domingo, 2 de setembro de 2012

Margin Call - O dia antes do fim

"É só dinheiro", diz o chefão de uma grande empresa financeira em Wall Street. "São pedaços de papel com figuras que nos impedem de ter que brigar por comida". A principal força por trás de "Margin Call", além do fantástico elenco, é o quão claro ele mostra como as grandes transações do mercado financeiro são, no fundo, um grande jogo de adivinhações e atribuir valor a algo que, na verdade, talvez nem exista.

O filme, escrito e dirigido por J. C. Chandor, mostra 24 horas na vida de um grupo de funcionários de uma empresa de Wall Street. As 24 horas que antecederam o grande crash de 2008, quando a bolha do mercado imobiliário americano, há meses inflada artificialmente por especuladores, finalmente estourou. É um grande filme, dirigido em um estilo que lembra o que Michael Mann usou em "O Informante" e filmes similares. O elenco de peso inclui Paul Bettany, Zachary Quinto, Kevin Spacey, Jeremy Irons, Demi Moore, Stanley Tucci, entre outros. É o personagem de Tucci, Eric Dale, um analista de riscos, que descobre que há um problema com as contas. Ele não consegue soar o alarme pois, na véspera do crash, ele e vários outros funcionários são demitidos em um corte de gastos. Por razões de segurança, ele tem seu e-mail e celular cortados e, após 19 anos de trabalho, é escoltado por um segurança até o elevador. Pouco antes de sair, no entanto, ele entrega um pendrive a um jovem chamado Peter Sullivan (Zachary Quinto, o Sr. Spock da nova Jornada nas Estrelas). "Cuidado", diz ele. Sullivan, apesar da pouca idade, é um doutor em engenharia aeroespacial que foi atraído pelo dinheiro de Wall Street. Ele consegue deduzir pelas anotações de Dale que a empresa vem trabalhando com números superfaturados há semanas. Lentamente, o filme mostra como  o pânico começa a se espalhar pelos corredores da firma, enquanto a informação vai chegando a níveis hierárquicos superiores. A notícia chega aos ouvidos do chefão da empresa, John Tuld (Jeremy Irons), que vem de helicóptero, no meio da madrugada, intervir. (mais abaixo)


O roteirista/diretor consegue realizar a difícil tarefa de transmitir o que está acontecendo mesmo para quem ignora o jargão financeiro. O filme se passa quase todo durante a noite, enquanto o resto do mundo dorme, um paralelo com a situação de Wall Street em 2008, aparentemente rica, mas a ponto de desabar. Jeremy Irons, com seu modo britânico sofisticado, mostra com que frieza se pode salvar a própria pele vendendo milhões de ações que, no fundo, não valem nada. O personagem de Kevin Spacey é um dos únicos que mostra alguma indignação moral frente ao esquema proposto pelo chefe, não que isso o impeça de fazer o trabalho. Zachary Quinto, o analista, lida apenas com números, independente do que eles vão significar para as pessoas "comuns". Stanley Tucci tem um bom monólogo em que lembra da época em que, engenheiro civil, construiu uma ponte que encurtou em dezenas de quilômetros a distância percorrida pelos motoristas. Hoje, enquanto o mercado desaba à volta dos personagens, todos recolhem seus bônus e continuam com seu trabalho. Filme disponível em DVD. PS: Para uma visão mais técnica do que foi a crise de 2008, veja o documentário "Trabalho Interno".

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