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sábado, 23 de abril de 2022

O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley, 2021)

O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley, 2021). Dir: Guillermo del Toro. Star+. Visualmente belíssimo e com um elenco e tanto, "O Beco do Pesadelo" é, também, depressivo e pesado. A trama já foi contada antes de um filme noir de 1947 e o roteiro é uma adaptação de um livro; mesmo assim, o estilo de Guillermo del Toro está em cada plano magnificamente filmado.

Nos final dos anos 1930, Bradley Cooper é Stanton Carlisle, um vigarista que se junta a uma feira itinerante. O espetáculo de horrores é comandado por Willem Dafoe, excelente, e apresenta shows de vários tipos. Toni Collette e David Strathairn fazem um número de "mentalismo", em que Collette consegue adivinhar os pensamentos da plateia através de códigos secretos. Rooney Mara é a "mulher elétrica". Ron Perlman é o homem mais forte do mundo. Mark Povinelli é o menor homem do mundo. E há o "selvagem", uma figura humana exibida por Dafoe como um animal exótico.

Metade do (longo) filme é passado neste ambiente de circo. Na segunda parte, Bradley Cooper e Rooney Mara partem para a cidade grande e fazem fortuna com um show de mentalismo que atrai a alta sociedade. É então que Cooper se envolve com uma mulher misteriosa (Cate Blanchett), que o apresenta para pessoas ricas que querem se comunicar com parentes mortos. A chance de fazer fortuna mexe com o personagem de Cooper, que ignora alertas da esposa e amigos. O ritmo é bastante lento e del Toro nos transporta para uma época pré-guerra que mistura charlatanismo e misticismo. Bradley Cooper está ótimo como Stan, um "self made man" que entra em um jogo perigoso com a personagem de Blanchett.

O elenco, como disse, é excelente. A todo momento você se surpreende com algum ator famoso fazendo um papel coadjuvante, como Mary Steenburgen, Richard Jenkins, Holt McCallany, Tim Blake Nelson, entre outros. "O Beco do Pesadelo" foi indicado a quatro Oscars e é bonito de se ver, apesar dos temas pesados. O final é ótimo. Disponível na Star+.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Lion: Uma Jornada para Casa (2016)

Ser adotado pode, em alguns casos, gerar dúvidas sobre a própria origem e problemas de identidade. Imagine então ser adotado em outro continente, a milhares de quilômetros do país natal. Esta é a situação vivida por Saroo Brierly (Dev Patel), um indiano que foi adotado por uma família australiana. O filme passa os primeiros 45 minutos mostrando a origem do jovem Saroo (o ótimo ator mirim Sunny Pawar), um menino de apenas cinco anos que se perdeu do irmão mais velho em uma estação de trem na Índia. O garoto embarca em outro trem e é levado a centenas de quilômetros de distância para Calcutá. Ele passa fome e frio pelas ruas da cidade até ser levado a um orfanato e, finalmente, ser escolhido para adoção por um casal da Austrália (vivido por Nicole Kidman e David Wenham).

Este primeiro ato é bem longo e, por um momento, você se questiona quando é que o filme vai "começar" de verdade. A trama poderia ter começado no presente, com Dev Patel já na Austrália, e sua origem na Índia poderia ter sido mostrada em flashbacks. Ao adotar a ordem cronológica, porém, o impacto da separação de Saroo de sua família e seu mundo é acentuado. Quando ele é levado de avião para a Austrália é como se fosse um extraterrestre chegando a outro planeta, e o diretor Garth Davis mostra muita sensibilidade no modo como filma o encontro do menino com os pais adotivos.

Anos depois, já adulto e vivido por Dev Patel, Saroo é inundado por lembranças da infância ao comer um prato indiano. Os amigos e a namorada (vivida por Rooney Mara) lhe apresentam o Google Earth e ele passa a princípio horas, depois dias, meses e anos, tentando encontrar sua cidade natal através de fotos de satélite. Sua obsessão acaba afetando a vida profissional e pessoal. Ele não conta aos pais adotivos o que está fazendo pois tem medo de magoá-los, mas o segredo só aumenta seu desespero e solidão. "Lion" é um filme assumidamente emocional e há algumas cenas que certamente farão a platéia chorar. Nicole Kidman tem um monólogo em que explica o que a levou à adoção que lhe valeu uma indicação ao Oscar. A bela trilha sonora de Dustin O'Halloran e Hauschka também é responsável por vários olhos vermelhos na platéia. A presença de Dev Patel automaticamente nos remete a "Quem quer ser um milionário?" (2008) e, em alguns momentos, parece que estamos vendo uma continuação daquele filme.

"Lion: Uma Jornada para Casa" foi indicado a seis Oscars: Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Patel), Atriz Coadjuvante (Kidman), Roteiro Adaptado, Fotografia e Trilha Sonora.

João Solimeo
Câmera Escura

sábado, 12 de abril de 2014

House of Cards (1ª e 2ª Temporadas)

"House of Cards" é pioneira de várias formas. Foi a primeira série produzida pelo canal Netflix (provedor de conteúdo na internet que cresceu a ponto de desafiar gigantes como a HBO). Foi também pioneira na forma de exibição; tanto a primeira temporada (em 2013) quanto a segunda (em 2014) foram tornadas disponíveis na íntegra para os assinantes da Netflix. A decisão, ousada, veio da constatação de que a maioria dos fãs de seriados gosta de fazer "maratonas" de episódios das suas séries preferidas, ao invés de esperar pela próxima semana. A série foi também criada de forma nova, a partir da análise dos hábitos dos assinantes da Netflix. O canal descobriu que o público alvo gostava do diretor David Fincher (de "A Rede Social", "Zodíaco", "Se7en") e do ator Kevin Spacey ("Se7en", "Os Suspeitos", "Beleza Americana"), e assim nasceu "House of Cards". A série é baseada em uma produção britânica e em um livro de Michael Dobbs. Kevin Spacey, além de atuar, é um dos produtores; em entrevista a Jon Stewart ele disse que a Netflix gostou tando da ideia que sequer pediu a produção de um episódio piloto, encomendando logo 26 episódios a serem divididos em duas temporadas.

ATENÇÃO SPOILERS, esteja avisado.

A série acompanha a jornada do congressista Frank Underwood (Kevin Spacey), um político tão ambicioso quanto traiçoeiro. A primeira cena de Underwood já mostra seu modo de ser, quando ele mata com as próprias mãos um cachorro que está agonizando na rua após ter sido atropelado. O que pode parecer um gesto nobre, na verdade, só mostra o lado cruel e pragmático de Frank. É também um prenúncio dos crimes que Underwood irá cometer durante a série (embora, a bem da verdade, este lado assassino demore a aparecer).

Esqueça o idealismo e patriotismo de "The West Wing" (1999-2006), série de Aaron Sorkin que também mostrava os bastidores da Casa Branca e da política americana. Em "House of Cards" ninguém é inocente. Há uma multidão de personagens, todos competindo por um pedaço do poder de Washington. Frank Underwood, em uma das melhores sacadas da série, frequentemente quebra a "quarta parede" e fala diretamente com o espectador, explicando suas motivações e nos transformando em cúmplices. Depois de algum tempo, Spacey apenas lança olhares significativos para a câmera, como que querendo dizer: "Eu não disse?".

A jornalista Zoe Barnes (Kate Mara)
A primeira temporada (2013) trata, além das maquinações de Underwood para subir aos altos escalões de Washington, de outras duas tramas: uma segue a carreira da jovem e ambiciosa repórter Zoe Barnes (Kate Mara, irmã de Rooney Mara, que trabalhou com David Fincher em "A Rede Social" e em "Os homens que não amavam as mulheres"). Barnes começa como estagiária em um jornal tradicional de Washington mas, aos poucos,  consegue atrair a atenção de Frank Underwood, que lhe vaza informações conforme sua conveniência. Em troca (repito, não estamos no mundo nobre de "The West Wing"), Zoe Barnes começa um relacionamento sexual com Underwood, um homem casado e com o dobro da idade dela.

Outra trama segue os passos de Pete Russo (Corey Stoll), um deputado democrata alcoólatra que cai na teia de Frank Underwood ao ser parado pela polícia de Washington. Russo estava bêbado e acompanhado de uma prostituta, mas é solto por influência de Underwood apenas para se tornar mais um peão nos jogos de Frank. Um dos pontos altos da primeira temporada (atenção, SPOILERS) é o "suicídio" de Pete Russo, engendrado por Frank Underwood. Com a morte de Russo, o vice presidente renuncia para concorrer ao governo da Pensilvânia, deixando livre o caminho para que Underwood se torne o vice presidente dos Estados Unidos da América.

A segunda temporada (2014) começa com um dos melhores episódios de toda série. Tão bom, na verdade, que o resto da temporada acaba empalidecendo em comparação. É neste episódio que acontece a morte mais surpreendente e inesperada de "House of Cards", quando Frank Underwood elimina Zoe Barnes em uma estação de metrô. A personagem de Kate Mara era aparentemente tão importante para a trama que o espectador jamais imaginaria que ela seria descartada de forma tão rápida e chocante. O problem é que, como dito anteriormente, a força do episódio é tão grande que o resto da temporada, que culmina com a chegada de Underwood à presidência da república, perde um pouco do brilho. A segunda temporada é marcada por embates entre Underwood e o único homem capaz de ficar (temporariamente) em seu caminho, o bilionário Raymond Tusk (o ótimo Gerald McRaney). Há episódios um tanto maçantes sobre disputas comerciais, subsídios para empresas de energia e uma crise crescente com a China. O presidente Garret Walker (Michael Gill) se mostra extremamente incompetente em lidar com todos estes problemas e se torna presa fácil para o plano elaborado por Underwood. Tudo culmina com um pedido de impeachment e uma ótima cena final, em que Frank entra no Salão Oval da Casa Branca como o 46º presidente dos Estados Unidos (sem ter recebido um único voto). É uma cena forte e com uma mensagem assustadora, embora um tanto exagerada, sobre as fragilidades da democracia.

Claire Underwood (Robin Wright)

Dois grandes parênteses devem ser feitos para os personagens de Claire Underwood (Robin Wright), a esposa de Frank, e seu capataz, Doug Stamper (Michael Kelly). Claire, interpretada com enganadora fragilidade e frieza por Robin Wright, é o porto seguro por trás de Frank. Conforme a série progride ficamos sabendo que, em vários aspectos, ela é tão ou mais perigosa quanto o marido. Ela tem consciência dos casos extra-conjugais de Frank e uma trama importante envolve o caso dela com um fotógrafo famoso. Na segunda temporada, grande parte da trama é dedicada a um estupro que ela sofreu na juventude, com repercussões no presente.

Já Doug Stamper é como um cão de guarda de Frank, responsável por orquestrar os bastidores e, geralmente, lavar a roupa suja deixada pelo chefe. Alcoólatra como Pete Russo, Stamper é frio, quieto e eficiente. Seu único ponto fraco é Rachel Posner (Rachel Brosnahan), a prostituta que estava com Russo quando ele foi preso. Stamper se sente atraído pela moça, mas não necessariamente de forma sexual. Como ela tem informações que podem causar a queda de Underwood, seria mais fácil se ela "desaparecesse" convenientemente, assim como Russo e Barnes. Mas Stamper prefere protegê-la, ao mesmo tempo em que mantém um perigoso jogo de poder com ela. A interpretação de Michael Kelly é soberba e Stamper é um dos personagens mais interessantes da série.

Uma terceira temporada de "House of Cards" já foi anunciada pela Netflix, com estréia para 2015. Resta saber se os produtores e elenco vão conseguir manter o alto nível conseguido até aqui.



Câmera Escura

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Ela

Theodore Twombly (Joaquin Phoenix, de "O Mestre") é ótimo em expressar os sentimentos...dos outros. Ele é o empregado número 612 de uma empresa que, por um preço, escreve  belas cartas de amor. Theodore é um dos melhores escritores da firma. Estamos em um futuro próximo, indeterminado, em uma Los Angeles imaginária (filmada em Shanghai, China) em que tudo é visto em tons pastéis e agradáveis. As pessoas andam pelas ruas aparentemente falando sozinhas, checando e-mails ou navegando pela internet a partir de um fone de ouvido e um aparelho que se parece com um smartphone. "Toque uma música melancólica", pede Theodore ao seu fone de ouvido, no elevador da empresa.

Um dia, Theodore vê o anúncio de um novo sistema operacional que, ao contrário das vozes impessoais no seu ouvido, promete ser consciente e inteligente. O manual parece uma bula de um antidepressivo leve, prometendo sanar todos os seus problemas. Ele instala o sistema e assim nasce "Samantha" (voz de Scarlett Johansson, de "Os Vingadores"), uma voz feminina bonita, divertida e engraçada, que ri das piadas de Theodore, organiza seus e-mails e, aos poucos, vai lhe fazendo companhia. Recém separado de um amor da infância, Catherine (Rooney Mara, de "Os Homens que não Amavam as Mulheres"), por quem ainda está apaixonado, Theodore se agarra à Samantha como a uma tábua de salvação. Não demora muito e "eles" estão apaixonados.

"Ela" é escrito e dirigido por Spike Jonze, que trabalhava no filme desde 2009, quando lançou "Onde Vivem os Monstros". O futuro imaginado por Jonze não está muito distante do presente, em que já se vêem pessoas "falando sozinhas" pelas ruas. Em uma sociedade aparentemente rica e sem problemas materiais, a solidão impera e homens e mulheres como Theodore navegam como fantasmas por um grande mundo virtual. Joaquim Phoenix compõe um personagem que é um retrato sensível do homem do século XXI, bem sucedido e "feliz" por fora, mas deprimido e solitário por dentro. As cenas de Theodore andando pelos corredores vazios do seu prédio, ou à janela olhando a cidade, lembram "Encontros e Desencontros" (2003), filme da ex-mulher de Spike Jonze, Sofia Coppola, também estrelado por Scarlett Johansson. Os dois têm o mesmo clima melancólico, quase depressivo, que caracteriza o novo milênio. (leia mais abaixo)


Curioso também que alguns personagens tenham o mesmo nome dos atores que os interpretam, como Amy Adams (bastante diferente do seu trabalho em "Trapaça") ou mesmo Samantha que, durante as filmagens, foi interpretada por Samantha Morton. Scarlett Johansson foi chamada para substituir Morton durante a edição do filme (que, segundo artigos, teve grande ajuda do diretor Steven Soderbergh). Fico curioso em ouvir a interpretação de Morton, mas Johansson faz um ótimo trabalho usando apenas a voz.

(ATENÇÃO: SPOILERS) O roteiro de Spike Jonze não segue o esperado, principalmente com relação a Samantha. O contato constante com Theodore faz com que ela comece a adquirir características cada vez mais humanas; o que começa como um amor inocente se torna cada vez mais complicado, principalmente quando Samantha começa a também "querer" coisas. Assim, o filme não é apenas a história de um homem solitário que se apaixona por um ser inanimado. Samantha não só se torna "humana" como, por causa da inteligência artificial, evolui rapidamente para algo que, no final, fica difícil definir o que é. Este arco da personagem, apesar de interessante, meio que contradiz a suposta mensagem humanizadora do filme. Há duas ótimas cenas em que Theodore se encontra com mulheres reais; a primeira em um encontro (que termina mal) com Olivia Wilde e uma ótima cena em que ele se encontra com a ex-esposa, Catherine. Rooney Mara está excelente no pouco tempo de filme e, ao saber que o ex-marido está "namorando" um sistema de computador, ela lhe diz umas verdades que, talvez, acabem se perdendo no desenrolar da trama.

É um filme que, desconfio, vá gerar tanto amor quanto ódio. Tem ideias muito interessantes espalhadas pela trama, mas muitos vão considerá-lo "bonitinho" demais. "Ela" está indicado a cinco Oscars, Melhor Filme, Roteiro, Trilha Sonora, Canção e Design de Produção. A ótima fotografia de Hoyte Van Hoytema, infelizmente, foi esquecida.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Terapia de Risco

Talvez o fato mais interessante relacionado a "Terapia de Risco" seja a declaração do diretor Steven Soderbergh de que este seria seu último filme no cinema. O versátil diretor de 50 anos, muito bem sucedido, vencedor de um Oscar (por "Traffic", em 2000),  estaria se aposentando da tela grande para se dedicar a outras atividades (como a pintura) ou a filmes feitos para a televisão. É bastante discutível se ele vai cumprir a promessa, ainda mais quando se leva em consideração o quanto Soderbergh é um aficionado por cinema; além de dirigir, ele geralmente também faz a fotografia e edição dos próprios filmes.

Quanto a "Terapia de Risco" (outro daqueles genéricos títulos brasileiros, o original é "Side Effects", efeitos colaterais), são dois filmes em um. A primeira parte se parece com um filme de denúncia nos moldes de trabalhos anteriores de Soderbergh (embora sem o mesmo empenho), como "Traffic" e "Erin Brockovich". O alvo seria a indústria farmacêutica, particularmente a "indústria da depressão". Antidepressivos são mencionados, trocados e consumidos como doces no mundo em que habitam Emily Taylor (a camaleônica Rooney Mara, de "Os Homens que não Amavam as Mulheres") e o psiquiatra Jonathan Banks (Jude Law, de "Anna Karenina"). Emily é uma frágil moça de 28 anos que sofre de depressão. Quando o filme começa, o marido de Emily, Martin (Channing Tatum), está sendo solto após quatro anos na prisão, mas sua liberação parece só agravar a depressão de Emily. Em uma manhã, ela entra no carro e tenta se matar ao bater diretamente em um muro de concreto. No hospital ela conhece o Dr. Banks, que se interessa pelo caso e começa a prescrever uma série de antidepressivos. Banks, interpretado com elegância por Jude Law, se preocupa com seus pacientes, o que não o impede de algumas atitudes questionáveis (mas aceitas pela comunidade médica) como aceitar 50 mil dólares de uma empresa farmacêutica para testar uma droga nova em seus pacientes. Um dos efeitos colaterais da droga administrada em Emily é o sonambulismo. Um dia, aparentemente dormindo e inconsciente, ela comete um crime.

É então que "Terapia de Risco" se transforma em outro filme. A trama sobre antidepressivos, efeitos colaterais e denúncias contra a indústria farmacêutica é colocada de lado e o roteiro se transforma em um filme policial. O resultado é bastante ambíguo. As questões éticas que estavam em discussão são trocadas por perguntas mais condizentes com o gênero do thriller policial. Emily estava consciente quando praticou o crime? Ele pode ser considerada responsável por seus atos? Ou será que tudo isso não passa de um esquema para enganar o Dr. Banks e a polícia? Há uma série de reviravoltas, descobertas, traições e problemas familiares, tudo filmado por Soderbergh com uma câmera discreta e bastante próxima do rosto dos atores, em um ritmo bem mais lento do que o sugerido pelo trailer abaixo. O resultado é um filme que, se não deixa de ser interessante, acaba pecando tanto como denúncia quanto como filme de suspense. 

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres

Não tendo lido os livros da série "Millenium", do sueco Stieg Larsson, esta crítica é baseada apenas na versão cinematográfica dirigida por David Fincher. Larsson era um jornalista que pesquisava sobre a extrema direita européia e o abuso sexual contra mulheres; morreu precocemente, aos 50 anos, de ataque cardíaco. Sua obra já foi traduzida para o cinema na Suécia, tendo Noomi Rapace (de "Sherlock Holmes: Um Jogo de Sombras") como a hacker Lisbeth Salander.

O americano David Fincher, que tem no currículo filmes como "Se7en" (1995) e "Clube da Luta" (1999), foi a escolha certa para fazer a versão em inglês da obra de Larsson. Como técnico, Fincher sempre foi extremamente competente; como artista, ele tem um gosto pelo bizarro e pelo lado obscuro do ser humano, qualidades que certamente serviram para contar esta história que trata de intrigas políticas, violência sexual e ecos do nazismo.

Mikael Blonkvist (Daniel Craig) é um jornalista da revista Millenium, especializada em coberturas políticas; uma reportagem contra um figurão o levou à condenação por calúnia e ele se encontra em dificuldades financeiras e com a credibilidade abalada. É então que ele é convidado por um rico industrial do norte da Suécia, Henrik Vanger (Christopher Plummer), a investigar um mistério do passado: a sobrinha preferida de Henrik, Harriet, havia desaparecido 40 anos antes durante uma reunião de família. Tudo indica que ela foi morta, mas nenhum corpo foi encontrado. Mikael, provavel alter-ego do escritor Stieg Larsson, mergulha em uma investigação que envolve a família Vanger, formada por irmãos que não se comunicam. Vários deles, na II Guerra Mundial, foram simpatizantes do nazismo.

Paralelamente, o roteiro acompanha a vida de uma hacker e investigadora particular chamada Lisbeth (Rooney Mara, excepcional). Ela fora responsável por investigar os antecedentes de Mikael para a família Vanger. Apesar de muito inteligente, Lisbeth é considerada antissocial pelo governo, que a mantém sob a tutela de várias famílias substitutas desde os 12 anos. O roteiro da versão americana foi escrito por Steve Zaillian, roteirista de filmes como "A Lista de Schindler" (1993) e "O Gângster" (2007), além de "O Homem que Mudou o Jogo", ainda inédito no Brasil, pelo qual foi indicado ao Oscar. Mesmo baseado em uma obra literária, o roteiro de Zaillian, aliado à direção de Fincher, é extremamente visual e detalhado. As duas tramas se juntam quando Lisbeth é recrutada por Mikael para ser sua assistente e os dois começam a desenterrar o passado, descobrindo uma série de crimes.

Fincher conduz o filme com muita competência, sem ter medo de mergulhar em cenas pesadas quando necessário (como na cena em que Lisbeth é abusada por um assistente social). A fotografia é de Jeff Cronenweth, com quem Fincher já trabalhou em "A Rede Social" (2010) e "Clube da Luta". Cronenweth leva a tecnologia das câmeras digitais RED ao limite, criando suspense com várias cenas escuras. A trilha de Trent Reznor e Atticus Ross, lamentavelmente, foi esquecida nas indicações ao Oscar, e também auxiliam no clima do filme. Daniel Craig, atual James Bond, está muito bem, mas Rooney Mara rouba todas as cenas. Ela foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz e, coberta de piercings e tatuagens, não lembra em nada seu pequeno papel em "A Rede Social", em que interpretava a namorada de Mark Zuckerberg. Ótimo filme.