domingo, 21 de maio de 2023
O pior vizinho do mundo (A man called Otto, 2022)
sexta-feira, 2 de abril de 2021
Meu Pai (The Father, 2020)
O terror está nos detalhes. Na cor e posição de móveis. No tamanho de quartos, salas. Nos quadros da parede. De quem é este apartamento? Quem é essa pessoa? Quem sou...eu? "Meu pai" é, ao mesmo tempo, lindo e assustador. Ao nos colocar no lugar de um homem que, pouco a pouco, está perdendo a memória, o filme mostra como as aparências enganam e como tudo, no fundo, depende da interpretação que fazemos das coisas.
Anthony (um estupendo Anthony Hopkins) é um senhor que mora sozinho em um apartamento enorme em Londres. Sua filha, Anne (Olivia Colman, sempre certeira) vem visitá-lo todos os dias; ela está brava com ele porque ele não consegue se dar bem com nenhuma cuidadora que ela contrata. Ela também lhe diz que está de mudança para Paris porque ela conheceu um homem, com quem vai se casar. Só que, na cena seguinte, Anthony está conversando com um homem que diz ser marido da filha dele. Paris? Não, eles não vão a Paris. A filha chega das compras e Anthony não a reconhece.
"Meu Pai" é escrito e dirigido por Florian Zeller, baseado em uma peça escrita por ele. Não sei como era no teatro, mas Zeller faz um trabalho brilhante e bastante cinematográfico ao puxar o tapete debaixo de nossos pés cena após cena. Pequenas mudanças na direção de arte trocam a posição dos móveis e a cor das paredes. Assim como Anthony, ficamos perdidos espacialmente e, através da edição, temporalmente. Algumas cenas se repetem, com pequenas mudanças; a montagem não é linear.Nada disso funcionaria, porém, sem a brilhante interpretação de Anthony Hopkins, que passa toda gama de emoções através do olhar e da linguagem corporal. O elenco ainda conta com Olivia Williams, Rufus Sewell, Imogen Poots e Mark Gatiss em papéis que se alternam, dependendo da cena.
Este não é, porém, um filme "truque" tipo "Memento", de Christopher Nolan, onde o que importa é a forma. "Meu Pai" usa da técnica para criar empatia. É de cortar o coração, e assustador, ver como toda uma vida, memórias e a própria noção de quem você é vão se perdendo no final da jornada. A última imagem é muito triste, e muito bela. Por todo filme, Anthony fica obsecado por encontrar seu relógio de pulso, é como se ele tentasse segurar o Tempo com as mãos. "Meu Pai" recebeu seis indicações ao Oscar; filme, ator (merecidíssimo, para Hopkins), atriz coadjuvante (Colman), roteiro adaptado, edição e direção de arte. Disponível na Apple TV e, para quem quiser se arriscar, em breve nos cinemas.
sexta-feira, 15 de março de 2013
O Quarteto
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Amor
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Vênus

Mas Maurice sente uma inesperada atração pela atitude da garota e começa a usar do seu velho charme para conquistá-la. Ian pergunta a Maurice, indignado: “o que você faz com ela, na sua idade?”. E Maurice responde simplesmente “algo muito difícil... eu a trato bem”. De fato, a relação entre Maurice e Jessie não é inteiramente platônica... há um subtexto sexual ocorrendo o tempo todo, mas é fato que a idade avançada de Maurice não permite que nada muito físico ocorra. Assim, Maurice passa as tardes levando Jessie ao teatro e a jantares, onde Jessie descobre que ele é razoavelmente famoso. Ele também lhe arruma um emprego como modelo (nua) em uma classe de desenho, mas ela não permite que ele a veja. Maurice começa a chamá-la de “Vênus” depois de levá-la ao museu de arte para ver o quadro de mesmo nome de Diego Velázquez. A garota não tem maturidade para entender os motivos do interesse de Maurice, mas claro que gosta da atenção e, em alguns momentos, permite certas liberdades da parte dele, como deixar que ele beije seu pescoço ou segure suas mãos. Estas cenas (um velho de 74 anos e uma garota de 19) podem soar “impróprias” mas são feitas com muita sensibilidade. Maurice claramente foi um ator belo e desejado na juventude (assim como Peter O´Toole), e a figura de Jessie lhe trás de volta velhos desejos. Jessie (que teve um filho abortado recentemente) não está acostumada a ser bem tratada por ninguém, muito menos por homens.
Vale notar também a presença de Vanessa Redgrave, maravilhosamente “real” e idosa, como a ex-esposa de Maurice. Eles ainda cultivam uma amizade antiga, mas ela guarda certo ressentimento pelas aventuras amorosas que Maurice teve nos tempos de juventude. Há uma bela cena entre os dois em que Maurice demonstra arrependimento pelo que fez. Peter O´Toole está magnífico nos pequenos detalhes de seu personagem e em seu claro declínio físico. O filme não tem ilusões com relação à velhice e também mostra o lado “ruim” (ainda que natural) da idade, como embaraçosas consultas a médicos, problemas físicos e a presença inevitável da morte. O filme está em DVD.