quarta-feira, 7 de maio de 2008

Um Beijo Roubado

Não conheço os filmes do chinês Wong Kar Wai. Sei que é um diretor famoso e que estou em dívida com ele, mas o fato é que não vi seus filmes. Assim, ao entrar no cinema para assistir a seu primeiro filme em inglês, "Um Beijo Roubado" (ou "My Blueberry Nights", no original), não sabia o que esperar. O elenco sem dúvida foi um atrativo; Jude Law interpreta um inglês que é dono de um "café" em Nova York. Ele não se lembra direito do nome dos clientes, mas lembra do que eles gostam de comer e tem um jarro com várias chaves deixadas no balcão. Ele não as joga fora porque não quer ser "responsável por certas portas ficarem fechadas para sempre". Uma dessas chaves pertence a uma moça chamada Elizabeth (interpretada pela cantora Norah Jones, em seu primeiro filme), que acabou de ser trocada pelo namorado por outra mulher. Ela passa a freqüentar o café todas as noites para comer um pedaço de torta de blueberry (uma espécie de amora), que quase nunca é escolhida pelos clientes. Um noite ela parte de Nova York e começa uma viagem Estados Unidos adentro, trabalhando como garçonete em várias cidades e, de vez em quando, escrevendo cartas para Jude Law contando suas aventuras.

O filme é sempre interessante, mas sua estrutura fragmentada não funciona muito bem. Há uma série de boas histórias em Um Beijo Roubado que provavelmente dariam filmes melhores se fossem desenvolvidas sozinhas. Elizabeth encontra pelo caminho Arnie, um policial alcoólatra interpretado pelo ótimo David Strathairn (de "Boa noite, boa sorte") que ainda é apaixonado pela ex-mulher (Rachel Weiss). Weiss está ótima e ela recita um longo monólogo sobre como conheceu Arnie que vale a pena ver. Em Nevada, Elizabeth conhece uma jogadora compulsiva chamada Leslie, interpretada surpreendentemente bem por Natalie Portman. Ela está radiante, sexy e longe de seu tipo "boa moça" que costuma interpretar. Leslie arrasta Elizabeth até Las Vegas em uma seqüência que me lembrou um pouco Thelma & Louise, e há até uma insinuação leve de que pode haver algo mais do que apenas amizade entre as duas. Leslie está tentando ensinar Elizabeth a ser menos ingênua e a confiar menos nas pessoas, e Elizabeth tenta fazer o contrário com Leslie. Enquanto isso, em Nova York, Jude Law claramente se apaixonou por Elizabeth e tenta entrar em contato com ela de várias formas, sem sucesso (Elizabeth não coloca remetente nas várias cartas que escreve?).

O estilo de direção de Kar Wai me incomodou um pouco. A fotografia é bonita e o filme tem um clima sofisticado, mas há várias interferências digitais na imagem que não têm muita função a não ser estilo. A edição é interessante, mas em alguns momentos é como se o editor estivesse deslumbrado com recursos "baratos" da ilha de edição, como fusões de imagem e alguns efeitos. A música, claro, é cantada por Norah Jones, que é irregular como atriz. Há um certo clima de "teatro filmado" em grande parte do filme e, francamente, me surpreendi com a afirmação nos créditos de que a produção teria sido feita em locações pelos Estados Unidos. Todas as cenas no café de Jude Law, por exemplo, parecem feitas em estúdio.

O título brasileiro acaba explicando uma cena que acontece na primeira parte do filme e que é muito sutil e bonita. O problema é que ela se repete desnecessariamente no final e acaba perdendo a força. Como romance é um filme interessante, apesar de irregular. Resta agora ir atrás dos filmes anteriores de Wong Kar Wai para entender porque ele é tão comentado.




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