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segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Trem noturno para Lisboa

Raimond Gregorius (Jeremy Irons, de "Margin Call") é um professor suíço que salva a vida de uma garota em Berna, quando ela ia pular de uma ponte. A moça desaparece e deixa para trás um livro intitulado "Ourives das Palavras", de um médico português chamado Amadeu de Prado. Dentro do livro, Gregorius encontra uma passagem de trem para Lisboa e, em um impulso, vai para a estação e toma o trem; começa, assim, sua aventura em busca da moça que lhe deixou o livro e sobre o autor.

"Trem noturno para Lisboa" é dirigido por Bille August, que já havia trabalhado com Jeremy Irons em "A Casa dos Espíritos", de 1993. O roteiro (adaptado por Greg Latter e Ulrich Herrmann) é baseado no best seller do suíço Pascal Mercier (lançado em 2004). O filme tem um ritmo lento e segue a estrutura clássica de um thriller de mistério, ainda que Gregorius não saiba exatamente o que está procurando. Desconheço o tom do livro, mas o filme se aproxima perigosamente a cair em um daqueles textos de auto-ajuda, cheios de boas intenções mas um tanto superficiais. Gregorius fica fascinado com as palavras de Amadeu de Prado e, logo ao chegar em Lisboa, entra em contato com as pessoas que o conheceram em vida, como a misteriosa irmã Adriana (Charlotte Rampling) ou amigos como João Eça (Tom Courtenay), da época em que Prado havia lutado contra a ditadura de António de Oliveira Salazar. O filme, bem editado por Hansjörg Weißbrich, costura longos flashbacks dos anos 1970, durante a ditadura, com sequências no presente, seguindo Jeremy Irons enquanto ele tenta reconstruir a vida de Amadeu de Prado (Jack Huston).


Há uma licença poética que pode confundir um pouco o espectador, que não vai conseguir entender em que língua os personagens estão falando. Todos, independente da nacionalidade, conversam entre si em inglês fluente. O fato de Gregorius ser interpretado por Jeremy Irons, com seu inglês britânico impecável, nos faz pensar que ele é um professor inglês que trabalha na Suíça. A coisa fica mais complicada em Portugal, já que os portugueses também se comunicam em inglês, mesmo nos flashbacks dos anos 1970, o que não faz nenhum sentido. Isso só se explica pelo fato do filme ser uma co-produção internacional, feita para o mercado mundial. O elenco, além de Jeremy Irons, tem grandes nomes como Mélanie Laurent (Truque de Mestre), August Diehl, Lena Olin e até uma participação de Christopher Lee (com 91 anos). A direção de fotografia de Filip Zumbrunn valoriza a luz de Lisboa e, nesta época de blockbusters de super heróis sendo lançados semanalmente, não deixa de ser um alívio ver um filme habitado por pessoas de carne e osso, andando por ruas de verdade, e não em cenários criados em computação gráfica. Em cartaz no Topázio Cinemas, em Campinas.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret

Mais de um crítico já notou uma curiosidade sobre os dois filmes com mais indicações ao Oscar neste ano: além de serem, ambos, declarações de amor ao cinema, um é um filme de um diretor francês que homenageia o cinema americano ("O Artista"), enquanto o outro é uma declaração de amor de um americano aos pioneiros do cinema francês. No caso, um dos maiores diretores do cinema americano, Martin Scorsese, e seu mais recente filme, "A Invenção de Hugo Cabret". O celebrado diretor de filmes como "Taxi Driver" e "Os Bons Companheiros" resolveu investir em um gênero inédito em sua carreira, o filme infantil. Ao receber o Globo de Ouro pelo trabalho, Scorsese agradeceu à esposa por ter lhe pedido que fizesse um filme que, finalmente, os filhos pudessem assistir.

Ele conta a história de Hugo Cabret (Asa Butterfield), um garoto que, após a morte do pai (Jude Law), vai morar com o tio alcoólatra na estação de trem de Paris, onde mantém todos os relógios funcionando. Feito em 3D e repleto de cenas de efeitos especiais, o filme não se parece em nada com "um filme de Martin Scorsese", o que não é necessariamente ruim, mas é possível perceber a falta de habilidade do diretor em lidar com uma tecnologia e um assunto que não domina. Steven Spielberg, que também estreou no cinema 3D este ano com "Tintim", talvez fosse um nome mais apropriado para contar a história do órfão Hugo.

Mas há um outro lado no filme que é muito caro a Scorsese, que é a história do Cinema. Baseado no livro de Bryan Selznick, o roteiro de John Logan ("Gladiador", "O Aviador") é também uma homenagem ao primeiro diretor de cinema a descobrir o potencial lúdico da nova arte que, como disse o crítico Luis Carlos Merten em seu livro "Cinema, entre a Arte e o Artifício", é a única que tem data de nascimento: 28 de dezembro de 1885, em Paris, quando os irmãos Lumiére realizaram a primeira sessão de cinema. Um mágico que estava na platéia se chamava George Méliès e, encantado com a nova tecnologia, se tornou um dos primeiros cineastas e contou histórias maravilhosas sobre sereias, aventureiros e, em 1902, fez a obra prima "Viagem à Lua". Méliès usou de sua formação como mágico para ser também um dos pioneiros dos efeitos especiais, realizando truques na própria câmera através de dupla exposição do filme.

Pois bem, tudo isso é citado em "A Invenção de Hugo Cabret", mas talvez o filme fosse mais interessante se focasse apenas na extraordinária história real de Méliès. No filme, George Méliès (Ben Kingsley) é um senhor que tem uma loja de brinquedos na estação de trem de Paris. Hugo, o órfão, mora escondido na estação e tem um segredo: está montando um homem mecânico que o pai encontrou quebrado em um museu. Para isso o garoto rouba peças da loja de brinquedos até que é descoberto pelo velho George, que o faz trabalhar para pagar suas dívidas. Hugo faz amizade com a filha adotiva de George, Isabelle (Chloë Grace Moretz), uma garota apaixonada por livros, e os dois descobrem, aos poucos, a história do velho e sua importância para o cinema. Há vários personagens secundários, o principal deles interpretado por Sacha Baron Cohen (de "Borat"), que faz o Inspetor, um vigia da estação que prende e envia crianças para o orfanato. O veterano Christopher Lee interpreta o dono de uma loja de livros e ajuda os garotos a pesquisar sobre a história do cinema. Há cenas muito bem elaboradas por Scorsese e o 3D é bem usado principalmente quando ele mostra o maquinismo dos relógios mantidos por Hugo. Em outros, porém, o uso do artifício é questionável. Os próprios filmes de Méliès, quando projetados, estão em três dimensões, o que não só não faz sentido como chega a ser uma adulteração das obras originais; algo estranho vindo de Scorsese, que tanto prega pela preservação da memória do cinema. Falta ao filme a inventividade e a engenhosidade mostradas em "O Artista", por exemplo, mas "A Invenção de Hugo Cabret" pode servir de porta de entrada, para adultos e crianças, no fantástico mundo dos filmes de George Méliès.