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domingo, 22 de maio de 2022

Love, Death and Robots, 3ª Temporada (2022)

 

Love, Death and Robots, 3ª Temporada (2022). Netflix. Volta a série animada criada por Tim Miller, com produção executiva de David Fincher. Tive a impressão de que esta temporada veio ainda mais violenta e perturbadora. São nove episódios, com várias técnicas de animação. Há ao menos uma obra prima e vários episódios bons; por vezes, fica aquele gosto de algo inacabado, como se não fossem curtas-metragens com começo, meio e fim, mas como se pegássemos uma história no meio e saíssemos antes do final.


1 - Os três robôs. Direção de Patrick Osborne, é uma espécie de continuação de um episódio da primeira temporada, creio, em que três robôs falam sobre os antigos mestres do planeta, os seres humanos. Engraçado, mas bobinho.

2 - Viagem Ruim. Direção de David Fincher, é meu segundo favorito desta temporada. Um grupo de marinheiros luta contra uma espécie de caranguejo gigante e carnívoro que quer ser levado a uma ilha povoada. Lento e bem dirigido por Fincher, é também um dos mais violentos.

3 - O mesmo pulso da máquina. Diração de Emily Dean, tem um visual incrível e é passado em Io, um dos satélites de Júpiter. Uma astronauta (voz de Mackenzie Davis) tenta sobreviver a um acidente enquanto arrasta o corpo de uma companheira por quilômetros. Os mesmos remédios que a mantém viva iniciam uma série de alucinações psicodélicas. Bem interessante.

4 - Noite dos minimortos. Direção de Robert Bisi & Andy Lyon. É o episódio mais engraçado; tecnicamente é muito interessante. Um apocalipse zumbi visto em miniatura, com situações clichês deste tipo de filme visto como se estivesse acontecendo em um minimundo.

5 - Matança em grupo. Direção de Jennifer Yuh Nelson. Falando em clichês, este tem todos os clichês do filme militar, em que um grupo de soldados machões enfrentam uma arma secreta da CIA. Muito sangue, vísceras e frases de efeito.

6 - Enxame. Direção de Tim Miller. Computação gráfica fotorrealista mostra dois seres humanos em uma espécie de colônia de cupins espacial. Para quem tem problemas com insetos pode ser um tanto nojento.

7 - Ratos de Mason. Direção de Carlos Stevens. Animação cartunesca sobre a luta de um fazendeiro contra os ratos que invadiram seu celeiro. Há um bocado de pedaços de rato voando pela tela.

8 - Sepultados na caverna. Direção de Jerome Chen. Outro curta militar; um grupo de soldados entra em uma caverna em busca de um refém e encontram uma série de coisas estranhas, que vão se tornando cada vez mais sombrias. Pesadão.

9 - Fazendeiro. Direção de Alberto Mielgo. É o melhor de todos, de longe. O visual é impressionante, confesso que fiquei em dúvida se era computação gráfica ou uma técnica mista com imagens reais. Um grupo de conquistadores espanhóis, nas Américas, enfrentam uma espécie de sereia do lago, coberta de escamas de ouro. Simplesmente maravilhoso, tanto no visual quanto no roteiro, uma alegoria à invasão europeia na América. O curta foi feito por uma produtora espanhola que já havia feito outro episódio impressionante chamado "A Testemunha", em uma das temporadas anteriores. Este vale pela terceira temporada toda. Tá na Netflix.

segunda-feira, 14 de março de 2022

Red: Crescer é uma Fera (Turning Red, 2022)

Red: Crescer é uma Fera (Turning Red, 2022). Dir: Domee Shi. Disney+. Mais uma animação da Pixar que está indo direto para o streaming; dizem as más línguas que a Disney está tentando "enterrar" a marca Pixar... será? De qualquer forma, "Turning Red" é a estreia na direção de longa metragens de Domee Shi, que ganhou um Oscar pelo ótimo curta-metragem "Bao" (que falava sobre uma mãe que sentia falta do filho, que havia saído de casa). Aqui o tema é parecido, embora toda a sutileza do curta tenha sido trocada por um estilo acelerado e frenético.

A personagem principal é uma garota de treze anos chamada Meiling (voz de Rosalie Chiang). Ela é de uma família chinesa (olha a Pixar mirando no mercado da China) que mora em Toronto, Canadá. A mãe (voz de Sandra Oh) é super controladora e a menina faz de tudo para ser "perfeita"; só que ela está com 13 anos e os hormônios começam a tomar conta. A trama é bastante feminina, de forma até ousada para os padrões da Pixar (não estamos mais no mundo de "Monstros S.A."). O caso é que a menina é "abençoada" por uma magia familiar que faz com que as mulheres se tornem um grande panda vermelho quando atingem a puberdade. A metáfora com a menstruação é bem óbvia (a mãe controladora chega a envergonhar a menina levando absorventes para a escola, na frente de todos os colegas).

A trama é passada em 2002 (ou seja, é um "filme de época", socorro, estou velho), mas algumas gírias e atitudes me pareceram bem atuais. Mei tem três amigas que, como ela, são apaixonadas por uma "boys band" chamada "4 Town", e tudo o que elas querem é ir ao show que eles vão fazer na cidade. Só que Mei se tornou um panda vermelho gigante... e agora? Pode parecer simples, mas debaixo da edição frenética, das músicas pop da trilha (compostas por Billie Eilish) e do colorido de "anime" há uma trama emocionante sobre uma menina querendo se tornar uma mulher independente. Não é um conceito novo, longe disso, mas é bem feito. Tenho a sensação de já ter visto parte desta história antes, seja em "A Caminho da Lua", animação de Glen Keane, ou no filme da Awkwafina, "A Despedida", ambos falando sobre uma garota chinesa lidando com a família controladora. É um dos filmes mais adolescentes (e femininos) da Pixar. Disponível na Disney+.

sábado, 5 de março de 2022

Luca (2021)

Luca (2021). Dir: Enrico Casarosa. Disney+. Ok, eu estava errado. Resolvi rever "Luca", da Pixar, despreocupadamente e o achei bem melhor do que da primeira vez. Como disse no outro texto, o nome "Pixar" levanta muitas expectativas, o que me fez achá-lo simples demais, feito só para crianças. Não é bem assim. Retiradas as expectativas, "Luca" é simples, sim, mas de forma singela; os personagens poderiam ter mais profundidade (sem trocadilhos), mas há uma leveza e inocência que eu não senti na primeira exibição.

Ao contrário da maioria dos roteiros da Pixar, que são sempre muito bem construídos (situação "A" leva a situação "B" que se resolve lá para o final, etc) em "Luca" as situações parecem que simplesmente vão acontecendo. Há uma questão de pai ausente que não se explica ou parece sem resolução, mas na verdade o garoto Alberto acaba ganhando um pai adotivo no pai da garota Giulia. Ainda acho que o vilão Ercole merecia uma história de fundo para explicar suas motivações, mas ele é simplesmente uma figura patética de um rapaz que já não é mais criança e age como um garoto mimado.

Por fim, tecnicamente o filme é muito bonito, a animação em computação gráfica chegou a um nível em que parece realmente desenhada e pintada à mão, os garotos têm um visual "cartunesco" que é interessante e aquela vila de pescadores é simplesmente linda. "Luca" está indicado ao Oscar de Melhor Animação, mas tudo indica que vá perder para o (muito) inferior "Encanto". Disponível na Disney+.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Moana (2016)

"Moana" é dirigido pelos lendários Ron Clemments e John Musker, que foram responsáveis pelo ressurgimento da Disney nos anos 1980 e 1990 com filmes como "A Pequena Sereia" (1989), "Alladin" (1992) e "Hércules" (1997). Eles dirigiram outros filmes juntos mas "Moana" é a primeira animação da dupla na era da computação gráfica e do 3D. Musker e Clemments trouxeram muitas das técnicas tradicionais da animação da Disney (da época em que ainda se desenhava com lápis e papel) e adaptaram ao novo processo em computação gráfica e o resultado é visualmente impressionante.

A trama, por outro lado, não é muito inovadora. Moana é uma garota que vive em uma ilha da Polinésia. Ela é filha do chefe da tribo e está destinada a ser a líder do grupo quando crescer. Mas (adivinhem?) ela sente que o destino dela está em outras paragens, além do horizonte infinito do mar, para onde ela sempre se sente atraída. Lendas também falam de um semi-deus chamado Maui que teria roubado uma pedra que seria o coração da criadora do mundo. Quando a colheita e os peixes começam a ficar escassos, Moana parte em um barco em busca de Maui para devolver a pedra à sua origem e trazer a fartura de volta ao seu povo.

Este primeiro ato, em minha opinião, é a melhor parte do filme. Os personagens são muito envolventes e há momentos bastante tocantes e mesmo épicos como quando Moana, auxiliada pela avó, descobre em uma caverna escondida na montanha que seu povo era originalmente formado por exploradores. No presente, no entanto, seu pai a proíbe de ir além dos recifes próximos.

Curiosamente, o filme perde um pouco do encanto quando Moana deixa seu lar e encontra Maui em uma pequena ilha no meio do oceano. Na versão original em inglês (boa sorte em tentar encontrar uma sessão que não seja dublada) Maui é interpretado por Dwayne Johnson, o "The Rock", o que deve fazer muita diferença na forma como o personagem é visto. Maui é convencido e orgulhoso, o que é interessante por alguns minutos, mas depois se torna repetitivo. O que havia de épico na jornada de Moana no primeiro ato se dilui com a chegada de Maui e o filme perde bastante do seu ritmo. Maui e Moana passam o resto do filme discutindo constantemente ou trocando piadas em longas cenas que, repito, chegam a cansar, o que é uma pena. Apesar disso, "Moana" ainda é uma animação acima da média e um filme bastante bonito e divertido.

João Solimeo

domingo, 31 de março de 2013

Oz: Mágico e Poderoso

Na falta de ideias originais, Hollywood tem apostado não só em continuações, mas em "prequels", aquelas histórias que contam as origens de algum personagem ou mundo conhecido. Desta vez a Disney resolveu contar a história anterior aos eventos do clássico "O Mágico de Oz", musical da MGM lançado em 1939 com Judy Garland e dirigido por Victor Fleming. O filme clássico inovava em um aspecto técnico interessante: as cenas passadas no "mundo real", em Kansas, eram em preto e branco, enquanto que as passadas no mundo mágico de Oz eram coloridas. O truque é repetido nesta nova versão, dirigida por Sam Raimi (da série "Homem Aranha") que também imita todos os maneirismos do diretor Tim Burton, a ponto de usar o compositor Danny Elfman, que fez a trilha de praticamente todos os filmes de Burton (com exceção de "Ed Wood", de 1994). A única coisa que falta para "Oz: Mágico e Poderoso" ser um filme de Tim Burton é Johnny Depp no papel principal.

Oscar (James Franco, canastrão), também conhecido como "Oz", é um ilusionista barato de um circo itinerante em Kansas, EUA, em 1905. Como mágico ele é passável, mas sua principal habilidade é com as mulheres; ele coleciona uma série de corações partidos pelas cidades por onde se apresenta. Até que, em uma tarde de tempestade, ele tem que fugir de um amante enfurecido e embarca em um balão de ar que é tragado pelo mesmo tufão que, em 1939, levará Dorothy para o mundo de Oz. Sam Raimi filma os primeiros quinze minutos em preto e branco e na proporção "quadrada" do cinema antigo. A chegada em Oz transforma a tela em largo "cinemascope" e em um colorido tão impressionante que se consegue imaginar como a chegada da cor ao cinema, há mais ou menos 70 anos, encantou as plateias. A chegada de Oz no mundo que leva seu nome causa comoção aos habitantes. O mágico é recebido pela bela bruxa Theodora (Mila Kunis, de "Ted"), que se apaixona por ele e o leva à Cidade das Esmeraldas. Lá ele conhece a irmã de Theodora, Evanora (Rachel Weizs, de "360"); ela lhe promete o tesouro da cidade e a posição de "Rei", desde que ele destrua a bruxa Glinda (Michelle Williams, de "Sete Dias com Marilyn"). Os efeitos especiais são muito bons e dois personagens "virtuais" chamam a atenção: o macaco Finley e a Boneca de Porcelana. Ela teve as pernas quebradas durante o ataque dos "macacos alados" da Bruxa Má (cuja identidade permanece em segredo por grande parte do filme). Oz, um charlatão, consegue consertar as pernas da boneca usando cola, e sua reputação como mágico cresce a cada truque. Os cenários são apropriadamente exagerados e o efeito 3D é usado da forma de sempre, isto é, várias coisas são jogadas em direção da platéia para ressaltar as três dimensões.

O filme tem um charme "retrô" interessante e belas imagens, mas peca pela longa duração (130 minutos). As interpretações também ficam aquém do esperado (os personagens virtuais interpretam melhor que os de carne e osso em grande parte do filme). A trama ganharia muito se tivesse uns 30 minutos a menos. O final, quando Oz usa de todos os seus truques "baratos" para  tentar derrotar as bruxas más, lembra um pouco as cenas de Meliès em "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese. "Oz: Mágico e Poderoso" dificilmente vai entrar para a história do cinema como um clássico, mas tem seus bons momentos.


quinta-feira, 28 de março de 2013

Os Croods

O roteiro de "Os Croods" não tem nada de novo. É reciclado de várias tramas já vistas na série "A Era do Gelo", que havia emprestado ideias de "Em Busca do Vale Encantado" (1988), e assim por diante. Ou seja, é uma história passada na pré-história, adaptada e acelerada para os tempos modernos. É o velho mito de querer chegar na "terra prometida", onde tudo vai dar certo e viverão felizes para sempre (ou até a próxima continuação da franquia).

As crianças vão gostar muito, como é o esperado, mas o que torna o filme uma experiência compensadora para os adultos na platéia é o visual espetacular criado pela DreamWorks Animation, que vem desenvolvendo um trabalho de texturas, cores, luzes e sombra extremamente realistas, como em "Como treinar seu dragão" (que tinha um roteiro muito superior), co-dirigido pelo mesmo Chris Sanders de "Os Croods". Os personagens não se parecem com desenhos tridimensionais, mas com seres de carne e osso (mesmo que caricaturizados) que impressionam. Há grande cuidado na criação de texturas, cabelos e pele dos personagens, além de uma câmera que investe em pontos de vista pouco usados em animação.

Questões técnicas à parte, a trama é bastante convencional. Os Croods são uma família como outra qualquer, pai, mãe, avó e filhos, que são os últimos sobreviventes de uma região pré-histórica. Isso se deve aos esforços paranoicos de Grug, o pai que ensina aos filhos que "ter medo é bom", "tudo que é novo é ruim" e, principalmente, "nunca saiam da caverna". Estas regras podem ter mantido a família viva, mas está matando de tédio a filha mais velha, Eep. Ela é a típica adolescente moderna presa no corpo de uma garota pré-histórica, e faz de tudo para desobedecer as regras do pai. Uma noite ela é atraída para fora da caverna por uma luz diferente e conhece Guy, um rapaz que descobriu o segredo do fogo e que conta histórias estranhas sobre o fim do mundo, que estaria próximo. De fato, mudanças geológicas (aceleradas milhares de vezes por questões dramáticas) estão acontecendo no planeta. Um terremoto destrói a caverna dos Croods, obrigando-os a sair para a luz do Sol e seguir Guy em uma jornada em direção do "amanhã", como ele chama. Nada muito novo mas, como disse anteriormente, mostrado com imagens tão sensacionais que o filme nunca se torna entediante. Pode ser um pouco frenético demais em alguns momentos e as piadas "modernas" nem sempre funcionam, mas é uma boa aventura. Em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Procurando Nemo 3D

Quando John Lasseter apresentou "Luxo Jr." (assista aqui), primeiro curta metragem feito pela "Pixar Animation Studios" em uma feira de tecnologia, em 1986, um figurão da área veio conversar com ele. Lasseter já estava esperando alguma pergunta técnica sobre algoritmos mas, ao invés disso, lhe perguntaram se a luminária maior era a mãe ou o pai da menor. Mais do que a tecnologia, o trunfo da "Pixar" sempre foi o lado humano da história, a preocupação com o roteiro. 

"Procurando Nemo" é de 2003 e já pode ser considerado um clássico. A animação está de volta aos cinemas em versão 3D; sim, pode ser considerado mais um relançamento "caça-níqueis" de um estúdio explorando os próprios filmes, mas "Procurando Nemo" é tão bom que vale voltar ao cinema para vê-lo na tela grande. O roteiro é um primor e é possível imaginar o grupo de roteiristas da "Pixar" ao redor de uma mesa jogando ideias como: "E se Dory tivesse um problema de memória?"; ou "Vamos colocar uns tubarões na história, mas que tal fazê-los em uma reunião dos Alcoólicos Anominos?"; ou mesmo "Já que o aquário fica em um consultório dentário, por que não escrever um diálogo em que os peixes discutem as técnicas usadas pelo dentista para tratar de um paciente?". São estes detalhes, e centenas de outros, que sempre colocaram a "Pixar" acima dos outros estúdios de animação. Ou, ao menos, até recentemente, quando o estúdio parece ter perdido a originalidade. Mas esta é outra discussão.

"Procurando Nemo" conta a história de Marlin, um peixe-palhaço que faz de tudo para reencontrar o filho Nemo depois que este foi capturado por mergulhadores nos recifes de coral na Austrália. Marlin (voz original de Albert Brooks) é um pai traumatizado por ter perdido a esposa e centenas de filhotes que foram devorados por uma barracuda. Nemo foi o único sobrevivente e o pai sempre foi excessivamente protetor. A jornada de Marlin do recife de coral até Sydnei, para onde o filho foi levado, é acompanhada por Dory, uma peixinha azul que sofre de memória curta. Quando está com Marlin, estranhamente, ela se sente melhor e é a única que se lembra do endereço dos mergulhadores, que ela leu em uma máscara de mergulho derrubada no mar. A viagem dos dois é uma aventura em que eles enfrentam tubarões, um cardume de águas-vivas, um passeio em alta velocidade por uma corrente marítima e até passam um tempo dentro de uma baleia gigante. Em paralelo, Nemo tem que encontrar um modo de tentar fugir do aquário em que foi colocado, onde encontra peixes como Gil (voz original de Willen Dafoe), um veterano do mar que há anos também tenta escapar. O filme foi escrito e dirigido por Andrew Stanton que, cinco anos depois, faria outra obra-prima da "Pixar", "Wall-E". "Procurando Nemo" e "Wall-E", a propósito, são provavelmente as duas animações mais belas visualmente produzidas pelo estúdio. As cenas passadas no recife de coral, com suas centenas de espécies de peixes, anêmonas, estrelas do mar, arraias, etc, são extremamente realistas e coloridas, e o efeito tridimensional, no caso, até veio adicionar ao encanto.

Interessante como o roteiro é, no fundo, uma homenagem aos contadores de histórias. Marlin começa o filme como um peixe-palhaço que não sabe nem mesmo contar uma piada. Suas aventuras, no entanto, fazem com que ele tenha o que contar e ele narra sua busca pelo filho para vários personagens no caminho. Há uma sequência muito boa em que se vê sua história ser passada para frente pelos peixes até chegar aos ouvidos de Nemo, que sabe que o pai está vindo. Assim, mesmo que seja um relançamento, "Procurando Nemo" vale a visita à telona. Visto no Kinoplex, Campinas.

sábado, 14 de janeiro de 2012

As aventuras de Tintim

Como explicar um diretor como Steven Spielberg? Como explicar que, no mesmo ano em que ele lança um dos filmes mais clássicos dos últimos anos, Cavalo de Guerra (filmado em película de 35mm, editado em moviola como nos velhos tempos), ele também lance um dos filmes mais avançados tecnicamente que o cinema atual pode produzir? "As aventuras de Tintim" não é só a primeira animação do diretor, mas também seu primeiro filme em computação gráfica, seu primeiro filme digital e o primeiro em três dimensões. A explicação está no fato de que ser ao mesmo tempo clássico e inovador nunca foi novidade para Spielberg. No mesmo ano em que lançou "Jurassic Park" (1993), com sua extraordinárias criaturas criadas em computação gráfica, também foi responsável por "A Lista de Schindler", um drama adulto sobre o holocausto, feito com atores de carne e osso e rodado em preto e branco.

Tintim, personagem do quadrinista belga Hergé, já era propriedade de Spielberg desde os anos 80, quando fez os filmes de Indiana Jones. Muitos notaram a semelhança entre o arqueólogo interpretado por Harrison Ford e o jovem jornalista de topete que investigava mistérios pelo mundo ao lado de seu cachorro Milu. De tantos em tantos anos ouvia-se rumores de que Spielberg finalmente faria a versão cinematográfica dos quadrinhos do aventureiro, mas o projeto nunca saia do papel. Então surgiu Peter Jackson e sua empresa de efeitos especiais, a WETA, baseada na Nova Zelândia. Em uma parceria que lembra os bons tempos da dupla Spielberg/Lucas (que produziu a série Indiana Jones), Spielberg e Jackson uniram forças para fazer um dos filmes mais empolgantes e inovadores dos últimos anos. "As Aventuras de Tintim" tem todos os ingredientes de um bom filme de aventura, mais passagens de filmes de suspense, ação, lutas de capa e espada e duelos entre navios de guerra. A semelhança de certas cenas com Indiana Jones é tão grande que, em alguns momentos, o espectador fica esperando que a trilha de John Williams toque o tradicional tema do arqueólogo.

"As Aventuras de Tintim" seguem o jovem aventureiro (voz original de Jaime Bell) em sua tentativa de desvendar o enigma do navio "Unicórnio", que afundou séculos atrás com centenas de quilos de ouro a bordo. Tudo começa quando o garoto compra um modelo do navio em uma feira de antiguidades. Assim que ele finaliza a compra outros interessados no navio aparecem. Um deles é o estranho Sr. Sakharine (voz de Daniel Craig), que tem em sua mansão outro modelo idêntico ao que Tintim comprou. Após Tintim ter seu modelo roubado ele e descobre que há, na verdade, três modelos do navio "Unicórnio", cada um contendo um manuscrito que é parte de um enigma. A chave para desvendá-lo está não só nos manuscritos como na mente do Capitão Haddock (voz de Andy Serkis), um experiente (e bêbado) lobo do mar que seria descendente do capitão Francis Haddock, comandante do "Unicórnio" original. O filme leva o espectador em uma aventura por terra, mar, ar e deserto que não só fazem juz aos quadrinhos originais como lembram os bons tempos do cinema de aventura.

Tecnicamente, o filme é surpreendente. Spielberg até engana o espectador com uma abertura com estilo "antiquado", com uma animação estilizada que lembra a abertura de "Prenda-me se for capaz" (2002), para então mergulhar a platéia em um espetáculo audiovisual que, à primeira vista, fica difícil identificar; é uma animação ou um filme com atores? Foi utilizado o sistema de "motion capture" para gravar a movimentação física e as expressões dos atores de verdade, que interpretam as cenas diante de um equipamento especial (veja vídeo de bastidores). Os dados então são transferidos para computadores e usados na animação dos personagens, que têm um visual que é um híbrido de realista com cartunesco. Após algum tempo o espectador se esquece que está vendo uma animação. Interessante como o estilo de dirigir de Spielberg foi bem traduzido para a técnica; em grande parte do tempo percebe-se que o diretor tentou se manter dentro das leis da física tanto na movimentação dos personagens quanto da câmera (que, a rigor, não existe). Em algumas sequências, porém, Spielberg se aproveitou da liberdade ilimitada proporcionada pela animação para criar planos fantásticos, principalmente na sequência em que o Capitão Hadocck se lembra de uma batalha naval e em um fantástico plano-sequência em que vários personagens estão tentando recuperar os manuscritos. Em meio à centena de nomes dos créditos finais pode-se notar que Steven Spielberg está também creditado como "Light consultant". A luz sempre foi marca registrada do diretor, que a usa para criar fachos na tela ou em belos planos em contraluz.

O final deixa clara a possibilidade de uma contiuação, que pode ser feita um dia por Peter Jackson. O filme não teve a bilheteria esperada nos Estados Unidos, apesar de ter sido bem aceito na Europa. De qualquer forma, "As Aventuras de Tintim" revelam que Spielberg, aos 65, ainda tem gás para inovar.


domingo, 4 de dezembro de 2011

Gato de Botas

O primeiro "Shrek" foi lançado pela DreamWorks em 2001 e foi um sucesso acima do inesperado. O sarcasmo e as piadas rasas foram consideradas uma resposta ao estilo comportado dos filmes da Pixar e "Shrek" foi recebido com entusiasmo nas bilheterias. Entre as dezenas de paródias com os contos de fadas havia um personagem que chamou a atenção, o gatinho de olhos grandes e voz suave (de Antonio Banderas) chamado Gato de Botas. O ogro verde teve mais três continuações, arrecadou uma fortuna e o Gato de Botas acaba de ganhar seu primeiro filme.

Dirigido por Chris Miller (de "Shrek Terceiro"), "Gato de Botas" é melhor do que se poderia esperar. Miller é também ator e interpretou a voz de vários personagens da série (como o Espelho Mágico). Apesar de estar muito longe da fonte original (o conto de Charles Perrault), o "Gato de Botas" tem um humor menos sarcástico do que o apresentado na série "Shrek" e um estilo mais cinematográfico, que lembra o adotado no superior "Rango" (de Gore Verbinski). Tecnicamente a animação é extramamente bem feita, com bela iluminação e seres humanos menos caricatos que em "Shrek". Há uma sequência de dança bastante "realista" (isto é, se gatos pudessem dançar como seres humanos) e boas cenas de perseguições.

O roteiro, claro, é uma bobagem. Gato de Botas, tradicional conquistador e exímio espadachim, decide roubar os "feijões mágicos". Juntam-se a ele o ovo "Humpty Dumpty" (personagem de histórias infantis tradicionais inglesas da "Mamãe Gansa") e a gata Kitty Pata Mansa (voz de Salma Hayek, no original). Eles querem os feijões para poder roubar a gansa dos ovos de ouro no castelo do Gigante, de "João e o pé de feijão". A cena em que os personagens plantam os feijões e sobem ao castelo é tão bem feita que merecia estar em um filme melhor. O resto não passa de clichês envolvendo intrigas, traições e redenção. A pergunta que os pais provavelmente estão fazendo é: as crianças vão gostar? Sim, elas irão gostar. O filme é bastante colorido, o personagem principal engraçado e o roteiro não chega a ser uma afronta tão grande à inteligência. Está longe dos bons tempos da Pixar ou de animações melhores como "Meu Malvado Favorito". Mas para uma animação baseada em um personagem secundário dos filmes de Shrek, repito, é melhor do que se poderia esperar. Site oficial em português. Topázio Cinemas.


sexta-feira, 24 de junho de 2011

Carros 2

O estúdio de animação Pixar sempre se manteve acima da concorrência nos quesitos técnica e roteiro. Seus filmes animados conquistaram o público de tal forma que se tornaram clássicos instantâneos, tomando a frente da indústria de animação e superando até os tradicionais estúdios Disney, com quem se fundiram e tomaram o controle criativo. Pois bem, eis que um de seus fundadores e principais nomes, John Lasseter, lança agora um filme puramente caça-níqueis, na linha daquelas continuações de segunda classe que a Disney fazia de seus clássicos e lançava direto para o DVD.

"Carros 2" é uma decepção em vários níveis, a não ser no técnico, claro. O trabalho de animação é impecável e o design continua criativo. O primeiro filme, lançado em 2006, era curioso na forma como adaptava não só o mudo dos seres humanos para os personagens de quatro rodas, mas também a própria natureza. As largas paisagens do oeste americano tinham a forma aerodinâmica de grandes Cadillacs, por exemplo, e isto se repete na continuação.

Mesmo não sendo dos melhores filmes da Pixar, o roteiro nostálgico pregava valores como a revalorização das pequenas cidades e uma desaceleração geral do modo de vida. Era uma fantasia fechada e que não precisava de continuações. Na falta de uma boa idéia para "Carros 2", Lasseter simplesmente pegou uma fórmula muito usada (os filmes de espionagem) e arbitrariamente a aplicou aos personagens de "Carros". Poderia ter feito a mesma coisa (com os mesmos resultados ruins) com os brinquedos de "Toy Story", talvez. Quem sabe a coisa funcionasse melhor com os heróis de "Os Incríveis"? Fica clara, infelizmente, a intenção de ganhar dinheiro nas férias da criançada e vender brinquedos.

Sim, as crianças pequenas, principalmente os garotos, vão gostar de ver Relâmpago MacQueen e o guincho Mate se aventurando por países como Japão, Itália, França e Inglaterra em um campeonato mundial de corridas. Um milionário diz ter criado um combustível totalmente orgânico e organizou esta disputa para provar que a era do petróleo terminou. Só que um cientista alemão quer estragar estes planos e criou uma arma que destrói os carros que estiverem usando este combustível. Um agente secreto britânico, Finn McMíssil (voz de Michael Caine, no original) e a sexy Holly Caixadebrita acabam contando com a ajuda de Mate para desvendarem o mistério. Assim, o capiria desastrado Mate acaba tomando o papel de protagonista de "Carros 2", deixando Relâmpago como mero coadjuvante. O roteiro capenga apela para cenas de corrida (narradas por Luciano do Valle, na versão dublada) ou de ação, com todos os tiros e explosões que se esperam de um filme de James Bond. Ou seja, exatamente o contrário de tudo que se plantou no primeiro "Carros". Bola fora da Pixar.


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Kung Fu Panda 2

"Kunf Fu Panda 2" é um avanço considerável em relação ao primeiro filme, tanto tecnicamente quanto em roteiro. Sim, é um filme infantil do século 21, o que significa inevitáveis piadas escatológicas. Neste episódio descobrimos as origens de Po, o urso panda que se tornou mestre de kung fu e que pensava ser filho de um ganso (que surpresa, ele não é).

O malvado mestre Shen, um pavão com penas afiadas, descobriu que a pólvora pode ser usada não só para fazer fogos de artifício e criou armas de guerra que, aparentemente, podem acabar com o Kung Fu. Só há um problema; uma cabra, prevendo o futuro, disse que Shen seria destruído por uma criatura preta e branca. Em uma clara referência bíblica, Shen envia seus lobos para matar todos os ursos pandas do reino, o que força a mãe de Po a colocá-lo em uma cesta, que vai parar em um rio e, finalmente, no restaurante do Ganso. Qualquer semelhança com Moisés não é mera coincidência. Estas cenas são visualizadas em belas animações que simulam o 2D tradicional, contrastando bem com a rica animação tridimensional com que é feito o filme.

Há muita "filosofia de biscoito da sorte", dita principalmente pelo mestre Shifu (voz original de Dustin Hoffman), que ensina a Po que ele deve encontrar sua "paz interior". A animação em computação gráfica chegou a um nível de refinamento que nos faz esquecer que estamos vendo um conjunto de "pixels" se movendo na tela e, lição que a Pixar vem dando há muito tempo, o cuidado com o roteiro ajuda muito a envolver o público. Po e seus amigos (uma tigreza, um louva-deus, uma garça, um macaco e uma cobra, todos mestres em seus estilos de Kung Fu, claro) vão até Gongmen City tentar libertar a cidade das garras (ou penas) de Shen, impedir seus planos de dominar a China e, de quebra, restaurar a honra do Kung Fu.

O roteiro tem humor na dose certa, bons personagens e cenas de ação e luta que certamente farão a alegria da criançada. Os adultos podem aproveitar o visual requintado e algumas boas piadas. A produção é da Dreamworks Animation, com direção de Jennifer Yuh Nelson.


domingo, 10 de abril de 2011

Rio

Brasileiro é um povo estranho. Quando o seriado "Os Simpsons" fez um episódio em que os personagens vinham ao Brasil destilar seu humor afiado, cheio de críticas, ouviu-se a ira "patriótica" de muitos. Agora, quando o brasileiro Carlos Saldanha, um dos diretores de animação mais bem sucedidos do mundo, resolveu usar seu poder nos estúdios "Blue Sky" (produtores da série "Era do Gelo") para fazer um filme passado em um Rio de Janeiro belo e alegre, escuta-se novamente o brado de que ele estaria mascarando os problemas da cidade maravilhosa. Nas duas situações, há muita bobagem e pouca crítica séria.

Sim, "Rio" é uma animação extremamente colorida e alegre que, pecado dos pecados, mostra um Rio de Janeiro lindo, com fauna exuberante e pessoas preocupadas só com o Carnaval. Como produto de entretenimento e filme infantil, "Rio" não tinha nenhuma obrigação de ser polêmico ou mesmo verossímil. Seria como criticar "A Era do Gelo" por não ser cientificamente correto. Por uma terrível coincidência, o filme foi lançado um dia depois do massacre causado por um homem fora de controle em uma escola do Rio de Janeiro, em que 12 crianças foram assassinadas. Uma pena que o Rio de verdade não seja mais parecido com o animado mas, repetindo, não se pode julgar Paris pelo visto em "Ratatouille".

Blu é uma arara azul muito rara que, ainda filhote, foi capturado por contrabandistas de animais exóticos e levado aos Estados Unidos. Ele se torna animal de estimação de Linda, uma moça tímida que o trata como se fosse da família. Mas um dia um cientista brasileiro chamado Tulio aparece e diz que Blu é o último macho da sua espécie, e deve ser levado ao Rio de Janeiro para se acasalar com Jade, a última fêmea. Blu é tão domesticado que sequer sabe voar; ao conhecer Jade, não entende o porquê dela querer escapar e voltar para a natureza. As duas araras acabam roubadas por um garoto que trabalha para contrabandistas de animais. Estes contrabandistas moram, sim, em uma favela que, se não mostra traficantes trocando tiros, é realista e visualmente interessante o suficiente para a animação.

A cidade do Rio, claro, é a principal personagem do filme. E os animadores a mostram com grande beleza e riqueza de detalhes. As cenas noturnas são particularmente bem feitas e, estilizada ou não, não deixa de ser interessante ver a paisagem brasileira na tela. Tudo culmina com um feito técnico impressionante, o desfile de uma escola de samba em pleno carnaval carioca. Há literalmente milhares de "figurantes" tridimensionais nesta sequência, embalados pela trilha sonora criada por Sergio Mendes. Saldanha, que é carioca e migrou para os Estados Unidos para aprender animação, sem dúvida se coloca um pouco no personagem de Blu, um expatriado que volta ao Rio de Janeiro e a vê mais com os olhos maravilhados de um turista do que com o realismo de um morador local. "Rio" não é nenhum clássico, mas é diversão leve e bem feita para crianças e adultos.


sábado, 12 de março de 2011

Rango

O trailer de "Rango", bastante engraçado, tenta passar uma imagem de mais uma animação leve para crianças, com muita correria e piadas fáceis. Quem for ver o filme vai dar muitas risadas, sim, mas "Rango" é muito mais do que isso; é mais adulto e inteligente do que a maioria dos filmes americanos em cartaz. A direção é de Gore Verbinski, diretor de "Piratas do Caribe", e é a primeira animação produzida pela empresa de efeitos especiais de George Lucas, a ILM (Industrial Light and Magic). O resultado é um filme tecnicamente perfeito, com uma qualidade visual e um nível de detalhes impressionante. Nos créditos pode-se ver o nome do diretor de fotografia Roger Deakins como "consultor visual". Deakins é um dos melhores fotógrafos do cinema, tendo trabalhado constantemente com os irmãos Coen ou com M. Night Shyamalan. Os detalhes, a luz e as texturas vistas em "Rango" só têm paralelo em animações como "Wall-E" ou "Como treinar seu dragão"; não coincidentemente, Roger Deakins foi "consultor" também nestes dois outros filmes.

"Rango" conta a história de um camaleão que cai do carro de seus donos e se vê perdido em pleno deserto de Mojave, no oeste americano. Ele recebe ajuda de um misterioso tatu que só fala por meio de metáforas e que o direciona no caminho da pequena cidade de "Dirt" (poeira), no meio do deserto. "Dirt" é a típica cidade do velho oeste, com o "saloon", o banco, a prefeitura, o ferreiro e a funerária. Todos estão passando por dificuldades pela falta de água, que misteriosamente deixou de correr pela região. Há um sem número de referências cinematográficas no roteiro, mas a influência principal é dos faroestes italianos de Sergio Leone. Há um "coro" de corujas que nos conta a história e acompanham a trilha sonora. A questão da falta de água e suas implicações políticas vêm diretamente do clássico "Chinatown", dirigido por Roman Polanski em 1974. Até o prefeito da cidade, uma tartaruga inteligente e traiçoeira, é claramente baseada no personagem que John Huston interpretou naquele filme.

O camaleão se faz passar por um sujeito durão e adota o nome de "Rango" (tirado do rótulo de uma bebida chamada "Durango"). Toda a cidade fica impressionada com ele quando, por acidente, ele mata a principal ameaça do lugar, uma águia. O prefeito faz dele o novo cherife e ele logo se vê envolvido em uma investigação; quem teria roubado a água do banco? Por que a fazendeira "Feijão" (uma lagarta que vai se apaixonar por Rango) afirma ter visto água ser despejada no deserto? Por que é que o prefeito parece ser o único da região a não sofrer com a falta de água? Todas estas perguntas e intrigas são desenvolvidas no ótimo roteiro escrito por John Logan, que faz uma mistura de velhos filmes de faroeste com a intriga de "Chinatown". A trilha de Hanz Zimmer flerta com os clássicos que Ennio Morricone compôs para Sergio Leone ou com a música de "Sete Homens e um Destino", composta por Elmer Bernstein.

"Rango" já é opção certa para o Oscar de Melhor Animação para 2012. Seu roteiro é inteligente e, tecnicamente, eleva a computação gráfica a um nível de realismo impressionante. Se cuide, Pixar.


segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Enrolados

A produção de "Enrolados" passou por muitos problemas. Originalmente chamado de "Rapunzel", a produção da Disney era para ser um desenho animado tradicional, feito à mão e seguindo a longa tradição do estúdio. Mas os tempos mudaram, os animados em computação gráfica se tornaram a norma e uma concorrente, a Pixar, havia tomado o posto de principal estúdio de animação do mundo.

Disney e Pixar se fundiram, executivos mudaram de posição na empresa e John Lasseter, o gênio criativo por trás de "Toy Story" e outros sucessos se tornou produtor executivo de "Rapunzel", que depois de muitas mudanças passou a se chamar "Enrolados". O filme foi feito em computação gráfica e, seguindo outra tendência, em 3D. O resultado, surpreendentemente, é excelente. "Enrolados" pode ser considerado um marco na fusão das novas tecnologias com o traço tradicional do desenho animado da Disney. Não só isso; o coração do filme está em algo que a Pixar, com toda sua tecnologia, sempre prezou muito: o roteiro.

Seguindo a tradição das princesas da Disney como Cinderela, A Bela Adormecida e a Pequena Sereia, "Enrolados" conta a história de Rapunzel, uma princesa com cabelos mágicos que têm o poder de manter as pessoas jovens e de curar feridas. Ainda quando bebê, ela é sequestrada por uma bruxa chamada Gothel, que se torna sua mãe. Superprotetora, Gothel coloca Rapunzel em uma alta torre em um local secreto da floresta, onde a garota passa todos os dias de sua vida. Ela tem curiosidade sobre o mundo lá fora, claro, mas as histórias de terror que sua mãe lhe diz faz com que ela também tenha muito medo de sair da sua prisão sem grades. Uma vez por ano, em seu aniversário, o palácio solta balões iluminados no céu, na esperança de que a princesa ache o caminho de volta para casa. A cena em que a garota, aos 18 anos, pede de presente para a mãe que a deixe sair da torre valeria teses de psicologia sobre o poder da influência dos pais sobre a liberdade dos filhos. Gothel aterroriza e ridiculariza a menina de tal forma que Rapunzel, apesar de ainda querer fugir, se sente segura e protegida na alta torre da floresta. Até que um dia um ladrão chamado Flynn Ryder, fugindo dos guardas do palácio, acaba chegando até a torre, e no momento que Rapunzel olha para ele sabe que tudo mudou em sua vida.

Além do ótimo roteiro, a técnica de "Enrolados" é impressionante. A influência e know how da Pixar se fazem sentir em cada plano; os cenários são ricos em detalhes e os personagens não se movimentam como bonecos de computador. O 3D é muito bem usado e não é somente um chamariz de bilheteria. A trilha sonora tem músicas de Alan Menken, um dos responsáveis pelo ressurgimento da Disney no mundo da animação em "A Pequena Sereia" (1989) e vencedor de oito Oscars em filmes como "A Bela e a Fera", "Aladinn" e "Pocahontas". O filme tem cenas ótimas, como a passada dentro de uma taverna escura, cheia de bandidos (que acabam se revelando sensíveis e de bom coração) ou a primeira vez que Rapunzel sai da torre, alternando momentos de extrema alegria com outros de depressão e culpa. Há também um personagem coadjuvante, um camaleão que faz companhia a Rapunzel na torre, que rende boas gargalhadas. Mas a melhor cena, para entrar para a história da Disney, é o momento em que Flynn e Rapunzel, em um barco, acompanham o lançamento dos balões iluminados ao céu.

Clássico instantâneo.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Megamente

A animação em computação gráfica deixou de ser novidade há um bom tempo. Assim, quando vemos um filme animado que é tecnicamente bem feito, isso também não deveria mais contar como uma qualidade. Mesmo assim, é fato que a qualidade da animação em "Megamente", produção da mesma DreamWorks Animation que Shrek, é de um nível comparável à Pixar. Há uma cena passada na chuva em que dois personagens estão passando por uma separação difícil que é extraordinária na qualidade da imagem e na "interpretação" dos personagens. Mas não há muito mais em "Megamente" que possa ser recomendado.

O filme começa em um estilo "Superman". Dois planetas estão para ser sugados por um buraco negro e pais preocupados colocam seus filhos em naves espaciais que escapam da destruição e vão parar no planeta Terra. Uma das naves carrega "Metroman", um superbebê heróico, loiro, de olhos azuis, que cai na mansão de uma família rica dos Estados Unidos. A outra nave acaba caindo em um presídio de segurança máxima onde "Megamente", um alienígena de cor azulada e cabeça grande, aprende com os piores presos do país a ser um criminoso. Os dois são superdotados e têm poderes, mas somente Metroman é bem aceito pelos terráqueos. O feio Megamente acaba desistindo de querer agradar aos seres humanos e se transforma em um vilão, o principal antagonista de Metroman.

Os animados da DreamWorks costumam ser acusados de serem cópias de segunda classe dos filmes da Pixar, e com Megamente não é diferente. Há uma boa dose de "Os Incríveis" no roteiro, principalmente no personagem de um cinegrafista que, recebendo superpoderes de Megamente, é bastante parecido física e psicologicamente com o vilão do filme da Pixar. O próprio Megamente, a bem da verdade, com sua vontade de ser um vilão conhecido e conquistar a todos, lembra muito Gru, de "Meu Malvado Favorito" (que não é da Pixar, é verdade). Ele até tem um animal de estimação (um peixe de aquário) que lembra muito o cão de Gru. E por que os desenhos animados ultimamente tem que ser tão barulhentos? "Megamente" tem uma trilha sonora composta principalmente por AC/DC que é tocada no último volume o tempo todo.

O filme é de certa forma ousado, embora nada original, em subverter os papéis de vilão e herói. Logo no início, Megamente surpreende o mundo todo (e principalmente a si mesmo) quando consegue derrotar Metroman em um daqueles "planos infalíveis". Com Metroman destruído, ele ocupa a prefeitura e começa a saquear os tesouros do mundo. Isso o satisfaz por alguns dias, mas logo ele começa a sentir falta justamente de seu pior inimigo. O que foi que ele fez? De que adianta sequestrar a esperta repórter Rosana Rocha (obviamente baseada em Louis Lane) se Metroman não vai aparecer para salvá-la?

"Megamente" está sendo lançado em versões 2D e 3D, com seu preço exorbitante. A versão bidimensional funciona perfeitamente bem, sem ter que pagar o preço extra. "Megamente" é sem dúvida bem feito e tem algumas boas risadas mas, em termos de vilões, não chega perto do "Meu Malvado Favorito" (veja o filme no Topázio Cinemas).


domingo, 28 de março de 2010

Como treinar seu dragão

Há cenas muito bem feitas neste novo lançamento da DreamWorks Animation. A animação em computação gráfica, por vezes, parece feita com bonecos "de verdade", e não pixels de computador. É mais um filme a aproveitar a onda de produções em 3D que invadiu o mercado, contando a história de um jovem chamado "Soluço", que não é exatamente o que seu pai viking queria. Ao contrário de seus companheiros, Soluço não tem a mínima vontade de seguir a tradição de sua vila, que é lutar contra os dragões que os atacam regularmente. Um dia, no entanto, em um golpe de sorte, Soluço consegue ferir o dragão mais terrível de todos, chamado de "Fúria da Noite", que cai na floresta. Ao ir até ele, ao contrário de matá-lo, como seria o esperado, acaba fazendo amizade com o dragão.

A animação foi dirigida pela mesma dupla de "Lilo & Stich" (2002), Chris Sanders e Dean Deblois, e o visual dos dragões herdou muito daquele filme. Soluço batiza o dragão de "Banguela" e constrói uma "prótese" para um pedaço da cauda dele, que havia sido perdida. Os dois passam então a se ver todos os dias. "Banguela" leva o garoto para voar em cenas que fizeram a alegria da garotada que lotava o cinema, fazendo uso muito bom da tecnologia em três dimensões (lembrando cenas similares de "Avatar", em menor escala). O ritmo não tem a pressa normalmente encontrada em animações recentes mas, infelizmente, o roteiro não chega a gerar muito interesse. O fato de ser um filme infantil impede que a ameaça dos dragões seja levada muito a sério pelo espectador, já que ninguém morre ou mesmo fica muito ferido nos ataques. Há apenas uma cena muito bem feita em que Banguela leva Soluço até o ninho dos dragões e ele descobre o porquê deles roubarem comida dos humanos.

Fora esta cena e alguns momentos interessantes que mostram a integração de Soluço com Banguela, "Como treinar seu dragão" não tem muito mais a oferecer. Mas é bonito, bem feito e não ofende a inteligência de ninguém.


sábado, 5 de setembro de 2009

UP - Altas Aventuras

O diretor de "Up", Pete Docter, foi um dos escritores do último animado da Pixar, "Wall-e", e pode-se notar a semelhança estilistica em uma ótima sequência inicial. Assim como no filme do robô, há longos momentos sem diálogos em "Up". Considerando que vivemos em uma época saturada de informação, em que os filmes parecem querer "gritar" o tempo todo pela atenção do espectador, é reconfortante que ainda haja artistas corajosos como os animadores da Pixar. "Up" quebra alguns outros paradigmas das animações modernas. Para começar, é um filme em que o personagem principal é um velho. E apesar de seu coadjuvante em grande parte da trama ser um garoto, ele é um garoto bastante "comum", não é um gênio em computação nem alguém que se transforma em monstros. Tecnicamente, "Up" também embarcou na onda de filmes 3D mas, ao contrário da maioria dos exemplos do gênero, a produção não fica "jogando" objetos em direção ao espectador só para exibir a técnica. O 3D de "Up" é mais sutil e utilitário. O roteiro começa muito bem mas, assim como em Wall-e, a qualidade decai do meio para o final, infelizmente. Ainda assim, estamos diante de mais um exemplar de alto nível técnico e artístico do estúdio que tomou o lugar da Disney como lider mundial na animação.

O filme conta a história de Carl Fredricksen (voz de Chico Anísio na dublagem brasileira), um senhor que vive solitário na última casa de um bairro em constante reconstrução. A melhor sequência do filme é a que mostra a vida feliz que Carl teve com a esposa Ellie, que conheceu quando os dois eram crianças e fãs de um explorador chamado Charles Muntz. Eles prometem que um dia vão viajar à América do Sul em uma aventura, mas o tempo passa e a vida toma outros rumos. Tocante em um desenho animado ver uma história de vida e morte ser contada de forma tão natural assim. Quando Ellie se vai, Carl fica sozinho e se transforma no protótipo do velho ranzinza. Quando os homens de um asilo vem buscá-lo, eles se assustam quando Carl parte rumo às nuvens, com casa e tudo, carregado por centenas de balões de festa. É tudo muito bonito e bem feito, e o filme se torna cheio de possibilidades. Pena que o resultado fique aquém do esperado. Carl parte para a América do Sul com uma carona inesperada, um escoteiro cuja missão na vida é ajudar um idoso para ganhar a última medalha que falta na sua coleção.

O resto do filme envolve alguns momentos muito engraçados e bem escritos, misturados com outros que deixam a desejar. Infelizmente o toque humano acaba se chocando com uma trama que envolve cachorros falantes, um pássaro misterioso e um herói de infância que se revela um vilão. O visual continua impressionante e as máquinas voadoras lembram alguma coisa que o mestre japonês Hayao Miyazaki poderia ter imaginado (ou já fez melhor em filmes como "Láputa, Castelo no Céu"), mas fica a sensação de uma oportunidade perdida. "Up", mesmo assim, é divertimento de alto nível para as crianças e adultos.


sexta-feira, 3 de julho de 2009

A Era do Gelo 3

O terceiro “A Era do Gelo” chega na onda de filmes lançados em 3D dos últimos anos. Felizmente, o recurso é utilizado de forma inventiva e muito bem feita e, o que é uma bela surpresa, é acompanhado por um roteiro muito bom, que lembra o primeiro (e ainda melhor) da série. Dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, “A Era do Gelo 3” é divertido, bem escrito e tecnicamente impressionante. Após a correria sem sentido do segundo filme, eis um episódio que foca novamente na amizade entre os membros do grupo formado pelo mamute Manny, sua esposa Ellie, o tigre dentes-de-sabre Diego e a preguiça Sid. Além, claro, do personagem do esquilo pré-histórico que, neste episódio, é acompanhado por uma versão feminina, que também está sempre tentando pegar uma noz fujona.

Os mamutes estão esperando um filhote, o que resgata um pouco o sentimento paternal que havia no primeiro filme (por causa do bebê humano que o grupo protegia). Diego, o tigre, se sente posto de lado e pensa em abandonar o grupo. Já a preguiça Sid (que, sinceramente, não sei definir se é macho ou fêmea), inspirada pelo iminente nascimento do filhote de Manny, tem os instintos maternais atiçados quando encontra três grandes ovos em uma caverna escondida. Há cenas muito engraçadas envolvendo Sid e os ovos, principalmente depois que eles chocam e dão à luz três filhotes de tiranossauro, que passam a seguir e imitar Sid. Claro que os filhotes têm uma mãe verdadeira que, gigante na tela 3D, vem buscá-los e os leva, junto com Sid, para um mundo subterrâneo onde moram os dinossauros que não foram extintos. Cabe ao resto do bando ir até lá para resgatá-lo, contando com a ajuda de Buck, uma doninha que perdeu um olho e que é completamente neurótico.

O efeito tridimensional é usado para reforçar as cenas de perseguição e para ampliar o belo mundo subterrâneo encontrado pelo grupo. Há cascatas de lava fervente, florestas tropicais sobrevivendo sob o gelo, plantas carnívoras gigantes, perseguições no lombo de pterodátilos e todo tipo de aventuras que proporcionam uma boa diversão para as crianças, mas que também satisfazem os adultos.


segunda-feira, 14 de julho de 2008

Wall-E

Engraçado como o cinema americano está fatalista ultimamente. É filme atrás de filme mostrando a Terra (ou os Estados Unidos, o que para eles é a mesma coisa) destruída por alguma catástrofe natural, um vírus, um meteoro, ou o que seja. O exemplar mais novo deste "gênero" vem dos estúdios da PIXAR na forma de um robô que, aparentemente, é o último ser "vivo" do planeta (sem contar uma barata que lhe faz companhia). Falar bem da PIXAR é chover no molhado, mas vamos lá: que filme bem feito tecnicamente. Os artistas "nerds" do estúdio californiano enchem a tela (e os olhos dos espectadores) com literalmente milhares de pequenos detalhes impressionantes. Não há um frame sequer desleixado em um filme da PIXAR, e é por isso que eles se tornaram o estúdio de animação mais bem sucedido e criativo do mundo nos últimos anos.

O robô é chamado de Wall-e (que é a sigla para "alocador de lixo terrestre", ou algo assim), e sua única missão na vida é compactar o lixo em cubos e empilhá-lo em montanhas de dejetos. Estamos aproximadamente no ano de 2800, se minhas contas estiverem corretas, e a Terra se tornou, literalmente, um monte de lixo da superfície até a órbita, cheia de restos de satélites. O filme começa com uma surpresa, uma canção do musical "Hello Dolly", dirigido pelo gênio sapateador Gene Kelly, em 1969, com Barbara Streisend e Walter Matthau no elenco. Explica-se, a música é tocada pelo pequeno robô o tempo todo durante seu turno de trabalho, e ele guarda uma velha (muito velha) fita VHS do filme em sua "casa", um furgão cheio de bugigangas e peças de reposição. O cenário é impressionante e a trama vai sendo revelada aos poucos através de objetos de cena e outdoors animados que vão contando a história da humanidade: o mundo se tornou inabitável e os seres humanos fugiram para o espaço. Para trás ficaram robôs como Wall-e com a missão de limpar tudo e tornar o planeta habitável novamente. Mas 700 anos se passaram, o lixo se acumulou em pilhas maiores que os arranha-céus das metrópoles e os robôs foram parando um por um, com exceção de Wall-e que, fiel a seu propósito, continua trabalhando sem parar.

O filme é co-escrito e dirigido por Andrew Stanton, responsável por "Procurando Nemo", e ele comete algumas ousadias. Grande parte do animado é passado sem nenhum diálogo, apenas com imagens e expressões de Wall-e para passar a história. Há um sem número de referências, mas a principal (e que vai se tornando cada vez mais óbvia) é o clássico "2001 - Uma Odisséia no Espaço", de Stanley Kubrick, que também tinha uma longa primeira parte passada no "silêncio" de uma Terra sem seres humanos. O filme tem um visual espetacular e uma "câmera" quase sempre em movimento, com constantes mudanças de foco e pequenos movimentos que parecem sugerir o ponto de vista de outra máquina. A tecnologia da computação gráfica percorreu um longo caminho desde que Toy Story estreou nos cinemas em 1995.

A solidão do pequeno robô termina quando uma gigantesca nave desce dos céus e dela sai outro robô, muito mais avançado tecnicamente do que Wall-e. Na verdade é "uma" robô chamada EVA, que veio à Terra procurar por sinais de vida. Wall-e se "apaixona" perdidamente por ela e tenta conquistá-la seguindo as cenas que sempre viu no musical "Hello Dolly". EVA só quer saber de sua missão e, de fato, ela encontra uma pequena planta e entra em "hibernação". A nave volta e retorna ao espaço com EVA a bordo, e Wall-e vai de carona. As cenas da viagem espacial são de uma poesia tocante e servem de ponte para a segunda parte do filme, passada dentro de uma gigantesca nave espacial onde os descendentes da Humanidade vivem. E a visão não deixa de ser assustadora. A nave (ou o novo lar dos humanos) é mostrado como um gigantesco shopping center em que as pessoas, gordas e sedentárias, são conduzidas de um lado para o outro em cadeiras flutuantes, se comunicando apenas por programas de "chats" e seguindo a mesma moda. É obviamente uma crítica à sociedade de consumo que produziu todo aquele lixo que destruiu o planeta e um retrato do americano médio, consumista, gordo e infantilizado. Se não estivesse assistindo a uma animação "para crianças" feita por um grande estúdio americano, juro que acharia que estava vendo uma crítica ácida e adulta ao mundo em que vivemos.

Wall-e tem um pouco de E.T., um pouco de Star Wars, um pouco de 2001, e muito da cultura pop atual. Quando Wall-e liga, por exemplo, faz o mesmo som que meu iMac 600 da Apple fazia (e, creio, os Macs ainda fazem ao ligar). A mensagem ecológica está meio batida hoje em dia, mas o filme é maior do que isso. E a PIXAR impressiona novamente com sua mágica de conseguir misturar alta tecnologia na produção com um coração que bate em seus roteiros elaborados. E que venha o próximo Oscar.