sábado, 13 de abril de 2013

Auto Focus (2002)

Como se chama um homem viciado em sexo? "Homem", ora bolas. Mas Bob Crane levava a coisa um pouco a sério demais. Dependente de atenção, sexo e tendo apenas o grande carisma para mantê-lo, Crane aproveitou enquanto pode a fama do seriado "Hogan´s Heroes" (chamado aqui de "Guerra, Sombra e Água Fresca"), antes de se autodestruir. A vida de Crane foi levada ao cinema pelo lendário Paul Schrader, que também teve sua dose de fama e quase autodestruição.

É fácil perceber o que atraiu Schrader ao projeto. Ele foi roteirista de "Taxi Driver" (1976) e "Touro Indomável" (1980), de Martin Scorsese, e escreveu e dirigiu filmes como "Gigolô Americano" (1980) e "Mishima: Uma Vida em Quatro Tempos". Todos têm em comum um personagem obcecado por atenção e uma vida sexual "complicada", para dizer o mínimo.

Bob Crane (Greg Kinnear, muito bem) era locutor de rádio, exímio baterista e tinha um carisma enorme; por falta de sorte, nunca havia tirado a sorte grande nas telas do cinema, onde queria ser o "novo Jack Lemmon", como diz para seu agente em uma cena. A televisão é a melhor alternativa e ele conseguiu o papel principal em uma comédia controversa chamada "Guerra, Sombra e Água Fresca", que se passava dentro de um campo de prisioneiros nazista. A ideia, a princípio, fez muita gente torcer o nariz, mas a série era realmente engraçada e fazia uma paródia com filmes clássicos de prisioneiros como "Stalag 17" (Billy Wilder, 1953) e "Fugindo do Inferno" (John Sturges, 1963).

A vida de Crane mudou quando conheceu John Carpenter (Willem Dafoe), um técnico que trabalhava para a Sony vendendo rudimentares câmeras de vídeo e frequentador assíduo de casas de strip e swing. Carpenter (que não tem nada a ver com o diretor de cinema John Carpenter) levou Crane para este mundo de sexo fácil, orgias e drogas. O carisma de Crane e o sucesso na televisão atraiam mulheres todas as noites, com quem ele não só transava mas, fascinado com a tecnologia do videotape, gravava para assistir depois. Este comportamento destruiu seu primeiro casamento (aparentemente comportado e católico), seu segundo casamento e, finalmente, com a própria vida. Crane foi encontrado morto, com a cabeça esmagada, em 1978. John Carpenter, seu "melhor amigo", é considerado o maior suspeito, mas nunca foi preso por isso.

O filme de Schrader tem ótima reconstituição de época (as cenas da série são idênticas às originais) e bom elenco, mas não tem a mesma qualidade de trabalhos anteriores do diretor. Há um ar de "telefilme" que permeia toda a produção, apesar da ousadia das diversas cenas de sexo, nudez e violência. Vale como um retrato do submundo de Hollywood no final dos anos 60 e 70. Disponível em DVD.

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