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segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Voyagers (2020)

Voyagers (2020). Dir: Neil Burger. Amazon Prime. Ficção-científica adolescente que foi bastante criticada, mas que não achei tão ruim (assisti com zero expectativas). A principal crítica é que o roteiro é basicamente uma versão espacial de "O Senhor das Moscas", livro de William Golding que mostrava o que acontecia a um grupo de crianças que naufragou em uma ilha deserta. Sem orientação de adultos e entregues à "natureza humana", o resultado era bem ruim.

Neste filme, 30 crianças são criadas desde bebês para partir em uma viagem sem volta; eles vão embarcar em uma nave que vai viajar por 86 anos até chegar a um planeta distante, em uma "nave geracional". Se tudo correr bem, só seus netos, nascidos na nave, chegarão ao destino. Richard (um competente Colin Farrell) é o único adulto a bordo. Dez anos depois, a nave é mantida pelos 30 (agora) adolescentes e por Richard. Só que alguns problemas começam a acontecer; os adolescentes descobrem que uma bebida azul, que eles tomavam depois das refeições, era uma droga que inibia o desejo sexual, entre outras coisas (as futuras gerações seriam criadas em laboratório, se dependesse dos cientistas). Eles param de tomar a droga e, aos poucos, começam a agir de forma desinibida, o que gera conflitos, revoltas, ciúmes e atração sexual.

O elenco adolescente é bom (Lily-Rose Depp, filha de Johnny Depp, está no elenco) e o filme tem bom visual e efeitos especiais competentes. O roteiro é um tanto previsível (mesmo para quem não leu "O Senhor das Moscas") mas, como disse, não é um filme ruim. Ele poderia, sim, ser bem mais ousado. A impressão que dá é que o diretor não pode (ou não quis) chocar o público, então o filme fica no meio do caminho quando trata de sexualidade ou violência. Disponível na Amazon Prime. 

domingo, 27 de junho de 2010

O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus

Terry Gilliam é um diretor singular. Americano, é frequentemente confundido como inglês, por ter participado do grupo humorístico britânico Monty Pyton e ter dirigido alguns filmes deles, como "Monty Pyton e o Cálice Sagrado" (1975). Dotado de uma imaginação exuberante (e mais anárquica do que, digamos, Tim Burton), Gilliam é também animador e diretor de arte, com um estilo bastante rococó e influências do teatro. Fez alguns dos filmes mais interessantes, ricos e mesmo polêmicos dos últimos trinta anos, como "Bandidos do Tempo" (1981), "Brazil - O Filme" (1985) e "As Aventuras do Barão Munchausen" (1988). Também flertou com produções mais comerciais, como os ótimos "Pescador de Ilusões" (1991), com Robin Williams e Jeff Bridges e "Os Doze Macacos" (1995), com Bruce Willis e Brad Pitt.

Em 2007, Gilliam começou a produção de seu mais novo filme, "O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus", que é bastante influenciado pelo seu próprio "Barão Munchausen", com Christopher Plummer e Heath Ledger no elenco. Como se sabe, Ledger foi encontrado morto em janeiro de 2008, o que aparentemente sepultou o filme com ele. Algum tempo depois, porém, Gilliam fez algumas modificações no roteiro e, com a ajuda de amigos como Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell, além de muitos efeitos especiais, conseguiu completar o filme, que termina com a assinatura "Um filme de Heath Ledger e Amigos". O resultado é uma obra difícil de classificar. "Dr. Parnassus" tem toda a exuberância esperada de Terry Gilliam, com um visual barroco e uma trama ambiciosa e complicada. Por outro lado, ele demora a engrenar e, em alguns momentos, parece o trabalho de um editor maluco brincando de colar sequências aleatoriamente.

Christopher Plummer (excelente) é o Dr. Parnassus, um homem que fez um pacto com o Diabo (Tom Waits) para se tornar imortal. Em troca, o Diabo exigiu que ficaria com qualquer filho que Parnassus porventura tivesse. Parnassus tem uma filha, Valentina (Lily Cole, uma mistura de inocência e sensualidade) que, como nos contos de fada, seria sua até os 16 anos de idade, quando deveria ser entregue ao Diabo. O Dr. Parnassus tem mais de mil anos de idade e hoje vaga pela Inglaterra em um palco ambulante com a filha, um anão (o ótimo Verne Troyer, com as melhores frases do filme) e um ajudante chamado Anton (Andrew Garfield). Não fica muito claro exatamente o que eles oferecem em seu show ambulante, mas há um espelho mágico no palco que, quando atravessado, leva ao tal "imaginário do Dr. Parnassus", um mundo em constante mutação transformado pelas vontades de quem entra nele. A este grupo mambembe se junta Tony Shepherd (Heath Ledger), um pilantra que eles encontram enforcado (mas não morto) em uma ponte de Londres.

Ledger, aparentemente, havia filmado todas as suas cenas fora do mundo imaginário, de modo que, com sua morte, foi substituído inteligentemente por Depp, Law e Farrell nas cenas mais extravagantes do filme, passadas do outro lado do espelho e dentro da mente do Dr. Parnassus. Depp é extraordinário e rouba o filme nos poucos minutos em cena. Law é apenas correto mas Farrell é o que encarna de forma mais realista a persona de Ledger.

O roteiro (do próprio Gillian e Charles McKeown), ambicioso, mistura elementos da mitologia grega (Parnassus é inspirado no Monte Parnaso, na Grécia, que influenciou o movimento da "arte pela arte", o Parnasianismo), filosofia budista, católica e mais uma dezena de citações. Mas o produto não é livre de problemas. Como disse, a edição é por demais caótica em várias sequências e a trama, já complicada, demora a ser exposta e desenvolvida. O mundo imaginário, uma mistura de efeitos especiais em computação gráfica com tradicionais modelos em escala, varia do sublime ao cafona. O elenco é irregular, sendo que o mais fraco é o personagem Anton, de Andrew Garfield. Mas, sem dúvida, é um filme ambicioso, que evoca velhos rituais sobre o modo de se contar histórias e sua importância para, como explica uma frase do filme, manter o Universo funcionando.


domingo, 26 de julho de 2009

Inimigos Públicos

De um lado, a Hollywood clássica e o filme de gângster. Anos 30, bandidos com nomes inventivos como "Baby Face" Nelson e "Pretty Boy" Floyd, metralhadoras Thompson, casacos longos, chapéus de feltro. Do outro, um dos diretores mais modernos do cinema atual, Michael Mann, com seu visual perfeccionista e suas experimentações com o cinema digital. O resultado: "Inimigos Públicos", um filme de gângster do século XXI. Mann é um mestre da imagem. Seu estilo é ao mesmo tempo épico e intimista. Ele gosta da câmera bem próxima do rosto dos personagens, como que tentando nos mostrar o que se passa dento da cabeça deles. Ao mesmo tempo, sua tela larga e imagem perfeita criam um mundo próprio. Desde algumas experimentações em "Ali" (sua falha biografia do boxeador mais famoso de todos os tempos) e em "Colateral" Mann têm usado as câmeras digitais Vyper e Sony CineAlta para substituir a tradicional película de 35 mm usada desde sempre no cinema. Se elas funcionavam bem em filmes modernos como "Miami Vice", com seu visual noturno e "sujo", sua utilização em um filme de estilo clássico como "Inimigos Públicos" poderia ser arriscada. Nas mãos de Mann e seu diretor de fotografia Dante Spinotti, no entanto, o resultado é surpreendente: temos um filme clássico que é, ao mesmo tempo, moderno até a medula.

Johnny Depp interpreta John Dillinger, um criminoso que, perguntado o que faz da vida, simplesmente responde: "Sou ladrão de bancos". Dillinger era uma espécie de "pop star" nos anos 30. Fã de cinema e de Clark Gable, vivia apenas para o dia de hoje e realizava seus roubos a banco com rapidez, nunca roubando o cliente comum. Mann e Depp, no entanto, não tentam glamourizar demais o personagem. Ele era cruel com seus inimigos e não tinha respeito algum pela lei. Apaixonou-se por uma garota chamada Billie Frechette (a francesa Marion Cotillard), o que acabou sendo seu ponto fraco. Seu inimigo declarado era Melvin Purvis (Christian Bale), um homem da lei que foi transformado em agente especial pelo diretor do FBI, o afetado John Edgar Hoover (interpretado muito bem por Billy Crudup). Hoover sonhava com uma agência anti-crime composta por homens com "treinamento científico", com técnicas que, nesses dias de CSI e exames de DNA, podem parecer risíveis, mas eram as mais avançadas da época. Purvis já havia matado pessoalmente "Pretty Boy" Floyd e "Baby Face" Nelson e Dillinger se tornou sua obsessão. Ele é interpretado por Christian Bale, que já foi um grande ator, mas ultimamente parece ter estacionado em um mesmo tipo de atuação. Saudade de seus tempos de filmes pequenos. Depp, em contrapartida, está cada vez melhor com seu estilo camaleônico.

Michael Mann é meticuloso na construção de certas sequências, como a que mostra Dillinger fugindo de uma delegacia, atravessando uma a uma as barreiras do lugar, metódica e precisamente. O frenezi da mídia a respeito de Dillinger é mostrado em uma sequência visualmente fantástica, em que o criminoso é trazido de avião, à noite, e iluminado por fogos pelos cinegrafistas da época, tão insistentes quanto os paparazzi modernos. O final é metalinguístico. Dillinger passa seus últimos momentos em uma sala de cinema, assistindo a Clark Gable. Depp observa Gable e, novamente, o moderno dialoga com o clássico. E o cinema continua.