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quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Os Fabelmans (The Fabelmans, 2022)

 
Os Fabelmans (The Fabelmans, 2022). Dir: Steven Spielberg. Por muitos anos, o diretor Steven Spielberg foi considerado um cineasta puramente técnico, alguém focado só em efeitos especiais e em grandes bilheterias. Com o tempo, porém, percebeu-se que por trás de filmes como "E.T. - O Extraterrestre", "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" se escondia alguém contando a própria história. A história de um garoto judeu em uma família dividida pela traição e pelo divórcio.


Após anos "se escondendo" atrás de metáforas, Spielberg resolveu contar sua vida de forma mais direta; o estopim foi a pandemia, quando o diretor se viu preso em casa. Ele e o co-roteirista Tony Kushner escreveram o filme em uma série de sessões de conversas pelo "Zoom". O resultado é extremamente pessoal, claro, e mais franco do que eu imaginava. Como alguém que não só assistiu aos seus filmes como leu todas as entrevistas e biografias que conseguiu encontrar, o filme também foi estranhamente familiar para mim.

A versão de Spielberg em "Os Fabelmans" é um rapaz chamado Sam (Mateo Zoryan, quando criança, e Gabriel LaBelle quando adolescente). Sam foi levado pelos pais para assistir ao filme "O Maior Espetáculo da Terra" (1952), de Cecil B. de Mille, quando pequeno, e ficou obcecado por uma cena em que um trem atropela um carro. O garoto tentou reproduzir a cena diversas vezes, em casa, com um trem de brinquedo, para desespero do pai (Paul Dano). A mãe (Michelle Williams, ótima) então deu ao garoto uma câmera amadora de 8mm, com a qual ele recriou a cena vista no cinema. Este foi o início de uma vida dedicada a criar e reproduzir (e manipular) imagens. Com o passar dos anos, o jovem Sammy estaria sempre com uma câmera na mão, fazendo filmes amadores de guerra, westerns e ficção científica com as irmãs ou com colegas da escola e escoteiros.

O filme, porém, não é somente sobre o surgimento de um cineasta, mas o modo como ele interpretava a vida por detrás das lentes. O pai era um homem extremamente técnico, um dos primeiros especialistas em computadores; o trabalho o obrigava a mudar frequentemente de cidade em cidade com a família. A mãe era pianista clássica, uma pessoa sensível e volúvel. Havia outra pessoa nessa dinâmica, um amigo pessoal do pai chamado Bennie (Seth Rogen, surpreendente), que se tornou um "amigo" especial da mãe. Esse triângulo amoroso era visto, mas inicialmente não percebido, por Sammy e pelas irmãs.

Spielberg lentamente introduz o conceito da traição através de imagens que acontecem às margens da ação principal. De forma genial, ele também mostra como Sammy só se dá conta do que está acontecendo ao editar um filme caseiro de uma viagem em família (mais o "amigo" Bennie). É bem típico de Spielberg que a cena não tenha diálogos, só imagens do jovem olhando, assustado, para os trechos de filme Super8 que ele está editando.

Curioso como, apesar da infidelidade ter partido da mãe, Spielberg tenha culpado o pai em seus filmes. Em "ET", é o pai que "está no México com a Sally"; em "Contatos Imediatos do Terceiro Grau", é o pai que abandona a família e parte para o espaço com os aliens. Separações apareceriam também em trechos de "Império do Sol", "Inteligência Artificial", "Guerra dos Mundos", "Prenda-me se for capaz", entre vários outros filmes da carreira do diretor. Em "Os Fabelmans", o jovem Sammy resolve esconder a traição da mãe tirando fora os trechos comprometedores do filme caseiro que mostra à família (assim como ele faria, depois, em sua carreira).

É um filme e tanto, um prato cheio para cinéfilos (há uma ótima cena que mostra o diretor John Ford) e fãs de Spielberg. O último plano é genial. Nos cinemas.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Manchester à Beira-Mar (2016)

Pense em um filme triste. Pense em um filme bom. Casey Affleck (bem melhor que o irmão Ben) é Lee Chandler, um zelador que mora sozinho em Boston fazendo trabalhos diversos. Um dia ele recebe uma ligação urgente e vai até Manchester, onde descobre que o irmão, Joe (Kyle Chandler) morreu de uma rara doença do coração. Lee é um cara de (bem) poucas palavras e é dado a explosões violentas. A trama, não linear, nos mostra flash backs de uma época em que ele era casado e tinha três filhos pequenos. O que teria acontecido com eles, onde eles estão? No presente, Lee tem que lidar com a logística de contatar funerária, advogados, ler o testamento e descobrir que o irmão lhe deixou a responsabilidade de ser guardião do filho adolescente, Patrick (Lucas Hedges, muito bem).

É um filme lento e bastante frio, quase tão frio quanto as paisagens cobertas de neve mostradas pela ótima fotografia de Jody Lee Lipes. O comportamento ausente e violento do personagem de Casey Affleck, aos poucos, vai sendo explicado por um evento trágico em seu passado. O sobrinho, agora órfão, precisa de uma figura paterna mas Lee está mais do que relutante em assumir a responsabilidade. Várias pessoas na cidade sequer o querem por perto.
"Manchester à Beira-Mar" não está muito interessado em mostrar aquelas grandes cenas de redenção que costumamos ver em dramas deste tipo. Casey Affleck está maravilhosamente contido e todos os personagens, na verdade, parece que estão precisando de um abraço. Não é um filme fácil, mas lentamente ele te conquista e, como na vida, mostra que não há respostas simples para os problemas cotidianos.

João Solimeo

domingo, 31 de março de 2013

Oz: Mágico e Poderoso

Na falta de ideias originais, Hollywood tem apostado não só em continuações, mas em "prequels", aquelas histórias que contam as origens de algum personagem ou mundo conhecido. Desta vez a Disney resolveu contar a história anterior aos eventos do clássico "O Mágico de Oz", musical da MGM lançado em 1939 com Judy Garland e dirigido por Victor Fleming. O filme clássico inovava em um aspecto técnico interessante: as cenas passadas no "mundo real", em Kansas, eram em preto e branco, enquanto que as passadas no mundo mágico de Oz eram coloridas. O truque é repetido nesta nova versão, dirigida por Sam Raimi (da série "Homem Aranha") que também imita todos os maneirismos do diretor Tim Burton, a ponto de usar o compositor Danny Elfman, que fez a trilha de praticamente todos os filmes de Burton (com exceção de "Ed Wood", de 1994). A única coisa que falta para "Oz: Mágico e Poderoso" ser um filme de Tim Burton é Johnny Depp no papel principal.

Oscar (James Franco, canastrão), também conhecido como "Oz", é um ilusionista barato de um circo itinerante em Kansas, EUA, em 1905. Como mágico ele é passável, mas sua principal habilidade é com as mulheres; ele coleciona uma série de corações partidos pelas cidades por onde se apresenta. Até que, em uma tarde de tempestade, ele tem que fugir de um amante enfurecido e embarca em um balão de ar que é tragado pelo mesmo tufão que, em 1939, levará Dorothy para o mundo de Oz. Sam Raimi filma os primeiros quinze minutos em preto e branco e na proporção "quadrada" do cinema antigo. A chegada em Oz transforma a tela em largo "cinemascope" e em um colorido tão impressionante que se consegue imaginar como a chegada da cor ao cinema, há mais ou menos 70 anos, encantou as plateias. A chegada de Oz no mundo que leva seu nome causa comoção aos habitantes. O mágico é recebido pela bela bruxa Theodora (Mila Kunis, de "Ted"), que se apaixona por ele e o leva à Cidade das Esmeraldas. Lá ele conhece a irmã de Theodora, Evanora (Rachel Weizs, de "360"); ela lhe promete o tesouro da cidade e a posição de "Rei", desde que ele destrua a bruxa Glinda (Michelle Williams, de "Sete Dias com Marilyn"). Os efeitos especiais são muito bons e dois personagens "virtuais" chamam a atenção: o macaco Finley e a Boneca de Porcelana. Ela teve as pernas quebradas durante o ataque dos "macacos alados" da Bruxa Má (cuja identidade permanece em segredo por grande parte do filme). Oz, um charlatão, consegue consertar as pernas da boneca usando cola, e sua reputação como mágico cresce a cada truque. Os cenários são apropriadamente exagerados e o efeito 3D é usado da forma de sempre, isto é, várias coisas são jogadas em direção da platéia para ressaltar as três dimensões.

O filme tem um charme "retrô" interessante e belas imagens, mas peca pela longa duração (130 minutos). As interpretações também ficam aquém do esperado (os personagens virtuais interpretam melhor que os de carne e osso em grande parte do filme). A trama ganharia muito se tivesse uns 30 minutos a menos. O final, quando Oz usa de todos os seus truques "baratos" para  tentar derrotar as bruxas más, lembra um pouco as cenas de Meliès em "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese. "Oz: Mágico e Poderoso" dificilmente vai entrar para a história do cinema como um clássico, mas tem seus bons momentos.


domingo, 29 de abril de 2012

Sete Dias com Marilyn

Marilyn Monroe e Sir Laurence Olivier. Ele era um dos atores mais venerados da Inglaterra, um mestre da interpretação, um dos responsáveis pela popularização de Shakespeare no cinema. Ela era a maior sex symbol de Hollywood, a garota aparentemente frágil e ignorante que derretia o coração dos homens e provocava a inveja nas mulheres. Olivier, apaixonado por ela como todo mundo, a convidou para atuar a seu lado em "O Principe Encantado", filme de 1957 que seria produzido, dirigido e interpretado por ele. Em poucos dias de filmagem, porém, o mestre inglês iria se arrepender da escolha. Marilyn era insegura, instável, chegava atrasada ao set de filmagem (ou simplesmente não aparecia) e, insulto maior a Olivier, tinha sua própria consultora de interpretação, Paula Strasberg, esposa do lendário Lee Strasberg, do Actor´s Studio de Nova York.

Os bastidores das filmagens de "O Príncipe Encantado" ganharam a forma de um livro escrito pelo terceiro assistente de direção de Olivier, um novato chamado Colin Clark; dedicado e inocente, Clarke teria tido uma relação próxima com Monroe,  a maior diva do cinema. "Sete dias com Marilyn" é um filme bastante convencional, que só escapa de parecer um telefilme pela qualidade do elenco. O diretor Simon Curtis acertou ao escalar Michelle Williams para o papel de Monroe. Poucos conseguiriam imaginar que uma atriz baixa, magra e pouco memorável como Williams pudesse encarnar a sex symbol de forma tão eficiente. A Marilyn de Williams não é mera imitação e ela compensa a falta do físico de Monroe com uma interpretação que traz a fragilidade e insegurança da loira. Laurence Olivier é interpretado pelo que muitos consideram ser seu herdeiro nos filmes shakespearianos, Kenneth Branagh, que como ator e diretor já levou várias obras do poeta inglês ao cinema (como "Henrique V", "Muito Barulho por Nada", "Otello", "Hamlet", entre outros). Branagh está perfeito no papel, mas é fato que Michelle Williams, assim como a personagem que interpreta, rouba todas as cenas.

Eddie Redmayne interpreta Colin Clark, um rapaz fanático por cinema que, após muita insistência, consegue um emprego na produtora de Laurence Olivier. Quando os ânimos começam a esquentar no set de filmagem e fica claro que Olivier e Monroe não conseguem trabalhar juntos, os bons modos do rapaz atraem o interesse de Marilyn, que começa a requisitar sua presença. Clark, no início, serve apenas como um ombro amigo mas, nas mãos de Monroe, logo se transforma em algo mais. A atriz era paparicada (e cobrada) por todos e vivia à base de pílulas para dormir (que acabariam por levá-la à morte cinco anos depois, em 1962). Colin, que era sete anos mais novo que Marilyn, obviamente se apaixona por ela, apesar do aviso de todos de que o romance não iria durar. O retrato de Marilyn feito pelo filme não é ruim, mas fica claro que ela era uma mulher que usava de seus encantos para manter alguns homens interessados por algum tempo. Pelo tempo que dura, o flerte entre o rapaz e a atriz é mostrado em cenas idílicas em que ambos andam pelos campos ingleses ou nadam em riachos gelados. O filme é competente ao evocar os figurinos de época e o set de filmagens em que Olivier tenta, a todo custo, terminar seu trabalho. Tanto Michelle Williams quanto Kenneth Branagh receberam indicações ao Oscar por suas interpretações, e "Sete dias com Marilyn" é um filme agradável de se assistir, embora nada memorável.

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