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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Operação Big Hero

Parece que você está assistindo a dois filmes diferentes. "Operação Big Hero" (Big Hero 6) é, ao mesmo tempo, um terno filme sobre a amizade entre um garoto e um robô, por um lado, e um blockbuster de super-herói da Marvel, por outro.

Explica-se. A Disney comprou a Marvel há alguns anos e, precisando de conteúdo, pediu a seus executivos que vasculhassem o vasto arquivo da fábrica de heróis por alguma coisa que pudesse se transformar em um produto Disney. Encontraram "Big Hero 6", uma HQ produzida no final dos anos 1990 que só era conhecida pelos aficionados pelo gênero, o que dava carta branca para que a história original (que era adulta) pudesse ser mudada e adaptada para a sensibilidade dos espectadores dos estúdios Disney.

O resultado é um filme vibrante, vivo e colorido, com fartas doses de influência oriental. A história se passa na cidade de San Fransokyo, uma interessante mistura da cidade costeira americana com a capital do Japão. A famosa ponte Golden Gate, por exemplo, tem formas orientais, os neons estão escritos em japonês e até os personagens têm nomes japoneses, como Hiro Hamada, um garoto prodígio de 13 anos que gosta de competir em lutas clandestinas de robôs.

Um dia seu irmão mais velho, Tadashi, o leva até uma universidade que é o paraíso dos nerds, em que adolescentes de várias idades desenvolvem bicicletas flutuantes e outras coisas do gênero. O projeto de Tadashi é um robô médico chamado Baymax, que se parece com um marshmallow gigante. Tudo no robô inspira calma e tranquilidade e a função dele é tratar da saúde das pessoas. (leia mais abaixo)


Após um prólogo relativamente longo uma tragédia se abate sobre Hiro, que perde o irmão em um incêndio e herda dele o robô de fala tranquila. A relação entre os dois é muito interessante e tem influências claras de histórias como "E.T.", "Meu amigo Totorô", "Gigante de Ferro", "Como treinar seu dragão", entre outras. O filme provavelmente poderia ter sido apenas sobre isto, mas a partir de certo ponto o roteiro parece se lembrar que é também uma aventura da Marvel e o tom do filme muda radicalmente para a ação desenfreada.

O design japonês me lembrou muito Osamu Tezuka, criador de Astro Boy e dezenas de outros personagens de mangás e animês. "Operação Big Hero" tem um pouco de tudo e certamente vai agradar a diversas plateias, de crianças a adultos. Pessoalmente preferiria que o filme tivesse ficado mais no lado dos sentimentos e menos no lado aventura da Marvel, mas é questão de gosto (e de mercado). Também acho que teria sido melhor, do ponto de vista do estúdio, lançá-lo como um produto da Pixar (que já fez o ótimo "Os Incríveis") do que interromper a tradição dos "filmes de princesas" da Disney. É um bom filme, com visual impressionante (San Fransokyo parece viva e pulsante como uma cidade de verdade) e bons personagens. Sem dúvida haverá continuações em breve.

João Solimeo

domingo, 22 de junho de 2014

Como Treinar seu Dragão 2

Esta continuação do sucesso da DreamWorks Animation de 2010 segue a tradição de que, como em "Star Wars", o segundo filme de uma série deve ser mais sombrio do que o primeiro. "Como Treinar seu Dragão 2" faz isso e muito mais. Quando escrevi sobre o primeiro filme, há quatro anos, disse que "o fato de ser um filme infantil impede que a ameaça dos dragões seja levada muito a sério pelo espectador, já que ninguém morre ou mesmo fica muito ferido nos ataques". Isto não é mais verdade. "Dragão 2" ainda é um filme infantil, bastante colorido, com várias piadinhas e uma corrida aérea inicial que lembra os jogos de quadribol da série Harry Potter; mas o nível de realismo foi elevado, tanto técnica quanto narrativamente.

É um prazer ver o nível de detalhes empregado na criação dos personagens e na iluminação dos cenários. O diretor de fotografia Roger Deakins novamente aparece nos créditos como consultor, e a iluminação desta animação é das melhores já vistas em uma computação gráfica. O 3D é usado com sabedoria e, felizmente, para realmente ampliar a sensação do espectador, e não como um artifício forçado para cobrar um ingresso mais caro. (leia mais abaixo)


Há também um aprofundamento muito maior nos personagens. O diretor/roteirista Dean DeBlois traz Soluço como um jovem de 20 anos que, após revolucionar a relação entre homens e dragões no primeiro filme, agora enfrenta uma nova ameaça; um vilão chamado Drago pretende escravizar todos os dragões e atacar a vila de Berk, onde moram Soluço e seus companheiros. O pai de Soluço, o teimoso Estoico, quer enfrentar o problema da forma Viking, ou seja, partir para o ataque. O rapaz, como sempre, discorda do pai e parte com Banguela para tentar uma solução diplomática. Ele encontra pelo caminho muito mais do que esperava, na forma de uma figura do passado, uma mulher chamada Valka que, assim como ele, também é amiga dos dragões. Há uma pitada de Hayao Miyazaki, o mestre animador japonês por trás de clássicos como "Princesa Mononoke" e "Vidas ao Vento", na personagem de Valka. A cena em que ela surge através das nuvens, mascarada e montada em um dragão, é puro Miyazaki. Pode-se perceber também uma influência japonesa no tom ecológico do filme e no design de um "dragão alfa" que vive em um santuário no meio do gelo. E quem diria que um blockbuster infantil se daria ao trabalho de criar uma longa e calma sequência romântica entre dois amantes do passado?

Claro que tudo termina em uma grande cena de luta, mas DeBlois a conduz com muita competência. Há uma grande dose de ambição na sequência em que dois dragões alfa, gigantescos, lutam ao fundo do cenário enquanto pequenas figuras humanas combatem em primeiro plano. Uma cena de sacrifício pode chocar as crianças (e adultos) presentes, mas isso só mostra como esta série evoluiu.

Assim, "Como Treinar seu Dragão 2" é bastante superior ao primeiro filme e um grata surpresa. Para ser visto em 3D, na tela grande do cinema.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Meu Malvado Favorito 2

O cinema precisava de uma continuação para "Meu Malvado Favorito"? Não. Mas como o filme foi um grande sucesso entre crianças e adultos em 2010, era de se esperar que, mais cedo ou mais tarde, Gru e as crianças estariam de volta. Assim, férias, criançada em casa, onde levá-los? Ver "Meu Malvado Favorito 2" que, assim como o primeiro filme, é tão inofensivo quanto divertido, o que é uma boa surpresa.

Gru (voz original de Steve Carell) deixou de ser um vilão "profissional" para se dedicar às filhas adotivas, Margô, Edith e Agnes. Este é um dos

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O Reino Escondido

"O Reino Escondido" é uma animação em 3D dirigida por Chris Wedge que, com o brasileiro Carlos Saldanha, foi responsável pela série "A Era do Gelo" e pela animação "Rio". O roteiro é de Wedge e de William Joyce, escritor de livros infantis e produtor de animações como "A Lenda dos Guardiões" e o curta metragem "The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore", vencedor do Oscar. O roteiro segue aquela trama ecologicamente correta sobre seres fantásticos que querem salvar a Natureza, na linha de "Ferngully" ou mesmo "Avatar". O filme sai do lugar comum graças a um visual caprichado e algumas boas sacadas.

M.C. (ou Maria Catarina) é uma garota de 17 anos que, após a morte da mãe, tenta retomar o contato com o pai, um "cientista maluco" que vive sozinho em uma casa na floresta. Ele tem centenas de câmeras espalhadas entre as árvores e sensores que tentam provar sua teoria de que a floresta é mantida por seres em miniatura. O que M.C. não sabe é que o pai está certo. Logo no início somos apresentados aos "Homens Folha", nobres guerreiros que, voando nas costas de pássaros, protegem a floresta do vilão Mandrake e seus seguidores. Há uma lenda que diz que, no Solstício da Primavera, a rainha Dara precisa escolher um botão de flor que vai manter a floresta viva; acontece que Mandrake ataca os "homens folha" e, após uma violenta batalha, consegue matar a rainha. O botão acaba caindo nas mãos de M.C., que estava na floresta naquele momento. Miniaturizada pela rainha, M.C. acaba se juntando aos "homens folha" na luta para salvar a floresta. Ao mesmo tempo, a garota tem que descobrir um modo de voltar ao seu tamanho natural e fazer as pazes com o pai.

Os cenários tridimensionais da floresta são bastante bonitos, em cenas que remetem um pouco ao cinema fantástico criado pelo japonês Hayao Miyazaki. O design dos "homens folha" também é muito bem feito, e há nobreza no modo de se portar de personagens como Ronin, o líder do exército da Rainha Dara. Há também, claro, as concessões esperadas em um filme infantil como este, como uma dupla de lesmas que fazem todos os  truques que a garotada (principalmente os meninos) acham engraçados. Há grande quantidade de sequências de ação, criadas para explorar ao máximo o efeito do 3D. O final dá a entender que a história vai continuar em outras sequências. "O Reino Escondido" pode não ser muito original, mas é bonito, bem feito e sem dúvida vai agradar a criançada. Visto no Topázio Cinemas.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Homem de Ferro 3

As primeiras imagens da campanha publicitária de "Homem de Ferro 3" prometiam algo sombrio para Tony Stark (Robert Downey Jr) e seu alter-ego de titânio. Cenas em câmera lenta mostravam a casa do playboy milionário sendo destruída por mísseis; outras imagens mostravam as armaduras do herói sendo destruídas, tudo indicando um filme mais maduro. Pura ilusão. Para desgosto de alguns (e delícia de milhares) de fãs, "Homem de Ferro 3" é tudo aquilo que se poderia esperar da continuação de uma franquia de sucesso: maior e muito mais barulhento.

O início até tenta criar um clima mais denso na psicologia de Tony Stark. Depois dos eventos vistos em "Os Vingadores", em que ele havia quase morrido ao salvar o planeta de uma invasão alienígena, Stark tem ataques de ansiedade, insônia e falta de foco. Sua namorada, Pepper Potts (Gwyneth Paltrow) foi promovida a presidente das indústrias Stark (além de morar definitivamente com ele). Do passado surge um ambicioso empresário e cientista chamado Aldrich Killian (o sempre cometente Guy Pierce, de "Os Infratores") que, após ter sido humilhado por Stark, se transformou em um homem inescrupuloso. Através de manipulação genética, ele criou uma nova raça de super-soldados que parecem saídos de X-Men. Ao mesmo tempo, um terrorista (muito parecido com Bin Laden) chamado de "Mandarim" (ninguém menos que Sir Ben Kingsley, de "A Ilha do Medo") comete uma série de atentados a bomba. Stark leva para o lado pessoal e desafia o terrorista em rede nacional de televisão, o que causa a já citada cena em que sua casa e suas armaduras são feitas em pedacinhos, mandando Tony de volta à estaca zero.

O roteiro e direção deixaram as mãos competentes de Jon Favreau (que interpreta o guarda-costas Happy Hogan) e passaram para o lendário roteirista Shane Black, criador de mega sucessos dos anos 1980 como a série "Máquina Mortífera". A influência da década de 80 é sentida de diversas formas; a mais irritante se vê na forma do (antigamente) obrigatório coadjuvante mirim que divide a tela com o super-herói em cenas que beiram o ridículo. A suposta seriedade do herói é jogada fora em favor de cenas em que Stark contracena com um garoto que, sem pai, mãe ou família, ajuda o gênio milionário a reconstruir a armadura do Homem de Ferro. Outra influência oitentista se vê no final, passado em um daqueles cenários cheios de containers, cabos e muitas explosões. Stark, que passa grande parte do filme fora da armadura de titânio, tira da cartola dezenas (não é força de expressão) de "Homens de Ferro" que surgem para salvar a pátria. O que havia de verossimilhança (mesmo que de HQ) no primeiro filme da série se transforma naquelas intermináveis sequências em que Stark desafia as leis da física saltando de um guindaste a outro, mergulhando dentro de uma armadura, saindo e caindo dentro de outra. Sim, as cenas de ação são impressionantes e, sem dúvida, os fãs adolescentes vão vibrar em cada segundo de projeção. Para quem (como eu) que não tem familiaridade com os quadrinhos, fica a pergunta: onde estão os outros Vingadores enquanto isso tudo está acontecendo? Por que simplesmente não chamam o Hulk para fazer purê de Guy Pierce?

Para quem gosta de muito barulho e de explosões, "Homem de Ferro 3" é o filme perfeito. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

domingo, 31 de março de 2013

Oz: Mágico e Poderoso

Na falta de ideias originais, Hollywood tem apostado não só em continuações, mas em "prequels", aquelas histórias que contam as origens de algum personagem ou mundo conhecido. Desta vez a Disney resolveu contar a história anterior aos eventos do clássico "O Mágico de Oz", musical da MGM lançado em 1939 com Judy Garland e dirigido por Victor Fleming. O filme clássico inovava em um aspecto técnico interessante: as cenas passadas no "mundo real", em Kansas, eram em preto e branco, enquanto que as passadas no mundo mágico de Oz eram coloridas. O truque é repetido nesta nova versão, dirigida por Sam Raimi (da série "Homem Aranha") que também imita todos os maneirismos do diretor Tim Burton, a ponto de usar o compositor Danny Elfman, que fez a trilha de praticamente todos os filmes de Burton (com exceção de "Ed Wood", de 1994). A única coisa que falta para "Oz: Mágico e Poderoso" ser um filme de Tim Burton é Johnny Depp no papel principal.

Oscar (James Franco, canastrão), também conhecido como "Oz", é um ilusionista barato de um circo itinerante em Kansas, EUA, em 1905. Como mágico ele é passável, mas sua principal habilidade é com as mulheres; ele coleciona uma série de corações partidos pelas cidades por onde se apresenta. Até que, em uma tarde de tempestade, ele tem que fugir de um amante enfurecido e embarca em um balão de ar que é tragado pelo mesmo tufão que, em 1939, levará Dorothy para o mundo de Oz. Sam Raimi filma os primeiros quinze minutos em preto e branco e na proporção "quadrada" do cinema antigo. A chegada em Oz transforma a tela em largo "cinemascope" e em um colorido tão impressionante que se consegue imaginar como a chegada da cor ao cinema, há mais ou menos 70 anos, encantou as plateias. A chegada de Oz no mundo que leva seu nome causa comoção aos habitantes. O mágico é recebido pela bela bruxa Theodora (Mila Kunis, de "Ted"), que se apaixona por ele e o leva à Cidade das Esmeraldas. Lá ele conhece a irmã de Theodora, Evanora (Rachel Weizs, de "360"); ela lhe promete o tesouro da cidade e a posição de "Rei", desde que ele destrua a bruxa Glinda (Michelle Williams, de "Sete Dias com Marilyn"). Os efeitos especiais são muito bons e dois personagens "virtuais" chamam a atenção: o macaco Finley e a Boneca de Porcelana. Ela teve as pernas quebradas durante o ataque dos "macacos alados" da Bruxa Má (cuja identidade permanece em segredo por grande parte do filme). Oz, um charlatão, consegue consertar as pernas da boneca usando cola, e sua reputação como mágico cresce a cada truque. Os cenários são apropriadamente exagerados e o efeito 3D é usado da forma de sempre, isto é, várias coisas são jogadas em direção da platéia para ressaltar as três dimensões.

O filme tem um charme "retrô" interessante e belas imagens, mas peca pela longa duração (130 minutos). As interpretações também ficam aquém do esperado (os personagens virtuais interpretam melhor que os de carne e osso em grande parte do filme). A trama ganharia muito se tivesse uns 30 minutos a menos. O final, quando Oz usa de todos os seus truques "baratos" para  tentar derrotar as bruxas más, lembra um pouco as cenas de Meliès em "A Invenção de Hugo Cabret", de Martin Scorsese. "Oz: Mágico e Poderoso" dificilmente vai entrar para a história do cinema como um clássico, mas tem seus bons momentos.


quinta-feira, 28 de março de 2013

Os Croods

O roteiro de "Os Croods" não tem nada de novo. É reciclado de várias tramas já vistas na série "A Era do Gelo", que havia emprestado ideias de "Em Busca do Vale Encantado" (1988), e assim por diante. Ou seja, é uma história passada na pré-história, adaptada e acelerada para os tempos modernos. É o velho mito de querer chegar na "terra prometida", onde tudo vai dar certo e viverão felizes para sempre (ou até a próxima continuação da franquia).

As crianças vão gostar muito, como é o esperado, mas o que torna o filme uma experiência compensadora para os adultos na platéia é o visual espetacular criado pela DreamWorks Animation, que vem desenvolvendo um trabalho de texturas, cores, luzes e sombra extremamente realistas, como em "Como treinar seu dragão" (que tinha um roteiro muito superior), co-dirigido pelo mesmo Chris Sanders de "Os Croods". Os personagens não se parecem com desenhos tridimensionais, mas com seres de carne e osso (mesmo que caricaturizados) que impressionam. Há grande cuidado na criação de texturas, cabelos e pele dos personagens, além de uma câmera que investe em pontos de vista pouco usados em animação.

Questões técnicas à parte, a trama é bastante convencional. Os Croods são uma família como outra qualquer, pai, mãe, avó e filhos, que são os últimos sobreviventes de uma região pré-histórica. Isso se deve aos esforços paranoicos de Grug, o pai que ensina aos filhos que "ter medo é bom", "tudo que é novo é ruim" e, principalmente, "nunca saiam da caverna". Estas regras podem ter mantido a família viva, mas está matando de tédio a filha mais velha, Eep. Ela é a típica adolescente moderna presa no corpo de uma garota pré-histórica, e faz de tudo para desobedecer as regras do pai. Uma noite ela é atraída para fora da caverna por uma luz diferente e conhece Guy, um rapaz que descobriu o segredo do fogo e que conta histórias estranhas sobre o fim do mundo, que estaria próximo. De fato, mudanças geológicas (aceleradas milhares de vezes por questões dramáticas) estão acontecendo no planeta. Um terremoto destrói a caverna dos Croods, obrigando-os a sair para a luz do Sol e seguir Guy em uma jornada em direção do "amanhã", como ele chama. Nada muito novo mas, como disse anteriormente, mostrado com imagens tão sensacionais que o filme nunca se torna entediante. Pode ser um pouco frenético demais em alguns momentos e as piadas "modernas" nem sempre funcionam, mas é uma boa aventura. Em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Detona Ralph

"Detona Ralph" é fruto da geração fliperama, que gastava fortunas em fichas de "Pac Man" e "Space Invaders" antes que os consoles invadissem as casas. Ele tem como protagonista Ralph, o personagem de um jogo fictício aos moldes de "Elevator Action" e "Donkey Kong". Sua única função é "detonar" as janelas de um prédio de apartamentos, que são rapidamente consertadas por Felix, um rapaz com um martelo mágico. Ao final de cada jogo, Ralph é atirado de cima do prédio pelos moradores enfurecidos e passa a noite no lixão do mundo virtual. O começo do filme é bastante bom.  Ralph é visto em uma reunião aos moldes dos "alcoólicos anônimos" em que ele fala de suas frustrações por ser um vilão. Jogadores vão reconhecer figuras famosas do mundo dos games como o fantasminha do jogo "Pac Man", do Dr. Robotnik (do "Sonic") e de outros vilões de jogos como "Street Fighter" e "Super Mario". Vilões e heróis dos vários fliperamas passeiam pelos fios de força entre as máquinas, todas ligadas em uma espécie de estação de trem central.

Ralph, chateado por não ter a mesma fama dos heróis, decide invadir um jogo de tiro, muito mais moderno, para conseguir uma medalha e provar para os companheiros do seu mundo que ele vale tanto quanto Felix, o herói. Ele é bem sucedido, mas ao ser atacado por um inseto estilo "Aliens" ele vai parar em outro jogo, bastante feminino e "fofinho", passado em um mundo feito de balas e doces. É então que  o roteiro de "Detona Ralph" se perde completamente. O início é bastante promissor; a ideia de uma história passada dentro de um videogame não é nova, a mesma Disney fez "TRON" em 1982, mas era um filme adulto e cerebral. "Detona Ralph" prometia ser uma aventura divertida que, ao mesmo tempo que homenageava os jogos antigos, daria ao espectador uma viagem por dentro deles. Mas não é o que acontece. Personagens famosos dos games como os vilões já citados são acompanhados por aparições rápidas do porco-espinho Sonic, por exemplo, mas é de se perguntar porque os roteiristas do filme (o diretor Rich Moore, Phil Jonston, Jim Reardon e Jennifer Lee) resolveram passar grande parte da trama dentro de um mundo feito de chocolate, biscoitos e doces ao invés de em um mundo virtual quer realmente lembrasse um videogame. Neste mundo feito de açúcar, Ralph se torna aliado de uma garota irritante chamada Vanellope, que quer vencer uma corrida de carros para voltar a ser aceita como integrante daquele jogo (ela é considerada por todos um "bug" no sistema). O fato dela sequer saber dirigir só é uma desculpa para Ralph, que também não sabe, treiná-la por vários minutos do filme. Por esta descrição já dá para perceber o quanto os roteiristas se perderam.

"Detona Ralph" é, oficialmente, um produto dos estúdios Disney, embora tenha ficado confuso atribuir a autoria depois que eles se fundiram com os estúdios da Pixar. É um filme que deve agradar a crianças pequenas. Infelizmente, grande parte do público alvo (fãs nostálgicos dos games antigos) vá ficar entediado. Visto no Topázio Cinemas, Campinas.


PS: Antes do longa há a exibição de um ótimo curta-metragem animado chamado "Avião de Papel" (Paperman), dirigido por John Kahrs. Passado em Nova York, o curta conta a história de um rapaz que encontra acidentalmente uma moça em uma estação de trem e os dois se apaixonam, mas vão cada um para um lado. Quando o rapaz está no escritório ele vê a moça do outro lado da rua e tenta chamar a atenção dela com vários aviões de papel que ele faz com os formulários do trabalho. Muito bem feito (e bem melhor do que "Detona Ralph"). Clique AQUI para ler mais a respeito da técnica por trás deste curta.




sábado, 22 de dezembro de 2012

As aventuras de Pi

"As Aventuras de Pi" é um filme com dois lados. Um é uma ótima aventura de fantasia que mostra a convivência forçada entre um garoto indiano e um tigre de bengala. O outro lado é um filme confuso sobre a disputa entre a Razão e a Religião. Baseado em um livro de Yann Martel, o roteiro de David Magee, provavelmente fiel ao material original, é bastante irregular. Acrescenta-se o fato de que o diretor Ang Lee, que já fez obras tão diversas quanto "Razão e Sensibilidade" (1995), "O Tigre e o Dragão" (2000) ou mesmo "Hulk" (2003) ter decidido testar em "As aventuras de Pi" todo tipo de efeito especial digital possível e o produto final, repetimos, é uma salada mista, por vezes brilhante, em outras entediante, frequentemente exagerado.

Pi (Suraj Sharma) é um rapaz indiano que cresceu em um zoológico administrado pela família. As finanças vão mal e o pai decide fechar o zoo e partir para o Canadá, onde pretende vender os animais e começar uma vida nova. Durante uma tempestade no Oceano Pacífico, o cargueiro em que viajam é tragado pelas ondas e Pi vai parar em um bote salva-vidas na companhia de um orangotango, uma zebra, uma hiena e do tigre do zoológico. A cena do naufrágio é assustadora e realmente impressionante. Há um plano que mostra Pi, sob as ondas, vendo o grande navio iluminado afundar na escuridão do mar, que é fantástico. De volta ao bote salva-vidas, Pi tem não só que cuidar da própria vida como administrar os animais a bordo que, aos poucos, vão sendo devorados primeiro pela hiena e depois pelo tigre. Quando sobram apenas Pi e o tigre, é um conflito entre a inteligência do garoto contra a força e os instintos do animal que, como mostrado em uma cena anterior, é um predador eficiente e letal. Pi constrói uma balsa com os coletes salva-vidas e os remos e passa grande parte do tempo nela, deixando o bote para o tigre. É uma convivência complicada, mas o roteiro (ao menos nesta parte da trama) é inteligente e mostra como Pi tem que pensar não só em saciar a própria fome (ele come biscoitos do bote salva-vidas) como a do tigre, que ele alimenta com peixes pescados com uma vara improvisada. Não é apenas uma boa ação; se o tigre ficar com fome demais ele pode tentar alcançar Pi na balsa e devorá-lo. Há belas cenas em que a tela do cinema se transforma em uma espécie de pintura em que Ang Lee mistura as cores do céu e do mar, ou as nuvens e as águas vivas. Há um clima um pouco "new age" demais, mas é certamente bonito. Se "As Aventuras de Pi" fosse feito apenas desta longa sequência passada no mar, seria um filme ótimo.

(ATENÇÃO SPOILERS) O problema é que há outra trama, passada no presente, que mostra um Pi adulto (Irrfan Khan) narrando sua história para um escritor canadense. Isto causa vários problemas; para começar, revela que Pi sobreviveu à aventura no mar, já que é visto vivo, e adulto, logo no início do filme. Além disso, passa-se um bom tempo (tempo demais) acompanhando a narração de Pi falando sobre a infância e seu envolvimento com várias religiões. Mas o pior é uma sequência final em que, depois de contar sua aventura fantástica ao escritor canadense, o Pi adulto resolve contar uma outra versão, possivelmente a "verdadeira", sobre o que realmente teria acontecido a ele e sua família durante o naufrágio. Seria uma decisão corajosa por parte de Ang Lee ou um terrível erro de cálculo? O resultado é que "As aventuras de Pi" termina com um tremendo anti clímax, lembrando aquelas histórias antigas que acabavam com "e foi tudo um sonho". 

De qualquer forma, "As aventuras de Pi" é ambicioso e muito bem feito. Os efeitos especiais chegaram a um nível em que praticamente tudo que pode ser imaginado pode ser materializado; fato que, se não for usado com cuidado, pode ser um problema.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Procurando Nemo 3D

Quando John Lasseter apresentou "Luxo Jr." (assista aqui), primeiro curta metragem feito pela "Pixar Animation Studios" em uma feira de tecnologia, em 1986, um figurão da área veio conversar com ele. Lasseter já estava esperando alguma pergunta técnica sobre algoritmos mas, ao invés disso, lhe perguntaram se a luminária maior era a mãe ou o pai da menor. Mais do que a tecnologia, o trunfo da "Pixar" sempre foi o lado humano da história, a preocupação com o roteiro. 

"Procurando Nemo" é de 2003 e já pode ser considerado um clássico. A animação está de volta aos cinemas em versão 3D; sim, pode ser considerado mais um relançamento "caça-níqueis" de um estúdio explorando os próprios filmes, mas "Procurando Nemo" é tão bom que vale voltar ao cinema para vê-lo na tela grande. O roteiro é um primor e é possível imaginar o grupo de roteiristas da "Pixar" ao redor de uma mesa jogando ideias como: "E se Dory tivesse um problema de memória?"; ou "Vamos colocar uns tubarões na história, mas que tal fazê-los em uma reunião dos Alcoólicos Anominos?"; ou mesmo "Já que o aquário fica em um consultório dentário, por que não escrever um diálogo em que os peixes discutem as técnicas usadas pelo dentista para tratar de um paciente?". São estes detalhes, e centenas de outros, que sempre colocaram a "Pixar" acima dos outros estúdios de animação. Ou, ao menos, até recentemente, quando o estúdio parece ter perdido a originalidade. Mas esta é outra discussão.

"Procurando Nemo" conta a história de Marlin, um peixe-palhaço que faz de tudo para reencontrar o filho Nemo depois que este foi capturado por mergulhadores nos recifes de coral na Austrália. Marlin (voz original de Albert Brooks) é um pai traumatizado por ter perdido a esposa e centenas de filhotes que foram devorados por uma barracuda. Nemo foi o único sobrevivente e o pai sempre foi excessivamente protetor. A jornada de Marlin do recife de coral até Sydnei, para onde o filho foi levado, é acompanhada por Dory, uma peixinha azul que sofre de memória curta. Quando está com Marlin, estranhamente, ela se sente melhor e é a única que se lembra do endereço dos mergulhadores, que ela leu em uma máscara de mergulho derrubada no mar. A viagem dos dois é uma aventura em que eles enfrentam tubarões, um cardume de águas-vivas, um passeio em alta velocidade por uma corrente marítima e até passam um tempo dentro de uma baleia gigante. Em paralelo, Nemo tem que encontrar um modo de tentar fugir do aquário em que foi colocado, onde encontra peixes como Gil (voz original de Willen Dafoe), um veterano do mar que há anos também tenta escapar. O filme foi escrito e dirigido por Andrew Stanton que, cinco anos depois, faria outra obra-prima da "Pixar", "Wall-E". "Procurando Nemo" e "Wall-E", a propósito, são provavelmente as duas animações mais belas visualmente produzidas pelo estúdio. As cenas passadas no recife de coral, com suas centenas de espécies de peixes, anêmonas, estrelas do mar, arraias, etc, são extremamente realistas e coloridas, e o efeito tridimensional, no caso, até veio adicionar ao encanto.

Interessante como o roteiro é, no fundo, uma homenagem aos contadores de histórias. Marlin começa o filme como um peixe-palhaço que não sabe nem mesmo contar uma piada. Suas aventuras, no entanto, fazem com que ele tenha o que contar e ele narra sua busca pelo filho para vários personagens no caminho. Há uma sequência muito boa em que se vê sua história ser passada para frente pelos peixes até chegar aos ouvidos de Nemo, que sabe que o pai está vindo. Assim, mesmo que seja um relançamento, "Procurando Nemo" vale a visita à telona. Visto no Kinoplex, Campinas.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret

Mais de um crítico já notou uma curiosidade sobre os dois filmes com mais indicações ao Oscar neste ano: além de serem, ambos, declarações de amor ao cinema, um é um filme de um diretor francês que homenageia o cinema americano ("O Artista"), enquanto o outro é uma declaração de amor de um americano aos pioneiros do cinema francês. No caso, um dos maiores diretores do cinema americano, Martin Scorsese, e seu mais recente filme, "A Invenção de Hugo Cabret". O celebrado diretor de filmes como "Taxi Driver" e "Os Bons Companheiros" resolveu investir em um gênero inédito em sua carreira, o filme infantil. Ao receber o Globo de Ouro pelo trabalho, Scorsese agradeceu à esposa por ter lhe pedido que fizesse um filme que, finalmente, os filhos pudessem assistir.

Ele conta a história de Hugo Cabret (Asa Butterfield), um garoto que, após a morte do pai (Jude Law), vai morar com o tio alcoólatra na estação de trem de Paris, onde mantém todos os relógios funcionando. Feito em 3D e repleto de cenas de efeitos especiais, o filme não se parece em nada com "um filme de Martin Scorsese", o que não é necessariamente ruim, mas é possível perceber a falta de habilidade do diretor em lidar com uma tecnologia e um assunto que não domina. Steven Spielberg, que também estreou no cinema 3D este ano com "Tintim", talvez fosse um nome mais apropriado para contar a história do órfão Hugo.

Mas há um outro lado no filme que é muito caro a Scorsese, que é a história do Cinema. Baseado no livro de Bryan Selznick, o roteiro de John Logan ("Gladiador", "O Aviador") é também uma homenagem ao primeiro diretor de cinema a descobrir o potencial lúdico da nova arte que, como disse o crítico Luis Carlos Merten em seu livro "Cinema, entre a Arte e o Artifício", é a única que tem data de nascimento: 28 de dezembro de 1885, em Paris, quando os irmãos Lumiére realizaram a primeira sessão de cinema. Um mágico que estava na platéia se chamava George Méliès e, encantado com a nova tecnologia, se tornou um dos primeiros cineastas e contou histórias maravilhosas sobre sereias, aventureiros e, em 1902, fez a obra prima "Viagem à Lua". Méliès usou de sua formação como mágico para ser também um dos pioneiros dos efeitos especiais, realizando truques na própria câmera através de dupla exposição do filme.

Pois bem, tudo isso é citado em "A Invenção de Hugo Cabret", mas talvez o filme fosse mais interessante se focasse apenas na extraordinária história real de Méliès. No filme, George Méliès (Ben Kingsley) é um senhor que tem uma loja de brinquedos na estação de trem de Paris. Hugo, o órfão, mora escondido na estação e tem um segredo: está montando um homem mecânico que o pai encontrou quebrado em um museu. Para isso o garoto rouba peças da loja de brinquedos até que é descoberto pelo velho George, que o faz trabalhar para pagar suas dívidas. Hugo faz amizade com a filha adotiva de George, Isabelle (Chloë Grace Moretz), uma garota apaixonada por livros, e os dois descobrem, aos poucos, a história do velho e sua importância para o cinema. Há vários personagens secundários, o principal deles interpretado por Sacha Baron Cohen (de "Borat"), que faz o Inspetor, um vigia da estação que prende e envia crianças para o orfanato. O veterano Christopher Lee interpreta o dono de uma loja de livros e ajuda os garotos a pesquisar sobre a história do cinema. Há cenas muito bem elaboradas por Scorsese e o 3D é bem usado principalmente quando ele mostra o maquinismo dos relógios mantidos por Hugo. Em outros, porém, o uso do artifício é questionável. Os próprios filmes de Méliès, quando projetados, estão em três dimensões, o que não só não faz sentido como chega a ser uma adulteração das obras originais; algo estranho vindo de Scorsese, que tanto prega pela preservação da memória do cinema. Falta ao filme a inventividade e a engenhosidade mostradas em "O Artista", por exemplo, mas "A Invenção de Hugo Cabret" pode servir de porta de entrada, para adultos e crianças, no fantástico mundo dos filmes de George Méliès.


sábado, 14 de janeiro de 2012

As aventuras de Tintim

Como explicar um diretor como Steven Spielberg? Como explicar que, no mesmo ano em que ele lança um dos filmes mais clássicos dos últimos anos, Cavalo de Guerra (filmado em película de 35mm, editado em moviola como nos velhos tempos), ele também lance um dos filmes mais avançados tecnicamente que o cinema atual pode produzir? "As aventuras de Tintim" não é só a primeira animação do diretor, mas também seu primeiro filme em computação gráfica, seu primeiro filme digital e o primeiro em três dimensões. A explicação está no fato de que ser ao mesmo tempo clássico e inovador nunca foi novidade para Spielberg. No mesmo ano em que lançou "Jurassic Park" (1993), com sua extraordinárias criaturas criadas em computação gráfica, também foi responsável por "A Lista de Schindler", um drama adulto sobre o holocausto, feito com atores de carne e osso e rodado em preto e branco.

Tintim, personagem do quadrinista belga Hergé, já era propriedade de Spielberg desde os anos 80, quando fez os filmes de Indiana Jones. Muitos notaram a semelhança entre o arqueólogo interpretado por Harrison Ford e o jovem jornalista de topete que investigava mistérios pelo mundo ao lado de seu cachorro Milu. De tantos em tantos anos ouvia-se rumores de que Spielberg finalmente faria a versão cinematográfica dos quadrinhos do aventureiro, mas o projeto nunca saia do papel. Então surgiu Peter Jackson e sua empresa de efeitos especiais, a WETA, baseada na Nova Zelândia. Em uma parceria que lembra os bons tempos da dupla Spielberg/Lucas (que produziu a série Indiana Jones), Spielberg e Jackson uniram forças para fazer um dos filmes mais empolgantes e inovadores dos últimos anos. "As Aventuras de Tintim" tem todos os ingredientes de um bom filme de aventura, mais passagens de filmes de suspense, ação, lutas de capa e espada e duelos entre navios de guerra. A semelhança de certas cenas com Indiana Jones é tão grande que, em alguns momentos, o espectador fica esperando que a trilha de John Williams toque o tradicional tema do arqueólogo.

"As Aventuras de Tintim" seguem o jovem aventureiro (voz original de Jaime Bell) em sua tentativa de desvendar o enigma do navio "Unicórnio", que afundou séculos atrás com centenas de quilos de ouro a bordo. Tudo começa quando o garoto compra um modelo do navio em uma feira de antiguidades. Assim que ele finaliza a compra outros interessados no navio aparecem. Um deles é o estranho Sr. Sakharine (voz de Daniel Craig), que tem em sua mansão outro modelo idêntico ao que Tintim comprou. Após Tintim ter seu modelo roubado ele e descobre que há, na verdade, três modelos do navio "Unicórnio", cada um contendo um manuscrito que é parte de um enigma. A chave para desvendá-lo está não só nos manuscritos como na mente do Capitão Haddock (voz de Andy Serkis), um experiente (e bêbado) lobo do mar que seria descendente do capitão Francis Haddock, comandante do "Unicórnio" original. O filme leva o espectador em uma aventura por terra, mar, ar e deserto que não só fazem juz aos quadrinhos originais como lembram os bons tempos do cinema de aventura.

Tecnicamente, o filme é surpreendente. Spielberg até engana o espectador com uma abertura com estilo "antiquado", com uma animação estilizada que lembra a abertura de "Prenda-me se for capaz" (2002), para então mergulhar a platéia em um espetáculo audiovisual que, à primeira vista, fica difícil identificar; é uma animação ou um filme com atores? Foi utilizado o sistema de "motion capture" para gravar a movimentação física e as expressões dos atores de verdade, que interpretam as cenas diante de um equipamento especial (veja vídeo de bastidores). Os dados então são transferidos para computadores e usados na animação dos personagens, que têm um visual que é um híbrido de realista com cartunesco. Após algum tempo o espectador se esquece que está vendo uma animação. Interessante como o estilo de dirigir de Spielberg foi bem traduzido para a técnica; em grande parte do tempo percebe-se que o diretor tentou se manter dentro das leis da física tanto na movimentação dos personagens quanto da câmera (que, a rigor, não existe). Em algumas sequências, porém, Spielberg se aproveitou da liberdade ilimitada proporcionada pela animação para criar planos fantásticos, principalmente na sequência em que o Capitão Hadocck se lembra de uma batalha naval e em um fantástico plano-sequência em que vários personagens estão tentando recuperar os manuscritos. Em meio à centena de nomes dos créditos finais pode-se notar que Steven Spielberg está também creditado como "Light consultant". A luz sempre foi marca registrada do diretor, que a usa para criar fachos na tela ou em belos planos em contraluz.

O final deixa clara a possibilidade de uma contiuação, que pode ser feita um dia por Peter Jackson. O filme não teve a bilheteria esperada nos Estados Unidos, apesar de ter sido bem aceito na Europa. De qualquer forma, "As Aventuras de Tintim" revelam que Spielberg, aos 65, ainda tem gás para inovar.


domingo, 10 de abril de 2011

Rio

Brasileiro é um povo estranho. Quando o seriado "Os Simpsons" fez um episódio em que os personagens vinham ao Brasil destilar seu humor afiado, cheio de críticas, ouviu-se a ira "patriótica" de muitos. Agora, quando o brasileiro Carlos Saldanha, um dos diretores de animação mais bem sucedidos do mundo, resolveu usar seu poder nos estúdios "Blue Sky" (produtores da série "Era do Gelo") para fazer um filme passado em um Rio de Janeiro belo e alegre, escuta-se novamente o brado de que ele estaria mascarando os problemas da cidade maravilhosa. Nas duas situações, há muita bobagem e pouca crítica séria.

Sim, "Rio" é uma animação extremamente colorida e alegre que, pecado dos pecados, mostra um Rio de Janeiro lindo, com fauna exuberante e pessoas preocupadas só com o Carnaval. Como produto de entretenimento e filme infantil, "Rio" não tinha nenhuma obrigação de ser polêmico ou mesmo verossímil. Seria como criticar "A Era do Gelo" por não ser cientificamente correto. Por uma terrível coincidência, o filme foi lançado um dia depois do massacre causado por um homem fora de controle em uma escola do Rio de Janeiro, em que 12 crianças foram assassinadas. Uma pena que o Rio de verdade não seja mais parecido com o animado mas, repetindo, não se pode julgar Paris pelo visto em "Ratatouille".

Blu é uma arara azul muito rara que, ainda filhote, foi capturado por contrabandistas de animais exóticos e levado aos Estados Unidos. Ele se torna animal de estimação de Linda, uma moça tímida que o trata como se fosse da família. Mas um dia um cientista brasileiro chamado Tulio aparece e diz que Blu é o último macho da sua espécie, e deve ser levado ao Rio de Janeiro para se acasalar com Jade, a última fêmea. Blu é tão domesticado que sequer sabe voar; ao conhecer Jade, não entende o porquê dela querer escapar e voltar para a natureza. As duas araras acabam roubadas por um garoto que trabalha para contrabandistas de animais. Estes contrabandistas moram, sim, em uma favela que, se não mostra traficantes trocando tiros, é realista e visualmente interessante o suficiente para a animação.

A cidade do Rio, claro, é a principal personagem do filme. E os animadores a mostram com grande beleza e riqueza de detalhes. As cenas noturnas são particularmente bem feitas e, estilizada ou não, não deixa de ser interessante ver a paisagem brasileira na tela. Tudo culmina com um feito técnico impressionante, o desfile de uma escola de samba em pleno carnaval carioca. Há literalmente milhares de "figurantes" tridimensionais nesta sequência, embalados pela trilha sonora criada por Sergio Mendes. Saldanha, que é carioca e migrou para os Estados Unidos para aprender animação, sem dúvida se coloca um pouco no personagem de Blu, um expatriado que volta ao Rio de Janeiro e a vê mais com os olhos maravilhados de um turista do que com o realismo de um morador local. "Rio" não é nenhum clássico, mas é diversão leve e bem feita para crianças e adultos.


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Santuário

Esta aventura usa duas "grifes": o nome James Cameron e o sistema 3D de projeção. Despois do sucesso de "Avatar", um praticamente virou sinônimo do outro, e o diretor de "Titanic" e "O Exterminador do Futuro" assina a produção executiva de "Santuário". Mas se o roteiro de "Avatar" já era bem simples, "Santuário" mais parece um falso documentário de televisão. Curiosamente, a ligação com Cameron também faz lembrar seu filme de 1989, "O Segredo do Abismo", em que mergulhadores descobriam uma civilização extraterrestre no fundo do oceano.

"Santuário" não passa da exibição de belas imagens em três dimensões povoada por personagens bidimensionais. Todos os clichês possíveis podem ser encontrados. O início do filme é praticamente igual a Jurassic Park, lançado por Steven Spielberg em 1993: "Santuário" começa com a chegada (em um helicóptero) de um milionário excêntrico, Carl (Ioan Gruffud) a uma ilha coberta por florestas tropicais. Lá se encontra o maior sistema de cavernas do mundo, que está sendo explorada por cientistas. O problema é que uma chuva se transforma inesperadamente em um ciclone e deixa a todos presos na caverna, enfrentando a fúria da Natureza. Em "Santuário" não há nem os dinossauros de Spileberg nem os extraterrestres de Cameron; assim, metade do filme é dedicado a mostrar as pessoas entrando na caverna e a outra metade os mostra tentando sair dela. Continuando com os clichês, há o relacionamento conturbado entre um pai linha dura, Frank (Richard Roxburgh) e seu filho adolescente, Josh (Rhys Wakefield). Há também uma mergulhadora (que além de mulher se chama "Jude", judia) que logo na primeira cena fica assustada e, claro, morre no mergulho. Há também uma cena em que um personagem começa a tossir, o que significa doença grave, e ele não dura muito tempo.

De clichê em clichê, o diretor Alister Grierson leva o espectador pelos vários "níveis" da caverna que, como em um videogame, vai ficando cada vez mais perigosa. Um aviso no início do filme diz que "Santuário" foi inspirado em uma história real, uma forma de dar "credibilidade" ao roteiro de John Garvin e Andrew Wight. O site oficial informa que Wight realmente ficou preso por dois dias com uma equipe de filmagem em uma caverna na Austrália, mas este é o limite de "realidade" presente em "Santuário". A produção sem dúvida é bem feita; cenários enormes foram usados para simular o interior da caverna, além de cenas reais de mergulho filmadas em cavernas australianas. Mas "Santuário" é muito fraco. Teria sido mais interessante, talvez, se fosse um documentário de verdade.


segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Enrolados

A produção de "Enrolados" passou por muitos problemas. Originalmente chamado de "Rapunzel", a produção da Disney era para ser um desenho animado tradicional, feito à mão e seguindo a longa tradição do estúdio. Mas os tempos mudaram, os animados em computação gráfica se tornaram a norma e uma concorrente, a Pixar, havia tomado o posto de principal estúdio de animação do mundo.

Disney e Pixar se fundiram, executivos mudaram de posição na empresa e John Lasseter, o gênio criativo por trás de "Toy Story" e outros sucessos se tornou produtor executivo de "Rapunzel", que depois de muitas mudanças passou a se chamar "Enrolados". O filme foi feito em computação gráfica e, seguindo outra tendência, em 3D. O resultado, surpreendentemente, é excelente. "Enrolados" pode ser considerado um marco na fusão das novas tecnologias com o traço tradicional do desenho animado da Disney. Não só isso; o coração do filme está em algo que a Pixar, com toda sua tecnologia, sempre prezou muito: o roteiro.

Seguindo a tradição das princesas da Disney como Cinderela, A Bela Adormecida e a Pequena Sereia, "Enrolados" conta a história de Rapunzel, uma princesa com cabelos mágicos que têm o poder de manter as pessoas jovens e de curar feridas. Ainda quando bebê, ela é sequestrada por uma bruxa chamada Gothel, que se torna sua mãe. Superprotetora, Gothel coloca Rapunzel em uma alta torre em um local secreto da floresta, onde a garota passa todos os dias de sua vida. Ela tem curiosidade sobre o mundo lá fora, claro, mas as histórias de terror que sua mãe lhe diz faz com que ela também tenha muito medo de sair da sua prisão sem grades. Uma vez por ano, em seu aniversário, o palácio solta balões iluminados no céu, na esperança de que a princesa ache o caminho de volta para casa. A cena em que a garota, aos 18 anos, pede de presente para a mãe que a deixe sair da torre valeria teses de psicologia sobre o poder da influência dos pais sobre a liberdade dos filhos. Gothel aterroriza e ridiculariza a menina de tal forma que Rapunzel, apesar de ainda querer fugir, se sente segura e protegida na alta torre da floresta. Até que um dia um ladrão chamado Flynn Ryder, fugindo dos guardas do palácio, acaba chegando até a torre, e no momento que Rapunzel olha para ele sabe que tudo mudou em sua vida.

Além do ótimo roteiro, a técnica de "Enrolados" é impressionante. A influência e know how da Pixar se fazem sentir em cada plano; os cenários são ricos em detalhes e os personagens não se movimentam como bonecos de computador. O 3D é muito bem usado e não é somente um chamariz de bilheteria. A trilha sonora tem músicas de Alan Menken, um dos responsáveis pelo ressurgimento da Disney no mundo da animação em "A Pequena Sereia" (1989) e vencedor de oito Oscars em filmes como "A Bela e a Fera", "Aladinn" e "Pocahontas". O filme tem cenas ótimas, como a passada dentro de uma taverna escura, cheia de bandidos (que acabam se revelando sensíveis e de bom coração) ou a primeira vez que Rapunzel sai da torre, alternando momentos de extrema alegria com outros de depressão e culpa. Há também um personagem coadjuvante, um camaleão que faz companhia a Rapunzel na torre, que rende boas gargalhadas. Mas a melhor cena, para entrar para a história da Disney, é o momento em que Flynn e Rapunzel, em um barco, acompanham o lançamento dos balões iluminados ao céu.

Clássico instantâneo.

domingo, 20 de junho de 2010

Toy Story 3

Incrível pensar que o primeiro "Toy Story" estreou no cinema há quinze anos. A tecnologia da Pixar, aliada a sua quase infalível habilidade de contar histórias, é tão boa, que o primeiro filme, assim como sua continuação, parecem tão bons hoje quanto em 1995. Talvez por isso, e pela grande venda de DVDs, que os filmes conseguiram conquistar novos fãs entre adultos e crianças e lançar agora outra continuação.

"Toy Story 3" vem em 3D, como dita a nova "moda" hollywoodiana, para continuar a história do caubói de brinquedo Woody (Tom Hanks, no original), seu companheiro astronauta Buzz Lightyear, e os outros brinquedos de Andy, que agora cresceu, está com 17 anos e de partida para a universidade. Há anos ele não dá atenção a seus brinquedos, que estão largados em um baú em seu quarto, que ainda tem o mesmo papel de parede azul com estrelinhas. Como já havia sido dito em "Toy Story 2", a missão de vida de um brinquedo é dar alegria a seu dono, e os bonecos estão carentes da atenção de Andy. O que ele vai fazer com eles, agora que está de partida? Vai doá-los a uma creche? Vai jogá-los no lixo? Vai levá-los para a faculdade?

Após algumas confusões, os bonecos acabam indo parar mesmo em uma creche. A princípio eles acham que estão no paraíso. Afinal, lá está cheio de crianças para brincar com eles, e o melhor, quando elas crescerem, outras crianças tomarão seu lugar. O único que não está satisfeito é o caubói Woody, sempre fiel, que foge para encontrar Andy. A creche acaba se revelando uma prisão cruel liderada por um urso de pelúcia chamado Lotso, que é auxiliado pelo boneco Ken (vítima de várias piadas sobre gays), um bebê de brinquedo e o resto da gangue "do mal".

Os primeiros "Toy Story" foram concebidos e dirigidos por John Lasseter, o "cabeça" por trás da Pixar. Este tem apenas a história baseada em uma idéia de Lasseter, sendo dirigido por Lee Unkrich. As crianças sem dúvida vão adorar e o filme tem recebido boas críticas, mas não é a mesma coisa. Há menos atenção aos personagens e mais em criar cenas muito bem feitas pelos técnicos em computação gráfica, como uma sequência inicial simulando a imaginação de Andy e outra passada dentro de uma usina de lixo que lembra os bons tempos de Indiana Jones. Mas o roteiro é fraco, praticamente com a mesma premissa de "Toy Story 2", em que Woody era "sequestrado" por um colecionador e tentava voltar para o dono com a ajuda dos amigos. O urso Lotso é uma versão reciclada do boneco "Mineiro", do filme anterior, e repetem de novo a piada de Buzz Lightyear achar que é um astronauta de verdade.

Mas há um final bastante emotivo, em que vemos Andy, crescido, tendo que decidir o futuro de seus brinquedos. Como curiosidade, há uma menina que tem um boneco do personagem Totorô, criação do mestre japonês Hayao Miyazaki, grande influencia dos animadores da Pixar.


quinta-feira, 1 de abril de 2010

3D Toy Story (e o futuro da Pixar)

O primeiro Toy Story surgiu nos cinemas em 1995, há 15 anos. Era o primeiro filme feito totalmente em computação gráfica na História (apesar da controvérsia de que o brasileiro "Cassiopéia", lançado alguns meses depois, tenha sido criado primeiro), e iniciou o domínio dos estúdios Pixar no gênero. Inicialmente um braço menor da Industrial Light & Magic, a empresa de efeitos especiais de George Lucas, a Pixar foi vendida por míseros 5 milhões de dólares para Steve Jobs, o cabeça da Apple, e revolucionou o cinema de animação. Produziu uma série impecável de filmes como os dois Toy Story (1995/1999), Vida de Inseto (1998), Monstros S.A. (2001), Procurando Nemo (2003), Os Incríveis (2004), Carros (2006), Ratatouille (2007), Wall-e (2008) e Up (2009). O poder da empresa está em uma combinação perfeita de técnica com criatividade aparentemente inesgotáveis, com o talento de pessoas como John Lasseter, Andrew Stanton, Pete Docter, Brad Bird, Lee Unkrich, entre centenas de técnicos. Desde 2006, a Pixar foi comprada pela Disney, a principal concorrente, em um negócio que, na verdade, deu ainda mais poder à Pixar e a John Lasseter, que se tornou diretor criativo de ambas.

A Pixar encontra-se agora em uma encruzilhada, em que vai ter que se provar novamente. Com a moda de filmes 3D fazendo fortunas mundo afora, o estúdio relançou os dois primeiros Toy Story em versões no formato, preparando terreno para a vinda de Toy Story 3. Esta terceira parte de Toy Story foi gerada sob muita controvérsia. Quando a Pixar surgiu, eles fizeram um acordo de distribuição com a Disney para três filmes. O sucesso de Toy Story gerou uma continuação que seria originalmente lançada diretamente em home video, mas que ficou tão boa que a Disney resolveu lançá-lo nos cinemas. Só que a empresa não quis incluir este filme entre os três do contrato de distribuição com a Pixar, que queria mais liberdade. A Disney chegou até a ameaçar fazer Toy Story 3 por conta própria, sem John Lasseter, mas era provavelmente um blefe. Com a junção das empresas, o filme volta a sair do papel, com a benção de Lasseter e com a produção da Pixar por trás.

Toy Story, até agora, foi o único filme Pixar a ter continuações. A empresa sempre se notabilizou por sua filosofia de criar produtos originais de alta qualidade voltados para a família, algo que a própria Disney, com suas dezenas de continuações caça-níqueis lançadas diretamente em home video, já havia perdido. Será que agora a Pixar vai perder seu "toque" de ouro? Além de Toy Story 3, já foi anunciada a continuação de "Carros" (também de John Lasseter), que foi um filme extremamente bem feito mas, a bem da verdade, longo e pouco interessante. É esperar por Toy Story 3 e ver se ainda tem algo para contar ou se é apenas uma produção para ganhar uns trocados em cima da "franquia" e do sistema 3D.


domingo, 28 de março de 2010

Como treinar seu dragão

Há cenas muito bem feitas neste novo lançamento da DreamWorks Animation. A animação em computação gráfica, por vezes, parece feita com bonecos "de verdade", e não pixels de computador. É mais um filme a aproveitar a onda de produções em 3D que invadiu o mercado, contando a história de um jovem chamado "Soluço", que não é exatamente o que seu pai viking queria. Ao contrário de seus companheiros, Soluço não tem a mínima vontade de seguir a tradição de sua vila, que é lutar contra os dragões que os atacam regularmente. Um dia, no entanto, em um golpe de sorte, Soluço consegue ferir o dragão mais terrível de todos, chamado de "Fúria da Noite", que cai na floresta. Ao ir até ele, ao contrário de matá-lo, como seria o esperado, acaba fazendo amizade com o dragão.

A animação foi dirigida pela mesma dupla de "Lilo & Stich" (2002), Chris Sanders e Dean Deblois, e o visual dos dragões herdou muito daquele filme. Soluço batiza o dragão de "Banguela" e constrói uma "prótese" para um pedaço da cauda dele, que havia sido perdida. Os dois passam então a se ver todos os dias. "Banguela" leva o garoto para voar em cenas que fizeram a alegria da garotada que lotava o cinema, fazendo uso muito bom da tecnologia em três dimensões (lembrando cenas similares de "Avatar", em menor escala). O ritmo não tem a pressa normalmente encontrada em animações recentes mas, infelizmente, o roteiro não chega a gerar muito interesse. O fato de ser um filme infantil impede que a ameaça dos dragões seja levada muito a sério pelo espectador, já que ninguém morre ou mesmo fica muito ferido nos ataques. Há apenas uma cena muito bem feita em que Banguela leva Soluço até o ninho dos dragões e ele descobre o porquê deles roubarem comida dos humanos.

Fora esta cena e alguns momentos interessantes que mostram a integração de Soluço com Banguela, "Como treinar seu dragão" não tem muito mais a oferecer. Mas é bonito, bem feito e não ofende a inteligência de ninguém.


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

AVATAR

Avatar não é um filme comum. É uma experiência sensorial. Como tal, é de tal forma rica em detalhes, cores, movimentos de câmera e profundidade tridimensional que o espectador se sente diante de um novo tipo de espetáculo. É uma animação? É "live-action"? Como já foi devidamente explorado e divulgado massivamente pela máquina de marketing hollywoodiana, Avatar é o novo filme de James Cameron, o primeiro depois de doze anos longe das telas. Sendo que o anterior foi um filme que, antes de ser lançado, também gerou ansiedade entre os espectadores e preocupação entre os estúdios. "Titanic" tinha tudo para ter sido, com o perdão do trocadilho, uma "canoa furada", mas a grandiosidade do espetáculo criado por Cameron fez do naufrágio mais famoso da História o filme de maior bilheteria de todos os tempos e levou 11 Oscars. No discurso de agradecimento, quando Cameron usou uma frase de Titanic ("Eu sou o rei do mundo!"), muita gente o considerou um diretor magelomaníaco e arrogante. É possível, mas não há dúvidas de que ele é competente.

Avatar custou entre 250 e 350 milhões de dólares, e o resultado realmente está na tela. Cameron levou anos experimentando com novas tecnologias de cinema 3D e se juntou à empresa de efeitos especiais WETA (de Peter Jackson), a mesma que fez de Gollun o personagem em computação gráfica mais real de todos os tempos. O roteiro, do próprio Cameron, lembra muito um de seus filmes menos vistos, "O Segredo do Abismo" (1989), que mostrava como um grupo de humanos em uma fossa abissal no fundo do oceano entrava em contato com seres de outro planeta. Foi naquele filme, aliás, que Cameron revolucionou em uma cena curta de computação gráfica, quando um pseudópodo marinho passeava por dentro da base humana. Avatar se passa em um planeta chamado Pandora, onde os seres humanos estão explorando o solo atrás de um minério raro. O problema é que o povo original do planeta, os Na´vi, estão causando problemas aos humanos com seus costumes "selvagens" e seu apego à natureza. Para melhorar a diplomacia entre os humanos e os Na´vi, foram desenvolvidos "avatares", que são corpos geneticamente criados para serem idênticos aos Na´vi, só que "habitados" por humanos, que os controlam mentalmente. Um destes humanos é o fuzileiro americano Jake Sully (Sam Worthington), que ficou paraplégico na guerra e que, ao se tornar um Avatar, pode experimentar a sensação de andar de novo. Após um acidente, Jake acaba sendo acolhido pelos Na'vi e tenta aprender a viver como um deles.

A trama segue a linha de vários outros filmes do gênero "um estranho no ninho", em que alguém de fora tem que aprender os costumes de um povo para se enturmar e, no processo, acaba se tornando um deles. Filmes como "Lawrence da Arábia", "Dança com Lobos" ou "O Último Samurai". A diferença é que Jake não está dividido apenas mentalmente entre seu lado humano e Na´vi, mas também fisicamente. Ele literalmente está em dois lugares ao mesmo tempo, seu corpo Na´vi na floresta enquanto o humano está na câmera de controle, mais ou menos como acontecia com os personagens de Matrix. Mas as "regras do jogo" não são muito claras. Se algo acontecer ao corpo Na´vi de Jake, ele também sofre como humano? Se ele não corre perigo de morrer realmente, quando é um Na´vi, por que ele lutaria tanto por sua vida? Quando e como, exatamente, se dá a mudança de um para o outro? Em alguns momentos, a confusão atrapalha um pouco o roteiro, e a separação entre o mundo humano (duro, realista) e Na´vi (colorido, animado) dá uma sensação de realidade versus sonho que, desconfio, não era a intenção de Cameron.

Muito se tem criticado o roteiro por ser piegas demais, até mesmo brega, e ecologicamente correto. De fato, alguns momentos são excessivamente "new age" para um filme de fantasia/ficção científica. Por outro lado, a experiência de ver o filme, principalmente em 3D, é tão avassaladora, que é complicado criticar o filme por causa destes detalhes. Há um "jogo" muito inteligente acontecendo dentro e fora da tela. Considere o fato de que os próprios atores, em frente a grandes telas verdes e cercados por scanners digitais por todos os lados, tinham que "vestir" seus "avatares" virtuais para poder interpretar seus personagens. O processo chamado de "performance capture" permite que computadores capturem as expressões e os movimentos dos atores para transformá-los em personagens digitais, na tela. O "jogo" também inclui a própria platéia, que precisa vestir óculos especiais para poder acompanhar o filme em 3D. Assim, há uma curiosa simbiose entre o real e o imaginário acontecendo durante todo o processo tanto de criação quanto de assistir a este filme. Não chega a ser "revolucionário" como a fábrica de marketing está vendendo, mas sem dúvida assistir a Avatar é algo que mexe, ou deveria mexer, com qualquer pessoa interessada no mundo audiovisual.


sábado, 5 de setembro de 2009

UP - Altas Aventuras

O diretor de "Up", Pete Docter, foi um dos escritores do último animado da Pixar, "Wall-e", e pode-se notar a semelhança estilistica em uma ótima sequência inicial. Assim como no filme do robô, há longos momentos sem diálogos em "Up". Considerando que vivemos em uma época saturada de informação, em que os filmes parecem querer "gritar" o tempo todo pela atenção do espectador, é reconfortante que ainda haja artistas corajosos como os animadores da Pixar. "Up" quebra alguns outros paradigmas das animações modernas. Para começar, é um filme em que o personagem principal é um velho. E apesar de seu coadjuvante em grande parte da trama ser um garoto, ele é um garoto bastante "comum", não é um gênio em computação nem alguém que se transforma em monstros. Tecnicamente, "Up" também embarcou na onda de filmes 3D mas, ao contrário da maioria dos exemplos do gênero, a produção não fica "jogando" objetos em direção ao espectador só para exibir a técnica. O 3D de "Up" é mais sutil e utilitário. O roteiro começa muito bem mas, assim como em Wall-e, a qualidade decai do meio para o final, infelizmente. Ainda assim, estamos diante de mais um exemplar de alto nível técnico e artístico do estúdio que tomou o lugar da Disney como lider mundial na animação.

O filme conta a história de Carl Fredricksen (voz de Chico Anísio na dublagem brasileira), um senhor que vive solitário na última casa de um bairro em constante reconstrução. A melhor sequência do filme é a que mostra a vida feliz que Carl teve com a esposa Ellie, que conheceu quando os dois eram crianças e fãs de um explorador chamado Charles Muntz. Eles prometem que um dia vão viajar à América do Sul em uma aventura, mas o tempo passa e a vida toma outros rumos. Tocante em um desenho animado ver uma história de vida e morte ser contada de forma tão natural assim. Quando Ellie se vai, Carl fica sozinho e se transforma no protótipo do velho ranzinza. Quando os homens de um asilo vem buscá-lo, eles se assustam quando Carl parte rumo às nuvens, com casa e tudo, carregado por centenas de balões de festa. É tudo muito bonito e bem feito, e o filme se torna cheio de possibilidades. Pena que o resultado fique aquém do esperado. Carl parte para a América do Sul com uma carona inesperada, um escoteiro cuja missão na vida é ajudar um idoso para ganhar a última medalha que falta na sua coleção.

O resto do filme envolve alguns momentos muito engraçados e bem escritos, misturados com outros que deixam a desejar. Infelizmente o toque humano acaba se chocando com uma trama que envolve cachorros falantes, um pássaro misterioso e um herói de infância que se revela um vilão. O visual continua impressionante e as máquinas voadoras lembram alguma coisa que o mestre japonês Hayao Miyazaki poderia ter imaginado (ou já fez melhor em filmes como "Láputa, Castelo no Céu"), mas fica a sensação de uma oportunidade perdida. "Up", mesmo assim, é divertimento de alto nível para as crianças e adultos.