sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

12 Anos de Escravidão

"12 Anos de Escravidão" é implacável. São 134 minutos acompanhando o sofrimento de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um músico negro de Nova York, nascido livre, que é sequestrado e vendido como mercadoria no estado escravagista de Louisiana, em 1841. Já foram feitos vários outros filmes sobre a escravidão nos Estados Unidos antes, como "Amistad" (Steven Spielberg, 1997), "Lincoln" (Spielberg, 2012) ou mesmo "Django Livre" (Quentin Tarantino, 2012). O tema da escravidão, naturalmente espinhoso e revoltante, se torna ainda mais forte por causa da história peculiar de Northup. Todo espectador acaba por se identificar com a história de um homem comum, com esposa e filhos, que de um dia para o outro acorda com os braços acorrentados e com a liberdade tomada.

O filme é dirigido pelo britânico Steve McQueen (do pesado "Shame"), com roteiro de John Ridley  (baseado na história real de Northup). McQueen gosta de planos longos e de deixar os atores conduzirem as cenas. Chiwetel Ejiofor está ótimo como Northup, mas a principal interpretação do filme é do alemão Michael Fassbender (que já trabalhou com McQueen antes em "Shame" e em "Hunger"). Fassbender interpreta Edwin Epps, um fazendeiro que acredita que a Bíblia lhe dá o direito de ter escravos. É grande o contraste entre ele e o primeiro "dono" de Northup, o gentil Sr. Ford (Benedict Cumberbatch, "Álbum de Família"). Northup defende Ford dizendo que ele é um senhor de escravos devido às circunstâncias mas, no fundo, o que o difere do sanguinário Sr. Epps? Os dois citam a Bíblia para os "empregados" e os tratam como mercadoria. Ford trata Northup um pouco melhor e até lhe salva a vida quando um dos capatazes (interpretado por Paul Dano, especialista em personagens asquerosos) tenta enforcá-lo. Quando Northup lhe explica que não é um escravo e que foi sequestrado, porém, Ford simplesmente diz que tem dívidas a pagar. "Você é um negro excepcional", diz Ford, "temo que nada de bom resultará disso". (leia mais abaixo)


"12 Anos de Escravidão" mostra como o espírito de um homem (e todo um povo, na verdade) pode ser quebrado. Os escravos estavam em maioria e possuíam armas como machados e outras ferramentas, mas como lutar contra o próprio medo? Northup aprende que, para sobreviver, deve ser o menos "excepcional" possível, tendo até mesmo que esconder que é culto e sabe ler e escrever. No caso das mulheres, a beleza podia ser uma vantagem e uma desvantagem. A escrava Patsey (a estreante Lupita Nyong´o, indicada ao Oscar) atrai os olhares do sanguinário mestre Epps, que tem asco dos próprios desejos. A situação também causa ciúmes à esposa de Epps (Sarah Paulson) e tudo culmina na cena mais forte do filme, um longo plano sequência em que Patsey é chicoteada quase até a morte.

A interminável temporada de prêmios, com suas festas, entrevistas coletivas e badalação acabam por tirar o foco do que realmente importa. Seria fácil dizer que o filme é só um produto de manipulação destinado a ganhar prêmios, e "12 Anos de Escravidão" é o principal candidato ao Oscar deste ano. Baixada a poeira, no entanto, fica um filme poderoso, embora difícil de se assistir.

Atualização: "12 Anos de Escravidão" ganhou os Oscars de Melhor Filme, Roteiro Adaptado (John Ridley) e Atriz Coadjuvante (Lupita Nyong´o).

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