segunda-feira, 20 de maio de 2013

Terapia de Risco

Talvez o fato mais interessante relacionado a "Terapia de Risco" seja a declaração do diretor Steven Soderbergh de que este seria seu último filme no cinema. O versátil diretor de 50 anos, muito bem sucedido, vencedor de um Oscar (por "Traffic", em 2000),  estaria se aposentando da tela grande para se dedicar a outras atividades (como a pintura) ou a filmes feitos para a televisão. É bastante discutível se ele vai cumprir a promessa, ainda mais quando se leva em consideração o quanto Soderbergh é um aficionado por cinema; além de dirigir, ele geralmente também faz a fotografia e edição dos próprios filmes.

Quanto a "Terapia de Risco" (outro daqueles genéricos títulos brasileiros, o original é "Side Effects", efeitos colaterais), são dois filmes em um. A primeira parte se parece com um filme de denúncia nos moldes de trabalhos anteriores de Soderbergh (embora sem o mesmo empenho), como "Traffic" e "Erin Brockovich". O alvo seria a indústria farmacêutica, particularmente a "indústria da depressão". Antidepressivos são mencionados, trocados e consumidos como doces no mundo em que habitam Emily Taylor (a camaleônica Rooney Mara, de "Os Homens que não Amavam as Mulheres") e o psiquiatra Jonathan Banks (Jude Law, de "Anna Karenina"). Emily é uma frágil moça de 28 anos que sofre de depressão. Quando o filme começa, o marido de Emily, Martin (Channing Tatum), está sendo solto após quatro anos na prisão, mas sua liberação parece só agravar a depressão de Emily. Em uma manhã, ela entra no carro e tenta se matar ao bater diretamente em um muro de concreto. No hospital ela conhece o Dr. Banks, que se interessa pelo caso e começa a prescrever uma série de antidepressivos. Banks, interpretado com elegância por Jude Law, se preocupa com seus pacientes, o que não o impede de algumas atitudes questionáveis (mas aceitas pela comunidade médica) como aceitar 50 mil dólares de uma empresa farmacêutica para testar uma droga nova em seus pacientes. Um dos efeitos colaterais da droga administrada em Emily é o sonambulismo. Um dia, aparentemente dormindo e inconsciente, ela comete um crime.

É então que "Terapia de Risco" se transforma em outro filme. A trama sobre antidepressivos, efeitos colaterais e denúncias contra a indústria farmacêutica é colocada de lado e o roteiro se transforma em um filme policial. O resultado é bastante ambíguo. As questões éticas que estavam em discussão são trocadas por perguntas mais condizentes com o gênero do thriller policial. Emily estava consciente quando praticou o crime? Ele pode ser considerada responsável por seus atos? Ou será que tudo isso não passa de um esquema para enganar o Dr. Banks e a polícia? Há uma série de reviravoltas, descobertas, traições e problemas familiares, tudo filmado por Soderbergh com uma câmera discreta e bastante próxima do rosto dos atores, em um ritmo bem mais lento do que o sugerido pelo trailer abaixo. O resultado é um filme que, se não deixa de ser interessante, acaba pecando tanto como denúncia quanto como filme de suspense. 

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