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terça-feira, 25 de outubro de 2022

A Casa do Dragão (House of the Dragon, 2022)

 
A Casa do Dragão (House of the Dragon, 2022). HBO Max. Eis que, depois de um final considerado desastroso, "Game of Thrones" está de volta. Não é exatamente "Game of Thrones", mas quase a mesma coisa; lá está a bela abertura com a música de Ramin Djawadi, os cenários medievais, intrigas palacianas, cenas de nudez e sexo, mortes violentas e uns dragões voando. Criada por

Ryan J. Condal e George R.R. Martin, "A Casa do Dragão" tem dez episódios e se saiu bem melhor do que eu esperava. A trama se passa uns duzentos anos antes do nascimento de Daenerys Targaryen (Emilia Clarke), a "mãe de dragões" da série anterior.

Os efeitos especiais são bastante bons, mas fiquei com a impressão de que a série é mais "light" em termos de orçamento. Grande parte dos episódios se passa dentro dos castelos e o foco me pareceu mais nas pessoas (apesar dos dragões) do que em grandes paisagens ou milhares de soldados feitos em computação gráfica. O elenco é ótimo. Há alguns pulos temporais e vários personagens são interpretados por atores e atrizes diferentes, conforme a idade. No elenco fixo, Paddy Considine faz um Rei Viserys muito bom. Quem rouba todas as cenas, no entando, é Matt Smith como o príncipe Daemon Targaryen; ele, que já foi o Doutor em "Doctor Who" e o Príncipe Philip em "The Crown", faz aqui um personagem totalmente sem escrúpulos e que vive conforme as próprias regras.

A série é, também, mais feminina, particularmente focada no enorme fardo (e beleza) da maternidade. Desde o primeiro episódio já vemos uma cena pesada de parto seguida de morte, tema que se repete por toda a temporada. A princesa Rhaenyra Targaryen é interpretada por Milly Alcock, quando criança e por Emma D´Arcy quando adulta. As duas são ótimas (Alcock, particularmente, é uma revelação). Já a Rainha Alicent Hightower é interpretada por Emily Carey quando criança e por Olivia Cooke quando adulta. Às vezes fica meio confuso entender quem é filho, tio, tia ou sobrinho de quem; ainda mais com nomes parecidos e com a mania desse povo de transar/casar com parentes (bem) próximos.

Peter Dinklage faz falta? Sem dúvida. A trama, às vezes, parece uma novela de luxo? Sim. Mas é tudo bem feito e, por enquanto, vale a pena acompanhar. A segunda temporada, pelo jeito, só em 2024. Disponível na HBO Max.  

domingo, 22 de maio de 2022

Love, Death and Robots, 3ª Temporada (2022)

 

Love, Death and Robots, 3ª Temporada (2022). Netflix. Volta a série animada criada por Tim Miller, com produção executiva de David Fincher. Tive a impressão de que esta temporada veio ainda mais violenta e perturbadora. São nove episódios, com várias técnicas de animação. Há ao menos uma obra prima e vários episódios bons; por vezes, fica aquele gosto de algo inacabado, como se não fossem curtas-metragens com começo, meio e fim, mas como se pegássemos uma história no meio e saíssemos antes do final.


1 - Os três robôs. Direção de Patrick Osborne, é uma espécie de continuação de um episódio da primeira temporada, creio, em que três robôs falam sobre os antigos mestres do planeta, os seres humanos. Engraçado, mas bobinho.

2 - Viagem Ruim. Direção de David Fincher, é meu segundo favorito desta temporada. Um grupo de marinheiros luta contra uma espécie de caranguejo gigante e carnívoro que quer ser levado a uma ilha povoada. Lento e bem dirigido por Fincher, é também um dos mais violentos.

3 - O mesmo pulso da máquina. Diração de Emily Dean, tem um visual incrível e é passado em Io, um dos satélites de Júpiter. Uma astronauta (voz de Mackenzie Davis) tenta sobreviver a um acidente enquanto arrasta o corpo de uma companheira por quilômetros. Os mesmos remédios que a mantém viva iniciam uma série de alucinações psicodélicas. Bem interessante.

4 - Noite dos minimortos. Direção de Robert Bisi & Andy Lyon. É o episódio mais engraçado; tecnicamente é muito interessante. Um apocalipse zumbi visto em miniatura, com situações clichês deste tipo de filme visto como se estivesse acontecendo em um minimundo.

5 - Matança em grupo. Direção de Jennifer Yuh Nelson. Falando em clichês, este tem todos os clichês do filme militar, em que um grupo de soldados machões enfrentam uma arma secreta da CIA. Muito sangue, vísceras e frases de efeito.

6 - Enxame. Direção de Tim Miller. Computação gráfica fotorrealista mostra dois seres humanos em uma espécie de colônia de cupins espacial. Para quem tem problemas com insetos pode ser um tanto nojento.

7 - Ratos de Mason. Direção de Carlos Stevens. Animação cartunesca sobre a luta de um fazendeiro contra os ratos que invadiram seu celeiro. Há um bocado de pedaços de rato voando pela tela.

8 - Sepultados na caverna. Direção de Jerome Chen. Outro curta militar; um grupo de soldados entra em uma caverna em busca de um refém e encontram uma série de coisas estranhas, que vão se tornando cada vez mais sombrias. Pesadão.

9 - Fazendeiro. Direção de Alberto Mielgo. É o melhor de todos, de longe. O visual é impressionante, confesso que fiquei em dúvida se era computação gráfica ou uma técnica mista com imagens reais. Um grupo de conquistadores espanhóis, nas Américas, enfrentam uma espécie de sereia do lago, coberta de escamas de ouro. Simplesmente maravilhoso, tanto no visual quanto no roteiro, uma alegoria à invasão europeia na América. O curta foi feito por uma produtora espanhola que já havia feito outro episódio impressionante chamado "A Testemunha", em uma das temporadas anteriores. Este vale pela terceira temporada toda. Tá na Netflix.

domingo, 10 de abril de 2022

All the Old Knives (2022)

All the Old Knives (2022). Dir: Janus Metz. Amazon Prime Video. Filme de espionagem romântico (ou vice versa), estrelado por Chris Pine e Thandiwe Newton (e bom elenco, como Laurence Fishburne e Jonathan Price). A trama tem umas reviravoltas questionáveis mas, no geral, é um bom filme. Pine e Newton são dois agentes da CIA em Viena. Um avião é sequestrado por terroristas e todos a bordo são mortos. Oito anos depois, a CIA recebe a informação de que haveria um informante na equipe, e Chris Pine é enviado aos EUA para questionar a ex-amante (Thandiwe Newton). Os dois se encontram para um "jantar romântico" em um restaurante afastado e o filme se desenrola a partir da conversa entre os dois e muitos flashbacks.

O ritmo é bem lento e há várias idas e vindas no tempo. Os atores são vistos com cortes de cabelo diferentes, dependendo da época, mas nem sempre é fácil saber em que ano estamos. Há um bom nível de tensão gerado pelo encontro, uma mistura de saudade e desconfiança. Quem teria traído quem, e por quê? Ou eles são parte de um jogo maior? Como disse, há umas reviravoltas e revelações nos minutos finais que são questionáveis (há uma cena que depende de grandes coincidências para funcionar). Há uma boa "química" entre Pine e Newton e algumas cenas "quentes" entre os dois. Uma linha tênue, porém, separa o filme de espionagem do novelão. Disponível na Amazon Prime Video.

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Depois a louca sou eu (2021)

Depois a louca sou eu (2021). Dir: Julia Rezende. Amazon Prime. Versão para cinema do livro de Tati Bernardi, publicitária que lidou com vários ataques de pânico e ansiedade e transformou seus problemas em uma carreira literária de sucesso. Dani (Débora Falabella) só queria se uma pessoa "normal". O problema é que, para ela, tudo é exagerado e excessivo. Uma simples ida à praia no final do ano se transforma em uma operação de logística em que ela contrata um táxi para ficar de plantão caso (ou quando) ela se desesperar e quiser voltar para casa. A mãe (Yara de Novaes) é daquelas super protetoras que falam coisas como "Vá sim, filha, vá se divertir. Não pense que você está abandonando sua mãe sozinha, não, pode ir tranquila".

O filme, no começo, até parece que vai ser daquelas comédias bobinhas da Globo Filmes com trilhas agitadas, gráficos na tela e narração esperta. A trama encara com certo realismo a situação complicada das pessoas com síndrome do pânico; há muito humor, sim, mas há também boas doses de realidade, como quando vemos Dani se viciar em Rivotril e outros remédios tarja preta simplesmente para poder navegar pela vida. O mesmo acontece com as cenas de amor e sexo, que vão se tornando mais pesadas conforme o filme avança.

Débora Falabella está muito bem como Dani e a personagem também é vista quando criança e adolescente. O filme foi feito em 2019 mas a pandemia adiou o lançamento nos cinemas até o começo deste ano e, agora, está disponível na Amazon Prime.
 

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Love, Death & Robots - 2ª Temporada (2021)

Love, Death & Robots - 2ª Temporada (2021). Netflix. Chega à Netflix a segunda temporada dos curtas animados (para adultos) de "Love, Death & Robots". Esta temporada está bem mais enxuta (8 episódios, contra 18 da primeira temporada) e menos ousada, embora ainda muito interessante. Os episódios, por vezes, parecem apenas portfólio de alguma produtora de animação, mas os roteiros também podem ser bons, como no episódio "Pop Squad", de Jennifer Yuh Nelson, que é MUITO inspirado em Blade Runner, seja no visual ou "clima" melancólico. Há até uma cena que só pode ser descrita como "tears in rain" (lágrimas na chuva), frase clássica de Rutger Hauer ao final de Blade Runner.

Cada episódio tem uma técnica diferente de animação, seja 2D, computação gráfica e até um episódio com stop motion. Em alguns capítulos, como "Neve no deserto" e "Live Hutch", a imagem é tão realista que parece um filme com atores de verdade. "Drowned Giant" (Gigante Afogado), curta que finaliza a série, é ao mesmo tempo estranho e poético. O corpo de um gigante aparece, nu, em uma praia da Inglaterra (a cena lembra "Viagens de Gulliver"). O locutor conta a história como quem narra uma memória antiga, acontecida há muitos anos. O roteiro foi baseado em um conto de J.G. Ballard, escritor de ficção-científica que escreveu "Império do Sol" (que virou filme de Steven Spielberg).

A série foi criada por Tim Miller (de "Deadpool") e o diretor David Fincher é um dos produtores. Muito boa, pena que são poucos episódios. Tá na Netflix.
 

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Bem-vindo a Nova York

Em maio de 2011, o diretor do FMI Dominique Strauss-Kahn foi preso em Nova York acusado de ter estuprado uma camareira de hotel. Além do cargo no Fundo Monetário Internacional, Strauss-Kahn era cotado como candidato à presidência da república da França. O escândalo forçou sua renúncia do FMI e acabou com suas ambições políticas.

O episódio ganha vida nas telas com roteiro e direção do veterano diretor americano Abel Ferrara ("O Rei de Nova York"), em um filme marcado por polêmicas. Ferrara não está interessado em fazer um thriller convencional, em que o espectador fica tentando descobrir a culpa ou inocência do protagonista. O filme abre com um letreiro explicando o caso, dizendo que o roteiro foi baseado o máximo possível nos fatos conhecidos publicamente, mas que o que aconteceu na intimidade era uma obra de ficção. O letreiro até termina com qualquer suspense ao dizer que o caso foi arquivado pois a justiça entendeu que não havia como provar a versão da camareira.

Do que trata, então, o filme de Ferrara? O grande ator francês Gérard Depardieu ("Minhas tardes com Margueritte") interpreta Devereaux, o diretor do Banco Mundial que está em uma viagem de negócios em Nova York. Desde a primeira vez que o vemos, Devereaux está cercado por prostitutas, mesmo em uma reunião de negócios. Ferrara filma de forma quase documental, com takes longos, uso de lentes zoom e correções de foco (embora não seja aquele estilo nervoso de câmera na mão comum nestes casos). Devereaux não é um homem agradável. Depardieu, enorme em talento e tamanho, enche a tela com um personagem abjeto, que vê toda mulher como algo a ser usada para o sexo.



A primeira meia hora de filme não é confortável de se ver; a câmera de Ferrara filma longas cenas de sexo em grupo, em imagens de gosto duvidoso. Depardieu interpreta Devereaux como um porco, inclusive gemendo de forma animalesca nas cenas de sexo. A necessidade destas sequências é questionável e Abel Ferrara enfrentou vários problemas para lançar o filme (que no Brasil recebeu a classificação etária de 18 anos).

Depois destas intermináveis cenas de sexo chega a cena chave do filme. Uma camareira, sem saber que Devereaux estava no quarto, entra para limpar e o encontra nu, saindo do chuveiro. Ele a vê como mais uma prostituta e parte para cima dela. Ela resiste, foge e o acusa de tentativa de estupro. Tudo é mostrado lentamente por Ferrara, que reproduz as cenas reais de tribunais sem aquele glamour associado a filmes do gênero. As cortes são austeras, rápidas e profissionais. Há uma longa sequência mostrando todos os passos pelos quais Devereaux passa ao ser preso. Novamente, parece que estamos vendo um documentário e há força nas imagens arquitetadas por Ferrara.

A veterana Jacqueline Bisset interpreta Simone, a esposa de Devereaux. É daquelas mulheres que fazem vista grossa para as várias infidelidades do marido e o tratam como um moleque malcriado. Depardieu e Bisset trabalharam com François Truffaut no passado e há até uma cena em que  Devereaux está assistindo a um filme do mestre francês, "Domicílio Conjugal". Os dois têm várias sequências juntos em longas cenas que, por vezes, parecem improvisadas.

Não fica muito claro, porém, o que Abel Ferrara quer dizer com esta história. A personagem da camareira desaparece pouco depois da acusação e nunca mais é vista, e o crime de estupro fica perdido em meio ao comportamento escandaloso "normal" de Devereaux. Há cenas que o mostram com outras mulheres, que vão para a cama com ele voluntariamente ou à força. Fica difícil entender qual é o atrativo que este homem desprezível tem. É tudo uma questão de dinheiro? É uma crítica ao sistema financeiro? À política? Por que o espectador deve se interessar por este personagem que, nas palavras do próprio, não sente nada por ninguém, nem por ele mesmo?

Mesmo irregular, porém, a direção segura de Ferrara e a entrega de Depardieu ao papel fazem de "Bem-vindo a Nova York" uma experiência interessante, apesar de não muito agradável. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O que os homens falam

Você, provavelmente, vai ver este filme por causa de Ricardo Darín, o incansável ator argentino de filmes como "O Segredo dos seus Olhos", "Um Conto Chinês", "Elefante Branco", entre outros. Apesar de Darín estar em destaque no pôster de "O que os homens falam" (e eu ter escolhido uma foto com ele para ilustrar este texto), esteja avisado que Darín aparece apenas em uma das várias histórias contadas por este filme episódico.

Dirigido por Cesc Gay e passado em Barcelona (embora longe dos pontos turísticos), o filme é composto por uma série de histórias independentes, todas tratando da condição masculina no século 21. Como todo filme episódico, há histórias que gostaríamos de ver melhor desenvolvidas e outras que poderiam ser mais curtas. O filme é de 2012 e chegou a passar na 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, mas está estreando apenas agora. Nos episódios, homens quarentões tentam resolver seus problemas, geralmente envolvendo mulheres. Javier Cámara leva o filho de volta ao apartamento da ex-mulher e, aos poucos, tenta dizer a ela que se arrependeu da separação (ele a havia traído com uma enfermeira) e quer voltar. No episódio com Darín, um amigo o encontra sentado em um banco de praça, olhando para um prédio; ele havia seguido a mulher, Laura, que o está traindo. Ele sabe que o casamento está perdido mas ainda tem esperanças de reconquistar a mulher. Apresenta vários problemas físicos, como náuseas e dores de cabeça. "São os cornos", diz ele, filosófico. Em outro episódio, Eduardo Noriega, um homem casado, tenta conquistar uma companheira de trabalho e, a princípio, parece que ele está se dando bem. Até que ela o manda esperar no banheiro da firma. No episódio com Leonor Watling (que fez "Fale com Ela", de Pedro Almodóvar), duas esposas conversam com o melhor amigo do marido delas, fazendo revelações chocantes. A cena em que os dois finalmente se encontram é sutilmente engraçada. (leia mais abaixo)


É bem feito e bem interpretado, com toques corretos de humor e drama. Ser apenas "correto", no entanto, não é dos melhores elogios que se pode fazer a um filme. É muito superior ao horrendo e machista "Os Infiéis", outro filme episódico sobre o universo masculino estrelado por Jean Dujardin. "O que os homens falam" tem momentos bem observados tanto sobre homens quanto mulheres. Todos parecem viver à base de antidepressivos ou algum outro tipo de droga (cigarro, bebida). Fidelidade é um conceito bastante flutuante, e a carência é grande. Curiosamente, os homens não têm sequer nomes (o site do imdb os lista apenas com letras), enquanto que as mulheres, sim. A fila, como se diz, anda, e todos(as) estão assustados com isso. Em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.

Câmera Escura

sábado, 11 de janeiro de 2014

O Lobo de Wall Street

Depois de flertar com a fantasia com o infantil "A Invenção de Hugo Cabret", Martin Scorsese está de volta ao estilo que o consagrou. "O Lobo de Wall Street" é seu melhor filme em muitos anos, feito com a garra e a ousadia de um diretor jovem. Scorsese, no entanto, já está com 71 anos, não tem mais nada a provar e realizou pelo menos três obras-primas, Taxi Driver (1976), Touro Indomável (1980) e Os Bons Companheiros (1990). Estão de volta os belos movimentos de câmera minuciosamente coreografados (fotografia de Rodrigo Pietro, de "Argo"), a edição nervosa e magistral da antiga colaboradora Thelma Schoonmacher, o uso constante de clássicos do rock na trilha sonora e um personagem que narra a própria história.

Há muito de Henry Hill (personagem de Ray Liotta em "Os Bons Companheiros") em Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio, em sua quinta colaboração com Scorsese). Os dois são jovens ambiciosos que não querem viver a vida de "otários" que as pessoas comuns vivem. Os dois se juntam a organizações cujo principal objetivo é ganhar dinheiro por qualquer meio possível, não se importando com a lei. Henry Hill se juntou aos mafiosos; Jordan Belfort se juntou à Wall Street. Em "O Lobo de Wall Street", Scorsese deixa um pouco de lado a violência física e investe pesado no triângulo sexo, dinheiro e drogas. DiCaprio está constantemente "chapado", seja com cocaína, bebida ou centenas de pílulas de remédios controlados. Há também uma grande dose de cenas de sexo e nudez. Há também uma surpreendente dose de humor. Hugo Cabret, pelo jeito, foi só uma brincadeira passageira de Scorsese com o cinema em 3D.

O roteiro, escrito por Terence Winter, é baseado na vida real de Jordan Belfort, um corretor de valores que tinha o dom de vender qualquer coisa. Depois da "Segunda-feira Negra" (19 de outubro de 1987, quando Wall Street teve a maior queda desde o "crash" de 1929), Belfort foi trabalhar em uma corretora de fundo de quintal. As ações valiam apenas centavos, mas a comissão dos corretores era de 50%. Há uma ótima cena em que Belfort, em sua primeira ligação, convence um comprador a adquirir 4 mil dólares em ações de uma empresa de garagem, e seus companheiros ficam todos assistindo seu desempenho. Em pouco tempo ele se junta a Donnie Azzof (um ótimo Jonah Hill, de "O Homem que Mudou o Jogo") e funda a empresa Stratton Oakmont, cujo logo e propagandas sugerem uma tradicional firma de Wall Street, quando na verdade funcionava em uma garagem improvisada; os corretores, todos antigos amigos de Belfort, se transformaram de vendedores de maconha a milionários em poucos meses. (mais abaixo)


O elenco conta com várias participações especiais. O diretor Rob Reiner faz o pai de Belfort, "Mad Max" Belfort. O também diretor Jon Favreu (da série "Homem de Ferro") interpreta um advogado. Kyle Chandler (de "Super 8" e "Argo") é um agente do FBI que quer colocar Belfort atrás das grades. Jean Dujardin (de "O Artista"), é um sofisticado banqueiro suíço a quem Jordan recorre para tentar esconder sua fortuna. A australiana Margot Robbie é Naomi, uma ex-modelo que faz com que Jordan Belfort largue da mulher para se casar com ela (a cena em que DiCaprio a pede em casamento lembra um pouco DeNiro pedindo Sharon Stone em casamento em "Cassino", aliás). A participação mais marcante, porém, é de Matthew McConaughey (de "Obsessão"), em um pequeno mas importante papel no início do filme. A cena em que ele e um jovem DiCaprio almoçam juntos dá o tom para toda a trama, e McConaughey está ótimo.

Claro que a vida de excessos de Belfort não poderia acabar bem. "Não há nobreza em ser pobre", diz DiCaprio em um de seus vários discursos para seus corretores. "O Lobo de Wall Street" mostra que ser rico a qualquer custo também tem seu preço.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Azul é a cor mais quente

Uma pena que este filme tenha sido mais comentado por causa das cenas de sexo do que pelas outras coisas que tem a oferecer. As cenas existem e são "fortes" sim mas, em plena segunda década do século 21, sexo não deveria ser considerado novidade no cinema. Filmes como "O Amante" (1992), de Jean-Jacques Annaud ou, mais recentemente, "Desejo e Perigo" (2009), de Ang Lee (sem falar em séries de TV como "Game of Thrones") levaram a representação do ato sexual ao limite. O diferencial das cenas em "Azul é a cor mais quente", talvez, seja a longa duração; considerando que o filme tem mais de três horas, porém, sexo é apenas um detalhe.

"Azul é a cor mais quente" é dirigido pelo tunisiano Abdellatif Kechiche (do perturbador "Vênus Negra"), que escreveu o roteiro baseado em uma série de quadrinhos. Adèle (Adèle Exarchopoulos) é uma adolescente que está em dúvida sobre sua sexualidade. Bonita, ela atrai a atenção dos rapazes (e garotas) da escola, e chega a transar com um colega, mas ela sente que falta alguma coisa. "Parece que estou sempre fingindo", diz ela a um amigo gay. A "alguma  coisa" de que ela sente falta aparece na forma de uma garota mais velha, Emma (Léa Seydoux, de "Missão: Impossível - Protocolo Fantasma"), que ela vê passando na rua. As duas acabam se conhecendo em um bar gay e começam a sair juntas. Ao contrário do que a publicidade em torno do filme dá a entender, elas não pulam direto na cama. Leva quase uma hora e meia para que as duas, finalmente, durmam juntas. Este é um filme europeu, e as personagens ficam conversando sobre arte e filosofia, citando trechos de Sartre em longos diálogos muito bem interpretados pelas atrizes e coreografados por Kechiche. É um filme plasticamente bonito de se ver, com fotografia primorosa de Sofian El Fani que, auxiliado pela direção de arte e figurino, compõe quadros em que a cor azul é predominante. Emma é estudante de Belas Artes e Adèle está estudando para ser professora. Emma é mais velha e segura de si, enquanto que Adèle parece estar sempre com "fome". A presença de comida, aliás, é constante por todo o filme; do lanche que Adèle faz com um rapaz, no início, passando pela macarronada preparada por seu pai aos frutos do mar feitos pelos pais de Emma, os personagens estão sempre comendo alguma coisa. Após um beijo em uma cena sensível passada no parque, as duas acabam finalmente na cama, e começa a longa cena de sexo sobre a qual estão todos falando. Curiosamente, o contato físico é tão grande e explícito que, a meu ver, o sexo esfria o filme. Há mais intimidade nos olhares trocados por Emma e Adèle no bar, falando sobre arte, do que nos malabarismos filmados detalhadamente por Kechiche. Estas cenas são necessárias? Talvez, mas não pelo tempo que consomem.


Falando em "tempo", o roteiro esconde sua passagem em frases dos diálogos, mudanças nos penteados e em outros pequenos detalhes. Emma leva Adèle para conhecer os pais, por exemplo, e eles comentam que queriam conhecê-la "há meses". Em uma festa, vemos uma mulher que está grávida e, em outra cena, descobrimos que sua filha já está com três anos. Adèle se torna professora do maternal e pré-primário e gosta do seu trabalho, mas Emma gostaria que ela fizesse algo mais criativo. Como em qualquer drama de romance (hétero ou gay), há cenas de ciúmes, traições e corações partidos, tudo apresentado no ritmo lento com que Kechiche leva a narrativa.

"Azul é a cor mais quente" ganhou a Palma de Ouro em Cannes e tanto o diretor quanto as duas atrizes foram premiados. A julgar por entrevistas dadas por elas, as filmagens foram tudo, menos harmoniosas. As atrizes descrevem Kechiche como um ditador no set, refazendo a mesma cena centenas de vezes. Talvez tudo não passe de marketing. O que fica das três horas acompanhando a "vida de Adèle" (do título original) é um cinema extremamente bem feito e, em grande parte, sensível e honesto. A interpretação das atrizes varia; a personagem de Emma (e a interpretação de Seydoux) crescem bastante durante a narrativa, enquanto que Adèle me pareceu melhor na primeira metade. Tirando a polêmica, o que sobra é bom cinema.



terça-feira, 2 de julho de 2013

Game of Thrones - 3ª Temporada

Passado quase um mês da exibição do capítulo final da terceira temporada de "Game of Thrones", imagino que quem estava interessado na série já a assistiu. Para quem não viu ainda, fica o aviso de que o texto a seguir contém vários SPOILERS, ou seja, detalhes sobre o enredo e o destino dos personagens.

A terceira temporada de "Game of Thrones", ao contrário das duas anteriores, não segue inteiramente um livro de George R. R. Martin, autor da série "As Crônicas de Gelo e Fogo". O terceiro livro da saga, "A Tormenta de Espadas" ("A Storm of Swords"), foi considerado muito longo pelos produtores D.B. Weiss e David Benioff e dividido em duas temporadas. São dez episódios com quase uma hora de duração, em uma superprodução da HBO ao custo aproximado de 50 milhões de dólares. Há muito a HBO é reconhecida por ser um reduto de filmes e séries adultas na televisão americana. Enquanto os filmes de Hollywood sofrem por terem que atingir um público cada vez maior (o que resulta em uma infantilização crescente), a HBO ousa em produtos que abusam na quantidade de cenas de violência, nudez e sexo. E poucas séries têm tanta violência, nudez e sexo como "Game of Thrones".

A terceira temporada representa também um grande avanço em termos visuais. É visível

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Faroeste Caboclo

Renato Russo vive. Dezessete anos depois da morte do líder da Legião Urbana, o cinema brasileiro exibe, ao mesmo tempo, dois filmes relacionados ao cantor. A cinebiografia "Somos tão jovens", de Antonio Carlos de Fontoura, conta a vida de Russo em Brasília, nos tempos da banda Aborto Elétrico. Agora estréia "Faroeste Caboclo", filme de René Sampaio baseado na música de 1979 (mas lançada em 1987), de quase dez minutos, que fazia parte do álbum "Que País é Este", do Legião.

Ao contrário da leveza de "Somos tão jovens", "Faroeste Caboclo" surpreende pela forma adulta e violenta com que é contada a história de "João de Santo Cristo", o anti-herói criado por Renato Russo. O roteiro, do mesmo Marcos Bernstein de "Somos tão jovens", pode não ser exatamente fiel à letra da música, mas oferece uma interpretação muito boa dela. João (Fabrício Boliveira, intenso) é um rapaz pobre, negro (que "não entendia como a vida funcionava, discriminação por causa da sua classe e sua cor"), que sai do sertão da Bahia e vai para Brasília. Lá ele entra em contato com um primo distante chamado Pablo (César Troncoso), um traficante da periferia, e arruma trabalho como carpinteiro. Logo, porém, a habilidade de João com uma "Winchester 22" lhe garante um lugar como assistente de Pablo no tráfico de drogas. Uma noite, quando vai fazer uma venda em uma quadra nobre de Brasília, João é perseguido pela polícia e se refugia no apartamento de Maria Lúcia (Ísis Valverde), a filha de um senador. Ela é a típica adolescente da capital, entediada, "maconheira" e rebelde, e os dois começam um romance que, apesar de improvável, é escrito de forma verossímil pelo roteiro.

Quase todos os outros elementos da canção aparecem na trama de forma natural. Há o traficante Jeremias (Felipe Abib), que é apaixonado por Maria Lúcia e se torna inimigo de Santo Cristo, que estava roubando sua clientela com um produto melhor. A trilha sonora de Phillippe Seabra (da banda "Plebe Rude", que surgiu na mesma época da Legião) é boa, mas melhor uso é feito dos clássicos da época, como as bandas "The Clash" ou "Sex Pistols". Há uma boa cena em que Ísis Valverde está em uma casa noturna e uma banda (o Aborto Elétrico) está tocando "Tédio com um T bem grande pra você". Em outra cena, a Plebe Rude está cantando "Até quando esperar". A música "Faroeste Caboclo" é ouvida apenas sobre os créditos, depois do sangrento final.

"Faroeste Caboclo", como filme, é melhor do que se poderia esperar e deve agradar até quem não é fã de Legião Urbana. Bom ver um filme brasileiro que sai do lugar comum que são as comédias chulas e fraquinhas que tem feito sucesso nas telas.

sábado, 13 de abril de 2013

Auto Focus (2002)

Como se chama um homem viciado em sexo? "Homem", ora bolas. Mas Bob Crane levava a coisa um pouco a sério demais. Dependente de atenção, sexo e tendo apenas o grande carisma para mantê-lo, Crane aproveitou enquanto pode a fama do seriado "Hogan´s Heroes" (chamado aqui de "Guerra, Sombra e Água Fresca"), antes de se autodestruir. A vida de Crane foi levada ao cinema pelo lendário Paul Schrader, que também teve sua dose de fama e quase autodestruição.

É fácil perceber o que atraiu Schrader ao projeto. Ele foi roteirista de "Taxi Driver" (1976) e "Touro Indomável" (1980), de Martin Scorsese, e escreveu e dirigiu filmes como "Gigolô Americano" (1980) e "Mishima: Uma Vida em Quatro Tempos". Todos têm em comum um personagem obcecado por atenção e uma vida sexual "complicada", para dizer o mínimo.

Bob Crane (Greg Kinnear, muito bem) era locutor de rádio, exímio baterista e tinha um carisma enorme; por falta de sorte, nunca havia tirado a sorte grande nas telas do cinema, onde queria ser o "novo Jack Lemmon", como diz para seu agente em uma cena. A televisão é a melhor alternativa e ele conseguiu o papel principal em uma comédia controversa chamada "Guerra, Sombra e Água Fresca", que se passava dentro de um campo de prisioneiros nazista. A ideia, a princípio, fez muita gente torcer o nariz, mas a série era realmente engraçada e fazia uma paródia com filmes clássicos de prisioneiros como "Stalag 17" (Billy Wilder, 1953) e "Fugindo do Inferno" (John Sturges, 1963).

A vida de Crane mudou quando conheceu John Carpenter (Willem Dafoe), um técnico que trabalhava para a Sony vendendo rudimentares câmeras de vídeo e frequentador assíduo de casas de strip e swing. Carpenter (que não tem nada a ver com o diretor de cinema John Carpenter) levou Crane para este mundo de sexo fácil, orgias e drogas. O carisma de Crane e o sucesso na televisão atraiam mulheres todas as noites, com quem ele não só transava mas, fascinado com a tecnologia do videotape, gravava para assistir depois. Este comportamento destruiu seu primeiro casamento (aparentemente comportado e católico), seu segundo casamento e, finalmente, com a própria vida. Crane foi encontrado morto, com a cabeça esmagada, em 1978. John Carpenter, seu "melhor amigo", é considerado o maior suspeito, mas nunca foi preso por isso.

O filme de Schrader tem ótima reconstituição de época (as cenas da série são idênticas às originais) e bom elenco, mas não tem a mesma qualidade de trabalhos anteriores do diretor. Há um ar de "telefilme" que permeia toda a produção, apesar da ousadia das diversas cenas de sexo, nudez e violência. Vale como um retrato do submundo de Hollywood no final dos anos 60 e 70. Disponível em DVD.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

As Sessões

Mark O´Brien (John Hawkes, de "Inverno da Alma" e "Lincoln") é poeta, jornalista, tem 38 anos e está paralisado do pescoço para baixo desde criança. Ele usa do bom humor para enfrentar a rotina de ter que dormir dentro de um "pulmão de aço", uma geringonça enorme que o mantem respirando durante a noite, e é dependente dos outros em quase tudo. É católico devoto e frequenta as missas do Padre Brendan (William H. Macy), que é seu confessor e amigo.

A revista onde trabalha lhe telefona e pede que escreva um artigo sobre a vida sexual das pessoas com deficiência, o que o força a encarar os próprios medos . A paralisia e anos de educação católica fizeram com que ele ainda fosse virgem aos 38 anos. É então que ele descobre que existem terapeutas chamados de "substitutos sexuais" ("sex surrogates", no original)  e pensa em experimentar. Como todo bom católico, Mark é cheio de neuras e carrega muita culpa, o que faz com que discuta sua situação com o Padre Brendan, que também fica confuso; afinal, como um padre pode aceitar o sexo fora do casamento? William H. Macy, como sempre, apresenta uma interpretação ótima e seu padre é humano o suficiente para entender a situação de O´Brien. Após a "benção" do padre, O´Brien entra em contato com a terapeuta Cheryl (Helen Hunt) que, com muita paciência, inicia uma série de sessões de "terapia sexual" com Mark. Ela explica que não é uma prostituta. Há um limite de seis sessões, no máximo, com o paciente e ela é muito reservada e profissional. Acontece que Mark é um poeta e, inevitavelmente, surge uma atração entre os dois. O roteiro do diretor Ben Lewin é sensível e trata de um assunto delicado de forma nada vulgar. Helen Hunt foi indicada ao Oscar por sua interpretação e, de fato, ela está muito bem. Cheryl é uma mulher adulta, é casada com um filósofo e tem um filho adolescente. Hunt passa grande parte do filme nua, mas o apelo erótico é muito pequeno dada a situação. Curioso que Helen Hunt já  interpretou cenas de sexo com uma pessoa com deficiência no filme "O Despertar para a Vida" ("The Waterdance", 1992). John Hawkes também está ótimo como Mark O´Brien, tendo que atuar usando apenas a cabeça e as expressões do rosto (lamentavelmente, não foi indicado ao Oscar).

As cenas entre Hunt e Hawkes, apesar de não exibirem nada de forma explícita, ocorrem sem pudores. A terapeuta vai explicando o que está fazendo e o que pretende de forma clara e direta ("no próximo encontro vamos tentar a penetração") e compartilhamos as ansiedades e embaraços de Mark. O roteiro é baseado no artigo que o verdadeiro Mark O´Brien escreveu em maio de 1990, que pode ser lido aqui. Várias frases podem ser reconhecidas nos diálogos do filme.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Selvagens

O diretor Oliver Stone volta à boa forma com este filme cínico e violento. Stone tem uma carreira com altos e baixos, quase sempre marcada pela polêmica. Fez um dos filmes mais realistas sobre a Guerra do Vietnã, "Platoon" (1986), expôs a cobiça do capitalismo em "Wall Street" (1987), apresentou sua versão sobre o  assassinato do Presidente Kennedy em "JFK" (1991), contou a vida do poeta do rock, Jim Morrison, em "The Doors" (1991), narrou a vida dos presidentes "Nixon" (1995) e George W. Bush em "W." (2008), e assim por diante. Depois do fracasso retumbante com o épico "Alexandre" (2004), fez o comportado "As Torres Gêmeas" (2006) e uma continuação para "Wall Street" em 2010.

"Selvagens" é narrado do ponto de vista de O. (Blake Lively), abreviação de Ofélia, uma "patricinha" loira da Califórnia que é namorada de dois traficantes modernos. Chon (Taylor Kitsch) é um ex-combatente das guerras do Iraque e Afeganistão que trouxe do oriente as sementes para um tipo especial de maconha, cultivada e melhorada por Ben (Aaron Johnson), um "neo hippie" formado em botânica. Os dois são discretos, eficientes e produzem a melhor erva da Califórnia, ganhando milhões de dólares e dividindo o tempo entre surfar, transar com O. ou, no caso de Ben, fazer viagens humanitárias para a África ou Indonésia. Tudo vai bem até que um cartel mexicano resolve entrar no negócio de Ben e Chon e lhes envia vídeos mostrando como eles lidam com os inimigos, degolados por serras elétricas. Chon, o ex-soldado, é partidário de uma resposta à altura; Ben, o humanitário, acha que eles podem chegar a um acordo. Quando eles resolvem fugir para a Indonésia com O., ela é sequestrada pelo cartel, que começa a fazer uma série de exigências. Começa então uma guerra entre o cartel mexicano, liderado por Elena (Salma Hayek) e os dois americanos.

O roteiro, de Oliver Stone, Don Winslow e Shane Salerno, é por vezes atrapalhado pela narração  redundante de O. Tirando este detalhe, ele tem boas sacadas. A personagem de Salma Hayek é uma das mais interessantes; ela tem uma filha na Califórnia que se recusa a falar com ela, e quando O. é sequestrada e mantida em cativeiro surge uma ligação afetiva entre a rainha do crime e a patricinha americana. John Travolta, em um papel diferente do habitual, faz um agente federal corrupto cuja lealdade varia entre Ben e Chon e o primeiro tenente de Elena, um capanga chamado Lado (Benicio Del Toro, apropriadamente asqueroso). Emile Hirsch interpreta um hacker responsável pela lavagem de dinheiro dos traficantes, e há um grande número de bons coadjuvantes. O filme é bastante violento e Oliver Stone usa a trama para cutucar o modo de vida americano. Stone inclusive brinca com os clichês do gênero em um final que, dependendo como se olha, pode significar algo completamente diferente. É discutível se uma dupla de traficantes como Ben e Chon seria tão "nobre" a ponto de arriscar tudo pela vida da namorada em comum, e o filme por vezes esbarra no melodrama. Como é típico de Oliver Stone, a dose de exagero é alta, mas é visível o talento do diretor. Visto no Kinoplex Campinas.

Câmera Escura

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Os Infiéis

Um desperdício de talento generalizado pode ser visto neste "Os Infiéis", estrelado pelo astro de "O Artista", Jean Dujardin, e por Gilles Lellouche. Os dois interpretam amigos de meia idade, maduros, bem-sucedidos financeiramente, casados e com filhos, mas com um "vício" incontrolável, a infidelidade. Em uma série de episódios curtos, Dujardin e Lellouche batem na mesma tecla machista e anacrônica de que os homens foram feitos para "procriar e copular" (frase do filme) e que as esposas devem se manter fiéis donas de casa. Tem-se a sensação de se estar assistindo a um "E ai, comeu?" falado em francês, mas ainda pior.

Os episódios são dirigidos por oito diretores diferentes, inclusive pela dupla principal de atores. O filme abre e fecha com a história de Fred e Gregg, dois amigos de Paris que fazem tudo juntos, inclusive transar no mesmo quarto com garotas que "pegaram" na balada. Os dois enganam as esposas e vão para mais uma série de orgias em Las Vegas, onde a amizade deles se transforma em outra das piadas sem graça do filme. O diretor de "O Artista", Michel Hazanavicious, dirige Dujardin em um episódio em que ele tenta, sem sucesso, transar com alguém em um hotel, durante uma conferência. Eric Lartigau dirige Gilles Lellouche na história de um dentista que trai a esposa com uma adolescente muitos anos mais nova (e paga o preço por isso). Há também episódios que são apenas "cenas" curtas, uma envolvendo um homem que vai parar no hospital "atracado" com uma mulher e outra que mostra uma cena de sadomasoquismo que termina mal.

Há apenas dois episódios, um dramático e outro cômico, que têm algum mérito. Na história dirigida por Emmanuelle Bercot, uma esposa (Alexandra Lamy), com a pulga atrás da orelha, começa uma daquelas conversas aparentemente leves e divertidas com o marido, provocando-o a contar se teve algum caso extra-conjugal. O marido (Dujardin) sabe que aquilo não vai terminar bem e tenta fugir do assunto o máximo que pode. Quando a verdade (tanto do marido quanto da esposa) acaba vindo à tona , os ânimos se alteram e é o momento mais dramático do filme. É o único momento em que o assunto "infidelidade" é tratado com certa seriedade e realismo. O outro episódio digno de nota mostra uma reunião dos "infiéis anônimos", em que vários maridos pegos em flagrante estão em uma sessão de terapia coletiva conduzida por uma mulher (a ótima Sandrine Kiberlain, de "As Mulheres do Sexto Andar", "Mademoiselle Chambon", etc). Dirigido por Alexandre Courtès, o episódio é divertido, bem escrito e o melhor resolvido. O resto, infelizmente, não passa de uma série de generalizações simplistas sobre homens, mulheres e a infidelidade. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Febre do Rato

"Febre do Rato" é uma experiência visceral que cheira rio, cidade, poluição, tinta, esperma, esgoto. É como um panfleto deixado por um poeta pobre, magro e faminto na mesa do restaurante e, como quase todo discurso panfletário, ele é exagerado, poético, incongruente e apaixonado. É moderno mas também anacrônico, seja nos discursos declamados ou na fotografia em preto e branco.

O cenário é Recife, cidade centenária e tradicional que, recentemente, foi invadida por empreendimentos imobiliários e financeiros que ergueram grandes torres de aço e vidro às marges do rio que a cruza. A câmera do diretor Cláudio Assis passeia pelo rio, por debaixo das pontes, mostrando os arranha-céus ao longe enquanto que, em primeiro plano, as palafitas criam um contraste enorme. Zizo (Irandhir Santos, inspirado) é um poeta que escreve e publica um jornal artesanal chamado "Febre do Rato", que distribui nas favelas da cidade com seu carro velho e um alto falante, com o qual declama palavras de ordem e poemas. O Poeta, a bem da verdade, fala por quase todo o filme, em um jorro ininterrupto de palavras. Só duas coisas conseguem lhe calar: a repressão, ao final, e a bela Eneida (Nanda Costa), uma jovem por quem o Poeta se apaixona. Ela é uma musa moderna, bem distante das donzelas virginais cantadas nos versos românticos do passado. Embora, para o pobre Zizo, ela decida ser inacessível, recusando-se a ficar com ele; o que, claro, só aumenta sua paixão.

Várias pessoas orbitam em volta do Poeta, como seu amigo Pazinho (Matheus Nachtergaele, muito bem), que tem uma relação conturbada com Vanessa (Tânia Granussi). Ela o traiu com outro homem e os dois estão na situação complicada de ainda se amarem, embora haja muita raiva no ar, principalmente por parte dele. Há uma sequência ótima em que uma discussão do casal se passa em três lugares (e três tempos) diferentes, mas as frases se complementam, como se a briga fosse sempre a mesma, repetidamente. Há ainda o traficante de maconha local (Juliano Cazarré) que, aparentemente, vive com outros dois homens e uma mulher; há uma cena que surpreende (ou choca alguns) em que os quatro estão nus, no chão, em uma situação claramente sexual. Cláudio Assis gosta de quebrar com as convenções recatadas do cinema nacional recente e chocar o espectador, por vezes de forma um tanto gratuita; há três ou quatro cenas de sexo entre Irandhir Santos e uma senhora muito mais velha dentro de uma caixa d´água, por exemplo, que podem ser encaradas como gratuitas, apesar da personalidade bastante edipiana do Poeta, que ainda vive com a mãe e depende dela.

O roteiro de Hilton Lacerda não segue uma trama muito clara, mas é evidente o talento de Assis em dirigir todos estes personagens. A fotografia e os movimentos de câmera de Walter Carvalho são tão elegantes e precisos que, repetimos, há certa incongruência entre a crueza do roteiro e das locações e a extrema beleza das imagens. Carvalho, por diversas vezes, coloca a câmera acima dos personagens e os segue em planos sequência que acompanham a trilha sonora (de Jorge du Peixe) ou os versos de Zizo. Tudo culmina para um desfile de 7 de setembro que é uma cacofonia de pés marchando, pessoas falando e poemas declamados. O final, infelizmente, não tem a força do resto do roteiro. É previsível que a subversão do Poeta será punida  pelo "sistema"; por isso mesmo, um final alternativo teria mais impacto. "Febre do Rato" foi apresentado no Festival de Paulínia em 2011 e levou oito prêmios. Não é um filme para o grande público; há muita nudez (masculina e feminina) e vários momentos bizarros pelos quais o cinema de Cláusio Assis ficou conhecido. Mas é um trabalho de fôlego, provocador e, em alguns momentos, curiosamente sublime. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Paraísos Artificiais

O premiado diretor Marcos Prado, do documentário "Estamira" e produtor dos filmes de José Padilha (Ônibus 174, Tropa de Elite) estréia na ficção com "Paraísos Artificiais", um filme cheio de boas intenções, mas artificial como o título. Filmado em dois países (tem cenas em Amsterdã e no nordeste brasileiro) com bela direção de fotografia de Lula Carvalho e o atrativo de muita nudez e sexo, o filme se vende como um retrato da "Geração Y", sem limites ou pudores com relação a sexo e drogas. O problema é que tenta parecer mais complexo do que realmente é através de uma montagem não linear que começa no presente, no Rio de Janeiro, volta dois anos no passado, para Amsterdã e depois mais dois anos, até uma festa rave em uma praia do nordeste.

Uma das tramas, a que acompanha a saída de Fernando (Luca Bianchi) da prisão e sua volta para casa, é extremamente parecida com a de "A Outra História Americana" ("American History X", de Tony Kaye, 1998). No filme americano, o personagem de Edward Norton é solto da prisão, para onde havia sido sentenciado após cometer um crime racial, e retorna para casa, onde o irmão mais novo (Edward Furlong) está seguindo o mesmo caminho. Em "Paraísos Artificiais", Fernando também volta para um lar desestruturado pela sua prisão e encontra seu irmão mais novo, Felipe (César Cardareiro), envolvido com drogas. Felipe havia sido preso por tentar trazer drogas de Amsterdã, onde se encontra com a DJ Érika (Nathalia Dill), com quem tem um tórrido romance. O filme tem aproximadamente uma longa cena de sexo a cada dez ou quinze minutos, em uma tentativa, como declarou o diretor em entrevistas, de ser "contra a caretice do cinema nacional". As cenas, de fato, contém planos detalhados da bela nudez de Nathalia Dill (e, depois, da namorada dela, Lara, interpretada por Lívia de Bueno), mas é tudo estilizado, em câmera lenta, como em videoclipes.

Outros flashbacks contam a história passada dois anos antes, no nordeste, em que os mesmos personagens encontravam-se em uma mega festa rave. Há diálogos que soam extremamente falsos, como os que Érika tem com o velho hippie Mark (Roney Vilella), que fala apenas frases prontas sobre as drogas ou papos "cabeça" sobre autoconhecimento. Lara, a namorada de Érika, repete a cada cinco minutos sobre como o "set" da DJ vai ser espetacular; quando a garota entra na pista todos começam a vibrar, como se centenas de jovens chapados com "balinhas" conseguissem distinguir entre uma música eletrônica "bate estaca" e a seguinte. Há, claro, espaço para mais cenas de sexo entre Nathalia Dill e Lívia de Bueno e, depois, entre as duas e Luca Bianchi.

O resultado é um filme vazio, que pode empolgar fãs de música eletrônica e gerar interesse por causa das drogas e do sexo. É bem realizado visualmente e no design de som e, dentro de suas limitações, passa seu recado. Quanto a gerar discussões sobre o uso de drogas ou lançar um olhar sobre o comportamento dos jovens, é superficial. Visto no Kinoplex, em Campinas.



sexta-feira, 16 de março de 2012

Shame

Brandon Sullivan (Michael Fassbender) é um homem bem sucedido, bonito, bem empregado, que gosta de música clássica e mora em um bom apartamento em Nova York. Com estas qualidades, não lhe é difícil conquistar mulheres, que flertam com ele no metrô, no escritório ou nas baladas. Sua vida social, no entanto, está longe da ideal. Brandon é incapaz de sentimentos que não sejam carnais; seu computador, mesmo no trabalho, está cheio de vídeos pornográficos. Ao chegar em casa, assiste com desinteresse a mais vídeos na internet, farta deste tipo de oferta. Faz sexo com frequência, mas as parceiras são prostitutas ou mulheres que "pega" nas baladas, também desinteressadas em um relacionamento genuíno.

"Shame" é um retrato frio e impiedoso da sociedade do prazer. Sexo pode ser conseguido de forma tão fácil que só se torna interessante quando carrega uma grande dose de perversão ou exibicionismo. A busca pelo prazer físico se transforma em um verdadeiro culto ao orgasmo, que, como uma droga, perde o efeito rápido e precisa ser alcançado novamente o mais breve possível. O alemão Michael Fassbender (de "Bastardos Inglórios", "X-Men - Primeira Classe") se entrega a um papel arriscado e se expõe tanto física (há várias cenas em que aparece em nu frontal) quanto emocionalmente, e sua ausência nas indicações ao Oscar foi muito comentada. Brandon é um personagem tão frio e de pouca empatia com o público quanto o filme. Carey Mulligan (do ótimo "Drive") também aparece repaginada; frequentemente nua e desbocada, ela está distante dos papéis de "menininha" que costuma interpretar. Ela é Sissy, uma cantora que é irmã de Brandon e que aparece em seu apartamento sem avisar. A relação entre os dois é tão complicada quanto tudo que envolve Brandon. Há, ao mesmo tempo, tanta intimidade física (fica difícil vê-los como irmãos) quanto distância emocional. A couraça de Brandon é arranhada em apenas uma cena, quando a irmã canta uma versão lenta de "New York, New York" em um clube noturno. 

O diretor britânico Steve McQueen (nehuma relação com o famoso ator) usa de longos planos para criar tensão em algumas cenas importantes. Quando Brandon sai para jantar com uma colega do escritório, a cena é toda filmada em um único plano estático que se fecha lentamente sobre o casal, revelando o nervosismo dele com uma situação rara: ele tem sentimentos por esta moça. Quando os dois vão para a cama, novamente a câmera se mantém sem cortes por vários minutos, enquanto Brandon vai ficando cada vez mais desconfortável com as intimidades da garota. Nas cenas de sexo causal, no entanto, a edição se torna rápida e sufocante, e a câmera não tem pudores ao mostrar os corpos nus em cena. O que não significa, no entanto, que o filme tenha intenções pornográficas. O sexo em "Shame" não é excitante, muito pelo contrário. A expressão no rosto de Fassbender enquanto transa não é de deleite, mas de desespero. O filme recebeu a classificação NC-17 nos Estados Unidos, associada geralmente a filmes pornográficos (e que custam milhares de dólares à bilheteria) e censura 16 anos no Brasil. "Shame" incomoda ao por o dedo na ferida da sociedade do consumismo desenfreado. Obra difícil, mas fascinante. Visto como cortesia no Kinoplex Campinas.

Câmera Escura

domingo, 29 de janeiro de 2012

L´Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância

Na virada do século 19 para o século 20, um grupo de mulheres vive e trabalha em um bordel de luxo chamado L´Apollonide. A maioria veio de casas menores e trouxeram com elas dívidas que, em princípio, serão pagas com o trabalho; na prática, poucas acreditam que um dia vão deixar aquela vida. "Casa de tolerância" de luxo ou não, os problemas destas mulheres não são diferentes dos de qualquer prostituta. Solidão, condições de trabalho humilhantes, doenças, exploração financeira e risco de violência.

Escrito e dirigido por Bertrand Bonello, o filme é fotografado como se fosse um quadro impressionista. Bonello se baseou em quadros de Toulouse-Lautrec e seu diretor de fotografia, Josée Deshaies, compõe planos iluminados à luz de velas, com efeito impressionante. O roteiro começa em um momento de prosperidade e paz no bordel e vai, gradualmente, mostrando sua decadência. A edição é não-linear e o filme, às vezes, começa uma sequência pelo seu final, para em seguida mostrar o início. Há muita nudez e cenas de sexo, embora o objetivo do filme não seja a pornografia. Tem-se a impressão de se estar assistindo a um documentário filmado no início do século 20; Bonello mostra o cotidiano de várias mulheres, em horário de trabalho ou fora dele. Uma garota chamada Pauline (Iliana Zabeth), é alfabetizada e escreve uma carta para a "madame" do bordel, Marie-France (Noémie Lvovsky), pedindo para ser contratada. Primeiro ela precisa pegar uma autorização na prefeitura e passar por um exame médico para trabalhar como prostituta. Ela então é educada pelas outras garotas sobre como se vestir, se comportar e manter a higiene. Há também um momento de extrema violência, quando Madeleine (Alice Barnole) tem o rosto cortado por um cliente; ela então se transforma na "garota que sempre ri", por causa do formato que fica sua boca. O filme explora as fantasias da clientela masculina. Todos ricos, há desde o senhor que é velho demais para o sexo e que se contenta em pagar para ver uma garota nua até os que querem fantasias elaboradas como transar em uma banheira cheia de champanhe ou querem que a prostitua assuma o papel de uma boneca, ou de uma gueixa.

O diretor comete algumas ousadias que nem sempre funcionam. A fotografia deslumbrante por vezes é maculada por uma tela dividida em quatro partes que é muito moderna; algumas canções de rock e blues, cantadas em inglês, causam estranheza na trilha sonora. Lento e melancólico, o filme parece mais longo do que seus 122 minutos de duração. Apesar destes poréns, é um filme sensível e muito bem feito. A cena final, transportada para o mundo atual, é muito bem utilizada.  Visto no Topázio Cinemas.


domingo, 27 de novembro de 2011

O Céu sobre os Ombros

Mistura de ficção com documentário, "O Céu sobre os Ombros" não é um filme amigável. Não há  preocupação em apresentar os personagens ou situar o espectador. Não há trilha sonora, a não ser uma ou outra música que esteja tocando no rádio (como "Beautiful Girl", do INXS, ou "Eye in the Sky", de Alan Parsons). A câmera é geralmente parada, a fotografia naturalista. Quem são estas pessoas?

Misturar documentário com ficção não é novidade. O mestre Eduardo Coutinho já o fez bem em "Jogo de Cena" e "Moscou", por exemplo. Aqui, o diretor Sérgio Bórges usou sua experiência em curta-metragens e filmes experimentais para mostrar a vida de três pessoas incomuns de Belo Horizonte. Evelyn é uma transexual que faz mestrado na UFMG, dá aulas sobre sexualidade e, à noite, é prostituta (ou como ela mesmo se define, "puta"). Há longas cenas de nudez da personagem que é meio homem, meio mulher e que, na vida, também é dividida. Como conciliar o nível cultural de uma mestranda com alguém que faz programas baratos à noite? "Oral é dez, completo é trinta", diz ela a um cliente.

Há um escritor negro, Lwei (que também passa grande parte do filme andando nu pelo apartamento), que nunca conseguiu terminar um livro. Em longos monólogos para uma companheira que não diz uma palavra, ele explica que precisa de tempo para ficar satisfeito com seus textos. Compara-se a Leon Tolstoi, que teria escrito e reescrito "Guerra e Paz" várias vezes. Ele tem um filho com problemas mentais que lhe causa um "paradoxo"; não se sente bem quando está com ele, sente falta quando não está. Nunca trabalhou e é sustentado pela mãe e pela mulher.

O terceiro personagem, Murari, também é paradoxal. Ao mesmo tempo que é devoto de Hare Krishna e tenta seguir os ensinamentos de paz interior, é membro da torcida organizada do Atlético Mineiro. A cena mais movimentada do filme se passa dentro do "Mineirão", com a câmera focada apenas no rosto dos torcedores, que entoam gritos de guerra nada parecidos com os cânticos Hare Krishna.

Os personagens nunca se encontram, mas há alguns pontos em comum, como a solidão, a vontade de ser melhor e uma curiosa mistura da erudição com o mundano. As dificuldades financeiras existem, mas não são prioritárias. O amor é citado mas, na prática, é em buscar do prazer que os personagens parecem caminhar.  Não é um filme fácil e certamente vai desagradar às grandes plateias. Pesquisando na internet é possível encontrar um universo expandido do filme, principalmente na página no Facebook e no site oficial. Há diversos vídeos mostrando cenas que não estão no original. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.