quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

AVATAR

Avatar não é um filme comum. É uma experiência sensorial. Como tal, é de tal forma rica em detalhes, cores, movimentos de câmera e profundidade tridimensional que o espectador se sente diante de um novo tipo de espetáculo. É uma animação? É "live-action"? Como já foi devidamente explorado e divulgado massivamente pela máquina de marketing hollywoodiana, Avatar é o novo filme de James Cameron, o primeiro depois de doze anos longe das telas. Sendo que o anterior foi um filme que, antes de ser lançado, também gerou ansiedade entre os espectadores e preocupação entre os estúdios. "Titanic" tinha tudo para ter sido, com o perdão do trocadilho, uma "canoa furada", mas a grandiosidade do espetáculo criado por Cameron fez do naufrágio mais famoso da História o filme de maior bilheteria de todos os tempos e levou 11 Oscars. No discurso de agradecimento, quando Cameron usou uma frase de Titanic ("Eu sou o rei do mundo!"), muita gente o considerou um diretor magelomaníaco e arrogante. É possível, mas não há dúvidas de que ele é competente.

Avatar custou entre 250 e 350 milhões de dólares, e o resultado realmente está na tela. Cameron levou anos experimentando com novas tecnologias de cinema 3D e se juntou à empresa de efeitos especiais WETA (de Peter Jackson), a mesma que fez de Gollun o personagem em computação gráfica mais real de todos os tempos. O roteiro, do próprio Cameron, lembra muito um de seus filmes menos vistos, "O Segredo do Abismo" (1989), que mostrava como um grupo de humanos em uma fossa abissal no fundo do oceano entrava em contato com seres de outro planeta. Foi naquele filme, aliás, que Cameron revolucionou em uma cena curta de computação gráfica, quando um pseudópodo marinho passeava por dentro da base humana. Avatar se passa em um planeta chamado Pandora, onde os seres humanos estão explorando o solo atrás de um minério raro. O problema é que o povo original do planeta, os Na´vi, estão causando problemas aos humanos com seus costumes "selvagens" e seu apego à natureza. Para melhorar a diplomacia entre os humanos e os Na´vi, foram desenvolvidos "avatares", que são corpos geneticamente criados para serem idênticos aos Na´vi, só que "habitados" por humanos, que os controlam mentalmente. Um destes humanos é o fuzileiro americano Jake Sully (Sam Worthington), que ficou paraplégico na guerra e que, ao se tornar um Avatar, pode experimentar a sensação de andar de novo. Após um acidente, Jake acaba sendo acolhido pelos Na'vi e tenta aprender a viver como um deles.

A trama segue a linha de vários outros filmes do gênero "um estranho no ninho", em que alguém de fora tem que aprender os costumes de um povo para se enturmar e, no processo, acaba se tornando um deles. Filmes como "Lawrence da Arábia", "Dança com Lobos" ou "O Último Samurai". A diferença é que Jake não está dividido apenas mentalmente entre seu lado humano e Na´vi, mas também fisicamente. Ele literalmente está em dois lugares ao mesmo tempo, seu corpo Na´vi na floresta enquanto o humano está na câmera de controle, mais ou menos como acontecia com os personagens de Matrix. Mas as "regras do jogo" não são muito claras. Se algo acontecer ao corpo Na´vi de Jake, ele também sofre como humano? Se ele não corre perigo de morrer realmente, quando é um Na´vi, por que ele lutaria tanto por sua vida? Quando e como, exatamente, se dá a mudança de um para o outro? Em alguns momentos, a confusão atrapalha um pouco o roteiro, e a separação entre o mundo humano (duro, realista) e Na´vi (colorido, animado) dá uma sensação de realidade versus sonho que, desconfio, não era a intenção de Cameron.

Muito se tem criticado o roteiro por ser piegas demais, até mesmo brega, e ecologicamente correto. De fato, alguns momentos são excessivamente "new age" para um filme de fantasia/ficção científica. Por outro lado, a experiência de ver o filme, principalmente em 3D, é tão avassaladora, que é complicado criticar o filme por causa destes detalhes. Há um "jogo" muito inteligente acontecendo dentro e fora da tela. Considere o fato de que os próprios atores, em frente a grandes telas verdes e cercados por scanners digitais por todos os lados, tinham que "vestir" seus "avatares" virtuais para poder interpretar seus personagens. O processo chamado de "performance capture" permite que computadores capturem as expressões e os movimentos dos atores para transformá-los em personagens digitais, na tela. O "jogo" também inclui a própria platéia, que precisa vestir óculos especiais para poder acompanhar o filme em 3D. Assim, há uma curiosa simbiose entre o real e o imaginário acontecendo durante todo o processo tanto de criação quanto de assistir a este filme. Não chega a ser "revolucionário" como a fábrica de marketing está vendendo, mas sem dúvida assistir a Avatar é algo que mexe, ou deveria mexer, com qualquer pessoa interessada no mundo audiovisual.


Um comentário:

Helvecio disse...

Comentei no meu blog sobre o novo marco na história dos efeitos especiais:

http://blogdoheu.wordpress.com/2009/12/26/avatar/

Valheu! E feliz 2010!