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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Anna Karenina

Um clássico russo de Leon Tolstoy, figurinos requintados, recriação de época, muito drama; como fazer para tornar esta história algo mais do que "mais um" filme histórico? A solução encontrada pelo diretor Joe Wright foi bem engenhosa e visualmente interessante. Ele e Keira Knightley já trabalharam juntos antes em adaptações de clássicos da literatura como "Orgulho e Preconceito" (2005) e "Desejo e Reparação"  (2007), mas nenhum destes filmes tinha o requinte empregado na produção do drama de Tolstoy.

Grande parte do filme se passa dentro de um teatro, e o espectador pode ver as mudanças de cenários, iluminação, etc, enquanto os personagens vivem alheios às amarras da sociedade. A metáfora é óbvia, mas não menos interessante: a alta sociedade russa do final do século 19 segue regras de comportamento como atores interpretam um roteiro pré-estabelecido. A bela Anna Karenina (Keira Knightley) sai de São Petesburgo, onde é bem casada e tem um filho de 8 anos, e vai à Moscou tentar convencer a cunhada Dolly (Kelly Macdonald) a perdoar as infidelidades do marido, o Sr. Oblonsky (Matthew Macfadyen, muito divertido). Logo ao chegar a Moscou, no entanto, Anna vai ter a própria fidelidade testada ao conhecer o jovem Conde Vronsky (Aaron Taylor-Johnson, de "Selvagens"); há uma sequência muito bem feita passada em um baile em que Vronsky, que estava prometido para a princesa Kitty (Alicia Vikander, de "O Amante da Rainha"), seduz Karenina e os dois dançam a noite toda, diante dos olhos escandalizados da elite russa. O romance é arrebatador e tão inevitável quanto "errado". Anna é casada com um político importante (Jude Law, bastante sóbrio) que lhe é 20 anos mais velho e avesso a escândalos. Quando Anna confessa o romance ao marido, ele tenta negociar; ela deve terminar tudo, ou então vai perder o lugar na sociedade, cair em desgraça e, ainda por cima, perder o filho. Claro que ela promete, e não cumpre, pagando um preço caro por suas decisões.

Há ainda um outro personagem, Konstantin Levin (Domhnall Gleeson), que representa o lado mais "social" do texto de Tolstoy. Ele é apaixonado pela princesa Kitty mas não consegue viver dentro das regras de Moscou. Ele é dono de uma pequena fazenda no interior, onde arregaça as mangas e trabalha junto dos próprios empregados na colheita. As cenas protagonizadas por Konstantin, seguindo a metáfora visual criada pelo filme, são passadas fora do "teatro", em cenários reais nas paisagens da Rússia. Também as cenas de romance entre Anna e Vronsky são mostradas ao ar livre, como se seu romance estivesse longe do alcance das regras da sociedade. O roteiro foi adaptado pelo conceituado dramaturgo Tom Stoppard (que ganhou o Oscar por "Shakespeare Apaixonado") e "Anna Karenina" tem ótima direção de fotografia (de Seamus McGarvey) e o figurino de Jacqueline Durran foi premiado no último Oscar. Visto no Topázio Cinemas, Campinas.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Os Infiéis

Um desperdício de talento generalizado pode ser visto neste "Os Infiéis", estrelado pelo astro de "O Artista", Jean Dujardin, e por Gilles Lellouche. Os dois interpretam amigos de meia idade, maduros, bem-sucedidos financeiramente, casados e com filhos, mas com um "vício" incontrolável, a infidelidade. Em uma série de episódios curtos, Dujardin e Lellouche batem na mesma tecla machista e anacrônica de que os homens foram feitos para "procriar e copular" (frase do filme) e que as esposas devem se manter fiéis donas de casa. Tem-se a sensação de se estar assistindo a um "E ai, comeu?" falado em francês, mas ainda pior.

Os episódios são dirigidos por oito diretores diferentes, inclusive pela dupla principal de atores. O filme abre e fecha com a história de Fred e Gregg, dois amigos de Paris que fazem tudo juntos, inclusive transar no mesmo quarto com garotas que "pegaram" na balada. Os dois enganam as esposas e vão para mais uma série de orgias em Las Vegas, onde a amizade deles se transforma em outra das piadas sem graça do filme. O diretor de "O Artista", Michel Hazanavicious, dirige Dujardin em um episódio em que ele tenta, sem sucesso, transar com alguém em um hotel, durante uma conferência. Eric Lartigau dirige Gilles Lellouche na história de um dentista que trai a esposa com uma adolescente muitos anos mais nova (e paga o preço por isso). Há também episódios que são apenas "cenas" curtas, uma envolvendo um homem que vai parar no hospital "atracado" com uma mulher e outra que mostra uma cena de sadomasoquismo que termina mal.

Há apenas dois episódios, um dramático e outro cômico, que têm algum mérito. Na história dirigida por Emmanuelle Bercot, uma esposa (Alexandra Lamy), com a pulga atrás da orelha, começa uma daquelas conversas aparentemente leves e divertidas com o marido, provocando-o a contar se teve algum caso extra-conjugal. O marido (Dujardin) sabe que aquilo não vai terminar bem e tenta fugir do assunto o máximo que pode. Quando a verdade (tanto do marido quanto da esposa) acaba vindo à tona , os ânimos se alteram e é o momento mais dramático do filme. É o único momento em que o assunto "infidelidade" é tratado com certa seriedade e realismo. O outro episódio digno de nota mostra uma reunião dos "infiéis anônimos", em que vários maridos pegos em flagrante estão em uma sessão de terapia coletiva conduzida por uma mulher (a ótima Sandrine Kiberlain, de "As Mulheres do Sexto Andar", "Mademoiselle Chambon", etc). Dirigido por Alexandre Courtès, o episódio é divertido, bem escrito e o melhor resolvido. O resto, infelizmente, não passa de uma série de generalizações simplistas sobre homens, mulheres e a infidelidade. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Partir

"Partir" não é exatamente uma história de amor. É mais sobre a violência da tentativa de mudança, principalmente quando ela é inesperada, não planejada. Suzanne (a ótima Kristin Scott Thomas) é uma mulher aparentemente bem casada, com dois filhos adolescentes, que mora do sul da França. Fisioterapeuta, ela resolve voltar a trabalhar e o marido devotado (um médico muito bem sucedido) constrói para ela um consultório particular.

Acontece que Suzanne acaba conhecendo Ivan (Sergi Lopes), um pedreiro espanhol , e uma paixão avassaladora acontece entre os dois. As cenas de sexo do filme lhe renderam uma censura de 18 anos, embora não seja nada de pornográfico. Suzanne, descontrolada pela paixão, acaba contando tudo para o marido que, obviamente, não fica feliz com a situação. Ela até lhe promete terminar tudo, e ele a aceita de volta, mas a atração por Ivan é mais forte e ela volta a procurá-lo. O que acontece a seguir pode ser descrito como uma sucessão de exageros da parte de todos os envolvidos e, a bem da verdade, o filme se transforma rapidamente em uma tragédia que me pareceu um pouco forçada. Suzanne parece possuída por uma força maior do que qualquer razão e provoca no marido um misto de descrença, desespero e por fim sentimento de posse e orgulho ferido. Ela abandona o lar e chega a passar dias de sonho com Ivan e com a filha pequena dele na Espanha, mas então descobre que o marido não vai lhe facilitar a vida de forma alguma. Influente, ele até consegue fazer com que Ivan perca seu emprego em obras da prefeitura. Já Suzanne não tem melhor sorte como fisioterapeuta autônoma, e fica tentando desesperadamente receber sua parte do divórcio.

Fica difícil ter empatia com qualquer dos personagens. Podemos entender tanto a paixão de Suzanne quanto o sentimento de traição do marido, mas as ações de ambos são o caminho certo para que nada termine bem. "Partir" foi escrito e dirigido por Catherine Corsini, e deixa um gosto amargo na boca do espectador.


Trailer contém SPOILERS, esteja avisado