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terça-feira, 9 de outubro de 2012

Selvagens

O diretor Oliver Stone volta à boa forma com este filme cínico e violento. Stone tem uma carreira com altos e baixos, quase sempre marcada pela polêmica. Fez um dos filmes mais realistas sobre a Guerra do Vietnã, "Platoon" (1986), expôs a cobiça do capitalismo em "Wall Street" (1987), apresentou sua versão sobre o  assassinato do Presidente Kennedy em "JFK" (1991), contou a vida do poeta do rock, Jim Morrison, em "The Doors" (1991), narrou a vida dos presidentes "Nixon" (1995) e George W. Bush em "W." (2008), e assim por diante. Depois do fracasso retumbante com o épico "Alexandre" (2004), fez o comportado "As Torres Gêmeas" (2006) e uma continuação para "Wall Street" em 2010.

"Selvagens" é narrado do ponto de vista de O. (Blake Lively), abreviação de Ofélia, uma "patricinha" loira da Califórnia que é namorada de dois traficantes modernos. Chon (Taylor Kitsch) é um ex-combatente das guerras do Iraque e Afeganistão que trouxe do oriente as sementes para um tipo especial de maconha, cultivada e melhorada por Ben (Aaron Johnson), um "neo hippie" formado em botânica. Os dois são discretos, eficientes e produzem a melhor erva da Califórnia, ganhando milhões de dólares e dividindo o tempo entre surfar, transar com O. ou, no caso de Ben, fazer viagens humanitárias para a África ou Indonésia. Tudo vai bem até que um cartel mexicano resolve entrar no negócio de Ben e Chon e lhes envia vídeos mostrando como eles lidam com os inimigos, degolados por serras elétricas. Chon, o ex-soldado, é partidário de uma resposta à altura; Ben, o humanitário, acha que eles podem chegar a um acordo. Quando eles resolvem fugir para a Indonésia com O., ela é sequestrada pelo cartel, que começa a fazer uma série de exigências. Começa então uma guerra entre o cartel mexicano, liderado por Elena (Salma Hayek) e os dois americanos.

O roteiro, de Oliver Stone, Don Winslow e Shane Salerno, é por vezes atrapalhado pela narração  redundante de O. Tirando este detalhe, ele tem boas sacadas. A personagem de Salma Hayek é uma das mais interessantes; ela tem uma filha na Califórnia que se recusa a falar com ela, e quando O. é sequestrada e mantida em cativeiro surge uma ligação afetiva entre a rainha do crime e a patricinha americana. John Travolta, em um papel diferente do habitual, faz um agente federal corrupto cuja lealdade varia entre Ben e Chon e o primeiro tenente de Elena, um capanga chamado Lado (Benicio Del Toro, apropriadamente asqueroso). Emile Hirsch interpreta um hacker responsável pela lavagem de dinheiro dos traficantes, e há um grande número de bons coadjuvantes. O filme é bastante violento e Oliver Stone usa a trama para cutucar o modo de vida americano. Stone inclusive brinca com os clichês do gênero em um final que, dependendo como se olha, pode significar algo completamente diferente. É discutível se uma dupla de traficantes como Ben e Chon seria tão "nobre" a ponto de arriscar tudo pela vida da namorada em comum, e o filme por vezes esbarra no melodrama. Como é típico de Oliver Stone, a dose de exagero é alta, mas é visível o talento do diretor. Visto no Kinoplex Campinas.

Câmera Escura

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Milk - A Voz da Igualdade

Indicado ao Oscar de Melhor Filme e vencedor de Melhor Ator (uma surpresa, o favorito era Mickey Rourke por "O Lutador")) para Sean Penn, "Milk" é uma biografia bem feita dirigida por Gus Van Sant. Harvey Milk se mudou com o namorado para São Francisco no início dos anos 70. A cidade era mais acolhedora aos homossexuais, particularmente em um bairro chamado Castro, para onde chegavam gays de todo o país. Milk abriu uma loja de fotografia na Rua Castro e, aos poucos, foi crescendo politicamente. Gays andavam pelo bairro de forma mais livre que no resto do país, embora ainda fossem vítimas de violência por parte da polícia. Harvey Milk se candidatou por anos seguidos ao conselho da cidade, mas só conseguiu ser eleito quando as leis de voto distrital foram aprovadas. Em seu breve mandato conseguiu aprovar uma lei que impedia que homossexuais fossem demitidos sem justa causa de seus empregos e lutou bravamente contra uma cantora chamada Anita Bryant, que usava a fama para fazer discursos anti-homossexuais. Com a ajuda de um Senador, Bryant tentou aprovar uma lei chamada Proposição 6, que propunha que todos os professores homossexuais, e pessoas ligadas a eles, fossem demitidos. A tese do senador era que já que homossexuais não podem reproduzir eles usariam da posição de professor para "recrutar" novos gays. Não é preciso ser pró ou anti gay para perceber que não havia muita lógica por trás da idéia.

O filme usa muitas imagens de arquivo para recriar a São Francisco dos anos 70 e é bastante genuíno. Gus Van Sant, que é gay assumido, está à vontade com o material e faz o filme de forma sincera, sem endeusar Milk ou demonizar seus adversários. O elenco, encabeçado por um Sean Penn extraordinário, conta com Emile Hirsch, Diego Luna, James Franco e Josh Brolin, também indicado ao Oscar. Ele interpreta o personagem mais enigmático do filme, o conselheiro de São Francisco, Dan White. A relação entre Milk e White é complicada. Milk é convidado para o batismo do filho de White, uma cerimônia católica, e é o único conselheiro a aparecer. Os colegas de Milk pedem para que ele tenha cuidado com White, mas Milk acha que ele pode ser um gay enrustido e estar do lado deles. A História provou que não foi bem assim. O verdadeiro Dan White acabaria assassinando tanto Milk como o prefeito de São Francisco.

Minha única reclamação com a parte técnica é o formato em que o filme foi feito. "Milk" é extremamente televisivo, com a imagem "quadrada" ao invés do widescreen da tela do cinema (ou ao menos foi assim na sala em que assisti). No resto é uma boa produção, com música de Danny Elfman e fotografia de Harry Savides.



domingo, 21 de dezembro de 2008

Na natureza selvagem

Em 1990, o jovem Christopher McCandless (Emile Hirsch), recém graduado, aluno brilhante e de família de classe média alta americana, resolveu abandonar tudo e partir. Ele doou os 24 mil dólares que tinha em seu fundo universitário para a caridade e trocou a chance de estudar direito em Harvard pelo vento das estradas. Não era uma simples aventura. Era mais um suicídio cultural. Ou, quem sabe, um renascimento.
O ator e diretor Sean Penn queria realizar este projeto há mais de dez anos, mas só em 2007 conseguiu a autorização dos pais do verdadeiro Christopher McCandless. "Into the Wild" já havia se tornado um livro escrito por John Krakauer, no qual Sean Penn se baseou para escrever e dirigir o roteiro do filme. Há algo de "messiânico" na aventura de McCandless, e a brilhante interpretação de Emile Hirsch reforça isso. Hirsch, que já interpretou jovens ricos americanos em filmes como "O Clube do Imperador" e "Um Show de Vizinha", tem neste filme um constante brilho no olhar e uma entrega total ao personagem conforme ele se aventura Estados Unidos adentro. Com uma vaga idéia de querer chegar ao Alasca, Christopher vai cruzando o país e fazendo trabalhos temporários, como em uma fazenda ou em lanchonetes fast food. Encontrando o Rio Colorado, no Arizona, ele vai em sentido contrário ao Alasca e desce, em um simples caiaque, até o México. Ao voltar para a cidade grande, não consegue ficar nem uma noite e parte novamente em sua jornada para o norte.
É um filme de grandes paisagens, quase um documentário da vida selvagem americana. Mas há lugar também para os personagens que o rapaz encontra pelo caminho. Como um casal de "hippies" interpretados por Catherine Keener e Brian Dierker, com quem ele estabelece uma relação de pais e filhos. Há a jovem e bela Tracy (Kristen Stewart), que se apaixona por ele mas não consegue impedi-lo de partir novamente para o norte. Há Wayne (Vince Vaughn, em ótima participação), trabalhador da fazenda com quem estabelece uma forte amizade. E o velho Ron (o veterano Hal Holbrook, indicado ao Oscar pelo papel), um velho conservador que se apega ao rapaz e o ajuda.
A viagem é contada a partir do seu ponto final, na paisagem gelada do Alasca. No meio do nada, Christopher encontra um estranho marco da civilização: um ônibus abandonado, que já havia servido de abrigo para alguém no passado. O rapaz toma posse do lugar e passa a viver da caça e pesca. Flashbacks nos contam sua história pregressa, antes de chegar até lá. O filme é muito bem dirigido por Sean Penn, que lhe dá um ar nostálgico que lembra muito os anos sessenta. Destaque também para as canções originais compostas por Eddie Vedder (do Pearl Jam), que complementam e auxiliam o roteiro. O final mostra que tudo na vida tem seu preço, mesmo a "liberdade absoluta" buscada por McCandless. E ele também acaba por descobrir que a felicidade só é real quando compartilhada.