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sábado, 17 de dezembro de 2022

Undone (2019)

 
Undone (2019). Dir: Hisko Hulsing. Amazon Prime Video. Alma (Rosa Salazar) é uma mulher de 28 anos que sofre um acidente de carro. No hospital, ela começa a ter visões do pai, Jacob (Bob Odenkirk), que morreu quando ela era criança. Jacob a leva a uma série de "viagens" entre o passado e o presente, na tentativa de descobrir como ele morreu, e porquê. Ou... talvez tudo esteja acontecendo apenas na cabeça de Alma.

"Undone" é uma série incrível. Confesso que não a conhecia e assisti aos oito episódios da primeira temporada quase que de uma vez só. São episódios curtos (por volta de 25 minutos), muito bem escritos e feitos com várias técnicas de animação. A trama é tão "maluca", com viagens no tempo, alucinações, transformações, etc, que a animação funciona melhor do que se a série tivesse sido feita de forma "realista". A técnica mais usada é a da rotoscopia, que consiste em gravar atores "de verdade" interpretando seus papéis e, depois, os animadores desenham "por cima" das imagens. A técnica é antiga e já foi usada desde animações tradicionais da Disney a filmes mais experimentais como "Waking Life" (2001) e "O Homem Duplo" (2006), de Richard Linklater. Em "Undone" a técnica é tão detalhada que podemos claramente ver as expressões dos atores e, depois de um tempo, você esquece que está vendo uma "animação".

Criada por Kate Purdy e Raphael Bob-Waksberg, a trama de "Undone" levanta ideias metafísicas que são, o tempo todo, questionadas e comparadas com questões de saúde mental. A avó de Alma foi considerada "louca" e internada, mas quem sabe ela simplesmente via as coisas de outra forma? Os roteiros também misturam elementos dos povos antigos da América; a família de Alma é descendente de mexicanos e há um forte senso religioso tanto no catolicismo da mãe quanto nos aparentes "poderes" de Alma (que estariam ligados a seus ancestrais).

Ou, talvez, tudo não passe de uma "loucura" na cabeça de Alma. É uma viagem. Disponível na Amazon Prime Video (inclusive a segunda temporada, que vou ver em seguida).

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Doutor Estranho (2016)

O Dr. Stephen Strange surgiu nos quadrinhos em 1963, criado a quatro mãos pelo "mago" Stan Lee e pelo desenhista Steven Ditko (os mesmos que criaram o Homem Aranha). As tramas do Dr. Estranho eram passadas em "multiversos" e mundos paralelos que ecoavam o psicodelismo dos anos 1960. Foi tão influente que o Pink Floyd não só citou o doutor nas letras de uma canção (Cymbaline, do álbum "More", 1969) como os quadrinhos serviram de base para a capa do segundo álbum da banda, "A Saucerfull of Secrets" (1968). Em troca, podemos escutar "Interstellar Overdrive", do Floyd, em cena chave do filme atual.

Strange chega à tela grande na forma de Benedict Cumberbatch e baseado em efeitos especiais tão mirabolantes que deixariam Christopher Nolan zonzo. Há cenas impressionantes (que lembram algumas cenas de "A Origem", de Nolan) em que os magos da Industrial Light & Magic retorcem não só ruas, mas cidades inteiras. "O que você colocou no meu chá?", Cumberbatch pergunta a Tilda Swinton no primeiro encontro entre eles, no Nepal.

Cumberbatch interpreta Strange com a competência de sempre, misturando um pouco a genialidade  (e arrogância) de seu Sherlock Holmes com outros papéis que interpretou, como o matemático Alan Turing. No início do filme encontramos Strange como um cirurgião que é a estrela do hospital em que trabalha. Sua habilidade na mesa de cirurgia só não é maior que seu ego. Tudo parece perdido em uma noite em que Strange sofre um acidente de carro que deixa graves sequelas. Inconformado por não encontrar a cura na medicina tradicional, Strange parte para o Nepal onde vai se encontrar com a "Anciã" (Swinton, divertida, cuja escalação causou polêmica pelo fato de terem escolhido uma mulher branca para interpretar uma oriental). O filme pisa fundo na psicodelia e a Anciã mostra a um cético Strange os "multiversos" e suas ramificações.

Mads Mikkelsen interpreta Kaecilius, um ex-pupilo da Anciã que mudou "para o lado negro da Força" e está tentando conjurar um feitiço para atrair um grande vilão que vive em um mundo além do Tempo. O elenco ainda conta com Chiwetel Ejiofor como um seguidor da Anciã e uma desperdiçada Rachel McAdams como uma médica que é o interesse amoroso de Strange.

A trama segue o mesmo padrão "vilão-maluco-que-quer-poder-eterno" de tantos outros filmes, misturado a muita filosofia de biscoito da sorte, viagens astrais, loops temporais e cenas visualmente interessantes. Nem tudo funciona, o filme poderia ser mais curto e mais focado, por exemplo. A trilha sonora de Michael Giacchino lembra muito os temas que ele criou para os últimos filmes de Star Trekm as ainda é inspirada.

Com altos e baixos e em meio a tantos filmes de super heróis, "Doutor Estranho" é uma viagem e tanto. 

João Solimeo

domingo, 21 de dezembro de 2008

Na natureza selvagem

Em 1990, o jovem Christopher McCandless (Emile Hirsch), recém graduado, aluno brilhante e de família de classe média alta americana, resolveu abandonar tudo e partir. Ele doou os 24 mil dólares que tinha em seu fundo universitário para a caridade e trocou a chance de estudar direito em Harvard pelo vento das estradas. Não era uma simples aventura. Era mais um suicídio cultural. Ou, quem sabe, um renascimento.
O ator e diretor Sean Penn queria realizar este projeto há mais de dez anos, mas só em 2007 conseguiu a autorização dos pais do verdadeiro Christopher McCandless. "Into the Wild" já havia se tornado um livro escrito por John Krakauer, no qual Sean Penn se baseou para escrever e dirigir o roteiro do filme. Há algo de "messiânico" na aventura de McCandless, e a brilhante interpretação de Emile Hirsch reforça isso. Hirsch, que já interpretou jovens ricos americanos em filmes como "O Clube do Imperador" e "Um Show de Vizinha", tem neste filme um constante brilho no olhar e uma entrega total ao personagem conforme ele se aventura Estados Unidos adentro. Com uma vaga idéia de querer chegar ao Alasca, Christopher vai cruzando o país e fazendo trabalhos temporários, como em uma fazenda ou em lanchonetes fast food. Encontrando o Rio Colorado, no Arizona, ele vai em sentido contrário ao Alasca e desce, em um simples caiaque, até o México. Ao voltar para a cidade grande, não consegue ficar nem uma noite e parte novamente em sua jornada para o norte.
É um filme de grandes paisagens, quase um documentário da vida selvagem americana. Mas há lugar também para os personagens que o rapaz encontra pelo caminho. Como um casal de "hippies" interpretados por Catherine Keener e Brian Dierker, com quem ele estabelece uma relação de pais e filhos. Há a jovem e bela Tracy (Kristen Stewart), que se apaixona por ele mas não consegue impedi-lo de partir novamente para o norte. Há Wayne (Vince Vaughn, em ótima participação), trabalhador da fazenda com quem estabelece uma forte amizade. E o velho Ron (o veterano Hal Holbrook, indicado ao Oscar pelo papel), um velho conservador que se apega ao rapaz e o ajuda.
A viagem é contada a partir do seu ponto final, na paisagem gelada do Alasca. No meio do nada, Christopher encontra um estranho marco da civilização: um ônibus abandonado, que já havia servido de abrigo para alguém no passado. O rapaz toma posse do lugar e passa a viver da caça e pesca. Flashbacks nos contam sua história pregressa, antes de chegar até lá. O filme é muito bem dirigido por Sean Penn, que lhe dá um ar nostálgico que lembra muito os anos sessenta. Destaque também para as canções originais compostas por Eddie Vedder (do Pearl Jam), que complementam e auxiliam o roteiro. O final mostra que tudo na vida tem seu preço, mesmo a "liberdade absoluta" buscada por McCandless. E ele também acaba por descobrir que a felicidade só é real quando compartilhada.


segunda-feira, 14 de abril de 2008

Jumper

Para uma segunda feira à noite, chovendo e com cinema em promoção, "Jumper" não é de todo ruim. Claro que não dá pra levar a sério o roteiro, e a interpretação do elenco está sofrível. O diretor é Doug Liman, do celebrado "A Identidade Bourne", um dos melhores filmes de espião dos últimos tempos.

Mas, repito, o filme não é assim tão ruim. A premissa me lembrou muito um filme "B" dos anos 80 que acabou se tornando "cult" (e gerou péssimas continuações), "Highlander, O Guerreiro Imortal", dirigido em 1986 por Russel Mulcahy. "Highlander" tratava da história absurda de que havia no mundo uma classe especial de "guerreiros" que seriam imortais (a não ser que tivessem as cabeças cortadas), e cujo objetivo na vida seria se tornar o último Highlander vivo. O roteiro era bem ruinzinho, mas a direção criativa e o ótimo uso da edição de imagens (com algumas das melhores transições do cinema) e da trilha sonora do Queen garantiram a longevidade da fita.

A trama de "Jumper" me pareceu semelhante. O filme acompanha a história de David Rice (Hayden Christensen, bonitinho mas sofrível como seu Anakin Skywalker da série Star Wars), um garoto que era o "nerd" na escola e que descobre, um dia, que pode se teletransportar. No início ele não tem muito controle. O dom salva sua vida quando ele cai acidentalmente dentro de um rio congelado, e em seguida o livra de um confronto com o pai, mas David não sabe direito quais os limites do seu poder. Aos poucos ele vai pegando o jeito e começa a usar do teletransporte para invadir cofres de bancos e roubar dinheiro. Mas há um limite para seu dom: ele só pode se teletransportar para um lugar onde já esteve antes, o que não faz o menor sentido. Ele certamente nunca esteve dentro do cofre do banco, por exemplo... embora ele tenha estado perto dele, o que eu não acho que sirva.

O tempo passa e David se transforma em uma espécie de "playboy" cheio da grana, que pode tomar café no Rio de Janeiro, almoçar em Londres e dormir em Nova York em seu apartamento enorme. Com boa pinta e a carteira cheia de dinheiro ele consegue mulheres facilmente, mas seu coração pertence a uma antiga colega da escola, Millie Harris (Rachel Bilson, igualmente sofrível). Ele volta à sua cidade natal e tenta conquistar a garota levando-a para passear em Roma.

Tudo seria uma lua-de-mel se não fosse um porém: os "jumpers" têm um inimigo na forma de Samuel L. Jackson, desperdiçando seu talento interpretando um "paladino", o inimigo número um dos "jumpers". Os paladinos estariam em guerra com os jumpers desde a Idade Média.... certo? Conseguiu entender? Claro que não faz o menor sentido mas, pensando bem, não se poderia esperar muita lógica em um filme como este.

Há bons momentos. O filme se passa em vários países do mundo como Estados Unidos, Itália, China, Japão e Egito. Falando nisso, o filme repete diversas vezes o plano que mostra David em cima da Esfinge, com as pirâmides ao fundo. A cena se repete tantas vezes que vira uma espécie de piada. O diretor Liman, aparentemente, gostou das viagens que podia fazer com Jason Bourne e resolveu repetir a dose neste filme. Em alguns momentos parece que você está assistindo a algum documentário turístico. Hayden Christensen fica fazendo caras e bocas que se fazem passar por uma "interpretação", mas não convence. Há a participação enigmática de Diane Lane como a mãe de David, e Samuel L. Jackson tem seus momentos. Mas no geral o filme é uma sucessão de perseguições cheias de "pulos" de um ponto a outro do mundo.

Para uma segunda feira chuvosa, é um bom programa. Talvez seja até uma boa pedida em DVD. Mas não passa disso.