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sexta-feira, 23 de junho de 2023

Black Mirror, 6ª Temporada (2023)

Black Mirror, 6ª Temporada (2023). Criado por Charlie Brooker. Netflix. "Black Mirror" volta à Netflix para mais uma temporada, quatro anos após a última. São cinco episódios... e a série voltou um pouco diferente. Depois de uma pandemia, Donald Trump no poder e outras bizarrices, Charlie Brooker, o criador da série, havia falado até em parar com a série. Dos cinco episódios desta temporada, diria que apenas dois ("Joan is Awful" e "Beyond the Sea") mantém o mesmo estilo e temas que fizeram a série famosa (em geral, histórias envolvendo a extrapolação de alguma tecnologia existente hoje). Os outros tendem ao terror ou comédia. Esta temporada traz também uma empresa de streaming fictícia que se parece MUITO com a mesma Netflix em que a série é apresentada, e não é vista de forma elogiosa.

Episódio 1: "Joan is Awful". Dir: Ally Pankiw. Roteiro: Charlie Brooker. Um dos melhores (e mais legítimos) episódios da temporada, "Joan is Awful" conta a história de Joan (Annie Murphy), uma moça comum que um dia descobre que a vida dela está sendo transmitida por uma empresa de streaming chamada "Streamberry". A atriz Salma Hayek interpreta Joan no "episódio dentro do episódio", e a moça fica desesperada por ver sua vida e sua intimidade expostas ao público. "Eles não podem fazer isso!", ela grita para a advogada. "Podem sim, você aceitou quando assinou o serviço de assinatura", responde ela. No melhor estilo Black Mirror, o episódio explora a própria Netflix e tecnologias como Inteligência Artificial e Deepfake.

Episódio 2: "Loch Henry". Dir: Sam Miller. Roteiro: Charlie Brooker. Um rapaz escocês (Samuel Blenkin) volta para a pequena cidade natal com a namorada, Pia (Myha'la Herrold). Os dois trabalham com cinema e a namorada fica muito interessada em fazer uma série "true crime" sobre um psicopata que havia morado na região. Ele havia torturado e matado várias pessoas de modo brutal, o que afastou os turistas, deixando a cidade às moscas. O episódio explora o fenômeno dos documentários sobre crimes reais que existem aos montes na Netflix (novamente, representada pela "Streamberry"). O episódio é tenso e o final é brutal.

Episódio 3: "Beyond the Sea". Dir: John Crowley. Roteiro: Charlie Brooker. Estrelado por Aaron Paul, Josh Hartnett e Kate Mara, este episódio se passa em um 1969 alternativo, em que dois astronautas estão indo para o Espaço profundo em uma nave. Eles mantém contato com a Terra e suas famílias através de cópias robóticas idênticas. Só que a esposa e as filhas de Hartnett são brutalmente assassinadas por um grupo muito parecido com Charles Manson e seu bando. A cópia robótica de Hartnett é destruída e ele fica "preso" na nave, desesperado e perdendo o juízo. Em um ritmo lento, o episódio mostra como o personagem lida com a morte da família usando o corpo robótico de Aaron Paul para "visitar" a Terra e manter contato com outras pessoas. O roteiro tem alguns furos, mas este é, talvez, o melhor episódio da temporada. Kate Mara está ótima como um mulher que era negligenciada pelo marido mas, estranhamente, se ente atraída por ele quando o corpo está "possuído" pela mente de outro homem. O final poderia ter sido melhor.

Episódio 4: "Mazey Day". Dir: Uta Briesewitz. Roteiro: Charlie Brooker. Difícil falar do episódio sem revelar spoilers, mas este me pareceu baseado naqueles filmes de terror dos anos 1980. Zazie Beetz (da série "Atlanta" e de "Joker") é uma fotógrafa de celebridades que resolve deixar a profissão depois que uma foto dela causou o suicídio de um ator. Só que um colega lhe diz que estão oferecendo 30 mil dólares pela foto de uma atriz que estava desaparecida depois de uma filmagem na Europa. Como disse, não dá para revelar muita coisa além disso. O episódio discute a cultura das celebridades e a invasão da privacidade.

Episódio 5: "Demon 79". Dir: Toby Haynes. Roteiro: Charlie Brooker e Bisha K. Ali. Talvez o episódio mais fraco da temporada (junto com o quarto), a trama se passa em 1979, em Londres. Uma imigrante indiana, Nida (Anjana Vasan) trabalha em uma loja de sapatos. Ela está almoçando no porão da loja (porque a preconceituosa da companheira de trabalho não a suporta) quando ela encontra um "talismã" mágico em uma gaveta. Ao chegar em casa ela descobre que, sem querer, ela invocou um demônio que aparece encarnado na figura de um cantor pop (Paapa Essiedu). É uma mistura de comédia com terror. O demônio diz que ela tem que matar três pessoas, uma por dia, ou o mundo vai terminar em chamas.

A série está na Streamberry, ou melhor, Netflix. 

domingo, 21 de setembro de 2014

Transcendence

A foto de Johnny Depp ao lado o mostra, provavelmente, assistindo a este filme.

"Transcendence" marca a estréia na direção de Wally Pfister, competente diretor de fotografia conhecido principalmente por sua parceria com Christopher Nolan. É compreensível que a convivência com Nolan (que não faz nada pequeno) o tenha levado a arriscar seu primeiro longa metragem em um filme ambicioso e cheio de grandes ideias. O roteiro também foi escrito por um iniciante, Jack Paglen, o que só ajuda a explicar os problemas do filme.

As boas credenciais de Pfister conseguiram trazer um elenco de peso, composto quase todo por atores da "trupe" habitual de Nolan, como Morgan Freeman (da série "Batman"), Cillian Murphy (também de Batman e de "A Origem") e Rebecca Hall (de "O Grande Truque"). O britânico Paul Bettany está no lugar de Michael Caine e o papel de Johnny Depp, se fosse em um filme de Nolan, provavelmente seria interpretado por Christian Bale ou Hugh Jackman.

Johnny Depp interpreta Will Caster, um cientista que está desenvolvendo uma I.A. (Inteligência Artificial) que, se bem sucedida, poderia resolver os problemas da Humanidade. O caso é que um grupo de ativistas anti-tecnologia (chefiados por uma inexpressiva Kate Mara, de "House of Cards") realiza uma série de atentados em que diversos cientistas são mortos e Caster é envenenado por uma substância radioativa. A esposa de Caster, Evelyn (Rebecca Hall, o único sopro de humanidade em todo o filme), dedica as últimas semanas de vida do marido a fazer um "upload" das memórias dele para a Inteligência Artificial. (leia mais abaixo)


Há uma porção de boas ideias aqui. Seria possível transferir todo o conteúdo do cérebro de uma pessoa para um computador? Em caso positivo, este conjunto de memórias seria considerado um "ser vivo"? A personalidade seria mantida? Ela seria "humana"? Imortal? Estas questões são aludidas no filme de Pfister, mas de forma tão rasa que ficam enterradas sob uma trama absurda e incoerente. Fica patente a inexperiência do diretor em dar vida ao material, que é visualizado em belas, mas frias, imagens.

Johnny Depp está particularmente ruim. Seu cientista, enquanto humano, já não tinha muito a mostrar. Depp mantém uma expressão única por todo o filme e um tom de voz mais inexpressivo que o do tradutor do Google, e quando é transferido para o computador fica pior ainda. Rebecca Hall, Paul Bettany e mesmo Morgan Freeman tentam inserir um pouco de vida a personagens vazios e mal desenvolvidos. Cillian Murphy, coitado, anda pela tela sem saber direito o que está fazendo por lá.

E em quê, na verdade, se transformou Will Caster? O roteiro, indeciso, ora dá a entender que o "ser" que habita o computador se trata do mesmo homem que ele era em vida, ora mostra que se trata de outra consciência. Aparentemente, nem o roteirista sabe o que está acontecendo. 

"Transcendence", ao invés de levantar questões, gera dúvidas. Chega-se ao final da mesma forma com que se começou. Com nada.

sábado, 12 de abril de 2014

House of Cards (1ª e 2ª Temporadas)

"House of Cards" é pioneira de várias formas. Foi a primeira série produzida pelo canal Netflix (provedor de conteúdo na internet que cresceu a ponto de desafiar gigantes como a HBO). Foi também pioneira na forma de exibição; tanto a primeira temporada (em 2013) quanto a segunda (em 2014) foram tornadas disponíveis na íntegra para os assinantes da Netflix. A decisão, ousada, veio da constatação de que a maioria dos fãs de seriados gosta de fazer "maratonas" de episódios das suas séries preferidas, ao invés de esperar pela próxima semana. A série foi também criada de forma nova, a partir da análise dos hábitos dos assinantes da Netflix. O canal descobriu que o público alvo gostava do diretor David Fincher (de "A Rede Social", "Zodíaco", "Se7en") e do ator Kevin Spacey ("Se7en", "Os Suspeitos", "Beleza Americana"), e assim nasceu "House of Cards". A série é baseada em uma produção britânica e em um livro de Michael Dobbs. Kevin Spacey, além de atuar, é um dos produtores; em entrevista a Jon Stewart ele disse que a Netflix gostou tando da ideia que sequer pediu a produção de um episódio piloto, encomendando logo 26 episódios a serem divididos em duas temporadas.

ATENÇÃO SPOILERS, esteja avisado.

A série acompanha a jornada do congressista Frank Underwood (Kevin Spacey), um político tão ambicioso quanto traiçoeiro. A primeira cena de Underwood já mostra seu modo de ser, quando ele mata com as próprias mãos um cachorro que está agonizando na rua após ter sido atropelado. O que pode parecer um gesto nobre, na verdade, só mostra o lado cruel e pragmático de Frank. É também um prenúncio dos crimes que Underwood irá cometer durante a série (embora, a bem da verdade, este lado assassino demore a aparecer).

Esqueça o idealismo e patriotismo de "The West Wing" (1999-2006), série de Aaron Sorkin que também mostrava os bastidores da Casa Branca e da política americana. Em "House of Cards" ninguém é inocente. Há uma multidão de personagens, todos competindo por um pedaço do poder de Washington. Frank Underwood, em uma das melhores sacadas da série, frequentemente quebra a "quarta parede" e fala diretamente com o espectador, explicando suas motivações e nos transformando em cúmplices. Depois de algum tempo, Spacey apenas lança olhares significativos para a câmera, como que querendo dizer: "Eu não disse?".

A jornalista Zoe Barnes (Kate Mara)
A primeira temporada (2013) trata, além das maquinações de Underwood para subir aos altos escalões de Washington, de outras duas tramas: uma segue a carreira da jovem e ambiciosa repórter Zoe Barnes (Kate Mara, irmã de Rooney Mara, que trabalhou com David Fincher em "A Rede Social" e em "Os homens que não amavam as mulheres"). Barnes começa como estagiária em um jornal tradicional de Washington mas, aos poucos,  consegue atrair a atenção de Frank Underwood, que lhe vaza informações conforme sua conveniência. Em troca (repito, não estamos no mundo nobre de "The West Wing"), Zoe Barnes começa um relacionamento sexual com Underwood, um homem casado e com o dobro da idade dela.

Outra trama segue os passos de Pete Russo (Corey Stoll), um deputado democrata alcoólatra que cai na teia de Frank Underwood ao ser parado pela polícia de Washington. Russo estava bêbado e acompanhado de uma prostituta, mas é solto por influência de Underwood apenas para se tornar mais um peão nos jogos de Frank. Um dos pontos altos da primeira temporada (atenção, SPOILERS) é o "suicídio" de Pete Russo, engendrado por Frank Underwood. Com a morte de Russo, o vice presidente renuncia para concorrer ao governo da Pensilvânia, deixando livre o caminho para que Underwood se torne o vice presidente dos Estados Unidos da América.

A segunda temporada (2014) começa com um dos melhores episódios de toda série. Tão bom, na verdade, que o resto da temporada acaba empalidecendo em comparação. É neste episódio que acontece a morte mais surpreendente e inesperada de "House of Cards", quando Frank Underwood elimina Zoe Barnes em uma estação de metrô. A personagem de Kate Mara era aparentemente tão importante para a trama que o espectador jamais imaginaria que ela seria descartada de forma tão rápida e chocante. O problem é que, como dito anteriormente, a força do episódio é tão grande que o resto da temporada, que culmina com a chegada de Underwood à presidência da república, perde um pouco do brilho. A segunda temporada é marcada por embates entre Underwood e o único homem capaz de ficar (temporariamente) em seu caminho, o bilionário Raymond Tusk (o ótimo Gerald McRaney). Há episódios um tanto maçantes sobre disputas comerciais, subsídios para empresas de energia e uma crise crescente com a China. O presidente Garret Walker (Michael Gill) se mostra extremamente incompetente em lidar com todos estes problemas e se torna presa fácil para o plano elaborado por Underwood. Tudo culmina com um pedido de impeachment e uma ótima cena final, em que Frank entra no Salão Oval da Casa Branca como o 46º presidente dos Estados Unidos (sem ter recebido um único voto). É uma cena forte e com uma mensagem assustadora, embora um tanto exagerada, sobre as fragilidades da democracia.

Claire Underwood (Robin Wright)

Dois grandes parênteses devem ser feitos para os personagens de Claire Underwood (Robin Wright), a esposa de Frank, e seu capataz, Doug Stamper (Michael Kelly). Claire, interpretada com enganadora fragilidade e frieza por Robin Wright, é o porto seguro por trás de Frank. Conforme a série progride ficamos sabendo que, em vários aspectos, ela é tão ou mais perigosa quanto o marido. Ela tem consciência dos casos extra-conjugais de Frank e uma trama importante envolve o caso dela com um fotógrafo famoso. Na segunda temporada, grande parte da trama é dedicada a um estupro que ela sofreu na juventude, com repercussões no presente.

Já Doug Stamper é como um cão de guarda de Frank, responsável por orquestrar os bastidores e, geralmente, lavar a roupa suja deixada pelo chefe. Alcoólatra como Pete Russo, Stamper é frio, quieto e eficiente. Seu único ponto fraco é Rachel Posner (Rachel Brosnahan), a prostituta que estava com Russo quando ele foi preso. Stamper se sente atraído pela moça, mas não necessariamente de forma sexual. Como ela tem informações que podem causar a queda de Underwood, seria mais fácil se ela "desaparecesse" convenientemente, assim como Russo e Barnes. Mas Stamper prefere protegê-la, ao mesmo tempo em que mantém um perigoso jogo de poder com ela. A interpretação de Michael Kelly é soberba e Stamper é um dos personagens mais interessantes da série.

Uma terceira temporada de "House of Cards" já foi anunciada pela Netflix, com estréia para 2015. Resta saber se os produtores e elenco vão conseguir manter o alto nível conseguido até aqui.



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