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quarta-feira, 21 de abril de 2021

O Refúgio (The Nest, 2020)

O Refúgio (The Nest, 2020). Dir: Sean Durkin. Amazon Prime. Tentei fugir um pouco dos filmes depressivos do Oscar e dei play neste filme na Amazon Prime... e é outro filme depressivo de 2020! Rs. Mas é bastante bom. Passado nos anos 80, "O Refúgio" retrata a decadência de uma família que tinha tudo para dar certo, mas é bastante disfuncional. Jude Law é Rory O'Hara, um executivo que mora em uma bela casa em Nova York com a esposa Allison (a grande Carrie Coon), que dá aulas de equitação. Eles têm um casal de filhos bonitos e tudo parece bem. Um dia Jude Law chega para a esposa e diz que tem uma "grande oportunidade" em Londres. Ele é charmoso e convincente, mas a esposa parece meio cansada; "é a quarta mudança em dez anos", ela diz.

Eles se mudam para a Inglaterra e o personagem de Law aluga um verdadeiro castelo no campo ("o Led Zeppelin gravou um álbum aqui"), onde ele promete à esposa que ela pode abrir um haras; os filhos são matriculados em escolas caras. Pequenos detalhes mostram que as aparências podem enganar. A mulher esconde o próprio dinheiro em caixas que ela espalha pela casa. Os cheques do marido começam a voltar. Ele só se preocupa com o trabalho e as aparências; ela é obcecada pelo cavalo. Os filhos são deixados para trás.

É tão fascinante (ou triste) como assistir a um incêndio. Você sabe que vai acabar mal, mas não tira os olhos da tela. Jude Law é sempre bom, e neste filme não é diferente. Carrie Coon é uma camaleoa, ótima atriz que desaparece em seus personagens (ela é a irmã de Ben Affleck em "Garota Exemplar", ou a mãe do garoto na segunda temporada de "The Sinner"). Ela se entrega totalmente a uma personagem que é vítima da ambição do marido, mas não é totalmente inocente. A recriação de época é muito boa e Londres ainda não tinha os "marcos" com os quais associamos à cidade hoje, como a London Eye (a grande roda gigante) ou o prédio em formato de "ovo" do centro financeiro. A trilha sonora toca sucessos da época e os telefones são fixos. O que não muda é a vontade de alguns de viver além dos seus meios e dar um passo maior que a perna. Disponível na Amazon Prime.
 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Terapia de Risco

Talvez o fato mais interessante relacionado a "Terapia de Risco" seja a declaração do diretor Steven Soderbergh de que este seria seu último filme no cinema. O versátil diretor de 50 anos, muito bem sucedido, vencedor de um Oscar (por "Traffic", em 2000),  estaria se aposentando da tela grande para se dedicar a outras atividades (como a pintura) ou a filmes feitos para a televisão. É bastante discutível se ele vai cumprir a promessa, ainda mais quando se leva em consideração o quanto Soderbergh é um aficionado por cinema; além de dirigir, ele geralmente também faz a fotografia e edição dos próprios filmes.

Quanto a "Terapia de Risco" (outro daqueles genéricos títulos brasileiros, o original é "Side Effects", efeitos colaterais), são dois filmes em um. A primeira parte se parece com um filme de denúncia nos moldes de trabalhos anteriores de Soderbergh (embora sem o mesmo empenho), como "Traffic" e "Erin Brockovich". O alvo seria a indústria farmacêutica, particularmente a "indústria da depressão". Antidepressivos são mencionados, trocados e consumidos como doces no mundo em que habitam Emily Taylor (a camaleônica Rooney Mara, de "Os Homens que não Amavam as Mulheres") e o psiquiatra Jonathan Banks (Jude Law, de "Anna Karenina"). Emily é uma frágil moça de 28 anos que sofre de depressão. Quando o filme começa, o marido de Emily, Martin (Channing Tatum), está sendo solto após quatro anos na prisão, mas sua liberação parece só agravar a depressão de Emily. Em uma manhã, ela entra no carro e tenta se matar ao bater diretamente em um muro de concreto. No hospital ela conhece o Dr. Banks, que se interessa pelo caso e começa a prescrever uma série de antidepressivos. Banks, interpretado com elegância por Jude Law, se preocupa com seus pacientes, o que não o impede de algumas atitudes questionáveis (mas aceitas pela comunidade médica) como aceitar 50 mil dólares de uma empresa farmacêutica para testar uma droga nova em seus pacientes. Um dos efeitos colaterais da droga administrada em Emily é o sonambulismo. Um dia, aparentemente dormindo e inconsciente, ela comete um crime.

É então que "Terapia de Risco" se transforma em outro filme. A trama sobre antidepressivos, efeitos colaterais e denúncias contra a indústria farmacêutica é colocada de lado e o roteiro se transforma em um filme policial. O resultado é bastante ambíguo. As questões éticas que estavam em discussão são trocadas por perguntas mais condizentes com o gênero do thriller policial. Emily estava consciente quando praticou o crime? Ele pode ser considerada responsável por seus atos? Ou será que tudo isso não passa de um esquema para enganar o Dr. Banks e a polícia? Há uma série de reviravoltas, descobertas, traições e problemas familiares, tudo filmado por Soderbergh com uma câmera discreta e bastante próxima do rosto dos atores, em um ritmo bem mais lento do que o sugerido pelo trailer abaixo. O resultado é um filme que, se não deixa de ser interessante, acaba pecando tanto como denúncia quanto como filme de suspense. 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Anna Karenina

Um clássico russo de Leon Tolstoy, figurinos requintados, recriação de época, muito drama; como fazer para tornar esta história algo mais do que "mais um" filme histórico? A solução encontrada pelo diretor Joe Wright foi bem engenhosa e visualmente interessante. Ele e Keira Knightley já trabalharam juntos antes em adaptações de clássicos da literatura como "Orgulho e Preconceito" (2005) e "Desejo e Reparação"  (2007), mas nenhum destes filmes tinha o requinte empregado na produção do drama de Tolstoy.

Grande parte do filme se passa dentro de um teatro, e o espectador pode ver as mudanças de cenários, iluminação, etc, enquanto os personagens vivem alheios às amarras da sociedade. A metáfora é óbvia, mas não menos interessante: a alta sociedade russa do final do século 19 segue regras de comportamento como atores interpretam um roteiro pré-estabelecido. A bela Anna Karenina (Keira Knightley) sai de São Petesburgo, onde é bem casada e tem um filho de 8 anos, e vai à Moscou tentar convencer a cunhada Dolly (Kelly Macdonald) a perdoar as infidelidades do marido, o Sr. Oblonsky (Matthew Macfadyen, muito divertido). Logo ao chegar a Moscou, no entanto, Anna vai ter a própria fidelidade testada ao conhecer o jovem Conde Vronsky (Aaron Taylor-Johnson, de "Selvagens"); há uma sequência muito bem feita passada em um baile em que Vronsky, que estava prometido para a princesa Kitty (Alicia Vikander, de "O Amante da Rainha"), seduz Karenina e os dois dançam a noite toda, diante dos olhos escandalizados da elite russa. O romance é arrebatador e tão inevitável quanto "errado". Anna é casada com um político importante (Jude Law, bastante sóbrio) que lhe é 20 anos mais velho e avesso a escândalos. Quando Anna confessa o romance ao marido, ele tenta negociar; ela deve terminar tudo, ou então vai perder o lugar na sociedade, cair em desgraça e, ainda por cima, perder o filho. Claro que ela promete, e não cumpre, pagando um preço caro por suas decisões.

Há ainda um outro personagem, Konstantin Levin (Domhnall Gleeson), que representa o lado mais "social" do texto de Tolstoy. Ele é apaixonado pela princesa Kitty mas não consegue viver dentro das regras de Moscou. Ele é dono de uma pequena fazenda no interior, onde arregaça as mangas e trabalha junto dos próprios empregados na colheita. As cenas protagonizadas por Konstantin, seguindo a metáfora visual criada pelo filme, são passadas fora do "teatro", em cenários reais nas paisagens da Rússia. Também as cenas de romance entre Anna e Vronsky são mostradas ao ar livre, como se seu romance estivesse longe do alcance das regras da sociedade. O roteiro foi adaptado pelo conceituado dramaturgo Tom Stoppard (que ganhou o Oscar por "Shakespeare Apaixonado") e "Anna Karenina" tem ótima direção de fotografia (de Seamus McGarvey) e o figurino de Jacqueline Durran foi premiado no último Oscar. Visto no Topázio Cinemas, Campinas.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

360

A pior coisa a se dizer sobre "360", a mais nova produção de Fernando Meirelles, é o fato de ser "agradável". O que significa dizer que "360" é bom, e se tivesse sido feito por um diretor mediano  qualquer, estaria de bom tamanho. Mas era de se esperar mais do talento do realizador de "Cidade de Deus" (2002) e "O Jardineiro Fiel" (2005), entre outros. O filme é composto por uma série de histórias independentes que se cruzam, formando um mosaico irregular.

Michael (Jude Law) é um homem de negócios que está em Viena e marca um encontro com uma prostituta eslovaca chamada Mirka (Lucia Siposová). O casamento dele com Rose (Rachel Weisz) não vai bem. O casal mora em Londres, e ela está traindo o marido com um brasileiro chamado Rui (Juliano Cazarré). A namorada de Rui, Laura (Maria Flor), não aguenta a situação e resolve deixar Londres e voltar para o Brasil. No voo para os Estados Unidos ela conhece John (Anthony Hopkins), um pai que está à procura da filha que fugiu há anos e nunca mais deu notícias. A polícia a considera morta, mas ele não desiste. A história de John e seu encontro com Laura é a melhor do filme, em grande parte graças ao talento de Hopkins. Fica evidente que ele vê  na brasileira uma substituta para a filha ausente. Ele tem uma cena muito boa em que conta sua história em uma reunião dos Alcoólicos Anônimos, e Meirelles declarou em entrevista que Hopkins improvisou grande parte das próprias falas, pois é de fato alcoólatra. Há também a história de Tyler (Ben Foster, sempre intenso), um prisioneiro que passou seis anos preso por "crimes sexuais" e que foi solto em condicional. Uma tempestade de neve o deixa preso no aeroporto de Denver onde, por vontade do roteiro de Peter Morgan (de "A Rainha" e "Frost/Nixon), também se encontram Anthony Hopkins e Maria Flor. É justamente no personagem de Foster que o roteiro começa a apresentar problemas. Maria Flor senta-se à mesa dele e, tendo bebido demais, começa a flertar com ele, sem saber que era a primeira vez em anos que Tyler estava livre com uma mulher. A trama cria uma situação de suspense que, estranhamente, não vai a lugar algum. 

Outro problema do roteiro está na história de um dentista muçulmano, em Paris, que é apaixonado pela assistente russa. Ele está em um dilema moral pois ela é casada e a religião dele não permite o adultério. O caso é que ela não está nada feliz no casamento com um guarda-costas russo que trabalha para um chefão do crime. A trama do romance entre o muçulmano e a russa também não vai longe e o roteiro força uma situação ao tentar fechar o ciclo (ou os 360 graus do título) ligando o russo à prostituta do início do filme. Tecnicamente é tudo muito bem feito, o que era de se esperar de Fernando Meirelles, formado no premiado cinema publicitário brasileiro. A bela fotografia é de Adriano Goldman (de "O ano em que meus pais saíram de férias") e Daniel Rezende, tradicional editor dos filmes de Meirelles, faz um ótimo trabalho ao ligar as várias linhas da trama com cortes bem feitos. Apesar de esteticamente bonito e das boas interpretações, porém, falta "garra" ao filme. Algumas histórias poderiam ter sido descartadas para dar espaço para as outras tramas. Tudo termina de forma "agradável" e falta ao filme dizer a que veio. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret

Mais de um crítico já notou uma curiosidade sobre os dois filmes com mais indicações ao Oscar neste ano: além de serem, ambos, declarações de amor ao cinema, um é um filme de um diretor francês que homenageia o cinema americano ("O Artista"), enquanto o outro é uma declaração de amor de um americano aos pioneiros do cinema francês. No caso, um dos maiores diretores do cinema americano, Martin Scorsese, e seu mais recente filme, "A Invenção de Hugo Cabret". O celebrado diretor de filmes como "Taxi Driver" e "Os Bons Companheiros" resolveu investir em um gênero inédito em sua carreira, o filme infantil. Ao receber o Globo de Ouro pelo trabalho, Scorsese agradeceu à esposa por ter lhe pedido que fizesse um filme que, finalmente, os filhos pudessem assistir.

Ele conta a história de Hugo Cabret (Asa Butterfield), um garoto que, após a morte do pai (Jude Law), vai morar com o tio alcoólatra na estação de trem de Paris, onde mantém todos os relógios funcionando. Feito em 3D e repleto de cenas de efeitos especiais, o filme não se parece em nada com "um filme de Martin Scorsese", o que não é necessariamente ruim, mas é possível perceber a falta de habilidade do diretor em lidar com uma tecnologia e um assunto que não domina. Steven Spielberg, que também estreou no cinema 3D este ano com "Tintim", talvez fosse um nome mais apropriado para contar a história do órfão Hugo.

Mas há um outro lado no filme que é muito caro a Scorsese, que é a história do Cinema. Baseado no livro de Bryan Selznick, o roteiro de John Logan ("Gladiador", "O Aviador") é também uma homenagem ao primeiro diretor de cinema a descobrir o potencial lúdico da nova arte que, como disse o crítico Luis Carlos Merten em seu livro "Cinema, entre a Arte e o Artifício", é a única que tem data de nascimento: 28 de dezembro de 1885, em Paris, quando os irmãos Lumiére realizaram a primeira sessão de cinema. Um mágico que estava na platéia se chamava George Méliès e, encantado com a nova tecnologia, se tornou um dos primeiros cineastas e contou histórias maravilhosas sobre sereias, aventureiros e, em 1902, fez a obra prima "Viagem à Lua". Méliès usou de sua formação como mágico para ser também um dos pioneiros dos efeitos especiais, realizando truques na própria câmera através de dupla exposição do filme.

Pois bem, tudo isso é citado em "A Invenção de Hugo Cabret", mas talvez o filme fosse mais interessante se focasse apenas na extraordinária história real de Méliès. No filme, George Méliès (Ben Kingsley) é um senhor que tem uma loja de brinquedos na estação de trem de Paris. Hugo, o órfão, mora escondido na estação e tem um segredo: está montando um homem mecânico que o pai encontrou quebrado em um museu. Para isso o garoto rouba peças da loja de brinquedos até que é descoberto pelo velho George, que o faz trabalhar para pagar suas dívidas. Hugo faz amizade com a filha adotiva de George, Isabelle (Chloë Grace Moretz), uma garota apaixonada por livros, e os dois descobrem, aos poucos, a história do velho e sua importância para o cinema. Há vários personagens secundários, o principal deles interpretado por Sacha Baron Cohen (de "Borat"), que faz o Inspetor, um vigia da estação que prende e envia crianças para o orfanato. O veterano Christopher Lee interpreta o dono de uma loja de livros e ajuda os garotos a pesquisar sobre a história do cinema. Há cenas muito bem elaboradas por Scorsese e o 3D é bem usado principalmente quando ele mostra o maquinismo dos relógios mantidos por Hugo. Em outros, porém, o uso do artifício é questionável. Os próprios filmes de Méliès, quando projetados, estão em três dimensões, o que não só não faz sentido como chega a ser uma adulteração das obras originais; algo estranho vindo de Scorsese, que tanto prega pela preservação da memória do cinema. Falta ao filme a inventividade e a engenhosidade mostradas em "O Artista", por exemplo, mas "A Invenção de Hugo Cabret" pode servir de porta de entrada, para adultos e crianças, no fantástico mundo dos filmes de George Méliès.


sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras

A versão "bombada" de Sherlock Holmes criada pelo diretor Guy Ritchie e pelo ator Robert Downey Jr está de volta. O cerebral detetive criado por Arthur Conan Doyle no século XIX teve várias encarnações cinematográficas, mas o Holmes de Downey Jr é uma mistura do charme do ator com a hiperatividade paranóica dos filmes de ação do século XXI. Downey já encarnou o personagem em filme de 2009, tendo Jude Law como seu companheiro Watson. A produção foi muito bem sucedida nas bilheterias do mundo, o que trouxe esta inevitável continuação.

O bom elenco quase consegue fazer a coisa funcionar. Downey Jr sempre foi bom ator e, mesmo americano, já encarnou britânicos antes no cinema (como Charles Chaplin, em filme de 1992), e trabalha bem ao lado de Jude Law. O problema é que o filme trata o personagem como um alucinado, e a técnica acompanha. Os cortes rápidos e a estética de vídeo clip prejudicam a direção de arte e o espectador mal tem tempo de apreciar as paisagens de Londres, Paris e da Suíca no final do século XIX. No início do filme, Holmes tem dois problemas: um é seu inimigo, o professor James Moriarty (Jared Harris), um gênio quase tão inteligente quanto o detetive e, claro, com um plano diabólico; uma série de atentados a bomba acontecem por toda Europa, supostamente executados por anarquistas. Na verdade, é Moriarty que, dono de uma fábrica de armas, planeja fornecer material para uma guerra mundial. Mas Holmes está preocupado com seu outro problema: o casamento de Watson. Se o "relacionamento" entre Holmes e Watson foi apenas sugerido no primeiro filme (e é motivo de debate há décadas), "Jogo de Sombras" só falta colocar os dois na mesma cama. Há uma série de piadas bem diretas e cenas de ciúme entre os dois companheiros enquanto, em plena lua-de-mel, combatem Moriarty Europa afora. O ator Stephen Fry faz uma participação especial (e desperdiçada) como Mycroft, o irmão de Holmes.

Com duas horas e dez minutos de filme, há diversas cenas de ação que variam de lutas corpo a corpo (estilizadas e em câmera lenta) a verdadeiros bombardeios, com os atores desviando de balas de diversos tipos e calibres. Em meio a toda correria, há boas cenas isoladas entre Holmes e Moriarty, embora Jared Harris interprete o vilão de forma fria demais (é o único a levar o filme a sério, aparentemente). O filme termina com uma sequência que quase engana os espectadores, mas é claro que a franquia precisa deixar a porta aberta para "Sherlock 3". Resta saber até quando o charme de Robert Downey Jr, sozinho, vai conseguir trazer bilheteria para a série. Visto no Topázio Cinemas.


domingo, 27 de junho de 2010

O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus

Terry Gilliam é um diretor singular. Americano, é frequentemente confundido como inglês, por ter participado do grupo humorístico britânico Monty Pyton e ter dirigido alguns filmes deles, como "Monty Pyton e o Cálice Sagrado" (1975). Dotado de uma imaginação exuberante (e mais anárquica do que, digamos, Tim Burton), Gilliam é também animador e diretor de arte, com um estilo bastante rococó e influências do teatro. Fez alguns dos filmes mais interessantes, ricos e mesmo polêmicos dos últimos trinta anos, como "Bandidos do Tempo" (1981), "Brazil - O Filme" (1985) e "As Aventuras do Barão Munchausen" (1988). Também flertou com produções mais comerciais, como os ótimos "Pescador de Ilusões" (1991), com Robin Williams e Jeff Bridges e "Os Doze Macacos" (1995), com Bruce Willis e Brad Pitt.

Em 2007, Gilliam começou a produção de seu mais novo filme, "O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus", que é bastante influenciado pelo seu próprio "Barão Munchausen", com Christopher Plummer e Heath Ledger no elenco. Como se sabe, Ledger foi encontrado morto em janeiro de 2008, o que aparentemente sepultou o filme com ele. Algum tempo depois, porém, Gilliam fez algumas modificações no roteiro e, com a ajuda de amigos como Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell, além de muitos efeitos especiais, conseguiu completar o filme, que termina com a assinatura "Um filme de Heath Ledger e Amigos". O resultado é uma obra difícil de classificar. "Dr. Parnassus" tem toda a exuberância esperada de Terry Gilliam, com um visual barroco e uma trama ambiciosa e complicada. Por outro lado, ele demora a engrenar e, em alguns momentos, parece o trabalho de um editor maluco brincando de colar sequências aleatoriamente.

Christopher Plummer (excelente) é o Dr. Parnassus, um homem que fez um pacto com o Diabo (Tom Waits) para se tornar imortal. Em troca, o Diabo exigiu que ficaria com qualquer filho que Parnassus porventura tivesse. Parnassus tem uma filha, Valentina (Lily Cole, uma mistura de inocência e sensualidade) que, como nos contos de fada, seria sua até os 16 anos de idade, quando deveria ser entregue ao Diabo. O Dr. Parnassus tem mais de mil anos de idade e hoje vaga pela Inglaterra em um palco ambulante com a filha, um anão (o ótimo Verne Troyer, com as melhores frases do filme) e um ajudante chamado Anton (Andrew Garfield). Não fica muito claro exatamente o que eles oferecem em seu show ambulante, mas há um espelho mágico no palco que, quando atravessado, leva ao tal "imaginário do Dr. Parnassus", um mundo em constante mutação transformado pelas vontades de quem entra nele. A este grupo mambembe se junta Tony Shepherd (Heath Ledger), um pilantra que eles encontram enforcado (mas não morto) em uma ponte de Londres.

Ledger, aparentemente, havia filmado todas as suas cenas fora do mundo imaginário, de modo que, com sua morte, foi substituído inteligentemente por Depp, Law e Farrell nas cenas mais extravagantes do filme, passadas do outro lado do espelho e dentro da mente do Dr. Parnassus. Depp é extraordinário e rouba o filme nos poucos minutos em cena. Law é apenas correto mas Farrell é o que encarna de forma mais realista a persona de Ledger.

O roteiro (do próprio Gillian e Charles McKeown), ambicioso, mistura elementos da mitologia grega (Parnassus é inspirado no Monte Parnaso, na Grécia, que influenciou o movimento da "arte pela arte", o Parnasianismo), filosofia budista, católica e mais uma dezena de citações. Mas o produto não é livre de problemas. Como disse, a edição é por demais caótica em várias sequências e a trama, já complicada, demora a ser exposta e desenvolvida. O mundo imaginário, uma mistura de efeitos especiais em computação gráfica com tradicionais modelos em escala, varia do sublime ao cafona. O elenco é irregular, sendo que o mais fraco é o personagem Anton, de Andrew Garfield. Mas, sem dúvida, é um filme ambicioso, que evoca velhos rituais sobre o modo de se contar histórias e sua importância para, como explica uma frase do filme, manter o Universo funcionando.


segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Sherlock Holmes

O nome "Sherlock" é sinônimo de detetive particular. De inteligência, astúcia e, acima de tudo, método. Criação de Arthur Conan Doyle, Sherlock Holmes tinha o hábito de chegar às conclusões mais surpreendentes ao simplesmente encontrar uma pessoa. Através de pistas e de um suposto "pensamento científico", Holmes conseguia saber quem a pessoa era, onde havia estado, qual sua profissão e o que estava fazendo ali. Como companheiro de aventuras, Holmes tinha o Dr. Watson, sábio mas um tanto medroso, que acompanhava Holmes enquanto este descobria seus casos. O personagem já foi adaptado às telas do cinema incontáveis vezes e encarnado por uma série de atores.

Eis então que chegam o produtor da série "Máquina Mortífera", Joel Silver, e o diretor de "Snatch - Porcos e Diamantes", Guy Ritchie, e resolvem fazer uma versão do século XXI para o grande detetive inglês. O resultado só não é pior do que se poderia esperar por causa dos dois nomes principais do elenco, os ótimos Robert Downey Jr (Holmes) e Jude Law (Watson). O filme funciona melhor, na verdade, quanto menos se pensar que estamos vendo um filme de Sherlock Holmes. Nesta versão acelerada e "bombada" de Ritchie, Holmes é uma espécie de super herói atormentado, competente tanto nas deduções incríveis quanto nas lutas de rua. Logo no início do filme ele salva uma mulher de morrer em um ritual satânico promovido pelo cruel Lord Blackwood (Mark Strong). Blackwood é condenado à forca e é executado mas, claro, retorna dos mortos para aterrorizar Londres com um plano diabólico que me lembrou aqueles vilões dos filmes de James Bond.

O roteiro é basicamente feito de uma série de sequências em que Holmes e Watson tentam descobrir os planos secretos de Blackwood, em uma Londres do século XIX por vezes muito bem feita e interessante, em outras um efeito ruim em computação gráfica. Holmes tem encontros com sociedades secretas que acreditam em magia e desafiam as crenças científicas dele. No lado pessoal, Watson está para se casar com uma mulher chamada Mary, o que ataca os ciúmes do companheiro Sherlock, também às voltas com uma mulher misteriosa chamada Irene Adler (Rachel McAdams). (Se o objetivo do filme era ser inovador, por que os produtores não resolveram tirar Sherlock e Watson do armário e assumir o romance?).

O filme não é exatamente ruim. As interpretações de Downey e Law salvam grande parte das cenas, com alguns bons diálogos e troca de insinuações. Há cenas muito boas de Londres e da recriação de época. Há uma tentativa de desmistificar o personagem e lhe tirar aquele "verniz" inglês e esnobe. Mas, no fundo, há muita verdade na piada que anda pela internet que chama o filme de uma mistura de "Statch", "Clube da Luta" e "Homem de Ferro". Para uma recriação muito melhor do personagem, deve-se assistir ao ótimo filme feito por Barry Levinson e produzido por Steven Spielberg em 1985, chamado "Young Sherlock Holmes" (ou "O Enigma da Pirâmide").


quarta-feira, 7 de maio de 2008

Um Beijo Roubado

Não conheço os filmes do chinês Wong Kar Wai. Sei que é um diretor famoso e que estou em dívida com ele, mas o fato é que não vi seus filmes. Assim, ao entrar no cinema para assistir a seu primeiro filme em inglês, "Um Beijo Roubado" (ou "My Blueberry Nights", no original), não sabia o que esperar. O elenco sem dúvida foi um atrativo; Jude Law interpreta um inglês que é dono de um "café" em Nova York. Ele não se lembra direito do nome dos clientes, mas lembra do que eles gostam de comer e tem um jarro com várias chaves deixadas no balcão. Ele não as joga fora porque não quer ser "responsável por certas portas ficarem fechadas para sempre". Uma dessas chaves pertence a uma moça chamada Elizabeth (interpretada pela cantora Norah Jones, em seu primeiro filme), que acabou de ser trocada pelo namorado por outra mulher. Ela passa a freqüentar o café todas as noites para comer um pedaço de torta de blueberry (uma espécie de amora), que quase nunca é escolhida pelos clientes. Um noite ela parte de Nova York e começa uma viagem Estados Unidos adentro, trabalhando como garçonete em várias cidades e, de vez em quando, escrevendo cartas para Jude Law contando suas aventuras.

O filme é sempre interessante, mas sua estrutura fragmentada não funciona muito bem. Há uma série de boas histórias em Um Beijo Roubado que provavelmente dariam filmes melhores se fossem desenvolvidas sozinhas. Elizabeth encontra pelo caminho Arnie, um policial alcoólatra interpretado pelo ótimo David Strathairn (de "Boa noite, boa sorte") que ainda é apaixonado pela ex-mulher (Rachel Weiss). Weiss está ótima e ela recita um longo monólogo sobre como conheceu Arnie que vale a pena ver. Em Nevada, Elizabeth conhece uma jogadora compulsiva chamada Leslie, interpretada surpreendentemente bem por Natalie Portman. Ela está radiante, sexy e longe de seu tipo "boa moça" que costuma interpretar. Leslie arrasta Elizabeth até Las Vegas em uma seqüência que me lembrou um pouco Thelma & Louise, e há até uma insinuação leve de que pode haver algo mais do que apenas amizade entre as duas. Leslie está tentando ensinar Elizabeth a ser menos ingênua e a confiar menos nas pessoas, e Elizabeth tenta fazer o contrário com Leslie. Enquanto isso, em Nova York, Jude Law claramente se apaixonou por Elizabeth e tenta entrar em contato com ela de várias formas, sem sucesso (Elizabeth não coloca remetente nas várias cartas que escreve?).

O estilo de direção de Kar Wai me incomodou um pouco. A fotografia é bonita e o filme tem um clima sofisticado, mas há várias interferências digitais na imagem que não têm muita função a não ser estilo. A edição é interessante, mas em alguns momentos é como se o editor estivesse deslumbrado com recursos "baratos" da ilha de edição, como fusões de imagem e alguns efeitos. A música, claro, é cantada por Norah Jones, que é irregular como atriz. Há um certo clima de "teatro filmado" em grande parte do filme e, francamente, me surpreendi com a afirmação nos créditos de que a produção teria sido feita em locações pelos Estados Unidos. Todas as cenas no café de Jude Law, por exemplo, parecem feitas em estúdio.

O título brasileiro acaba explicando uma cena que acontece na primeira parte do filme e que é muito sutil e bonita. O problema é que ela se repete desnecessariamente no final e acaba perdendo a força. Como romance é um filme interessante, apesar de irregular. Resta agora ir atrás dos filmes anteriores de Wong Kar Wai para entender porque ele é tão comentado.