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sexta-feira, 14 de junho de 2024

Eric (2024)

 

Eric (2024). Dir: Lucy Forbes. Netflix. "Eric" é uma minissérie em seis capítulos que é tão ambiciosa quanto decepcionante. A princípio, "Eric" trata do desaparecimento de um menino de uns dez anos, Edgar (Ivan Howe), na Nova York de 1985. O pai, Vincent (Benedict Cumberbatch) é um "bonequeiro" estilo Jim Henson que tem um programa infantil de sucesso na televisão educativa. Vincent é um gênio na criação de bonecos, mas é um "mala" profissional. Insuportável, ele briga com tudo e com todos, dos companheiros de trabalho à esposa, Cassie (Gaby Hoffmann), com quem tem um relacionamento conturbado. Uma manhã o menino vai sozinho à escola e desaparece no caminho.

O que parece ser o início de uma série sobre o sequestro de uma criança, estilo "O Resgate" ou "Os Suspeitos", acaba se transformando em várias outras coisas. Entra o personagem do policial Ledroit (McKinley Belcher III), um detetive negro que esconde um segredo (ele é homossexual); nos EUA dos anos 1980, Ledroit esconde a vida privada, que divide com um namorado à beira da morte (é o auge da epidemia de AIDS) e vive culpado por não ter encontrado outro garoto perdido, que sumiu há quase um ano.

As tramas, ao invés de trabalharem juntas, por vezes competem entre si e parece que estamos vendo séries diferentes. Em uma, Cumberbatch procura pelo filho, mas também quer lançar um personagem novo no programa infantil, quer tentar salvar o casamento e batalha com o alcoolismo. Há também uma trama envolvendo a relação difícil dele com o pai, um rico empreendedor imobiliário. Na outra trama, o policial Ledroit procura pelo garoto branco, investiga policiais corruptos, tenta lidar com a mãe do outro garoto desaparecido e ainda tem que lidar com a própria identidade. Há também outra trama lidando com um político corrupto e o combate aos moradores de rua no submundo de Nova York. A série, de seis capítulos, tenta equilibrar todos esses temas mas nem sempre consegue.

Destaque para a ótima reconstituição de época, que mostra Nova York nos anos 1980 em bela fotografia e efeitos visuais. A série, na verdade, foi rodada em estúdios em Budapeste, mas você acredita que está na "Big Apple" o tempo todo. Tá na Netflix. 

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (Spider-Man: No Way Home, 2021)

Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (Spider-Man: No Way Home, 2021). Dir: John Watts. SPOILERS MUITOS SPOILERS. Não tem como falar deste filme sem spoilers, então esteja avisado. Dos três atores que fizeram o Homem-Aranha nos últimos vinte anos (Tobey Maguire, Andrew Garfield e Tom Holland), o último é o que eu menos vi em filmes "solo". Vi Holland como o Aranha quando ele participou dos filmes dos Vingadores, mas creio que só tenha visto o primeiro dos filmes solo com ele. Achei que isso seria um grande problema ao ver este último, mas não foi. "Sem Volta para Casa", na verdade, me pareceu voltado exatamente para o fã por volta da minha idade ou, no mínimo, quem assistiu bastante os primeiros filmes com Tobey Maguire.

A Marvel, de forma esperta, conseguiu, no mínimo, um grande feito logístico com este filme, trazendo de volta não só os heróis como os vilões dos filmes anteriores. Claro que tem o fator "exploração da nostalgia" tão presente nos filme de hoje, ou o chamado "fan service". Mas ao contrário do (bom) filme dos "Ghostbusters" recente, em que os atores originais fazem uma ponta descartável no final, "Sem Volta para Casa" não usa Tobey Maguire, Andrew Garfield, Willem Dafoe, Jamie Foxx e Alfred Molina (entre outros) como simples "papel de parede". Os personagens têm função definida e fazem diferença na trama. Tobey Maguire talvez seja, ainda, em quem eu pense quando ouço falar em Homem-Aranha, mas sou dos poucos que gostou de Andrew Garfield no papel. Junta-se os dois com Tom Holland, que é muito carismático, e as cenas em que os três Peter Parker/Homem-Aranha dividem a tela são ótimas. Há até uma tentativa (bem sucedida, em minha opinião) de redimir os filmes do Andrew Garfield. Há uma química ótima entre os três e até um momento em que eles batem papo e comparam histórias sobre amores e vilões.

A única crítica que tenho é que o tom do filme varia bastante. A trama inicial, com Tom Holland, é bem leve e "bobinha". Chateado com o fato de que sua identidade secreta foi revelada, Parker se encontra com o Dr. Strange (Benedict Cumberbatch) para tentar fazer com que as pessoas se esqueçam dele. Strange, que deveria ser mais esperto, acaba se embananando e criando a situação que mistura o "multiverso" e trazendo vilões e heróis para uma mesma dimensão. A morte trágica da tia May (Marisa Tomei) me pareceu uma consequência muito forte para um deslize provocado por um capricho adolescente de Peter Parker. De qualquer forma, é um filme muito gostoso de se assistir; é sim bastante calcado em nostalgia, mas de forma inteligente, e é bom rever estes atores em papéis que os marcaram. Visto em enorme Imax, nos cinemas.

 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Ataque dos Cães (The Power of the Dog, 2021)

Ataque dos Cães (The Power of the Dog, 2021). Dir: Jane Campion. Netflix. Este é para ficar pensando um tempo. "Ataque dos Cães" se passa no estado de Montada, EUA, nos anos 1920 (embora tenha sido filmado na Nova Zelândia). É um curioso estudo sobre masculinidade tóxica, alcoolismo e maternidade/paternidade. A australiana Jane Campion (de "O Piano") filma sem pressa, em belíssimas imagens capturadas pela fotografia de Ari Wegner. A trilha de Jonny Greenwood (de vários filmes de Paul Thomas Anderson) é bastante presente e ajuda na composição de um cenário ao mesmo tempo lindo e opressor.

A trama envolve primeiramente dois irmãos, George (Jesse Plemmons) e Phil (Benedict Cumberbatch), dois "cowboys" que estão completando 25 anos tocando gado juntos. Enquanto que George é elegante e suave, Phil é bruto, orgulhoso e "macho". Cumberbatch está soberbo no papel de um homem asqueroso e ciumento da companhia do irmão; ele fica ainda mais furioso quando George conhece Rose (Kirsten Dunst), uma viúva que trabalha em um restaurante de uma pequena cidade. George e Rose se casam e se mudam para o rancho da família. Phil não esconde seu desprezo pela cunhada e faz de tudo para fazer a vida dela um inferno.

Rose não é a única vítima de Phil. Ela tem um filho chamado Peter (Kodi Smit-McPhee), que está estudando para ser médico e é o oposto do que Phil espera de um "homem"; Peter é sensível, quieto, tímido e protegido pela mãe. O roteiro, baseado em um livro de Thomas Savage, consegue surpreender de forma sutil, subvertendo algumas expectativas (pense no que acontece com aquele coelho, por exemplo). Não é um filme muito fácil, é lento e os personagens não são muito simpáticos. É, porém, fascinante. Tá na Netflix.

domingo, 2 de janeiro de 2022

O Espião Inglês (The Courier, 2020)

O Espião Inglês (The Courier, 2020). Dir: Dominic Cooke. Amazon Prime. Bom filme de espionagem baseado na história real de um vendedor chamado Greville Wynne (Benedict Cumberbatch). Ele era um inglês que vendia peças para máquinas em países do leste europeu nos anos 1950 e 1960. Um dia ele é convidado para almoçar com um agente do MI-6 (Angus Wright) e uma agente da CIA (Rachel Brosnahan). Eles querem que o personagem de Cumberbatch comece uma "transação comercial" em Moscou com um homem chamado Oleg Penkovsky (Merab Ninidze); ele é um coronel soviético do alto escalão que, preocupado com as manobras do premier Nikita Kruschev com armas nucleares, decide compartilhar informações com o Ocidente. Segundo ele, o premier soviético quer provocar os americanos a começar uma guerra nuclear.


O vendedor interpretado por Cumberbatch não é um espião, mas é um vendedor com muita lábia; apesar do perigo, ele consegue se aproximar de Penkovsky e começa a trazer de Moscou fotos e documentos secretos. É um filme de espionagem à moda antiga, com os soviéticos cumprindo seu papel de vilões, embora os americanos não sejam vistos como os bonzinhos de sempre (a agente da CIA interpretada por Rachel Brosnahan é muito manipuladora).

Além da trama de espionagem, há também o lado humano dos personagens. O coronel soviético é interpretado por um ótimo ator russo chamado Merab Ninidze e seu personagem cria uma grande amizade com o vendedor britânico. Há também cenas mostrando as famílias dos dois espiões (Jessie Buckley interpreta a esposa de Cumberbatch) e como o trabalho os afeta. É um bom filme, que lembra um pouco "Ponte dos Espiões", de Steven Spielberg. Disponível na Amazon Prime.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Doutor Estranho (2016)

O Dr. Stephen Strange surgiu nos quadrinhos em 1963, criado a quatro mãos pelo "mago" Stan Lee e pelo desenhista Steven Ditko (os mesmos que criaram o Homem Aranha). As tramas do Dr. Estranho eram passadas em "multiversos" e mundos paralelos que ecoavam o psicodelismo dos anos 1960. Foi tão influente que o Pink Floyd não só citou o doutor nas letras de uma canção (Cymbaline, do álbum "More", 1969) como os quadrinhos serviram de base para a capa do segundo álbum da banda, "A Saucerfull of Secrets" (1968). Em troca, podemos escutar "Interstellar Overdrive", do Floyd, em cena chave do filme atual.

Strange chega à tela grande na forma de Benedict Cumberbatch e baseado em efeitos especiais tão mirabolantes que deixariam Christopher Nolan zonzo. Há cenas impressionantes (que lembram algumas cenas de "A Origem", de Nolan) em que os magos da Industrial Light & Magic retorcem não só ruas, mas cidades inteiras. "O que você colocou no meu chá?", Cumberbatch pergunta a Tilda Swinton no primeiro encontro entre eles, no Nepal.

Cumberbatch interpreta Strange com a competência de sempre, misturando um pouco a genialidade  (e arrogância) de seu Sherlock Holmes com outros papéis que interpretou, como o matemático Alan Turing. No início do filme encontramos Strange como um cirurgião que é a estrela do hospital em que trabalha. Sua habilidade na mesa de cirurgia só não é maior que seu ego. Tudo parece perdido em uma noite em que Strange sofre um acidente de carro que deixa graves sequelas. Inconformado por não encontrar a cura na medicina tradicional, Strange parte para o Nepal onde vai se encontrar com a "Anciã" (Swinton, divertida, cuja escalação causou polêmica pelo fato de terem escolhido uma mulher branca para interpretar uma oriental). O filme pisa fundo na psicodelia e a Anciã mostra a um cético Strange os "multiversos" e suas ramificações.

Mads Mikkelsen interpreta Kaecilius, um ex-pupilo da Anciã que mudou "para o lado negro da Força" e está tentando conjurar um feitiço para atrair um grande vilão que vive em um mundo além do Tempo. O elenco ainda conta com Chiwetel Ejiofor como um seguidor da Anciã e uma desperdiçada Rachel McAdams como uma médica que é o interesse amoroso de Strange.

A trama segue o mesmo padrão "vilão-maluco-que-quer-poder-eterno" de tantos outros filmes, misturado a muita filosofia de biscoito da sorte, viagens astrais, loops temporais e cenas visualmente interessantes. Nem tudo funciona, o filme poderia ser mais curto e mais focado, por exemplo. A trilha sonora de Michael Giacchino lembra muito os temas que ele criou para os últimos filmes de Star Trekm as ainda é inspirada.

Com altos e baixos e em meio a tantos filmes de super heróis, "Doutor Estranho" é uma viagem e tanto. 

João Solimeo

domingo, 8 de fevereiro de 2015

O Jogo da Imitação

É sempre complicado falar sobre um filme feito sobre uma pessoa real. Deve-se encará-lo como uma obra de ficção qualquer, analisando apenas sua lógica interna, execução técnica, direção e elenco? Ou se deve levar em conta a relação do produto final com a história real que o inspirou? Creio que um pouco das duas coisas.

"O Jogo da Imitação" se baseia em três momentos da vida do matemático britânico Alan Turing; no final dos anos 1920, quando era um estudante; nos anos 1940, durante a 2ª Guerra Mundial e nos anos 1950, quando ele foi condenado por "indecência" por ser homossexual. 

Cinematograficamente falando, a fase passada durante a guerra é a melhor. O mundo estava sob a ameaça nazista e os alemães ganhavam a guerra. Milhares de civis britânicos morriam com os constantes bombardeios e a inteligência britânica montou uma força tarefa para tentar quebrar um código alemão criado por uma máquina chamada de Enigma. Os melhores matemáticos e criptologistas do país foram chamados para trabalhar com a máquina e tentar quebrar o código.

Benedict Cumberbatch ("12 Anos de Escravidão") interpreta o matemático Alan Turing como um gênio arrogante e de poucos amigos. Como o Sr. Spock de Star Trek, Turing não tem senso de humor e entende tudo de forma literal e lógica. Ele fica fascinado com a máquina Enigma, capaz de gerar trilhões de combinações possíveis; os alemães trocavam o código todos os dias à meia-noite, tornando impossível que seres humanos conseguissem decifrá-lo em tão pouco tempo. A lógica de Turing é de que apenas uma máquina conseguiria combater outra máquina e ele começa a construir o protótipo dos primeiros computadores, que ele chama de "Christopher". A máquina de Turing realmente existiu, embora não tenha sido criação única dele nem tenha surgido do "nada", como o filme sugere, mas foi baseada em uma máquina polonesa chamada "Bombe". De qualquer forma, o filme reconstrói a máquina de forma impressionante e é fascinante vê-la funcionando, embora demorasse horas para chegar a algum resultado. É provável que qualquer calculadora de bolso hoje tenha mais poder de processamento que a máquina de Turing, mas ela foi responsável por quebrar o código alemão e sem dúvida ajudou a terminar a guerra. (leia mais abaixo)


As outras duas fases do filme, que lidam com a infância de Turing e sobre o período pós-guerra, são decepcionantes. Há um vai e vem destas cenas, montadas com a fase da guerra, que por vezes mais servem para confundir do que para explicar a trama. Turing quando garoto (Alex Lawther) é ainda mais tímido e fechado e é constantemente atacado pelos colegas de turma. Seu único amigo (e amor precoce) é um garoto chamado Christopher, com quem troca mensagens criptografadas. O fato de Turing chamar sua máquina de "Christopher", mais tarde, é uma licença poética bastante previsível dos roteiristas. Nos anos 1950, um policial começa a suspeitar que Turing seja um espião soviético depois de investigar um roubo na casa dele. O suspense se torna um anticlímax quando ele descobre o que o espectador já sabia faz tempo, que o segredo de Turing era ser homossexual e não um agente duplo.

Assim, "O Jogo da Imitação" acaba se tornando bastante irregular, mesclando bons momentos de suspense e paranoia durante a guerra com outros que não chegam a lugar algum. Interessante também notar que, assim como na outra biografia de um gênio matemático britânico que está nos cinemas, "A Teoria de Tudo", "O Jogo da Imitação" usa de vários elementos de "Uma Mente Brilhante", filme em que Russell Crowe interpretou outro gênio matemático que era bom em decifrar códigos.

João Solimeo


domingo, 25 de janeiro de 2015

A Teoria de Tudo

Albert Einstein, em seu tempo, era uma das pessoas mais famosas do planeta. Seu fascínio superava barreiras linguísticas, geográficas, religiosas, filosóficas e científicas. No entanto, quantas pessoas, de verdade, seriam capazes de dizer que entenderam a Teoria da Relatividade?

O mesmo pode se dizer de Stephen Hawking, décadas depois. O astrofísico inglês tem a fama de um astro do rock. Seu livro "Uma Breve História do Tempo" foi um bestseller avassalador, mesmo que poucos dos seus leitores faziam ideia do que ele estava falando. O que faz figuras como Einstein, Hawking, Carl Sagan ou Neil deGrasse Tyson fascinantes? Talvez seja exatamente seu mistério. Talvez seja nossa fascinação com o desconhecido, com a "mágica" que parece existir atrás de números e fórmulas que não sabemos como funcionam.

O cinema, ávido por figuras heroicas e mágicas, de tempos em tempos lança filmes sobre estes seres sobre-humanos e seu domínio sobre os números. Assim, olhamos com espanto para Matt Damon desenhando fórmulas na lousa em "Gênio Indomável" (1997) ou Russell Crowe imaginando números em pleno ar em "Uma Mente Brilhante" (1991) e esquecemos nossas dificuldades em fazer aquele cálculo simples de porcentagem.

Em "A Teoria de Tudo" é a vez de vermos Eddie Redmayne visualizando o início do Universo em uma xícara de café com leite. Ele interpreta Stephen Hawking desde os tempos em que apostava corrida de bicicletas com os colegas em Cambridge. Redmayne está muito bem como Hawking, com seus famosos óculos de aro grosso e expressão curiosa. O arco do seu personagem, aliás, é bastante parecido com o vivido por Russell Crowe em "Uma Mente Brilhante"; um matemático que conquista o amor de uma garota especial e se torna um gênio da ciência, tendo que superar um problema de saúde grave. (leia mais abaixo)


Enquanto John Forbes Nash, o matemático vivido por Crowe, sofria de esquizofrenia (fato desconhecido de grande parte do público), a atrofia nervosa apresentada por Hawking já faz parte do imaginário dos espectadores, que sempre o "conheceram" sentado naquela cadeira de rodas e "falando" com aquele sintetizador de voz robótico. Assim, não deixa de ser interessante vê-lo, através da interpretação de Redmayne, andando e correndo pelos corredores da universidade antes que os primeiros sintomas da doença se manifestem.

O roteiro, escrito por Anthony McCarten, é baseado no livro de Jane Hawking (vivida por Felicity Jones), a garota religiosa por quem Hawking se apaixonou. As cenas do primeiro encontro entre eles, em uma festa de Cambridge, são filmadas como em um conto de fadas, com bela fotografia de Benoît Delhomme. Com o perdão da palavra, o casal Hawking mostrado no filme é um dos mais "fofos" do cinema, mas há bons diálogos trocados por Redmayne e Jones a respeito do Universo e da existência (ou não) de Deus, etc. Poderia ser piegas, mas a interpretação dos dois é honesta, muito bem dirigidos por James Marsh (que fez o ótimo documentário "O Equilibrista").

O resto do filme trata da decadência física de Hawking, a quem o médico deu apenas dois anos de vida depois do primeiro ataque, e seus triunfos científicos. Não é por menos que o físico decidiu se dedicar ao estudo do Tempo, que ele conseguiu superar até os atuais 72 anos de idade. O roteiro trata de desconstruir também (embora de forma leve), o casamento de conto de fadas e Stephen e Jane. Há um professor de canto (interpretado por Charlie Cox) que se torna algo mais na vida de Jane, assim como uma enfermeira no caso de Hawking.

Não é um filme brilhante nem inovador, mas é extremamente bem feito, e a vida de Stephen Hawking é, sem dúvida, fascinante. "A Teoria de Tudo" conquistou cinco indicações ao Oscar: Filme, Ator (Eddie Redmayne), Atriz (Felicity Jones), Roteiro Adaptado (Anthony McCarten) e Trilha Sonora (Jóhann Jóhannsson).

Observação: Benedict Cumberbatch, que está concorrendo com Redmayne a melhor ator por "O Jogo da Imitação", interpretou Stephen Hawking em um especial para a BBC em 2004. O filme pode ser visto clicando aqui.

João Solimeo

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos

ATENÇÃO: Spoilers

O terceiro e último capítulo da trilogia "O Hobbit" traz um Peter Jackson cansado e, aparentemente, apressado em terminar o trabalho iniciado em "Uma Jornada Inesperada" (2012). "A Batalha dos Cinco Exércitos" começa exatamente onde "A Desolação de Smaug" (2013) terminou, com o ataque do gigantesco dragão Smaug a Escaroth, povoado humano aos pés da "Montanha Solitária". Smaug é derrotado rapidamente pelo arqueiro Bard (Luke Evans), que consegue atingir o único ponto fraco na armadura da gigantesca criatura, terminando também com a melhor sequência de todo filme. Como ainda estamos no seu início, imagine o tamanho do problema que Jackson e seus roteiristas tinham nas mãos para transformar as  menos de 100 páginas finais da obra de J.R.R. Tolkien em um filme de mais de duas horas e vinte de duração.

"A Batalha dos Cinco Exércitos" é tão frio e burocrático quanto os antecessores foram longos e exagerados. Com Smaug fora de cena, o roteiro fica sem nenhum grande dilema a ser resolvido, a não ser que você se preocupe com o destino de personagens sem muito brilho como Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage) ou acredite no romance (inexistente no livro) platônico entre o anão Kili (Aidan Turner) e a elfa Tauriel (Evangeline Lilly). Não há um Anel do Poder a ser destruído, como no final da trilogia original de Tolkien, ou personagens realmente interessantes como Aragorn (Vigo Mortensen), Frodo (Elijah Wood) ou Gollun (Andy Serkis). Os únicos personagens ainda dignos de nota são Bilbo (interpretado muito bem por Martin Freeman) e Galdalf (Ian McKellen), mas os dois estão mais para espectadores do que para protagonistas neste capítulo final.

Assim, investe-se em uma exploração psicológica da "doença do ouro" que acometeu Thorin, obcecado em encontrar a "Pedra Arken" e em defender montanhas de ouro do ataque de vários exércitos compostos por humanos, elfos, orcs e outras criaturas, todas marchando em uma grande paisagem em computação gráfica. Armitage, como Thorin, se vê obrigado a fazer expressões faciais de "louco", além de um momento bastante vergonhoso em que ele tem a voz modificada para se parecer com o dragão Smaug, acompanhada de movimentos corporais e tudo. (leia mais abaixo)


Falando em momento vergonhoso (e em desperdiçar um vilão cedo demais), Galadriel (Cate Blanchett), Enrold (Hugo Weaving) e Saruman (Christopher Lee) têm uma cena apressada em que enfrentam Sauron, que é banido por Blanchett em uma exagerada cena de efeitos especiais (com direito a Galadriel transformada em uma espécie de entidade com voz distorcida por computador, reprisando cena da trilogia original). Nenhum dos personagens aparece novamente e fica no ar a pergunta: se Gandalf testemunhou o retorno de Sauron, por que é que ele parece ignorante deste fato no início de "O Senhor dos Anéis"?

O resto do filme, como sugere o título, não passa de uma longa série de cenas de batalha. Ao contrário dos filmes anteriores, ao menos neste a violência tem consequências sérias, resultando até na morte de alguns personagens importantes. O filme (e a Trilogia) terminam, porém, sem muita emoção ou brilho.

Uma questão técnica: Peter Jackson rodou os filmes da trilogia "O Hobbit" em um novo sistema chamado HFR (High Frame Rate) que grava a 48 quadros por segundo (ao contrário dos 24 quadros por segundo tradicionais do cinema). A técnica daria um visual mais "fluido" à imagem, mais "realista", lembrando videogames. A cópia que assisti estava em 3D e, aparentemente, com o framerate de 48 quadros por segundo, o que me causou enorme estranheza. Não parece cinema, parece TV de alta definição. A imagem, mais clara e nítida, se parece mais com o que estamos acostumados a ver em documentários, novelas e vídeos de making ofs do que de filmes de cinema. Foi o primeiro filme desta trilogia que vi com este sistema, mas não estou só em minha estranheza com a imagem, como mostra este artigo de 2012. Se puder escolher, eu recomendaria ver o filme no sistema normal, e não em HFR.

João Solimeo
Câmera Escura

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

12 Anos de Escravidão

"12 Anos de Escravidão" é implacável. São 134 minutos acompanhando o sofrimento de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um músico negro de Nova York, nascido livre, que é sequestrado e vendido como mercadoria no estado escravagista de Louisiana, em 1841. Já foram feitos vários outros filmes sobre a escravidão nos Estados Unidos antes, como "Amistad" (Steven Spielberg, 1997), "Lincoln" (Spielberg, 2012) ou mesmo "Django Livre" (Quentin Tarantino, 2012). O tema da escravidão, naturalmente espinhoso e revoltante, se torna ainda mais forte por causa da história peculiar de Northup. Todo espectador acaba por se identificar com a história de um homem comum, com esposa e filhos, que de um dia para o outro acorda com os braços acorrentados e com a liberdade tomada.

O filme é dirigido pelo britânico Steve McQueen (do pesado "Shame"), com roteiro de John Ridley  (baseado na história real de Northup). McQueen gosta de planos longos e de deixar os atores conduzirem as cenas. Chiwetel Ejiofor está ótimo como Northup, mas a principal interpretação do filme é do alemão Michael Fassbender (que já trabalhou com McQueen antes em "Shame" e em "Hunger"). Fassbender interpreta Edwin Epps, um fazendeiro que acredita que a Bíblia lhe dá o direito de ter escravos. É grande o contraste entre ele e o primeiro "dono" de Northup, o gentil Sr. Ford (Benedict Cumberbatch, "Álbum de Família"). Northup defende Ford dizendo que ele é um senhor de escravos devido às circunstâncias mas, no fundo, o que o difere do sanguinário Sr. Epps? Os dois citam a Bíblia para os "empregados" e os tratam como mercadoria. Ford trata Northup um pouco melhor e até lhe salva a vida quando um dos capatazes (interpretado por Paul Dano, especialista em personagens asquerosos) tenta enforcá-lo. Quando Northup lhe explica que não é um escravo e que foi sequestrado, porém, Ford simplesmente diz que tem dívidas a pagar. "Você é um negro excepcional", diz Ford, "temo que nada de bom resultará disso". (leia mais abaixo)


"12 Anos de Escravidão" mostra como o espírito de um homem (e todo um povo, na verdade) pode ser quebrado. Os escravos estavam em maioria e possuíam armas como machados e outras ferramentas, mas como lutar contra o próprio medo? Northup aprende que, para sobreviver, deve ser o menos "excepcional" possível, tendo até mesmo que esconder que é culto e sabe ler e escrever. No caso das mulheres, a beleza podia ser uma vantagem e uma desvantagem. A escrava Patsey (a estreante Lupita Nyong´o, indicada ao Oscar) atrai os olhares do sanguinário mestre Epps, que tem asco dos próprios desejos. A situação também causa ciúmes à esposa de Epps (Sarah Paulson) e tudo culmina na cena mais forte do filme, um longo plano sequência em que Patsey é chicoteada quase até a morte.

A interminável temporada de prêmios, com suas festas, entrevistas coletivas e badalação acabam por tirar o foco do que realmente importa. Seria fácil dizer que o filme é só um produto de manipulação destinado a ganhar prêmios, e "12 Anos de Escravidão" é o principal candidato ao Oscar deste ano. Baixada a poeira, no entanto, fica um filme poderoso, embora difícil de se assistir.

Atualização: "12 Anos de Escravidão" ganhou os Oscars de Melhor Filme, Roteiro Adaptado (John Ridley) e Atriz Coadjuvante (Lupita Nyong´o).

domingo, 2 de junho de 2013

Além da Escuridão - Star Trek

Impossível falar sobre este filme sem comentar detalhes na trama. Assim, AVISO DE SPOILERS feito. Não leia o texto antes de ver o filme, esteja avisado.

"Além da Escuridão- Star Trek" é o segundo filme da nova fase da milionária franquia da Paramount. Star Trek é um fenômeno só comparável com Star Wars, de George Lucas, e tem uma legião de seguidores tão grande (e tão fanática) quanto. Após várias séries cultuadas na televisão e diversos filmes no cinema estrelados pelas tripulações originais da nave Enterprise (velha e nova gerações), a franquia ganhou sangue novo em 2009 com a vinda do diretor J.J. Abrams, menino prodígio da TV responsável pelas séries "Alias" e "Lost". O "Star Trek" de Abrams foi muito bem sucedido e, apesar da gritaria de alguns fanáticos, conseguiu recuperar muito bem a famosa "química" que fez o sucesso da série original, com atores novos representando os papéis do Capitão Kirk (Chris Pine), Sr. Spock (Zachary Quinto, de "Margin Call"), Dr. McCoy (Karl Urban), Uhura (Zoe Saldana), Scotty (Simon Pegg, de "Missão Impossível: Protocolo Fantasma"), Chekov (Anton Yelchin) e Sulu (John Cho). O filme contou até com a benção de Leonard Nimoy, o Sr. Spock original, que fez uma aparição especial.