Mostrando postagens com marcador tom hanks. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador tom hanks. Mostrar todas as postagens

sábado, 23 de março de 2024

Mestres do Ar (Masters of the Air, 2024)

Mestres do Ar (Masters of the Air, 2024). Criado por John Orloff. Apple TV+. Minissérie em nove capítulos que pode ser considerada a última parte de uma trilogia iniciada por "Band of Brothers" (2001) e continuada por "The Pacific" (2010), ambas produzidas pela HBO (e disponíveis na Netflix). Enquanto a primeira focava em um grupo de soldados lutando contra os nazistas em terra na Europa e a segunda os americanos contra os japoneses no Pacífico, "Mestres do Ar" foca nos aviadores que bombardearam a Europa Ocidental na II Guerra Mundial. A produção executiva é dos mesmos Steven Spielberg e Tom Hanks, mas "Mestres do Ar" não foi produzida pela HBO (que não quis arcar com o orçamento de 250 milhões de dólares), mas pela Apple TV+.

"Mestres do Ar" demora a engrenar. A boa notícia é que ela melhora bastante. Demora para você se identificar com os personagens ou mesmo se importar com eles. Há uma série de ataques aéreos sobre a Alemanha que são repetitivos e não muito emocionantes. Fotografia e efeitos especiais são muito "limpos" e, a bem da verdade, parece que você está vendo um video game muito bem feito. A série começa a melhorar do quarto episódio para frente, quando o foco sai de dentro do cockpit e vemos situações diferentes, como pilotos abatidos tendo que tentar escapar do território ocupado ou, mais para frente, quando vemos outros pilotos em campos de prisioneiros. O elenco é muito bom, encabeçado por Austin Butler (ainda soando como Elvis rs) como o Major Buck Cleven, acompanhado por Callum Turner como o Major John Egan. O onipresente Barry Keoghan interpreta outro piloto, o Tenente Curtis.

A série, claro, acaba focando mais nos americanos; os pilotos britânicos são vistos como arrogantes ou mesmo covardes (por só voarem à noite). Há meio episódio dedicado a aviadores negros que bombardeavam a Alemanha a partir da Itália e a série até dá crédito aos russos por liberarem parte da Alemanha. O Japão e as bombas atômicas, no entanto, não são mencionados. No mundo complicado e ambíguo de hoje, os nazistas ainda são os únicos inimigos universalmente odiados e ainda é seguro fazer filmes e séries em que os americanos são vistos acabando com eles. "Mestres do Ar" tem nove episódios e diretores como Cary Joji Fukunaga (007: Sem tempo para morrer, True Detective) e Tim Van Patten (Família Soprano, Game of Thrones). Disponível na Apple TV+.  

domingo, 21 de maio de 2023

O pior vizinho do mundo (A man called Otto, 2022)

O pior vizinho do mundo (A man called Otto, 2022). Dir: Mark Forster. HBO Max. Versão americana de um filme sueco que, infelizmente, não vi (mas provavelmente era melhor), "O pior vizinho do mundo" é simpático e previsível. Tom Hanks, quem diria, já tem idade para fazer o papel do "velho rabugento" que, em outras épocas, seria feito por Walter Matthau ou, talvez, Clint Eastwood. Ele é Otto, um viúvo que está desgostoso da vida, briga com todo mundo e implica com a vizinhança; mas, para surpresa de zero pessoas, no fundo ele tem bom coração.


O bom elenco de coadjuvantes é elevado pela mexicana Mariana Treviño, que interpreta a nova vizinha de Otto, Marisol. Ela é cheia de vida, tem um marido bobão, duas filhas lindas e mais um bebê a caminho. Otto já estava literalmente com a corda no pescoço quando a mexicana bateu à sua porta trazendo comida e se apresentando. Aos poucos, o coração gelado do velho acaba sendo derretido pela moça e pela família dela. Em uma subtrama, ficamos sabendo que uma imobiliária quer despejar os moradores da vizinhança e construir prédios no lugar. Por um momento achei que a casa de Hanks fosse sair voando, carregada por balões de festa.

Como disse, o filme é bem simpático, apesar de previsível. Hanks está bem como o velho Otto e o roteiro mistura comédia com boas pitadas de drama. Flashbacks mostram a vida de casado de Otto com o amor da sua vida, Sonya (Rachel Keller), uma professora. A boa trilha sonora é de Thomas Newman e a direção de Mark Forster, que teve uma carreira bem diversa, dirigindo 007 (Quantum of Solace), Guerra Mundial Z, Em busca da Terra do Nunca, etc. Disponível na HBO Max.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

The Pacific (2010)

The Pacific (2010). Vários diretores. HBO Max. Assinar a HBO Max, para mim, tem mais a ver com explorar o acervo passado do canal do que o presente. "The Pacific" é um dos motivos. É uma minissérie irmã de "Band of Brothers" (2001), espetacular retrato da reconquista da Europa pelos soldados aliados na 2ª Guerra Mundial. Como diz o título, "The Pacific" foca nas batalhas travadas pelos americanos contra os japoneses nas centenas de ilhas do Oceano Pacífico. Não é tão boa quanto "Band of Brothers", mas chega perto. São dez capítulos com produção executiva de Tom Hanks e Steven Spielberg, o que garantiu um alto orçamento e cenas de batalhas quase tão espetaculares quanto "O Resgate do Soldado Ryan" (1998).

Baseada em relatos de combatentes reais, a série acompanha uma série de Fuzileiros Navais (os famosos "Marines") em ferozes lutas travadas no mar, nas praias e selvas de diversos arquipélagos dominados pelos japoneses. Spielberg estabeleceu um padrão de realismo (e violência) em "Soldado Ryan" que revolucionou o modo como o cinema retratou a 2ª Guerra, e "The Pacific" recria isso em violentas cenas de combates. Entre uma batalha e outra, porém, o roteiro trata do lado humano dos fuzileiros, focando em três personagens, Robert Leckie (James Badge Dale), Eugene Sledge (Joseph Mazzello) e John Basilone (Jon Seda). Curioso que Joseph Mazzello divida a tela com um jovem Rami Malek. Os dois trabalhariam juntos, anos depois, interpretando John Deacon e Freddie Mercury em "Bohemian Rhapsody".

Há mais episódios "parados" do que "Band of Brothers", creio; o combate no Pacífico estava mais para um guerrilha na selva do que a guerra na Europa. Por outro lado, "The Pacific" é mais ousada em cenas de nudez e sexo (o que, se não me engano, não havia em "Band of Brothers"). Há um episódio passado na Austrália em que vemos vários soldados americanos se envolvendo com as mulheres locais. É uma série americana, então claro que os americanos são vistos como heróis que salvaram o mundo, apesar de haver várias cenas em que o comportamento deles é questionável. Os japoneses pouco são vistos, a não ser como centenas de alvos, morrendo (e matando) às centenas. Os americanos se referem a eles com uma série de nomes racistas e preconceituosos (o que, provavelmente, é uma recriação realista de como se falava na época), embora seja aparente certo respeito como combatentes ferozes. O último episódio mostra a volta para casa dos soltados, a maioria com uma expressão de "e agora?" no rosto. PS: uma terceira série está sendo feita pelos mesmos produtores; aparentemente, vai tratar dos aviadores, mas não será veiculada pela HBO, mas pela Apple. Sinal dos tempos.

 

domingo, 11 de dezembro de 2016

Sully: O Herói do Rio Hudson (2016)

Em 15 de janeiro de 2009, um Airbus 320 partiu do aeroporto de LaGuardia, em Nova York, carregando 155 passageiros e tripulantes. Apenas 208 segundos depois, com as duas turbinas destruídas por pássaros em voo, o avião pousou gentilmente sobre as águas geladas do Rio Hudson. Helicópteros e barcos da guarda costeira conseguiram resgatar todos com vida. A cidade de Nova York, ainda sofrendo os efeitos dos ataques ao World Trade Center em 2001, transformou o caso em uma grande celebração. O capitão do avião, Chesley "Sully" Sullenberger, foi transformado em herói nacional, fez inúmeras entrevistas e era abraçado por estranhos na rua; mas será que ele, ao pousar na água, teria tomado a decisão certa?

É esta questão que "Sully", o mais novo filme do veterano diretor Clint Eastwood, tenta responder. Sully é interpretado por ninguém menos que Tom Hanks, que aos 60 anos é, provavelmente, o ator mais amado desta geração (há vinte anos, provavelmente, o próprio Eastwood teria interpretado o papel). Hanks, desnecessário dizer, está ótimo e a produção é mais do que competente como entretenimento adulto. Falta, no entanto, um pouco mais de garra ao filme.

Clint Eastwood está com 86 anos e já fez desde obras primas (Os Imperdoáveis, Sobre Meninos e Lobos) a filmes divertidos, mas descartáveis (Cowboys do Espaço) até bobagens (Além da Vida). "Sully" se agarra às costas de Tom Hanks para se manter, literalmente, acima da água. Há alguns vícios antigos que chamam a atenção, como o fato dos burocratas que estão analisando o incidente terem todos cara de "mau" e agirem de forma desagradável. Laura Linney, brilhante em "Sobre Meninos e Lobos", está aqui reduzida à mulher "do lar" que fica apenas chorando no telefone com Tom Hanks ou falando sobre problemas financeiros. Uma trilha sonora açucarada é ouvida cada vez que testemunhamos um ato heroico ou tocante.

Por outro lado, fica claro que estamos diante de um diretor que, em grande parte do tempo, sabe o que está fazendo. Eastwood usa de efeitos criados em computação gráfica de forma discreta e muito eficiente. A direção de atores (a não ser com os "vilões") é boa e Aaron Ekhart, particularmente, está ótimo como Jeff Skyles, o espirituoso co-piloto de Sully. Os 208 segundos do voo são recriados de forma precisa e repetidos por diversas vezes durante o filme, de diferentes pontos de vista. Eastwood optou por contar a história de forma não linear, começando após o acidente e retornando a ele de tempos em tempos, durante o transcorrer da investigação. 

A sequência final se passa em uma daquelas "cenas de tribunal" que, se não fossem os talentos envolvidos, caberiam melhor em um telefilme de sábado à noite. O que fica de Sully é que pessoas são mais importantes do que simulações de computador, e bons atores como Tom Hanks, por enquanto, ainda batem qualquer computação gráfica. O produto final é um filme que merece ser visto, mas está longe de ser memorável.

João Solimeo

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Capitão Phillips

Em abril de 2009 um navio cargueiro americano chamado Maersk Alabama foi abordado por quatro piratas da Somália que usavam um simples barco de pesca impulsionado por motores de popa. Apesar da região ser conhecida por este tipo de ataques, ninguém a bordo do Alabama estava armado, o que os fez presa fácil para os piratas. O capitão do navio se chamava Rich Phillips (Tom Hanks), que tentou negociar com Muse (Barkhad Abdi), o líder do grupo de somalianos, a liberação do navio e da tripulação. Hanks novamente interpreta o papel do "homem comum" (que ele faz tão bem) enfrentando uma situação extraordinária; ele será provavelmente indicado mais uma vez ao Oscar (já venceu dois) por causa de uma cena extraordinária no final do filme, da qual falaremos mais tarde.

"Capitão Phillips" é baseado em uma história real (embora aparentemente muito romanceada) e é dirigido por um mestre em filmes de ação, Paul Greengrass (de "A Supremacia Bourne", "O Ultimato Bourne", "Voo United 93", etc). Greengrass é famoso pela câmera nervosa e imagem granulada, em estilo documental, e ele novamente faz uso destas técnicas aqui, embora de forma mais comedida. Ele também tem grande domínio sobre o suspense, e as cenas iniciais de "Capitão Phillips", da partida do navio até o embarque dos piratas, são muito bem feitas, com um ritmo que começa lento e vai acelerando aos poucos. O fato de que praticamente todos os atores serem desconhecidos (ou mesmo amadores escolhidos especialmente para este filme) só aumenta o realismo (e a identificação com Tom Hanks).


Curiosamente, o filme perde um pouco do gás assim que os piratas chegam a bordo. Quase toda a tripulação do Alabama está escondida, e Phillips começa um jogo de paciência com Muse, tentando evitar que ele encontre o resto de seus homens. Há longas cenas mostrando os dois indo de um lado para o outro dentro do grande navio enquanto a tripulação tenta não ser encontrada. Após um confronto com os piratas, eles acabam fugindo do cargueiro em um pequeno barco baleeiro, levando o Capitão Phillips como refém, e o filme muda de rumo. Entra em cena a Marinha americana e Greengrass parece um pouco deslumbrado em mostrar o poderio bélico do gigante americano contra aqueles quatro piratas esqueléticos, desesperados e famintos dentro do barquinho de metal.

ATENÇÃO, AVISO DE (POSSÍVEIS) SPOILERS

E então chegamos à última cena, em que Tom Hanks dá um show que vai lhe garantir mais uma indicação ao Oscar. Esqueçam o suspense, as questões políticas, os erros e acertos do filme que, até aqui, havia sido bom, mas nada de excepcional. Resta apenas a belíssima interpretação de Tom Hanks, esgotado, surrado, coberto de sangue em em choque, em uma cena que vale o filme.

FIM DOS SPOILERS

Há controvérsias sobre se o verdadeiro Capitão Phillips teria sido realmente o herói retratado no filme. Na internet podem ser lidos artigos e entrevistas com outros tripulantes do navio refutando a versão presente no filme e no livro lançado pelo verdadeiro Rich Phillips há alguns anos. Como ficção, no entanto, "Capitão Phillips" é uma boa pedida.

Câmera Escura

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

A Viagem

O título brasileiro para "Cloud Atlas" não poderia ser mais apropriado (ou irônico). Feito a seis mãos, "A Viagem" é um épico que mistura gêneros, épocas e até mesmo raças para contar uma história geral a partir de seis tramas individuais. A direção, produção e roteiro é dos irmãos Andy e Lana Wachowski, criadores da série "Matrix", e do alemão Tom Tykwer, baseados em um livro escrito por David Mitchell. O filme é quase impossível de resumir. São várias histórias e diversos personagens interpretados por um mesmo grupo de atores, Tom Hanks (Tão Forte e Tão Perto), Halle Berry, Jim Sturgess, Jim Broadbent, Hugo Weaving (O Hobbit), Ben Whishaw (Skyfall), Doona Bae, Keith David e James Darcy, entre outros.

Em uma época em que os cinemas estão cheios de remakes, continuações e/ou adaptações de quadrinhos, é louvável que um filme original como este tenha sido feito. O problema com "A Viagem" é que ele promete muito mais do que efetivamente cumpre. A campanha publicitária para a produção, que foi um fracasso de bilheteria nos Estados Unidos, foi enorme e um trailer de aproximadamente seis minutos foi exibido por vários meses no Brasil, enaltecendo o lado "inspirador" e de "autoajuda" do filme, com direito a um narrador tentando explicar a história ao dizer que "tudo está conectado".

As tramas lidam, basicamente, com situações que mostram uma classe superior explorando uma classe inferior. No século 19, Jim Sturgess é um advogado que faz amizade com um escravo fugitivo que entrou como clandestino em um navio. Nos anos 1930, Ben Whishaw é um músico homossexual que começa a trabalhar para um grande (mas decadente) compositor interpretado por Jim Broadbent. Nos anos 1970, Halle Berry é uma jornalista que está investigando uma empresa corrupta que explora a energia nuclear. Em 2012, Jim Broadbent é um editor de livros que é enviado contra própria vontade a  uma casa de repouso e tenta escapar. Em um futuro distante, na "Nova Seoul", Coréia, uma garçonete-clone chamada Sonmi-451 é recrutada pela rebelião para ser a líder da resistência contra a "Unanimidade". Um século depois, Tom Hanks vive em um mundo pós-apocalíptico em que sua tribo (que vive em um estado quase pré-histórico) convive com uma raça superior representada por Halle Berry, que quer enviar um sinal para colônias espaciais. Em todas estas histórias há uma relação entre uma casta superior e outra inferior, praticamente escrava, que quer se rebelar. Algumas tramas são muito mais interessantes que outras, em particular as que envolvem Ben Whishaw como músico, a Coréia futurista e principalmente a sociedade pós-apocalíptica vivida por Tom Hanks. Outras tramas são indiferentes ou mesmo desnecessárias; a que se passa na casa de repouso pode ter algumas das poucas cenas engraçadas do filme (que no geral é bastante sério), e Jim Broadbent é sempre um ótimo ator, mas poderia ser facilmente descartada.

O problema com as tramas principais é que todas, apesar de uma edição bem feita que as conecta, criam um suspense e uma expectativa de que "algo" muito relevante vai acontecer no final, prometendo uma "revelação" que não chega. Por mais interessante que seja a história da clone coreana vivida por Doona Bae, fica difícil entender porque a resistência precisa dela; o que é que ela tem a oferecer? Esta trama, aliás, lembra muito o próprio "Matrix" dos irmãos Wachowski e é fácil entender o que os atraiu para este roteiro. Na trama protagonizada por Tom Hanks e Halle Berry, eles sobem uma montanha e o espectador fica esperando que algo espetacular seja encontrado lá em cima, mas não. E quem é aquela figura sombria, vestindo uma cartola e totalmente fora de lugar, que fica assombrando o personagem de Hanks? E para um filme que supostamente quer celebrar a "vida", "A Viagem" apresenta algumas saídas discutíveis para alguns personagens, particularmente um que escolhe o suicídio. Tecnicamente impecável, "A Viagem" tem boa fotografia, edição, efeitos especiais e, claro, maquiagem. Nos créditos, aliás, é possível ver os personagens que cada ator interpretou. "A Viagem" é ambicioso e original mas, com quase três horas de duração, é um espetáculo interessante enquanto está sendo visto, mas que não deixa sua marca ao final.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Tão Forte e Tão Perto

Oskar Schell (Thomas Horn) é um garoto de nove anos que perdeu o pai no atentado de 11 de setembro de 2001. Naquela manhã, Oskar chegou mais cedo da escola e encontrou algumas mensagens gravadas pelo pai na secretária eletrônica, seus últimos registros com vida. A mãe (Sandra Bullock) realizou um enterro simbólico com um caixão vazio, coisa que o pequeno Oskar não consegue aceitar. Ele não é um garoto comum. Extremamente inteligente mas pouco sociável (com suspeita de que seja portador da Síndrome de Asperger), Oskar não consegue digerir a ideia da morte do pai, de quem era muito próximo. Thomas Schell (Tom Hanks, visto em flashbacks) também não era um pai comum. Joalheiro de profissão, ele queria ter sido um cientista e gostava de desafiar o filho com missões estranhas como encontrar provas da existência de um sexto bairro de Nova York, que teria desaparecido.

Um ano após os atentados, Oskar encontra no quarto do pai um misterioso envelope em que está escrita a palavra "Black". Dentro do envelope há uma chave. Acreditando ser um desafio deixado pelo pai, o garoto cria um método para visitar as 472 pessoas com sobrenome "Black" da cidade de Nova York, para descobrir que porta aquela chave abre. "Tão Forte e Tão Perto" é baseado no livro "Extremely Loud & Incredibly Close", de Jonathan Safran Foer. Dirigido por Stephen Daldry ("O Leitor"), com roteiro de Eric Roth ("Forrest Gump") e trilha de Alexander Desplat, o filme tem uma premissa interessante, mas peca pela falta de bom senso. Por mais brilhante que seja o garoto, é necessária uma boa dose de fé para acreditar que Oskar, com nove anos de idade, consiga se virar sozinho pelas ruas de uma cidade como Nova York. E mais, Oskar sofre de vários tipos de fobias (ele se recusa a andar de metrô, por exemplo), o que torna sua missão ainda mais inacreditável. A interpretação do garoto e a boa qualidade técnica em geral, no entanto, conseguem criar suspense suficiente para, ao menos no princípio, tornar o filme interessante. Tom Hanks (e mesmo Sandra Bullock) estão muito bem e o elenco é complementado pela participação especial de Max von Sidow, que aos 82 anos interpreta um senhor que se torna parceiro de Oskar em parte de sua jornada.

O "espectro" do 11 de setembro paira sobre toda a obra e há certa verdade nas acusações de que tanto livro quanto filme explorem a tragédia para arrancar lágrimas da platéia. A parte final, quando se descobre que a mãe de Oskar sabia mais do que aparentava, torna a trama ainda mais absurda e até cruel. O que o garoto precisava é de uma boa terapia para lidar com a morte violenta do pai e não de uma aventura improvável, sozinho, em uma das cidades mais perigosas do mundo. O filme foi feito a toque de caixa para coincidir com o aniversário de dez anos dos atentados, mas foi lançado só no final de 2011 nos Estados Unidos e chega ao Brasil dia 24 de fevereiro. O veterano Max von Sidow recebeu uma indicação (merecida) ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, mas "Tão Forte e Tão Perto" surpreendeu a todos com a indicação a Melhor Filme, sem nenhuma outra indicação a prêmios importantes como direção ou roteiro. Se ganhar, vai ser uma das maiores zebras do Oscar.


sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Jogos do Poder

Outro dia falei aqui de "Leões e Cordeiros", de Robert Redford, e mencionei que lembrava algum episódio de "The West Wing", de Aaron Sorkin. Pois é, "Jogos de Poder" é um Sorkin "legítimo" e conta com uma equipe impressionante. O filme conta a história real de um congressista americano chamado Charlie Wilson (Tom Hanks), um mulherengo que dividia seu tempo entre o congresso em Washington e bordéis em Las Vegas, cercado de "strippers" e cocaína. Apesar deste caráter duvidoso, o filme mostra como Wilson, auxiliado por uma socialite de Houston (Julia Roberts) e um agente excêntrico da CIA (Philip Seymour Hoffman, excelente), ajudou a terminar com a Guerra Fria. Nos anos 80 a antiga União Soviética invadiu o Afeganistão e estava massacrando a população local com helicópteros e armamento pesado. A CIA tinha um orçamento anual de apenas 5 milhões de dólares para "operações especiais" (leia-se espionagem e sabotagem) no país. Wilson se interessa pela situação e pede para dobrar este orçamento, o que atrai a atenção de Joanne Herring (Julia Roberts), a 6a. mulher mais rica do Texas, que "encontrou Jesus" e quer tirar os comunistas do Afeganistão. Apesar de "religiosa", Joanne se envolve sexualmente com o mulherengo Wilson desde a primeira "reunião", e ambos decidem procurar ajuda para resolver o conflito no oriente. Usando os contatos de Joanne e contando com a ajuda do agente da CIA Gust Avrakotos, Wilson elabora um plano de fornecer armamento russo para os rebeldes afegãos contando com a ajuda de inimigos históricos como Israel e a Palestina. O armamento não pode ser americano porque, oficialmente, os Estados Unidos não estavam envolvidos no conflito. Extra-oficialmente, porém, os EUA elevaram cada vez mais o orçamento das operações secretas da CIA, chegando de 5 milhões anuais para até um bilhão de dólares. Com todo esse dinheiro, treinamento e armamento anti-helicópteros, os rebeldes afegãos conseguiram derrotar a União Soviética, que acabou ruindo alguns anos depois. A ironia é que estes afegãos, treinados pelos americanos, iriam se tornar o Taliban.

O filme é dirigido pelo grande Mike Nichols (A primeira noite de um Homem, Closer) e escrito por Aaron Sorkin, roteirista "queridinho" da TV americana que criou e escreveu as séries "Sports Night" (ótima série, mas pouco vista), "The West Wing" e "Studio 60 on the Sunset Strip". Sorkin é conhecido por seus diálogos rápidos e inteligentes ("The West Wing" é provavelmente a série com mais diálogos da história da televisão). "Jogos do Poder" é cheio destes diálogos, mas o filme não é tão bom quanto poderia ser. Achei ele um pouco confuso com o que está realmente tentando passar. A trama é muito focada na ação "heróica" de Wilson e seus companheiros em ajudar os afegãos a derrotar a União Soviética. Quando isso acontece, o filme perde a oportunidade de ser realmente polêmico e mostrar o que aconteceu depois. Sim, nós sabemos que aqueles heróis rebeldes acabaram se tornando os terroristas que os próprios americanos estão caçando hoje, mas por que não deixar isso mais explícito? Talvez o fato de haver tantos astros no filme (três vencedores do Oscar, Hanks, Roberts e Hoffman, fora o diretor Nichols) e o tom leve tenham impedido um aprofundamento maior nas causas e consequências do ocorrido. Fica uma sensação de que falta alguma coisa quando o filme termina, em uma cerimônia de premiação do governo americano para Charlie Wilson.

A direção de fotografia, a cargo de Stephen Goldblatt, é maravilhosa. E Philip Seymour Hoffman rouba todas as cenas. Impressionante comparar sua interpretação aqui como um agente bruto e boca suja, com seu retrato de Truman Capote, pelo qual ganhou o Oscar. Disponível em DVD.