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domingo, 27 de junho de 2010

O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus

Terry Gilliam é um diretor singular. Americano, é frequentemente confundido como inglês, por ter participado do grupo humorístico britânico Monty Pyton e ter dirigido alguns filmes deles, como "Monty Pyton e o Cálice Sagrado" (1975). Dotado de uma imaginação exuberante (e mais anárquica do que, digamos, Tim Burton), Gilliam é também animador e diretor de arte, com um estilo bastante rococó e influências do teatro. Fez alguns dos filmes mais interessantes, ricos e mesmo polêmicos dos últimos trinta anos, como "Bandidos do Tempo" (1981), "Brazil - O Filme" (1985) e "As Aventuras do Barão Munchausen" (1988). Também flertou com produções mais comerciais, como os ótimos "Pescador de Ilusões" (1991), com Robin Williams e Jeff Bridges e "Os Doze Macacos" (1995), com Bruce Willis e Brad Pitt.

Em 2007, Gilliam começou a produção de seu mais novo filme, "O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus", que é bastante influenciado pelo seu próprio "Barão Munchausen", com Christopher Plummer e Heath Ledger no elenco. Como se sabe, Ledger foi encontrado morto em janeiro de 2008, o que aparentemente sepultou o filme com ele. Algum tempo depois, porém, Gilliam fez algumas modificações no roteiro e, com a ajuda de amigos como Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrell, além de muitos efeitos especiais, conseguiu completar o filme, que termina com a assinatura "Um filme de Heath Ledger e Amigos". O resultado é uma obra difícil de classificar. "Dr. Parnassus" tem toda a exuberância esperada de Terry Gilliam, com um visual barroco e uma trama ambiciosa e complicada. Por outro lado, ele demora a engrenar e, em alguns momentos, parece o trabalho de um editor maluco brincando de colar sequências aleatoriamente.

Christopher Plummer (excelente) é o Dr. Parnassus, um homem que fez um pacto com o Diabo (Tom Waits) para se tornar imortal. Em troca, o Diabo exigiu que ficaria com qualquer filho que Parnassus porventura tivesse. Parnassus tem uma filha, Valentina (Lily Cole, uma mistura de inocência e sensualidade) que, como nos contos de fada, seria sua até os 16 anos de idade, quando deveria ser entregue ao Diabo. O Dr. Parnassus tem mais de mil anos de idade e hoje vaga pela Inglaterra em um palco ambulante com a filha, um anão (o ótimo Verne Troyer, com as melhores frases do filme) e um ajudante chamado Anton (Andrew Garfield). Não fica muito claro exatamente o que eles oferecem em seu show ambulante, mas há um espelho mágico no palco que, quando atravessado, leva ao tal "imaginário do Dr. Parnassus", um mundo em constante mutação transformado pelas vontades de quem entra nele. A este grupo mambembe se junta Tony Shepherd (Heath Ledger), um pilantra que eles encontram enforcado (mas não morto) em uma ponte de Londres.

Ledger, aparentemente, havia filmado todas as suas cenas fora do mundo imaginário, de modo que, com sua morte, foi substituído inteligentemente por Depp, Law e Farrell nas cenas mais extravagantes do filme, passadas do outro lado do espelho e dentro da mente do Dr. Parnassus. Depp é extraordinário e rouba o filme nos poucos minutos em cena. Law é apenas correto mas Farrell é o que encarna de forma mais realista a persona de Ledger.

O roteiro (do próprio Gillian e Charles McKeown), ambicioso, mistura elementos da mitologia grega (Parnassus é inspirado no Monte Parnaso, na Grécia, que influenciou o movimento da "arte pela arte", o Parnasianismo), filosofia budista, católica e mais uma dezena de citações. Mas o produto não é livre de problemas. Como disse, a edição é por demais caótica em várias sequências e a trama, já complicada, demora a ser exposta e desenvolvida. O mundo imaginário, uma mistura de efeitos especiais em computação gráfica com tradicionais modelos em escala, varia do sublime ao cafona. O elenco é irregular, sendo que o mais fraco é o personagem Anton, de Andrew Garfield. Mas, sem dúvida, é um filme ambicioso, que evoca velhos rituais sobre o modo de se contar histórias e sua importância para, como explica uma frase do filme, manter o Universo funcionando.


sábado, 3 de maio de 2008

Não estou lá


Robert Allan Zimmerman. Cantor de música folk. Ativista político. Gênio. Fraude. Rock star. Pastor evangélico. Arrogante. Bob Dylan. Estou falando da mesma pessoa? Foi este o desafio que o diretor Todd Haynes enfrentou ao querer filmar a biografia de Dylan, uma "metamorfose ambulante" que desafiou todos os rótulos que quiseram lhe colocar. A solução encontrada por Haynes foi audaciosa mas bem sucedida: contratou seis atores diferentes para interpretar as várias fases (reais ou imaginárias) da vida de Bob Dylan. Detalhe: nenhum deles é chamado de "Bob Dylan" durante o filme, mas por nomes diferentes. Há um garoto (negro) de 11 anos interpretado por Marcus Carl Franklin. Christian Bale interpreta Dylan em duas fases, como "Jack Rollins" ele é Dylan em sua fase de música folk mais tradicional; como o "Pastor John" ele interpreta Dylan como um pastor evangélico. Ben Whishaw empresta o nome do poeta "Arthur Rinbaud" em uma entrevista. Richard Gere é "Billy the Kid" em uma fase imaginária da vida de Dylan em um cenário de faroeste. Heath Ledger (que morreu recentemente de overdose de remédios) interpreta um ator de cinema chamado "Robbie Clark" que, vejam a ironia, está fazendo um filme sobre um cantor chamado Jack Rollins (o personagem de Christian Bale). E há Cate Blanchett em uma interpretação maravilhosa como Jude Quinn, que representa a fase "elétrica" de Dylan, quando ele deixou a guitarra acústica e entrou de cabeça no rock ´n roll, o que desapontou (e enfureceu) seus fãs tradicionais. Blanchett, ironicamente, é quem está mais parecida com o Bob Dylan original. Há vários videos no YouTube (como este) que mostram Dylan nesta fase...vejam como Blanchett conseguiu pegar seu tom de voz, maquiagem e maneirismos perfeitamente.

"I´m not there" não foi feito para esclarecer a vida de Dylan. Pelo contrário, é possível que se saia do cinema ainda mais confuso sobre sua biografia. Como filme, os episódios vividos por Cate Blanchett e por Heath Ledger são os melhores. Como já disse, Blanchett se transforma em Dylan e nos mostra seu lado mais "estrela"; ele usa drogas, bebe, é arrogante e cruel com os jornalistas e com as mulheres com quem teve algum relacionamento. É também um artista em luta com os próprios fãs, que não o perdoam por ter deixado de lado a música acústica de protesto para se "vender" para o rock ´n roll. Já Ledger mostra um lado mais humano do personagem. Ele tem um romance atribulado com uma bela artista francesa com quem tem duas filhas. Mas o casamento desmorona por causa de sua carreira e a esposa pede pelo divórcio, o que o separa das filhas.

Para conhecer mais sobre o Bob Dylan "real", há dois bons documentários que devem ser vistos: "Don´t look back", de 1967, mostra Dylan em uma turnê em sua fase mais arrogante e encrenqueira. Martin Scorsese, em 2005, lançou "No Direction Home", um documentário mais abrangente sobre a vida e a obra de Dylan.