações bancárias, divulgação de notícias, compartilhamento de música e várias outras coisas passaram por esta transformação e ainda não sabemos qual impacto isso terá no futuro. Um dos maiores problemas levantados por "Side by Side" é com relação à preservação desta enorme quantidade de material digital. Os filmes em película podem durar mais de um século. Qual a validade de um disco rígido de computador? O que vai acontecer com todos estes filmes digitais feitos nos últimos anos? Ou será que nada disso importa, e estamos vivendo em uma cultura descartável, que vai desaparecer em poucos anos? São questões importantes para entendermos o mundo de hoje.

Site oficial (o filme está disponível "on demand" apenas para os Estados Unidos, mas pode ser encontrado na internet)


sábado, 14 de dezembro de 2013

Christopher Nolan lança teaser trailer de "Interstellar"

"Interstellar", o próximo filme de Christopher Nolan, tem teaser trailer lançado. O vídeo mostra imagens de arquivo do Programa Espacial americano enquanto se escuta uma narração de Matthew McConaughey sobre o desejo humano de explorar o desconhecido. O filme tem data para estrear, 7 de novembro de 2014. Assista.




 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

O Homem de Aço

A cena mais interessante de "O Homem de Aço", infelizmente, é breve. A icônica figura do Superman é vista algemado e escoltado por soldados. Este é um ser com poderes quase infinitos que, em um momento que poderia ser chamado de "nobreza", decide se entregar à Humanidade. Ele saiu do esconderijo onde se manteve por 33 anos (a "idade de Cristo", em uma das várias referências religiosas do filme) em resposta à chegada à Terra do louco General Zod (Michael Shannon, de "Foi apenas um sonho", 2008). Mas estou me adiantando.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Novo trailer de "O Homem de Aço" é lançado

"O Homem de Aço" ("Man of Steel"), filme do diretor Zack Snyder ("300", "Watchmen") tem novo trailer lançado. O filme, produzido por Christopher Nolan, faz um "reboot" na história de um dos heróis mais famosos da D.C. Comics. "Superman" já foi interpretado nos cinemas por Christopher Reeve em 1978 (e outras três ocasiões) e por Brandon Routh em 2006, além de diversas séries de TV e animações. A versão de Snyder, por influência de Nolan, aparenta ser mais sombria e séria. No elenco, Russell Crowe, Kevin Costner, Amy Adams, Laurence Fishburne e, na pele do Homem de Aço, o britânico Henry Cavill.

"O Homem de Aço" estréia em julho no Brasil.

 

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

Oito anos se passaram desde os eventos relatados em "Batman: O Cavaleiro das Trevas" (2008). Gothan City está livre da ameaça dos bandidos graças a uma lei de "tolerância zero" idealizada por Harvey Dent (Aaron Eckhart) e Batman está desaparecido. Ele foi declarado culpado pela morte de Dent e, com a cidade em paz, está aposentado. Bruce Wayne vive recluso em sua mansão e as pessoas pensam nele como uma espécie de Howard Hughes. A paz, claro, está para terminar. Um Vilão (com "V" maiúsculo) está chegando à cidade; ele é Bane (Tom Hardy), um gigante musculoso e assustador que fala com a voz distorcida por uma máscara. Retomando a trama de "Batman Begins" (2000), Bane é um membro da "Liga das Sombras", organização liderada por Lian Neeson que planejava reduzir Gothan City a cinzas.

"O Cavaleiro das Trevas Ressurge" é o capítulo final da franquia regida por Christopher Nolan, diretor que, apesar de extremamente competente, não é conhecido nem pela modéstia ou pela humildade; Nolan gosta de espetáculos grandiosos e um pouco auto-importantes demais. Há quem o ache um gênio, enquanto outros o consideram um charlatão competente. O fato é que, com apenas 42 anos, o britânico Nolan conquistou um lugar entre os grandes diretores hoje no cinemão americano. O espectador que conseguir passar por cima da mão pesada do diretor vai gostar bastante deste episódio final do Homem Morcego. O filme tem 164 minutos de duração e muito pouco humor, e seria mais fácil de digerir se não se levasse tanto a sério. É o tipo de filme de super-herói que não faz auto-paródia, como "Os Vingadores", por exemplo.

Nolan trabalha com um elenco que o acompanha não só desde o primeiro "Batman", mas muitos deles também trabalharam com ele em "A Origem" (2010), como Michael Caine (o mordomo Alfred), Tom Hardy (irreconhecível como Bane), Joseph Gordon-Levitt (o policial Blake) e a francesa Marion Cotillard (Miranda Tate). Morgan Freeman volta como o "professor pardal" Lucius Fox e Gary Oldman reassume o papel do Comissário Gordon. Anne Hathaway estréia como a Mulher Gato, que não é necessariamente uma vilã. Christian Bale interpreta novamente Wayne e Batman. A trama é, como todo roteiro de Nolan, complicada. Bane se apodera de um reator desenvolvido pelas empresas Wayne que geraria energia limpa para a cidade de Gothan, mas que nunca havia sido usado porque Bruce Wayne temia, com razão, que ele pudesse ser transformado em uma arma. É exatamente o que faz Bane, com a ajuda de um cientista russo que ele captura em uma sequência espetacular que abre o filme. De posse da bomba nuclear, Bane faz toda cidade de Gothan de refém, cortando as ligações com o resto do mundo. Gothan, neste filme, foi filmada em Nova York, e não em Chicago, como nos outros filmes, para reforçar o isolamento da ilha de Manhattan.

(AVISO DE SPOILERS) Bane destrói a Bolsa de Valores, implode um estádio de futebol americano (em uma cena espetacular já revelada nos trailers) e faz um discurso aos cidadãos da cidade que é uma mistura de anarquismo com um socialismo deturpado. Muito pesado para um filme de super-heróis? Talvez, mas este é o cinema de Christopher Nolan. E onde está Batman, em meio a tudo isso? Ele, ou Bruce Wayne, está no fundo de um poço/prisão daqueles que só existem em filmes, pois dão ao herói a chance de escapar (um vilão de verdade simplesmente mataria Bruce Wayne, mas aí não teríamos o filme, certo?). Pena que, depois de tanta pompa e circunstância, o final de "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge" caia no clichê de uma luta corpo a corpo e em uma bomba daquelas que tem um contador grande e vermelho mostrando quantos segundos faltam para ela explodir. Apesar disso tudo, para quem gosta de um filme lento e bem feito, "Batman" é bom de se ver. Nolan, indo na contra-mão do cinema digital, é dos diretores que ainda usam película para filmar e, mais louvável ainda, se recusou a fazer o filme em três dimensões, como dita a "moda" corrente. Assim como nos outros capítulos, partes do filme foram filmadas em sistema IMAX, com película de bitola de maior resolução, o que dá ao filme um visual espetacular. E apesar de estar sendo divulgado como o último filme do super-herói, o final deixa aberta a porta para possíveis continuações.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A Origem

É um sonho. Você não sabe como foi parar lá. Enquanto ele acontece, parece tão real que você sente as mesmas dores, medos, alegrias, frustrações e desejos de quando está acordado. Ao mesmo tempo, há "algo" que lhe diz que não é verdadeiro. A cronologia é bagunçada. Você é capaz de feitos incríveis, como voar ou conquistar aquela pessoa que deseja. E quem nunca acordou assustado ao sonhar que estava caindo?

Todas estas situações, e muito mais, são usadas pelo diretor Christopher Nolan na criação de "A Origem". Nolan sempre gostou de desafios. Em "Memento" (2000) ele contou uma história ao contrário, com o filme partindo do final e indo para o começo. Em "Insônia" (2002) ele explorou a estranha investigação de um crime em um lugar em que nunca anoitecia. Em "O Grande Truque" (2006), a rivalidade entre dois mágicos é levada às últimas consequências. Nolan também foi o responsável pela volta do Homem Morcego nas versões sombrias de "Batman Begins" (2005) e "O Cavaleiro das Trevas" (2008). Seu enorme sucesso lhe permitiu produzir este roteiro ambicioso, de própria autoria, que lida com o mundo dos sonhos e do subconsciente.

Leonardo DiCaprio é Cobb, um especialista pago para invadir o sonho de pessoas para, através de manipulação ou intimidação, roubar informações. Seu próprio subconsciente carrega um problema, um trauma causado pela morte de sua esposa, Mal (Marion Cotillard), que invariavelmente acaba invadindo seus sonhos e atrapalhando a missão. Cobb não realiza as operações sozinho. Ele precisa da ajuda de outros especialistas, como uma "Arquiteta" (Ellen Page, a eterna "Juno"), responsável por criar o ambiente em que o sonho se passa. Há também o "Químico" (Dileep Rao), responsável por fazer a equipe dormir através de drogas de potências variadas. Há especialistas em se passar por outras no subconsciente da pessoa "invadida", e assim por diante. Há várias influências de "Matrix" (que já era um pastiche de várias fontes pop, como o livro "Neuromancer", de William Gibson) no roteiro. Mas "Matrix" influenciou mais na composição da equipe de DiCaprio do que propriamente no conceito de viver em uma realidade alternativa. Nolan poderia ter feito um filme voltado somente para o lado psicológico do ser humano, mas deve-se levar em conta seu lugar como diretor de filmes de massa, com a necessidade de entreter a parte da platéia que, lá pelo meio do filme, já não está entendendo mais nada.

Assim, pondo um pouco de lado e aceitando esse lado comercial do filme (que envolve perseguições e tiroteios, esperados em um filme de ação), o roteiro de Nolan é inteligente. Não contente em escrever uma história que se passa dentro do sonho de uma pessoa, "A Origem" mergulha em diversos níveis de sonho dentro de sonhos, cada um influenciado pelos acontecimentos do nível superior. Assim, como acontece na vida real, estímulos externos como movimentos bruscos ou ruídos afetam o que acontece no sonho, o que rende situações incríveis. Como se isso não bastasse, Nolan ainda usa o princípio de que, no sonho, o tempo parece passar mais devagar do que na vida real. Quem nunca cochilou por apenas cinco minutos e passou por um sonho que parece ter durado horas? Assim, o roteiro envia Cobb e sua equipe para dentro de diversos níveis de sonhos na mente de Robert Fischer (Cillian Murphy), herdeiro de um império empresarial que um rival (Ken Watanabe) quer destruir. Dentro de cada nível do subconsciente o tempo demora mais para passar, e todos devem ser sincronizados em um momento chave em que um acontecimento brusco pré-programado vai acordar os participantes e trazê-los de volta à realidade.

Há alguns detalhes que parecem ter sido criados para provocar o subconsciente do espectador. A música usada para acordar os "viajantes" é "Non, je ne regret rien" (Eu não me arrependo de nada), música de Edith Piaf que foi interpretada pela mesma Marion Cotillard que faz a esposa problemática de DiCaprio. O próprio DiCaprio interpretou um homem traumatizado pela morte da esposa em "Ilha do Medo", de Martin Scorsese. Coincidência? (Falando em música, deve-se lamentar a trilha sonora de Hans Zimmer, que toca sem parar por quase todo filme, que ganharia com um pouco mais de silêncio).

Crítica e público debatem a suposta genialidade de Christopher Nolan desde "Memento" e a balança, por enquanto, ainda pende para o lado do diretor. Seu maior problema é a tendência de querer explicar cada detalhe do que coloca na tela, em diálogos expositivos que soam artificiais demais. Nolan pode não ser um Kubrick (que também não era perfeito), mas na baixa criatividade e originalidade do cinema atual, sem dúvida ele está acima da média.


sábado, 19 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas


Em meu texto sobre "Batman Begins", em 2005, eu terminei dizendo: "Em alguns anos, imagina-se, Batman estará de volta. Agora que seu início já foi contado, vai ser difícil fazer uma continuação tão interessante quanto este primeiro episódio". Eu estava enganado. Em vários aspectos, "Batman - O Cavaleiro das Trevas" é tão bom quanto seu predecessor. Em outros, é até melhor. Este é um filme mais pesado que o anterior. O diretor e roteirista Christopher Nolan resolveu explorar ainda mais o lado sombrio de seu personagem principal trazendo tons trágicos para a narrativa. O que inclui a morte de personagens principais, um clima de insegurança constante e a criação de dois personagens que são como os lados opostos da mesma moeda: o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart, muito bem no papel) e o vilão Coringa. Este último, para aumentar ainda mais o tom trágico do filme, foi interpretado por Heath Ledger, jovem ator que morreu de overdose de remédios pouco depois das filmagens. O ator estava com problemas pessoais (separação da esposa e filha) e a overdose pode não ter sido acidental. Há quem diga que interpretar o Coringa pode ter contribuído para sua morte. Jack Nicholson, que interpretou o mesmo personagem na versão de Tim Burton em 1989, ao saber da morte de Ledger, teria dito apenas: "Eu avisei ele".


Gothan City está em guerra com os mafiosos, e Batman tem ajudado secretamente seu amigo Jim Gordon (Gary Oldman) a combater os criminosos. Mas agora há um rosto novo (e horrível) na cidade. O Coringa (cuja origem nunca é explicada direito) tem realizado grandes roubos do dinheiro da Máfia e o está usando para aterrorizar a cidade. Ele começa a matar inocentes e diz que só vai parar quando Batman revelar sua identidade. A cidade conta com a presença de Batman para ajudá-la embora, no fundo, ele seja considerado um justiceiro criminoso até pelo promotor Harvey Dent, que aparece como uma nova esperança. Dent é chamado de "cavaleiro branco" e há esta interessante oposição entre sua figura limpa e decente e a figura sombria e conturbada de Batman. O "Cavaleiro das Trevas", no fundo, está mais próximo do Coringa do que de Dent, e ele tem consciência disto. Christian Bale, novamente no papel de Bruce Wayne/Batman, é um ator completo, que consegue passar tanto a imagem do rico "playboy" que aparentemente não liga para nada quanto sua sombra vestida de morcego. Seu Batman parece uma máquina quando enfrenta os criminosos, e sua voz não soa humana. Mas o filme é plausível o suficiente para você acreditar que uma pessoa comum (extremamente bem treinada e equipada) poderia fazer o que Batman faz. Katie Holmes, atual senhora Tom Cruise, foi substituída no papel da promotora Rachel Dawes por Maggie Gyllenhaal, e foi uma boa troca. Ela é mais talentosa e serve como ponto de apoio entre Harvey Dent e Bruce Wayne.


O "fantasma" do 11 de setembro paira sobre o filme. O Coringa é chamado várias vezes de "terrorista" e certas cenas lembram o ataque que destruiu o World Trade Center. O próprio poster do filme (veja acima), me lembrou muito a imagem do avião invadindo as Torres Gêmeas (compare ao lado). O Coringa não está interessado em dinheiro. Como diz Alfred (o grande Michael Caine) a seu patrão, algumas pessoas só querem ver o circo pegar fogo. Heath Ledger desaparece na figura terrível do Coringa, cujas cicatrizes no rosto o deixam permanentemente com um sorriso macabro. A trilha sonora (de Hans Zimmer e James Newton Howard) criou uma nota distorcida que fica soando toda vez que o Coringa está em cena, e há a sensação de que algo ruim pode acontecer a qualquer momento. O tema do antagonismo, da existência de lados opostos e da escolha permeia todo o filme. O Coringa representa o próprio "Medo" encarnado, a existência de um mundo sem ética, moral ou regra de qualquer espécie. Há uma cena em que Batman está batendo nele, tentando tirar uma informação, e ele diz simplesmente que não há nada que ele possa fazer para assustá-lo, pois ele não conhece limites. Até Batman tem limites e regras, como foi visto no primeiro filme (quando Bruce Wayne, em seu treinamento no Oriente, se recusou a matar um homem desarmado).
Há um ótimo símbolo no filme na forma de uma moeda que tem o mesmo desenho nas duas faces. É com ela que Harvey Dent aparentemente "tira a sorte" quando quer decidir alguma coisa. Mas o que aconteceria se esta moeda deixasse de ter apenas uma face? Será que ele se tornaria tão cruel quanto o assassino de "Onde os fracos não têm vez"? Não é sempre que um "blockbuster" de verão como este levanta questões tão interessantes sobre moral e ética. Christopher Nolan seguiu a cartilha de George Lucas quando criou "O Império Contra Ataca", o sombrio segundo capítulo da trilogia original de "Guerra nas Estrelas", em 1981.
"O Cavaleiro das Trevas" termina de forma depressiva, mas com a esperança de que, em um terceiro capítulo que certamente virá, as coisas melhorem.