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quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Coriolano

William Shakespeare escreveu a peça "Coriolano" em 1608; o grande ator Ralph Fiennes ("A Lista de Schindler", "Quiz Show", "O Jardineiro Fiel"), que interpretou o papel principal no teatro, resolveu estrear como diretor de cinema adaptando a peça de Shakespeare para a tela grande. Originalmente passada na Roma antiga, a versão de Fiennes se passa agora na Europa moderna; as espadas e lanças foram trocadas por automáticas e fuzis, mas a trama política de Shakespeare permanece atual.

Fiennes interpreta o general Caius Martius Coriolanus, um homem tão duro e invencível quanto antissocial. Ele volta de uma guerra contra o país dos Volscos, liderados por Tullus Aufidius (Gerard Butler), e encontra uma Roma faminta e revoltosa. Os tribunos querem honrar Coriolanus com o cargo de Cônsul, mas ele não tem as habilidades políticas necessárias para conquistar a afeição do povo. Nem mesmo a poderosa mãe de Coriolanus, interpretada pela grande Vanessa Redgrave, consegue fazer com que ele aja de forma apropriada e ele acaba banido de Roma. Magoado e carregando cicatrizes de várias batalhas, Coriolanus vai até seu inimigo, Aufidius, e oferece seus serviços. Ele pretende, assim, se vingar de Roma por tê-lo banido.

O filme foi rodado em grande parte na atual Sérvia, que ainda mostra as marcas da longa guerra que se abateu sobre o país nos anos 1990. Há um elaborado trabalho de figurino e maquiagem, e a interpretação de Fiennes, com o rosto coberto de sangue, é de primeira. É verdade que causa estranheza a linguagem rebuscada de Shakespeare dentro deste cenário moderno, o que dificulta um pouco o entendimento da trama. Mas depois de certo tempo esta estranheza desaparece. Curioso que o roteiro foi adaptado por John Logan, o mesmo que escreveu o épico "Gladiador", filme de Ridley Scott de 2000. Pode-se perceber várias similaridades entre a trama do filme de Scott e a peça de Shakespeare. Assim como Coriolanus, o personagem de Russell Crowe, Maximus, é um general romano que é banido de Roma após uma batalha e volta para a cidade em busca de vingança. O elenco conta ainda com Brian Cox e Jessica Chastain (de "A Árvore da Vida"). "Coriolano" foi co-produzido pela BBC e está disponível no Brasil em DVD.

Câmera Escura

domingo, 5 de outubro de 2008

Ao Entardecer

Há um diálogo em "Ao Entardecer" que praticamente resume todo o filme. Já em idade avançada, Lila Ross (Meryl Streep) e Ann Grant (Vanessa Redgrave) estão conversando sobre suas vidas, e Lila diz que teve bons e maus momentos. "Eu não esperava tanto da vida como você", diz ela. "Ah, eu esperava muito!", responde Redgrave. "Ao Entardecer" é daqueles dramas sensíveis que tratam da vida sob a perspectiva de alguém que a está deixando. Ann Grant está à beira da morte, permanentemente na cama e sob os cuidados de uma enfermeira. Suas filhas Nina (Toni Collette) e Constance (Natasha Richardson) sabem que o final está próximo, e fazem o que podem para mantê-la tranquila. Só que Ann começa a falar sobre pessoas de quem elas nunca ouviram falar antes, sobre um tal "Harris" e sobre "Buddy", que ela teria "matado". A enfermeira e Constance atribuem as falas aos remédios e a delírios, mas Nina está determinada em descobrir quem são aquelas pessoas. Em flashbacks, acompanhamos então a história de Ann quando era uma jovem alegre e independente (interpretada por Claire Danes), que é escolhida para ser a dama de honra de Lila (Mamie Gummer). O casamento vai acontecer em uma bela mansão à beira do mar, propriedade da família Wittenborn, encabeçada por Glenn Close (sim, o elenco feminino deste filme é impressionante).


A família Wittenborn é descrita por Buddy (Hugh Dancy), o filho rebelde e melhor amigo de Ann, como desinteressante até para um vampiro. "Não há sangue o suficiente neles", descreve ele. Buddy é um rapaz sempre alegre (e com um copo de bebida na mão) que quer ser escritor, mas todas suas grandes idéias vêm de livros que já foram escritos. Ele diz a Ann que eles devem convencer Lila a não ir em frente com o casamento, pois ela claramente não está apaixonada pelo futuro marido, Carl (tão desinteressante que passa praticamente o filme todo mudo). Ela estaria interessada em Harris (Patrick Wilson), filho de uma antiga criada da casa e amigo da família. Harris, na verdade, é o ponto chave do filme. Sério, sensato e formado em medicina, o rapaz atrai a atenção tanto das garotas quanto do próprio Buddy, que sobre uma paixão enrustida por ele.


A dinâmica entre Ann, Buddy e Harris me lembrou um pouco do livro de Evelyn Waugh, "Memórias de Brideshead" (transformado em uma espetacular minissérie britânica da Granada Television, nos anos 1980). Em "Brideshead" também havia um rapaz sério (Charles Ryder, interpretado por Jeremy Irons), uma moça independente (Julia Flyte, interpretada por Diana Quick), e o irmão homossexual e alcóolatra (Sebastian Flyte, interpretado por Anthony Andrews). "Ao Entardecer", baseado no livro de Susan Minot, explora estes dias entre a véspera e o dia seguinte ao casamento de Lila. Ao mesmo tempo, intercala cenas do presente, com a relação complicada entre as filhas de Ann. Toni Collette está muito bem como uma mulher confusa e com medo de se comprometer com qualquer carreira ou namorado. Ela está grávida do namorado atual mas ainda não sabe se vai em frente com a gravidez ou com o relacionamento. A direção é do húngaro Lajos Koltai, um competente diretor de fotografia que já havia fotografado filmes como "Adorável Júlia" e "O Clube do Imperador".


"Ao Entardecer" é sim um filme mais voltado ao público feminino mas, ao contrário de vários exemplos do gênero, não tenta alienar o público masculino e trata os personagens com respeito e sensibilidade.


quinta-feira, 8 de maio de 2008

Vênus




O primeiro papel no cinema de Peter O´Toole foi no épico “Lawrence da Arábia” (1962), de David Lean. O´Toole deu a interpretação de sua carreira, que foi seguida de uma série de sucessos e de outras grandes atuações, mas nunca recebeu o Oscar de Melhor Ator. Alguns anos atrás ele recebeu um prêmio honorário da Academia, o que não é a mesma coisa. Em 2007, aos 75 anos, O´Toole foi novamente indicado (e novamente derrotado) ao prêmio por sua brilhante interpretação em “Vênus”, um bom filme dirigido em 2006 por Roger Michell. Não deixa de ser chocante ver o efeito dos anos nas feições do antigo Lawrence da Arábia. O´Toole exibe as marcas da idade em seu rosto, sua voz e no modo de andar. O “consolo” é que tudo isso é perfeitamente adequado ao papel que ele está interpretando, Maurice, um velho ator que passa seus dias indo ao teatro e na companhia de velhos amigos. Um deles é Ian (Leslie Phillips, ótimo), a própria definição do “velho rabugento”. Ian também foi um ator de sucesso modesto e que está ansioso com a notícia de que uma sobrinha de 19 anos virá morar com ele. Ian tem fantasias de que a sobrinha Jessie será uma espécie de enfermeira particular, cuidando dele e fazendo suas vontades, mas a realidade é bem diferente. Jessie (Jodie Whittaker) é a típica adolescente revoltada e insolente, que não liga para o tio e o trata mal.

Mas Maurice sente uma inesperada atração pela atitude da garota e começa a usar do seu velho charme para conquistá-la. Ian pergunta a Maurice, indignado: “o que você faz com ela, na sua idade?”. E Maurice responde simplesmente “algo muito difícil... eu a trato bem”. De fato, a relação entre Maurice e Jessie não é inteiramente platônica... há um subtexto sexual ocorrendo o tempo todo, mas é fato que a idade avançada de Maurice não permite que nada muito físico ocorra. Assim, Maurice passa as tardes levando Jessie ao teatro e a jantares, onde Jessie descobre que ele é razoavelmente famoso. Ele também lhe arruma um emprego como modelo (nua) em uma classe de desenho, mas ela não permite que ele a veja. Maurice começa a chamá-la de “Vênus” depois de levá-la ao museu de arte para ver o quadro de mesmo nome de Diego Velázquez. A garota não tem maturidade para entender os motivos do interesse de Maurice, mas claro que gosta da atenção e, em alguns momentos, permite certas liberdades da parte dele, como deixar que ele beije seu pescoço ou segure suas mãos. Estas cenas (um velho de 74 anos e uma garota de 19) podem soar “impróprias” mas são feitas com muita sensibilidade. Maurice claramente foi um ator belo e desejado na juventude (assim como Peter O´Toole), e a figura de Jessie lhe trás de volta velhos desejos. Jessie (que teve um filho abortado recentemente) não está acostumada a ser bem tratada por ninguém, muito menos por homens.

Vale notar também a presença de Vanessa Redgrave, maravilhosamente “real” e idosa, como a ex-esposa de Maurice. Eles ainda cultivam uma amizade antiga, mas ela guarda certo ressentimento pelas aventuras amorosas que Maurice teve nos tempos de juventude. Há uma bela cena entre os dois em que Maurice demonstra arrependimento pelo que fez. Peter O´Toole está magnífico nos pequenos detalhes de seu personagem e em seu claro declínio físico. O filme não tem ilusões com relação à velhice e também mostra o lado “ruim” (ainda que natural) da idade, como embaraçosas consultas a médicos, problemas físicos e a presença inevitável da morte. O filme está em DVD.