sábado, 9 de maio de 2009

Star Trek

"Space, the final frontier"... por qual outra frase começar um texto sobre "Jornada nas Estrelas" que não esta? Star Trek não é apenas uma série de ficção científica. Surgida nos anos 60, em plena corrida espacial, a série intergaláctica criada pelo ex-piloto militar e civil Gene Roddenberry se tornou um ícone. Roddenberry quebrou vários tabus, não só colocando uma mulher (uma mulher negra, ainda por cima) como membro de uma tripulação espacial, mas também um russo. Sua criação mais famosa, o vulcano Sr. Spock, com suas orelhas pontudas e sobrancelhas demoníacas, foi perseguido por várias instituições tradicionais, como a Igreja. Enquanto americanos e soviéticos brigavam em terra e no espaço durante a Guerra Fria, a tripulação mista da USS Enterprise semanalmente enfrentava dilemas morais (nos melhores episódios) ou, no mínimo, era uma boa e velha série de aventura espaço afora, a "última fronteira". A série original durou apenas três temporadas (entre 1966 e 1969), quando foi cancelada pela rede NBC. Mas com o sucesso de "Guerra nas Estrelas", de George Lucas, em 77, o elenco original da série partiu para a telona dos cinemas, rendendo lucros fabulosos para o estúdio Paramount e gerando vários outros produtos e novas séries de televisão. Os "trekkers", como são chamados os fãs do universo Star Trek, a tratam quase como uma religião e realizam convenções no mundo inteiro, muitas delas com a presença dos atores da série e dos filmes originais.

Com o envelhecimento e morte de vários destes atores e uma queda na popularidade dos filmes feitos para o cinema, decidiu-se por uma reformulação da franquia e por uma manobra ousada; Star Trek voltaria à origem dos personagens da série clássica, agora interpretados por atores jovens, repaginados e prontos para o século XXI. A idéia, a bem da verdade, não é nova. Em seu livro "Memórias dos Filmes", William Shatner (o capitão James T. Kirk original) revela que após "Jornada nas Estrelas V: A Última Fronteira" (1989), o produtor Harve Bennet começou a desenvolver um filme em que atores jovens viveriam os personagens antes de se tornarem membros da Enterprise. Mas a idéia foi abandonada e a tripulação original voltou em "Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida" (1991). Depois disso os membros da série "A Nova Geração" passaram a habitar a telona e a idéia de Bennet foi posta de lado pelos produtores.

Coube ao criador da série "Lost", J.J. Abrams, a missão de retomar a franquia do zero. O resultado é um filme ótimo, que consegue não só mostrar a origem dos personagens como, através de um "truque" da ficção-científica, dar ao roteiro uma trama surpreendente. Ao contrário do caráter previsível que atrapalhou séries como "Star Wars" ou o novo "Wolverine", no "Star Trek" de Abrams tudo pode acontecer, graças a uma "mudança temporal" que ocorre no início. Esse recurso cria uma espécie de universo paralelo em que o destino dos personagens clássicos Kirk, Spock, McCoy, Sulu, Chekov, Uhura e Scott pode ser reinventado ao gosto dos roteiristas. James T. Kirk (Chris Pine, substituindo William Shatner) é mostrado como um rapaz revoltado de Iowa, órfão do pai que morreu heróicamente durante uma batalha com os Romulanos. Spock (Zachary Quinto, incrivelmente parecido com Leonard Nimoy) sofre com sua genética mista, humana (emocional) e vulcana (lógica). Os dois vão parar na Academia da Federação dos Planetas Unidos, onde vemos como Kirk consegue passar no teste do "Kobayashi Maru", uma simulação teoricamente impossível de vencer criada pelo jovem Spock. Ao longo da trama vemos também Leonard McCoy (Karl Urban) e uma bela e sexy Uhura (Zoe Saldana), que vai mexer com o coração mulherengo de James Kirk. E é surpreendente ver como o novo elenco consegue recriar uma das chaves do sucesso da série clássica, a "química" existente entre William Shatner, Leonard Nimoy, DeForest Kelley e os outros membros da Enterprise.

"Star Trek" é suficientemente bom para interessar a quem não tem conhecimento anterior da série. O próprio J.J. Abrams não era profundo conhecedor do universo trekker. O que não significa que os fãs não irão reconhecer dezenas de ótimas referências, desde o design dos uniformes, naves e armas aos efeitos sonoros inconfundíveis como o teletransporte, o comunicador, o sinal de alerta e outros. A produção tem um curioso design que mistura modernidade com o ar "retrô" dos episódios dos anos 60. Mas a cereja do bolo realmente é participação especial de Leonard Nimoy, o Spock original. Nimoy se tornou mundialmente conhecido por causa do personagem, o que inclusive lhe causou problemas profissionais e psicológicos no início da carreira. Ele chegou a escrever um livro chamado "Eu não sou Spock" e foi o último ator a aceitar voltar ao elenco quando a série passou para o cinema, nos anos 70. Com o passar dos anos, no entanto, Nimoy se tornou o "portador da chama" de Star Trek, tendo inclusive dirigido dois dos melhores filmes para o cinema, "Jornada nas Estrelas III: À Procura por Spock" (1984) e "Jornada nas Estrelas IV: A Viagem para Casa" (1986). Sua presença no novo "Star Trek" é como o "selo de qualidade" que faltava para dar autenticidade ao filme e desejar sorte ao novo elenco.

Assim, "Star Trek" ressurge como um dos melhores filmes de ficção-científica dos últimos anos, homenageando o passado com respeito e pavimentando o caminho para uma nova série de filmes. Vida longa e próspera.

Câmera Escura

2 comentários:

Unidade de Carbono no Palido ponto Azul disse...

Meus comentários sobre o novo Star Trek estão aqui :

http://unidadedecarbonoterra.blogspot.com/

Unidade de Carbono no Palido ponto Azul disse...

Lançado la´ fora, como um prelúdio do novo filme de Star Trek e fazendo ligação entre os dois universos (o que já existia com a série clássica, filmes, nova geração, DS:9 e Voyager) e o novo universo paralelo abordado no filme, conheça aqui como surgiu o personagem NERO e da onde o Spock veio.

http://gibiscuits.blogspot.com/search/label/Star-trek

Já está completo, com as 4 revistas e em português.