domingo, 18 de maio de 2008

Paixão Proibida



Em meio à névoa, distinguimos as formas de uma mulher de costas, se banhando. A câmera vai se aproximando da imagem em meio ao vapor que sobe da água e não sabemos se a figura é real ou apenas um sonho. Não me lembro agora quem foi que disse que o oriente nada mais é do que uma miragem do ocidente, mas é o que esta imagem inicial me passou. Há "algo" no oriente que provoca uma reação nos ocidentais, uma impressão de mistério, de algo que deve ser revelado. O problema é que, de perto, talvez o mistério não seja assim tão interessante, ou o que se esperava. É desse mistério que "Paixão Proibida" ("Silk", seda, no título original) trata. O filme é uma história de amor... mas qual amor? Será o amor que o jovem Herve Joncour (Michael Pitt) sente pela bela esposa Helene (Keira Knightly)? Ou o amor que ele encontra, ou acha que encontra, do outro lado do mundo, no Japão?


Herve mora em uma pequena cidade francesa, no século 19, e está de licença do exército. Ele se apaixona por Helene e os dois se casam, mas eles estão fadados a passarem pouco tempo juntos. Um empresário local, Baldabiou (Alfred Molina) reativou a produção de seda local e está trazendo grande riqueza para a cidade. O problema é que uma doença desconhecida está matando os bichos da seda e Baldabiou precisa que Herve parta para o Japão para buscar ovos saudáveis para continuar a produção. A viagem é longa e passa por toda Europa e Ásia, em pleno inverno, até chegar ao outro lado do mundo. A fotografia do filme é muito boa e vemos belas paisagens pela França, Áustria, Rússia, China e finalmente Japão. Fica difícil no mundo globalizado em que vivemos imaginar como tudo deveria ser lento e trabalhoso naquela época, e talvez o filme seja lento exatamente por isso. Herve finalmente chega a uma pequena vila onde consegue comprar os ovos do bicho da seda. Lá ele conhece um samurai chamado Hara Jubei (Kôji Yakusho), que está às voltas com problemas políticos internos, e sua concubina. É então que Herve se apaixona, ou acha que se apaixona, pela garota (de quem nem sabemos o nome, interpretada por Sei Ashina).


Herve volta à Europa e para a esposa e embora tudo pareça ir bem ele não consegue se esquecer do Japão e da moça misteriosa. O filme, assim, é basicamente um embate entre esses dois mundos. Herve ama a esposa de verdade, mas não consegue se livrar da "miragem" do outro lado do mundo, e a necessidade de buscar mais ovos o manda ao Japão por outras ocasiões. "Paixão Proibida" é, ao mesmo tempo, bonito e decepcionante. Não deixa de ser bom, de vez em quando, ver no cinema um filme sobre pessoas e sentimentos, e não apenas efeitos especiais e explosões. O problema é que o filme talvez seja sutil demais, lento demais, mesmo que, o tempo todo, nos apresente magníficas imagens para se olhar. Alguns pontos da história me lembraram "A Época da Inocência", de Martin Scorsese, que também lidava com um jovem casal e a fascinação de um homem por outra mulher. Havia até uma cena, perto do final, em que o personagem de Daniel Day-Lewis estava olhando umas gravuras japonesas e pensando em largar tudo para partir para uma longa viagem.


"Paixão Proibida" é um filme bonito e bem feito, mas o roteiro deixa um pouco a desejar. Há algumas questões que são levantadas, mas não são bem explicadas. Por exemplo, qual a razão de apresentar uma vizinha de Herve e Helene que foi abandonada pelo marido? Ela tem um filho pequeno e, por vezes, têm-se a impressão que algo vai ser "revelado" sobre eles, mas nada acontece. Há também uma cena em que, no Japão, um comerciante de armas alemão diz a Herve que a concubina não seria japonesa. De onde ela veio então? E qual a relevância disso para o roteiro?


A direção é de François Girard, que baseou a história em um livro de Alessandro Baricco, e a produção é internacional (França, Itália, Japão). A trilha sonora é do veterano Ryuichi Sakamoto e é bonita, embora seus solos de piano, como o filme, também se estendam demais.

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