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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Ender´s Game: O Jogo do Exterminador

A parte mais interessante de "Ender´s Game: O Jogo do Exterminador" acontece quase no final de suas duas horas de duração. Não chega a ser uma "revelação" como o final de "O Sexto Sentido", mas é uma mudança de ponto de vista que faz com que você repense todo o filme. Por um lado, é bom quando isso acontece, quando um roteiro consegue surpreender o espectador e fazê-lo reavaliar seus conceitos. Por outro lado, é bastante arriscado, porque se o desenvolvimento do filme até este ponto de virada não for bom o suficiente, o espectador pode ter perdido o interesse.

Há bastante coisas acontecendo em "Ender´s Game". O roteiro é baseado em um aclamado (e até certo ponto polêmico) livro de ficção-científica escrito em 1985 por Orson Scott-Card. Quem não tem familiaridade com o livro (como eu) vai perceber que o filme está tentando passar várias informações que, provavelmente, eram mais claras na forma escrita. Ender Wiggin (Asa Butterfield, de "A Invenção de Hugo Cabret") é um garoto que é considerado um prodígio pelos instrutores da escola militar que ele frequenta. Estamos no futuro distante, a Terra foi atacada por uma espécie alienígena chamada de "Formics" mas, graças ao sacrifício de um piloto, eles foram temporariamente derrotados. Um novo ataque é esperado mais cedo ou mais tarde e os militares passaram a treinar crianças em uma série de jogos e simulações para comandar o exército terrestre contra os alienígenas. O Coronel Graff (Harrison Ford, bem diferente do seu papel no recente "42: A História de uma Lenda") vê em Ender as características de um bom líder: estratégia e violência. Ender tem baixa estatura, belos olhos azuis e Asa Butterfield parece um jovem clone de Elijah Wood (o Frodo do "Senhor dos Anéis") mas, quando desafiado, ele reage de forma eficiente e letal. Logo no começo do filme, ao ser enfrentado por um garoto bem maior que ele, Ender o derruba com um golpe e o chuta repetidamente, sem piedade. "Eu queria vencer não só esta luta", explica ele ao Coronel Graff, "mas também evitar todas as lutas futuras". Em um mundo normal, Ender seria enviado ao psicólogo; no mundo de "Ender´s Game", porém, ele é mandado para uma estação espacial em órbita onde, com dezenas de outras crianças, ele treinará para se tornar o comandante supremo das forças militares da Terra.


Tudo isso é comandado com uma mão um tanto pesada pelo diretor e roteirista Gavin Hood (do sofrível "X-Men Origens: Wolverine"). O elenco é muito bom, contando com nomes de peso como Viola Davis (de "Histórias Cruzadas") e Ben Kingsley (que também contracenou com Butterfield em "A Invenção de Hugo Cabret"), além de um afinado elenco infantil. Harrison Ford, com 71 anos, está um misto de figura paterna com diretor de colégio rídigo e faz bem seu papel de coadjuvante. Há uma série de cenas de batalha passadas em simuladores que, depois de um tempo, se tornam massantes e repetitivas, e o filme peca pela falta de ritmo. A "moral da história", quando chega, no final, realmente nos faz parar para pensar e eleva a qualidade do roteiro. Abrem-se também as portas para possíveis continuações, assim como nos livros. "Ender´s Game", porém, não foi muito bem recebido nas bilheterias, o que pode comprometer o futuro da série nas telas do cinema.

Câmera Escura

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret

Mais de um crítico já notou uma curiosidade sobre os dois filmes com mais indicações ao Oscar neste ano: além de serem, ambos, declarações de amor ao cinema, um é um filme de um diretor francês que homenageia o cinema americano ("O Artista"), enquanto o outro é uma declaração de amor de um americano aos pioneiros do cinema francês. No caso, um dos maiores diretores do cinema americano, Martin Scorsese, e seu mais recente filme, "A Invenção de Hugo Cabret". O celebrado diretor de filmes como "Taxi Driver" e "Os Bons Companheiros" resolveu investir em um gênero inédito em sua carreira, o filme infantil. Ao receber o Globo de Ouro pelo trabalho, Scorsese agradeceu à esposa por ter lhe pedido que fizesse um filme que, finalmente, os filhos pudessem assistir.

Ele conta a história de Hugo Cabret (Asa Butterfield), um garoto que, após a morte do pai (Jude Law), vai morar com o tio alcoólatra na estação de trem de Paris, onde mantém todos os relógios funcionando. Feito em 3D e repleto de cenas de efeitos especiais, o filme não se parece em nada com "um filme de Martin Scorsese", o que não é necessariamente ruim, mas é possível perceber a falta de habilidade do diretor em lidar com uma tecnologia e um assunto que não domina. Steven Spielberg, que também estreou no cinema 3D este ano com "Tintim", talvez fosse um nome mais apropriado para contar a história do órfão Hugo.

Mas há um outro lado no filme que é muito caro a Scorsese, que é a história do Cinema. Baseado no livro de Bryan Selznick, o roteiro de John Logan ("Gladiador", "O Aviador") é também uma homenagem ao primeiro diretor de cinema a descobrir o potencial lúdico da nova arte que, como disse o crítico Luis Carlos Merten em seu livro "Cinema, entre a Arte e o Artifício", é a única que tem data de nascimento: 28 de dezembro de 1885, em Paris, quando os irmãos Lumiére realizaram a primeira sessão de cinema. Um mágico que estava na platéia se chamava George Méliès e, encantado com a nova tecnologia, se tornou um dos primeiros cineastas e contou histórias maravilhosas sobre sereias, aventureiros e, em 1902, fez a obra prima "Viagem à Lua". Méliès usou de sua formação como mágico para ser também um dos pioneiros dos efeitos especiais, realizando truques na própria câmera através de dupla exposição do filme.

Pois bem, tudo isso é citado em "A Invenção de Hugo Cabret", mas talvez o filme fosse mais interessante se focasse apenas na extraordinária história real de Méliès. No filme, George Méliès (Ben Kingsley) é um senhor que tem uma loja de brinquedos na estação de trem de Paris. Hugo, o órfão, mora escondido na estação e tem um segredo: está montando um homem mecânico que o pai encontrou quebrado em um museu. Para isso o garoto rouba peças da loja de brinquedos até que é descoberto pelo velho George, que o faz trabalhar para pagar suas dívidas. Hugo faz amizade com a filha adotiva de George, Isabelle (Chloë Grace Moretz), uma garota apaixonada por livros, e os dois descobrem, aos poucos, a história do velho e sua importância para o cinema. Há vários personagens secundários, o principal deles interpretado por Sacha Baron Cohen (de "Borat"), que faz o Inspetor, um vigia da estação que prende e envia crianças para o orfanato. O veterano Christopher Lee interpreta o dono de uma loja de livros e ajuda os garotos a pesquisar sobre a história do cinema. Há cenas muito bem elaboradas por Scorsese e o 3D é bem usado principalmente quando ele mostra o maquinismo dos relógios mantidos por Hugo. Em outros, porém, o uso do artifício é questionável. Os próprios filmes de Méliès, quando projetados, estão em três dimensões, o que não só não faz sentido como chega a ser uma adulteração das obras originais; algo estranho vindo de Scorsese, que tanto prega pela preservação da memória do cinema. Falta ao filme a inventividade e a engenhosidade mostradas em "O Artista", por exemplo, mas "A Invenção de Hugo Cabret" pode servir de porta de entrada, para adultos e crianças, no fantástico mundo dos filmes de George Méliès.