Imperdoável (The Unforgivable, 2021). Dir: Nora Fingscheidt. Netflix. Dramalhão de Supercine que dá para assistir pelo bom elenco. Sandra Bullock estava já com 56 anos nas filmagens e, pelo que entendi, interpreta uma mulher de uns 45. Ela está bem, apesar do rosto bem plastificado. Ela é Ruth Slater, uma mulher que é solta da prisão após cumprir 20 anos pelo assassinato de um policial. A cena do crime é vista em fragmentos durante o filme e é propositalmente confusa. Ruth estava defendendo a própria casa de uma reintegração de posse e não queria se separar da irmã mais nova, Kate.
Vinte anos depois, livre da prisão, Ruth tem como missão reencontrar a irmã, que foi adotada por outra família e tem apenas vagas lembranças do passado. O elenco, como disse, é bom. Vincent D´Onofrio interpreta um advogado que aceita ajudar Ruth. A esposa dele é a grande Viola Davis, totalmente desperdiçada e que faz só umas três cenas. Jon Bernthal é um companheiro de trabalho. Richard Thomas (caramba.... o John Boy?? rs) é o pai adotivo de Kate (Aisling Franciosi).
As filmagens foram interrompidas pela pandemia e retomadas depois, o que talvez explique o sumiço do personagem de D'Onofrio na parte final. Um cara que interpreta o chefe de Sandra Bullock também some sem explicações. É filme de Supercine, mas tem seus momentos. Tá na Netflix.
O diretor mexicano Alfonso Cuarón, que não laçava um filme no cinema desde o excepcional "Filhos da Esperança" (2006), volta à tela grande com um espetáculo audiovisual de tirar o fôlego. "Gravidade" segue a linha de bons filmes realizados sobre astronautas, de "2001 - Uma Odisséia no Espaço" (1968), obra-prima de Stanley Kubrick, passando por filmes como "Os Eleitos" (1983), de Philip Kaufmann, ou "Apollo 13", de Ron Howard. Cuarón é um mestre em reger planos sequência que duram por vários minutos (quem não se lembra daquela sequência incrível passada dentro de um carro em "Filhos da Esperança") e, em "Gravidade", usa e abusa do cinema digital, criando sequências intermináveis que mesclam com perfeição efeitos especiais com interpretações de atores de carne e osso (Sandra Bullock e George Clooney).
O filme transcorre como uma longa sequência que se passa quase que em tempo real, mostrando desde o momento em que Bullock e Clooney ficam "náufragos" no espaço após o ônibus especial deles ser destruído por uma chuva de detritos espaciais, até um final apoteótico (e bastante metafórico), que não vamos revelar.
Assista à crítica em vídeo, abaixo, e deixe seus comentários.
Oskar Schell (Thomas Horn) é um garoto de nove anos que perdeu o pai no atentado de 11 de setembro de 2001. Naquela manhã, Oskar chegou mais cedo da escola e encontrou algumas mensagens gravadas pelo pai na secretária eletrônica, seus últimos registros com vida. A mãe (Sandra Bullock) realizou um enterro simbólico com um caixão vazio, coisa que o pequeno Oskar não consegue aceitar. Ele não é um garoto comum. Extremamente inteligente mas pouco sociável (com suspeita de que seja portador da Síndrome de Asperger), Oskar não consegue digerir a ideia da morte do pai, de quem era muito próximo. Thomas Schell (Tom Hanks, visto em flashbacks) também não era um pai comum. Joalheiro de profissão, ele queria ter sido um cientista e gostava de desafiar o filho com missões estranhas como encontrar provas da existência de um sexto bairro de Nova York, que teria desaparecido.
Um ano após os atentados, Oskar encontra no quarto do pai um misterioso envelope em que está escrita a palavra "Black". Dentro do envelope há uma chave. Acreditando ser um desafio deixado pelo pai, o garoto cria um método para visitar as 472 pessoas com sobrenome "Black" da cidade de Nova York, para descobrir que porta aquela chave abre. "Tão Forte e Tão Perto" é baseado no livro "Extremely Loud & Incredibly Close", de Jonathan Safran Foer. Dirigido por Stephen Daldry ("O Leitor"), com roteiro de Eric Roth ("Forrest Gump") e trilha de Alexander Desplat, o filme tem uma premissa interessante, mas peca pela falta de bom senso. Por mais brilhante que seja o garoto, é necessária uma boa dose de fé para acreditar que Oskar, com nove anos de idade, consiga se virar sozinho pelas ruas de uma cidade como Nova York. E mais, Oskar sofre de vários tipos de fobias (ele se recusa a andar de metrô, por exemplo), o que torna sua missão ainda mais inacreditável. A interpretação do garoto e a boa qualidade técnica em geral, no entanto, conseguem criar suspense suficiente para, ao menos no princípio, tornar o filme interessante. Tom Hanks (e mesmo Sandra Bullock) estão muito bem e o elenco é complementado pela participação especial de Max von Sidow, que aos 82 anos interpreta um senhor que se torna parceiro de Oskar em parte de sua jornada.
O "espectro" do 11 de setembro paira sobre toda a obra e há certa verdade nas acusações de que tanto livro quanto filme explorem a tragédia para arrancar lágrimas da platéia. A parte final, quando se descobre que a mãe de Oskar sabia mais do que aparentava, torna a trama ainda mais absurda e até cruel. O que o garoto precisava é de uma boa terapia para lidar com a morte violenta do pai e não de uma aventura improvável, sozinho, em uma das cidades mais perigosas do mundo. O filme foi feito a toque de caixa para coincidir com o aniversário de dez anos dos atentados, mas foi lançado só no final de 2011 nos Estados Unidos e chega ao Brasil dia 24 de fevereiro. O veterano Max von Sidow recebeu uma indicação (merecida) ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, mas "Tão Forte e Tão Perto" surpreendeu a todos com a indicação a Melhor Filme, sem nenhuma outra indicação a prêmios importantes como direção ou roteiro. Se ganhar, vai ser uma das maiores zebras do Oscar.
O Oscar é um prêmio contraditório. Um filme "pequeno" e independente como "Guerra ao Terror" derrotou a maior bilheteria de todos os tempos, "Avatar". Ao mesmo tempo, um filme ruim como "Um Sonho Possível", improvável sucesso de Sandra Bullock, foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, e a própria Bullock foi considerada a Melhor Atriz do ano (sendo que, no dia anterior ao Oscar, ela havia sido "premiada" como Pior Atriz no "Framboesa de Ouro").
"Um Sonho Possível" tem todas as características de um "feel good movie", em que valores tradicionais americanos como perseverança, família e culto à vitória são defendidos. Uma das principais características da História americana, lamentavelmente, é o racismo, e fica difícil assistir a este filme sem imaginar que ele prega exatamente o oposto do que defende. Sandra Bullock é Leigh Anne Tuhoy, uma mulher rica, cristã e poderosa do sul dos Estados Unidos. Sua família de comercial de televisão é composta por um marido bondoso, uma filha estudiosa e um garoto "esperto". Uma noite fria Leigh Anne vê um jovem negro andando na calçada e pede para o marido parar o carro. Ele é "Big Mike" (Quinton Aaron), um rapaz pobre que conseguiu uma bolsa de estudos para frequentar a mesma escola católica que os filhos de Leigh. Mike é o típico "negro inofensivo" dos filmes (racistas) americanos. Ele é alto e forte, mas tem o coração de uma criança. E, claro, precisa ser salvo por um branco para ser alguém na vida. Sem qualquer objeção do marido ou dos filhos, Leigh Anne convida o rapaz para passar a noite na casa deles, e ele vai ficando. Sem dúvida o filme quer passar valores como solidariedade e amor ao próximo, mas a sensação que o ele passa é a de que Big Mike não passa de um cachorrinho perdido, levado para cima e para baixo pela dona, que o leva para comprar roupas e separa um quarto para ele na casa.
A não ser por alguns comentários das companheiras "dondocas" de Leigh Anne, a transformação instantânea de Big Mike em filho adotivo da família Tuhoy acontece na maior tranquilidade. Não há problemas de adaptação de nenhum dos dois lados, nenhum sinal de revolta por parte de Mike ou de racismo por parte dos Tuhoy. Na escola, apesar de Mike nunca ter tirado notas boas, uma professora encontra, inacreditavelmente, um texto dele no lixo, em que descreve, em prosa e gramática perfeitas, como ele se sente perdido em meio aos "muros brancos" que o cercam. Escrito e dirigido por John Lee Hancock, o filme é "baseado em fatos reais", o que não impede que ele seja completamente inverossímil. Big Mike é adotado legalmente pela família e começa a praticar futebol americano, devido à sua força e tamanho. Mas, novamente, ele é visto como se fosse um portador de necessidades especiais, incapaz de entender o jogo ou o que o técnico quer dele. O que não o impede, milagrosamente, de se tornar a grande atração do time e futura promessa entre os profissionais.
Por tudo isso, "Um Sonho Possível" é formuláico, retrógrado e mau cinema. A interpretação de Bullock não tem nada de excepcional e sua vitória no último Oscar é tão inacreditável quanto o roteiro deste filme.