sexta-feira, 16 de março de 2012

Shame

Brandon Sullivan (Michael Fassbender) é um homem bem sucedido, bonito, bem empregado, que gosta de música clássica e mora em um bom apartamento em Nova York. Com estas qualidades, não lhe é difícil conquistar mulheres, que flertam com ele no metrô, no escritório ou nas baladas. Sua vida social, no entanto, está longe da ideal. Brandon é incapaz de sentimentos que não sejam carnais; seu computador, mesmo no trabalho, está cheio de vídeos pornográficos. Ao chegar em casa, assiste com desinteresse a mais vídeos na internet, farta deste tipo de oferta. Faz sexo com frequência, mas as parceiras são prostitutas ou mulheres que "pega" nas baladas, também desinteressadas em um relacionamento genuíno.

"Shame" é um retrato frio e impiedoso da sociedade do prazer. Sexo pode ser conseguido de forma tão fácil que só se torna interessante quando carrega uma grande dose de perversão ou exibicionismo. A busca pelo prazer físico se transforma em um verdadeiro culto ao orgasmo, que, como uma droga, perde o efeito rápido e precisa ser alcançado novamente o mais breve possível. O alemão Michael Fassbender (de "Bastardos Inglórios", "X-Men - Primeira Classe") se entrega a um papel arriscado e se expõe tanto física (há várias cenas em que aparece em nu frontal) quanto emocionalmente, e sua ausência nas indicações ao Oscar foi muito comentada. Brandon é um personagem tão frio e de pouca empatia com o público quanto o filme. Carey Mulligan (do ótimo "Drive") também aparece repaginada; frequentemente nua e desbocada, ela está distante dos papéis de "menininha" que costuma interpretar. Ela é Sissy, uma cantora que é irmã de Brandon e que aparece em seu apartamento sem avisar. A relação entre os dois é tão complicada quanto tudo que envolve Brandon. Há, ao mesmo tempo, tanta intimidade física (fica difícil vê-los como irmãos) quanto distância emocional. A couraça de Brandon é arranhada em apenas uma cena, quando a irmã canta uma versão lenta de "New York, New York" em um clube noturno. 

O diretor britânico Steve McQueen (nehuma relação com o famoso ator) usa de longos planos para criar tensão em algumas cenas importantes. Quando Brandon sai para jantar com uma colega do escritório, a cena é toda filmada em um único plano estático que se fecha lentamente sobre o casal, revelando o nervosismo dele com uma situação rara: ele tem sentimentos por esta moça. Quando os dois vão para a cama, novamente a câmera se mantém sem cortes por vários minutos, enquanto Brandon vai ficando cada vez mais desconfortável com as intimidades da garota. Nas cenas de sexo causal, no entanto, a edição se torna rápida e sufocante, e a câmera não tem pudores ao mostrar os corpos nus em cena. O que não significa, no entanto, que o filme tenha intenções pornográficas. O sexo em "Shame" não é excitante, muito pelo contrário. A expressão no rosto de Fassbender enquanto transa não é de deleite, mas de desespero. O filme recebeu a classificação NC-17 nos Estados Unidos, associada geralmente a filmes pornográficos (e que custam milhares de dólares à bilheteria) e censura 16 anos no Brasil. "Shame" incomoda ao por o dedo na ferida da sociedade do consumismo desenfreado. Obra difícil, mas fascinante. Visto como cortesia no Kinoplex Campinas.

Câmera Escura

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