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domingo, 11 de dezembro de 2016

Sully: O Herói do Rio Hudson (2016)

Em 15 de janeiro de 2009, um Airbus 320 partiu do aeroporto de LaGuardia, em Nova York, carregando 155 passageiros e tripulantes. Apenas 208 segundos depois, com as duas turbinas destruídas por pássaros em voo, o avião pousou gentilmente sobre as águas geladas do Rio Hudson. Helicópteros e barcos da guarda costeira conseguiram resgatar todos com vida. A cidade de Nova York, ainda sofrendo os efeitos dos ataques ao World Trade Center em 2001, transformou o caso em uma grande celebração. O capitão do avião, Chesley "Sully" Sullenberger, foi transformado em herói nacional, fez inúmeras entrevistas e era abraçado por estranhos na rua; mas será que ele, ao pousar na água, teria tomado a decisão certa?

É esta questão que "Sully", o mais novo filme do veterano diretor Clint Eastwood, tenta responder. Sully é interpretado por ninguém menos que Tom Hanks, que aos 60 anos é, provavelmente, o ator mais amado desta geração (há vinte anos, provavelmente, o próprio Eastwood teria interpretado o papel). Hanks, desnecessário dizer, está ótimo e a produção é mais do que competente como entretenimento adulto. Falta, no entanto, um pouco mais de garra ao filme.

Clint Eastwood está com 86 anos e já fez desde obras primas (Os Imperdoáveis, Sobre Meninos e Lobos) a filmes divertidos, mas descartáveis (Cowboys do Espaço) até bobagens (Além da Vida). "Sully" se agarra às costas de Tom Hanks para se manter, literalmente, acima da água. Há alguns vícios antigos que chamam a atenção, como o fato dos burocratas que estão analisando o incidente terem todos cara de "mau" e agirem de forma desagradável. Laura Linney, brilhante em "Sobre Meninos e Lobos", está aqui reduzida à mulher "do lar" que fica apenas chorando no telefone com Tom Hanks ou falando sobre problemas financeiros. Uma trilha sonora açucarada é ouvida cada vez que testemunhamos um ato heroico ou tocante.

Por outro lado, fica claro que estamos diante de um diretor que, em grande parte do tempo, sabe o que está fazendo. Eastwood usa de efeitos criados em computação gráfica de forma discreta e muito eficiente. A direção de atores (a não ser com os "vilões") é boa e Aaron Ekhart, particularmente, está ótimo como Jeff Skyles, o espirituoso co-piloto de Sully. Os 208 segundos do voo são recriados de forma precisa e repetidos por diversas vezes durante o filme, de diferentes pontos de vista. Eastwood optou por contar a história de forma não linear, começando após o acidente e retornando a ele de tempos em tempos, durante o transcorrer da investigação. 

A sequência final se passa em uma daquelas "cenas de tribunal" que, se não fossem os talentos envolvidos, caberiam melhor em um telefilme de sábado à noite. O que fica de Sully é que pessoas são mais importantes do que simulações de computador, e bons atores como Tom Hanks, por enquanto, ainda batem qualquer computação gráfica. O produto final é um filme que merece ser visto, mas está longe de ser memorável.

João Solimeo

sábado, 19 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas


Em meu texto sobre "Batman Begins", em 2005, eu terminei dizendo: "Em alguns anos, imagina-se, Batman estará de volta. Agora que seu início já foi contado, vai ser difícil fazer uma continuação tão interessante quanto este primeiro episódio". Eu estava enganado. Em vários aspectos, "Batman - O Cavaleiro das Trevas" é tão bom quanto seu predecessor. Em outros, é até melhor. Este é um filme mais pesado que o anterior. O diretor e roteirista Christopher Nolan resolveu explorar ainda mais o lado sombrio de seu personagem principal trazendo tons trágicos para a narrativa. O que inclui a morte de personagens principais, um clima de insegurança constante e a criação de dois personagens que são como os lados opostos da mesma moeda: o promotor Harvey Dent (Aaron Eckhart, muito bem no papel) e o vilão Coringa. Este último, para aumentar ainda mais o tom trágico do filme, foi interpretado por Heath Ledger, jovem ator que morreu de overdose de remédios pouco depois das filmagens. O ator estava com problemas pessoais (separação da esposa e filha) e a overdose pode não ter sido acidental. Há quem diga que interpretar o Coringa pode ter contribuído para sua morte. Jack Nicholson, que interpretou o mesmo personagem na versão de Tim Burton em 1989, ao saber da morte de Ledger, teria dito apenas: "Eu avisei ele".


Gothan City está em guerra com os mafiosos, e Batman tem ajudado secretamente seu amigo Jim Gordon (Gary Oldman) a combater os criminosos. Mas agora há um rosto novo (e horrível) na cidade. O Coringa (cuja origem nunca é explicada direito) tem realizado grandes roubos do dinheiro da Máfia e o está usando para aterrorizar a cidade. Ele começa a matar inocentes e diz que só vai parar quando Batman revelar sua identidade. A cidade conta com a presença de Batman para ajudá-la embora, no fundo, ele seja considerado um justiceiro criminoso até pelo promotor Harvey Dent, que aparece como uma nova esperança. Dent é chamado de "cavaleiro branco" e há esta interessante oposição entre sua figura limpa e decente e a figura sombria e conturbada de Batman. O "Cavaleiro das Trevas", no fundo, está mais próximo do Coringa do que de Dent, e ele tem consciência disto. Christian Bale, novamente no papel de Bruce Wayne/Batman, é um ator completo, que consegue passar tanto a imagem do rico "playboy" que aparentemente não liga para nada quanto sua sombra vestida de morcego. Seu Batman parece uma máquina quando enfrenta os criminosos, e sua voz não soa humana. Mas o filme é plausível o suficiente para você acreditar que uma pessoa comum (extremamente bem treinada e equipada) poderia fazer o que Batman faz. Katie Holmes, atual senhora Tom Cruise, foi substituída no papel da promotora Rachel Dawes por Maggie Gyllenhaal, e foi uma boa troca. Ela é mais talentosa e serve como ponto de apoio entre Harvey Dent e Bruce Wayne.


O "fantasma" do 11 de setembro paira sobre o filme. O Coringa é chamado várias vezes de "terrorista" e certas cenas lembram o ataque que destruiu o World Trade Center. O próprio poster do filme (veja acima), me lembrou muito a imagem do avião invadindo as Torres Gêmeas (compare ao lado). O Coringa não está interessado em dinheiro. Como diz Alfred (o grande Michael Caine) a seu patrão, algumas pessoas só querem ver o circo pegar fogo. Heath Ledger desaparece na figura terrível do Coringa, cujas cicatrizes no rosto o deixam permanentemente com um sorriso macabro. A trilha sonora (de Hans Zimmer e James Newton Howard) criou uma nota distorcida que fica soando toda vez que o Coringa está em cena, e há a sensação de que algo ruim pode acontecer a qualquer momento. O tema do antagonismo, da existência de lados opostos e da escolha permeia todo o filme. O Coringa representa o próprio "Medo" encarnado, a existência de um mundo sem ética, moral ou regra de qualquer espécie. Há uma cena em que Batman está batendo nele, tentando tirar uma informação, e ele diz simplesmente que não há nada que ele possa fazer para assustá-lo, pois ele não conhece limites. Até Batman tem limites e regras, como foi visto no primeiro filme (quando Bruce Wayne, em seu treinamento no Oriente, se recusou a matar um homem desarmado).
Há um ótimo símbolo no filme na forma de uma moeda que tem o mesmo desenho nas duas faces. É com ela que Harvey Dent aparentemente "tira a sorte" quando quer decidir alguma coisa. Mas o que aconteceria se esta moeda deixasse de ter apenas uma face? Será que ele se tornaria tão cruel quanto o assassino de "Onde os fracos não têm vez"? Não é sempre que um "blockbuster" de verão como este levanta questões tão interessantes sobre moral e ética. Christopher Nolan seguiu a cartilha de George Lucas quando criou "O Império Contra Ataca", o sombrio segundo capítulo da trilogia original de "Guerra nas Estrelas", em 1981.
"O Cavaleiro das Trevas" termina de forma depressiva, mas com a esperança de que, em um terceiro capítulo que certamente virá, as coisas melhorem.