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domingo, 22 de outubro de 2023

Ninguém vai te salvar (No one will save you, 2023)

Ninguém vai te salvar (No one will save you, 2023). Dir: Brian Duffield. Star+. Bom filme de suspense/terror envolvendo alguns invasores bem familiares. Acho que não é spoiler, mas, AVISO DE SPOILERS. Kaitlyn Dever, sempre excelente, é Brynn. Ela é uma garota que vive sozinha em um casarão enorme, afastado da cidade. Brynn é bem analógica; ela costura roupas, dança ao som de discos de vinil e tem um telefone fixo pendurado na parede. Ela passa o dia arrumando uma cidade em miniatura que mantém sobre uma mesa, e escreve longas cartas, à mão, para a melhor amiga. Quando vai à cidade postar algumas encomendas, porém, ninguém retorna seus acenos ou sorrisos. Há algo errado aqui, mas não sabemos o quê. Chega a noite e, surpresa, um alien invade a casa dela.

Há várias cenas com bons sustos mostrando Brynn tentando sobreviver ao bicho. O visual do ET é aquele tradicional, cabeça e olhos grandes, corpo esquelético, mas este faz uns sons bem assustadores também. Por um momento achei que o filme fosse se passar só durante esta noite, mas ele vai além, com boas surpresas.

Estou tentando me lembrar se há uma troca sequer de diálogos entre dois personagens, mas creio que não (ou, ao menos, não entre dois seres humanos). Kaitlyn Dever passa tudo com olhares e linguagem corporal. Algumas informações sobre o passado dela são comunicadas através de trechos das cartas, fotos e olhares dos personagens.

Há alguns pontos negativos, como o fato de que a garota, sozinha e de aparência frágil, consegue enfrentar os ETs por diversas vezes. O terceiro ato vai te deixar um pouco perdido e o significado do final é aberto a interpretações; mas é um filme eficiente e bem feito, com um estilo "retrô" que lembra filmes de invasões extraterrestres dos anos 1950 ou episódios de "Além da Imaginação". Disponível na Star+

sábado, 14 de outubro de 2023

O Sacrifício do Cervo Sagrado (The Killing of a Sacred Deer, 2017)

 
O Sacrifício do Cervo Sagrado (The Killing of a Sacred Deer, 2017). Dir: Yorgos Lanthimos. HBO Max. Difícil classificar este filme... terror psicológico? O grego Yorgos Lanthimos é especialista em filmes estranhos, como "O Lagosta" ou "A Favorita" (este mais normalzinho), e "O Sacrifício do Cervo Sagrado" não é exceção.

Colin Farrell é um cirurgião renomado, bem casado com uma oftalmologista (Nicole Kidman) e pai de um casal de adolescentes; mas algo está errado. Ele tem encontros frequentes com um rapaz (Barry Keoghan), a quem dá presentes caros e passeia pela cidade. É filho de outro casamento? Filho ilegítimo? O quê? O rapaz vai visitar a família de Farrell e é muito polido e educado mas, novamente, algo parece fora de lugar. Ele aparece sem avisar no hospital; é visto fora da casa de Farrell, observando quieto. Uma noite, ele leva Farrell para jantar em sua casa e a mãe dele (Alicia Silverstone), fica bastante interessada no médico. Farrell tenta cortar relações mas o rapaz continua ligando e aparecendo sem avisar.

Contar mais pode estragar o filme (ou não). Esta é daquelas produções que você assiste desconfortável, inquieto. Lembra um pouco "Caché" (2005), do austríaco Michael Haneke. Visualmente, Lanthimos empresta as lentes grande angular e os movimentos de câmera de Stanley Kubrick (há ecos de "Laranja Mecânica" e "O Iluminado"), além da trilha sonora composta por clássicos. A trama é bastante simbólica (o personagem de Keoghan chega a dizer isso abertamente). O médico interpretado por Farrell vai ter que enfrentar erros do passado e tomar decisões terríveis no presente. Racionalmente, nada faz muito sentido, mas Lanthimos está lidando com fábulas e mitologia aqui. Estranho. Disponível na HBO Max. PS: curioso que tanto Farrell quanto Keoghan atuariam juntos em "Os Banshees de Inisherin" alguns anos depois, um filme também metafórico, embora completamente diferente.

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Caçada (Hunter Hunter, 2020)

Caçada (Hunter Hunter, 2020). Dir: Shawn Linden. HBO Max. Suspense psicológico com mais de uma pitada de terror (e uma cena brutalmente violenta), "Caçada" é dos bons. Em um floresta do Canadá mora uma família de caçadores; pai (Devon Sawa), mãe (Camille Sullivan) e filha (Summer H. Howell) vivem de caçar pequenos animais para comer e vender a pele. Só que o mercado está em baixa e o que eles caçam mal dá para eles sobreviverem. Para piorar, um grande lobo está rondando pela região, atacando as presas e ameaçando a família. O pai decide que vai dar um fim nele e sai para caça-lo pela floresta. É então que ele acha "alguma coisa" que o assusta mais do que qualquer lobo.

O filme é escrito e dirigido por Shawn Linden, que é muito competente em criar suspense. Scorsese costuma dizer que "cinema é o que está ou não está dentro do quadro", e Linden cria boas cenas de suspense ao mostrar os atores olhando para alguma coisa que você não sabe o que é... e só depois revelar o quadro geral. O filme também é bom em mostrar os detalhes nada fáceis de se morar na floresta. Há várias cenas em que se mostram animais sendo caçados e limpos, para se obter a carne e a pele. O pai é orgulhoso e diz que esta é a vida que ele escolheu. Mãe e filha fazem o que podem, mas estão cada vez mais com fome (literalmente). A ameaça do lobo, aos poucos, dá lugar a algo muito mais sinistro e aterrorizante. Há uma cena de arrepiar. Disponível na HBO Max. 

domingo, 8 de janeiro de 2023

O Pálido Olho Azul (The Pale Blue Eye, 2022)

O Pálido Olho Azul (The Pale Blue Eye, 2022). Dir: Scott Cooper. Netflix. Suspense histórico que vale mais pelo elenco e pela atmosfera sombria do que pelo desfecho. Em 1830, Christian Bale é chamado à academia militar de West Point para investigar a morte de um soldado que havia sido encontrado enforcado na floresta. O "detalhe" macabro é que o corpo havia sido violado... alguém havia retirado o coração do rapaz.

O personagem de Bale é auxiliado na investigação por um soldado da academia que é um poeta chamado Edgar Allan Poe (sim, aquele Edgar Allan Poe), interpretado muito bem por Harry Melling. O elenco ainda conta com bons nomes como Lucy Boynton, Charlotte Gainsbourg, Toby Jones, Timothy Spall, Simon McBurney.... um monte de atores britânicos se passando por americanos. Há também a participação de Robert Duvall e de Gillian Anderson.

Roteiro e direção são de Scott Cooper, que já trabalhou com Christian Bale antes em "Tudo por Justiça" (2013) e "Hostis" (2017). O filme tem uma atmosfera sombria e fria, em boa direção de fotografia de Masanobu Takayanagi, acompanhada pela trilha sonora de Howard Shore. Pena que o desfecho, cheio de "plot twists", seja um tanto decepcionante, mas não é um filme ruim. Tá na Netflix.

sábado, 17 de setembro de 2022

Boa noite, mamãe! (Goodnight Mommy, 2022)

Boa noite, mamãe! (Goodnight Mommy, 2022). Dir: Matt Sobel. Amazon Prime Video. Filme de suspense que é a versão americana de uma produção austríaca de 2014 (que eu não vi). Não posso comparar esta versão com a original, mas este filme estrelado por Naomi Watts é apenas razoável.

Dois garotos gêmeos, Elias e Lukas (Cameron Crovetti e Nicholas Crovetti) são levados pelo pai até uma casa de campo isolada (daquele tipo que só existe em filmes de terror). Lá eles se encontram com a mãe (Naomi Watss), que não viam há algum tempo. A mãe está com a cabeça coberta por bandagens; só os olhos, nariz e a boca podem ser vistos. Há um clima tenso entre a mãe e os garotos; ela estabelece regras (não brincar em um celeiro próximo, manter as janelas fechadas) e é fria com Elias quando este lhe dá um desenho que fez. Os garotos, por sua vez, começam a achar que aquela mulher, com o rosto coberto, talvez não seja realmente a mãe deles.

Como disse, não vi o filme original, mas algo me diz que a versão europeia é mais interessante. O clima inicial de suspense acaba substituído por uma série de situações bizarras em que não sabemos o que é real ou imaginação das crianças. A trama esconde um segredo que, sinceramente, não é muito difícil de descobrir. Naomi Watss, que andava meio subida das telas, passa grande parte do filme com o rosto coberto. Não é um filme ruim, mas também não é grande coisa (fiquei com vontade de ver o original). Disponível na Amazon Prime Video.

sábado, 20 de agosto de 2022

Ameaça Profunda (Underwater, 2020)

 
Ameaça Profunda (Underwater, 2020). Dir: William Eubank. Star+. Ficção científica B que é uma mistura de "O Segredo do Abismo" com "Alien". É daquele tipo de filme que usa os créditos iniciais para explicar a premissa com vários trechos de reportagens; ficamos sabendo que "estranhas criaturas" foram vistas nas "Fossas Marianas", o lugar mais profundo do planeta. Um ótimo lugar para se instalar uma estação submarina e uma broca de mineração, certo? Dez quilômetros debaixo d´água? O filme parte logo para a ação e uma Kristen Stewart de cabelo curtinho e pouca roupa está correndo desesperada na estação submarina. A estação é (aparentemente) atingida por um terremoto e os poucos sobreviventes tem que tentar ir de um ponto X a um ponto Y, sob a pressão de 10 km de água sobre suas cabeças, para tentar chegar à superfície.


Além de Kristen Stewart, o filme ainda tem Vincent Cassel como o "capitão" da estação submarina. Os outros personagens podem ser descritos como "a garota assustada", "o maluco", "o personagem negro que vai ser o primeiro a morrer", etc. É bastante difícil ver o que está acontecendo por grande parte do filme porque os efeitos são ruinzinhos e eles usam a desculpa do fundo do mar para deixar tudo bem escuro. Há um lado "terror" na forma de seres estranhos que foram acordados pela intervenção humana no fundo do Oceano (insira mensagem ecológica aqui) e atacam de tanto em tanto tempo. Ao menos é rapidinho, tem uma hora e meia e até que o monstrão final (claramente inspirado no Cthulhu de Lovecraft) é razoavelmente bem feito. Chamem a Ripley. Disponível no Star+.

domingo, 14 de agosto de 2022

A Fera (Beast, 2022)

 

A Fera (Beast, 2022). Dir: Baltasar Kormákur. Premissa simples e realização eficiente fazem deste filme uma boa pedida nos cinemas. Idris Elba é um viúvo que vai visitar a vila onde nasceu a esposa, na África, com as duas filhas adolescentes. Eles saem para passear em uma reserva de leões, com um amigo da família interpretado pelo sul-africano Sharlto Copley. O filme é feito com uma série de belos planos-sequência que nos coloca dentro da paisagem e um deles é incrível: vemos Copley saindo do jipe, caminhando pelo campo aberto e indo ao encontro de vários leões adultos, enormes, que o abraçam e brincam com ele em um take contínuo que não sei como foi feito (são leões de verdade?). Todo este início, imagino, serve para aplacar a possível fúria de defensores de animais, mostrando que os leões podem ser animais "dóceis" e sociáveis, em contraste com o que vem a seguir.


O que se segue é o típico filme de caça/caçador. Idris Elba, Copley e família são emboscados por um leão raivoso que havia devorado uma vila inteira e não está satisfeito. Seu comportamento não é comum, diz o especialista interpretado por Copley; o caso é que os humanos são presas quase indefesas diante de uma fera raivosa. O diretor/roteirista Baltasar Kormákur consegue criar cenas eficientes de suspense e os efeitos especiais são muito bem feitos ao retratar o leão. Há um bocado de cenas escuras (truque típico para esconder defeitos) mas há uma cena entre o leão e Idris Elba, em plena luz do dia, que é de tirar o fôlego. É um filme de sustos, que lembra vários outros do gênero (a cena do ataque do tiranossauro ao jipe, em Jurassic Park, é lembrada várias vezes), mas bem feito e bom de ver.

O filme está nos cinemas e abro aqui um parêntese: eu tinha um convite, então não paguei, e meu filho pagou meia (18 reais), mas fico pensando em como o modelo de negócios do cinema está insustentável. Um casal que pagasse duas entradas inteiras teria que desembolsar 72 reais para ver este filme. Sinceramente, eu não pagaria. Tanto que a sala, em pleno sábado no fim de semana de estreia, tinha só quatro pessoas na plateia (contanto eu e meu filho). Complicado.

terça-feira, 7 de junho de 2022

Stranger Things 4 (2022)

Stranger Things 4 (2022). Dir: Irmãos Duffer. Netflix. A criançada cresceu. Millie Bobby Brown, que interpreta 11, já está com dezoito anos. Os garotos, provavelmente, fazem a barba antes de subir nas bicicletas. Da escala hollywoodiana à longa duração dos episódios, tudo soa meio exagerado; mas é inegável que "Stranger Things" ainda tem aquele charme nostálgico que conquistou o mundo desde a primeira temporada, em 2016.

Esta quarta temporada (que foi dividida em duas partes) volta bem mais violenta e assume de vez o cinema de terror como influência. Como diria o Heath Ledger, "Why so serious?". Ao contrário da terceira temporada, talvez a mais leve e divertida, a série volta às origens de 11 (Millie Bobby Brown) em longas sequências de flashbacks sangrentos. Também são bastante violentas as mortes provocadas por um monstro chamado "Vecna", que ataca jovens que têm alguma culpa no passado e os destroça de forma bastante gráfica.

O garoto Will (Noah Schnapp) não é mais a vítima da vez. Aliás, ele pouco aparece nesta temporada, que separou os vários personagens em diversos "núcleos" (como nas novelas) distribuídos em cidades, estados e até países diferentes. Alguns desses núcleos são divertidos (as cenas passadas na cidade de Hawkins são as melhores); outros, porém, não funcionam direito. O coitado do David Harbour (que interpreta Jim Hopper) apanha a temporada inteira em uma prisão na antiga União Soviética. Quem ganhou destaque é a personagem Max (a ótima Sadie Sink), que protagoniza o melhor episódio da temporada, o quarto. Há um lance de ter uma "música favorita" que trouxe Kate Bush de volta às paradas de sucesso com a faixa "Running up that Hill", de 1985 (procurem no YouTube a versão ao vivo em que ela é acompanhada por David Gilmour, é sensacional).

Como veredito, diria que a série ainda é boa, mas talvez tenha crescido demais. Os episódios têm mais de uma hora de duração, alguns são como longa metragens, e nem sempre isso é necessário. Tecnicamente, é incrível a recriação fiel dos anos 1980, seja pelo figurino ou pela trilha sonora. A série volta em julho (e espero que termine de vez). Tá na Netflix.

domingo, 29 de agosto de 2021

Antebellum (2020)

107 - Antebellum (2020). Dir: Gerard Bush e Christopher Renz. HBO Max. Não sabia NADA sobre este filme quando fui assistir (que é como geralmente eu gosto de ver um filme), o que resultou em uma experiência no mínimo curiosa. Ruim mas, ao menos, curiosa. Ao dar uma lida a respeito depois, porém, fiquei pasmo sobre como toda e qualquer surpresa que existe no roteiro foi revelada em trailers, sinopses e praticamente qualquer mídia sobre o filme. "Antebellum" (que significa "antes da guerra", geralmente ao se referir ao período antes da Guerra Civil Americana), foi vendido como um filme na mesma linha de "Corra" e "Us", de Jordan Peele, que conseguiram a façanha de misturar filmes de terror com discussão racial. Vamos por partes.

"Antebellum" começa com um belo plano sequência em uma fazenda no Sul dos EUA, mostrando uma daquelas mansões brancas e lentamente indo até os fundos, onde ficavam os escravos. O plano termina com o assassinato de uma escrava que havia tentado fugir. Acompanhamos então, por uns 40 minutos, um filme na linha de "12 Anos de Escravidão", com toda a crueldade da época. Janelle Monáe é uma escrava chamada Eve, que sofre junto com os companheiros os abusos dos capatazes brancos, quase todos soldados do exército confederado, que lutava pelo Sul escravocrata dos EUA na Guerra Civil.

O filme então dá uma guinada para o presente, e a mesma Janelle Monáe é Veronica, uma ativista e escritora famosa, rica e bem casada. Todo o horror visto na primeira parte dá lugar a uma mulher empoderada, dona do nariz e do seu destino. Tudo muito bem, mas esta segunda parte é muito mal escrita e, a bem da verdade, chata. Acompanhamos Veronica hospedada em um hotel cinco estrelas e, depois, saindo para uma noitada com as amigas. Mas há algo errado, uma mulher que claramente é uma vilã caricata está rondando Veronica e você sabe que alguma coisa vai acontecer. O "presente vai repetir o passado", ou algum clichê do tipo. E eu não posso falar mais nada. A parte da escravidão é desagradável, claro, pelos abusos mostrados na tela. A parte moderna é simplesmente chata. E todo filme depende de algumas "surpresas" que, repito, estão reveladas nos trailers e até na sinopse da HBO Max. Enfim, veja por sua conta e risco. Uma coisa é certa, "Antebellum" está muito longe de "Corra". Disponível na HBO Max.

 

sábado, 28 de agosto de 2021

Estranho Passageiro - Sputnik (2020)

Estranho Passageiro - Sputnik (2020). Dir: Egor Abramenko. Netflix. Ficção científica russa com charme de filme B, "Sputnik" tem mais a ver com "Vida" (Life, 2017), do que com "Alien" (1979), mas bebe da mesma fonte. Passado em 1983, em plena Guerra Fria, a trama começa com dois astronautas soviéticos em órbita, se preparando para voltar para casa. Eles então percebem que "alguma coisa" está fora da nave, tentando entrar. Corta para uma base soviética, algum tempo depois; uma cientista chamada Tatiana (Oksana Akinshina) é chamada por um coronel para examinar um dos astronautas, Konstantin (Pyotr Fyodorov). Ele é o único sobrevivente daquele voo e carrega consigo algo assustador; um alien está alojado dentro do corpo dele, e sai todas as noites pela boca para explorar em volta. O design do alien é apropriadamente assustador, com longos braços e vários olhos, como uma aranha.

E é basicamente isso. O resto do filme é um embate entre a cientista, que quer salvar a vida do astronauta, e do coronel, que quer transformar o alien em algum tipo de arma. Há alguns segredos desagradáveis que o coronel não contou à cientista, que rendem as cenas mais violentas do filme. Há também uma discussão leve sobre o papel de pais e filhos (o astronauta teria largado um filho ilegítimo em um orfanato) e sobre a ligação simbiótica entre o alien e o astronauta. O filme é escuro e passa o visual utilitário (e analógico) de uma base soviética na Guerra Fria. A primeira parte é melhor que a segunda, mas é um filme interessante. Tá na Netflix.
 

quarta-feira, 5 de maio de 2021

À Espreita do Mal (I See You, 2019)

À Espreita do Mal (I See You, 2019). Dir: Adam Randall. Netflix. Bom suspense na Netflix que começa muito, muito bem e tem problemas em manter o nível até o final, "À Espreita do Mal" flerta com filmes de terror, com sobrenatural e com suspense policial. A primeira metade tem um ótimo suspense mantido no estilo de David Fincher (com toques de Michael Haneke). Um garoto é sequestrado na floresta (em uma cena surreal), colocando terror uma pequena cidade americana. Mas nada se compara ao clima pesado da casa da família Harper, composta pelo casal de meia idade Greg (Jon Tenney) e Jackie (Helen Hunt). Ele é policial, ela é psiquiatra e os dois estão com problemas familiares; ela teve um caso com um antigo colega da escola, o marido está dormindo no sofá e o filho adolescente, Connor (Judah Lewis) está revoltado.

A câmera está sempre em movimento, acompanhada por uma trilha sonora angustiante, enquanto vemos coisas estranhas acontecendo pela casa. A TV liga e desliga sozinha, fotos desaparecem da parede e todos têm a sensação de que "alguma coisa" está à espreita. Enquanto isso, a polícia tenta desvendar o caso do garoto desaparecido na floresta. Helen Hunt, coitada, está com o rosto distorcido por uma plástica que deu muito errado, mas até isso ajuda no suspense.

Lá pelo meio acontece uma coisa que não posso revelar e é quase como se começasse outro filme. A trama vira de pernas para o ar e não tenho certeza se tudo faz sentido; o caso é que grande parte do suspense evapora no ar. Ainda é um filme intrigante e o final é bom, embora não tanto quanto a primeira parte. Adam Randall, o diretor, é alguém para se prestar atenção. Tá na Netflix.
 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Os Escolhidos

Filmes de terror têm vários clichês. O mais irritante, provavelmente, seja aquele em que uma família se recuse a sair de casa quando algo muito estranho e perigoso está acontecendo. Eles não têm família? Amigos? Eles não têm...medo? Claro que se as pessoas agissem de forma racional em filmes deste tipo eles simplesmente deixariam de ser feitos; e há provavelmente certo prazer sádico na platéia em ver, na segurança do cinema, pessoas pagarem por seus erros estúpidos na tela.

"Os Escolhidos" está mais para a ficção-científica, embora utilize de todos os truques e sustos de um filme de terror. Um dos problemas deste filme é a total falta de originalidade. Substitua os fantasmas de "Poltergeist" (1982, oficialmente dirigido por Tobe Hooper, dirigido de fato por Steven Spielberg) por aliens, pegue os subúrbios americanos de "E.T." (1982, Spielberg novamente), com garotos andando de bicicleta e bandeiras americanas nas sacadas, misture com várias pitadas de "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" (1977, sim, de Steven Spielberg), adicione "Sinais" (2002, M. Night Shyamalan, inspirado por Spielberg) e qualquer episódio genérico de "Arquivo X" e você tem "Os Escolhidos".

O casal Daniel (Josh Hamilton) e Lacy (Keri Russell) Barrett estão a um passo de uma crise conjugal. Ele está desempregado e ela é uma corretora de imóveis que tenta vender uma casa (um elefante branco) sem sucesso. A falta de dinheiro começa a se fazer sentir no relacionamento, as pressões aumentam e as brigas se tornam frequentes. O casal tem dois filhos; Jesse (Dakota Goyo, o bom ator mirim de "Gigantes de Aço") está com 13 anos e demonstra os problemas da adolescência. Ele tem um amigo mais velho que não é flor que se cheire e uma paixão confusa (embora correspondida) por uma garota da vizinhança. (leia mais abaixo)


Os problemas começam quando Sam (Kadam Rockett), o filho mais novo do casal, começa a ter alguns pesadelos estranhos com um "ser" desconhecido. Seriam mesmo pesadelos? A mãe acorda durante a noite e encontra comida espalhada pelo chão. Em outra noite, alguém ou alguma coisa montou formas geométricas sobre a mesa da cozinha. Todas as fotos desaparecem dos porta retratos. Os alarmes da casa disparam de forma errática e a polícia está cética. Certamente um dos garotos está fazendo tudo isso?

Apesar da total falta de originalidade, é fato que o diretor/roteirista Scott Stewart, auxiliado por um bom elenco (Keri Russell está particularmente bem) consegue criar um suspense eficiente durante a longa exposição que estabelece a trama do filme. Há cenas bem feitas e os sustos são garantidos. O problema é que o filme começa com uma citação do escritor Arthur C. Clarke sobre extraterrestres (dizendo que tanto o fato deles existirem ou de estarmos sozinhos é assustador), então o espectador não tem que pensar muito sobre "quem" está causando os fatos estranhos experimentados pelos Barrett. E quando um "especialista" (vivido pelo ótimo J.K. Simmons, na melhor cena do filme) explica à família sobre "Greys" e outros tipos de "homenzinhos verdes", Stewart não sabe o que fazer com sua história. O final, apesar de uma tentativa do roteirista de criar uma "surpresa", não consegue salvar o filme. Melhor passar em uma locadora ou abrir a Netflix e assistir a todos os filmes que serviram de inspiração para este.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Uma Noite de Crime

Em 2022, os Estados Unidos estão vivendo dias com baixo desemprego e criminalidade graças a uma nova lei instituída pelos novos "Pais da Nação" (referência aos "Founding Fathers", os revolucionários do século 18 que libertaram o país do domínio britânico); a lei institui que, um dia por ano, todos os crimes são permitidos, incluindo assassinato. Na teoria, este dia de expurgo (tradução melhor para o título original, "The Purge") serviria para "limpar" o país da violência ao permitir que todo cidadão liberasse sua "besta interior", em um efeito catártico. Na prática, a lei permite uma limpeza social e racial uma vez por ano, uma vez que os mais atingidos são os pobres e indefesos.

Visto desta forma, a premissa de "Uma Noite de Crime" até promete um filme com alguma profundidade. Puro engano. Produzido por Jason Blum (da série "Atividade Paranormal") com baixíssimo orçamento (US$ 3 milhões de dólares), a trama é só uma justificativa para um "slasher" de terror B, daqueles em os personagens agem da forma menos inteligente possível para garantir os sustos da platéia. O elenco conta com Ethan Hawke, que adora fazer filmes de baixo orçamento e é amigo pessoal dos produtores, além de Lena Headey, a rainha Cercei Lannister de "Game of Thrones", no papel da esposa em perigo. Hawke interpreta James Sandin, o principal vendedor de uma empresa que instala equipamentos de segurança. Por causa da "noite do crime", ele enriquece rapidamente ao vender portas blindadas e sistemas de alarme avançados para toda a vizinhança onde mora. Para ele, tudo está correndo às mil maravilhas em sua família, composta por esposa dedicada e um casal de filhos adolescentes. Acontece que nesta "noite do crime" em especial algo dá errado; o filho de James, Charlie (Max Burkholder) fica com pena de um mendigo que vê pelas câmeras de segurança da casa e o deixa entrar para se proteger.


Alguns minutos depois a casa é cercada por um grupo de jovens vizinhos, todos ricos e educados, mas assassinos sanguinários que vieram reclamar seu direito de matar. Todos eles vem vestidos com seu "kit de filme de terror" particular, ou seja, com máscaras horrendas e facões pingando sangue. Eles conseguem cortar a luz da casa, a invadem, e então se desenrolam todos aqueles clichês que fazem a delícia dos fãs do gênero. Casa às escuras, a família resolve se separar (naquela lógica de filmes de terror) e ir cada um para um canto para enfrentar os invasores. Há várias cenas de corpos sendo atingidos por tiros de grosso calibre, machadadas, facadas, correrias no escuro e entes queridos salvos (ou não) no último instante. No fim das contas, um filme que tinha uma premissa interessante se desenrola como dúzias de outros filmes de suspense/terror que existem por aí. De qualquer forma, "The Purge" fez grande sucesso nas bilheterias americanas (e mais ainda mundo afora), recuperando várias vezes seu baixo orçamento, o que significa que continuações estão a caminho.

sábado, 16 de junho de 2012

Prometheus

O filme começa bem. Um prólogo mostra uma paisagem em planos largos que lembram a grandiosidade de Stanley Kubrick; fica claro que estamos em terreno influenciado por "2001 - Uma Odisséia no Espaço" (1968). E, assim como no filme de Kubrick, uma descoberta no passado faz uma ligação com seres extraterrestres, e uma nave espacial chamada "Prometheus" é enviada pela corporação Weyland para encontrar, talvez, os arquitetos da vida na Terra.

Tudo é extremamente bem feito pelo competente Ridley Scott, que tem no currículo pelo menos uma obra-prima, "Blade Runner" (1982), e que lançou, em 1979, um filme chamado "Alien - O Oitavo Passageiro", que gerou várias continuações inferiores. "Alien" também bebia na fonte de Stanley Kubrick mas, no fundo, não passava de um "filme de monstros", e é este o principal problema com "Prometheus", que traz a história anterior aos acontecimentos do filme de 1979. Por mais ambicioso que possa ser o roteiro, por melhores que sejam os atores e por mais impressionantes que sejam os efeitos especiais, o espectador sabe que, cedo ou tarde, o filme vai cair no terror "B" que, diga-se de passagem, muita gente foi ao cinema assistir. Pena que Ridley Scott não tenha tido coragem de fugir do óbvio mas, enquanto o filme é sério, ele é extremamente bom. O melhor personagem não é um ser humano, mas um andróide chamado David, interpretado pelo incansável Michael Fassbender (de "Shame"). É ele que mantém a nave funcionando na viagem de ida, enquanto a tripulação humana está hibernando, tempo que ele passa estudando línguas ou, em uma homenagem de Scott ao diretor David Lean, assistindo "Lawrence da Arábia" (1962).  David foi a estrela de um vídeo viral muito interessante lançado na internet meses antes do lançamento do filme, em uma esperta campanha de marketing. (veja aqui o discurso de Peter Weyland, interpretado por Guy Pearce, em outro viral)

A atriz sueca Noomi Rapace (a Lisbeth Salander original da série "Os Homens que não Amavam as Mulheres") é uma cientista chamada Elisabeth Shaw que, com o parceiro Charles Holloway (Logan Marshall-Green), foi quem descobriu que os extraterrestres visitaram a Terra há milênios. Rapace é boa atriz e foi uma boa escolha para substituir a figura memorável de Ripley, personagem que Sigourney Weaver interpretou nos filmes anteriores. Ridley Scott tem um senso estético apurado e o filme é bonito de se ver, com cenários e adereços que parecem reais, e não tirados de um videogame. O design da nave alienígena foi baseada no trabalho do artista H.R. Giger, que tem um visual orgânico e assustador.

E então começa o filme de terror, e é uma pena. Há uma cena tão absurda, que envolve Noomi Rapace passando por uma cirurgia no abdômen, que tira do filme qualquer seriedade ou verossimilhança. Apesar de tudo, "Prometheus" não deixa de ser uma experiência interessante e, ao menos durante a primeira parte, um bom filme de ficção científica. Visto no Kinoplex, em Campinas.

domingo, 14 de março de 2010

Ilha do Medo

"Nenhum homem é uma ilha", diz o ditado. Mas quem estuda um pouco de psicologia sabe que, na verdade, somos todos ilhas. Não há nada mais individual do que o modo como cada um vê e interpreta o mundo ao seu redor. O que é a realidade se não o modo como percebemos e interpretamos as coisas?

O novo filme de Martin Scorsese se passa integralmente em uma ilha, Shutter Island, no leste dos Estados Unidos. É uma ilha sanatório, para onde são enviados os pacientes mais perigosos e violentos. A trama também se passa em outra "ilha", nas memórias do personagem principal, Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio, em mais uma parceria com Scorsese), traumatizado pela morte de sua esposa em um incêndio e pelas lembranças terríveis de quando libertou um campo de concentração nazista, na II Guerra Mundial. Teddy é um agente federal que é enviado à Shutter Island com seu parceiro Chuck (o sempre competente Mark Ruffalo) investigar o misterioso desaparecimento de uma paciente. Eles são recebidos pelo doutor Cawley (Ben Kingsley), que tem teorias próprias quanto ao modo de tratar os pacientes.

"Ilha do Medo" é um filme de suspense com toques de terror, e vai se tornando cada vez mais sinistro conforme a trama avança. Nem sempre o roteiro funciona, mas a competência impecável de Scorsese na direção e a boa interpretação do sólido elenco (que conta ainda com nomes como Max von Sidow e Emily Mortimer) contornam eventuais problemas. Scorsese é genial em mostrar que nem tudo é o que parece com pequenos detalhes, como a rápida cena em que um personagem "toma água" com um copo inexistente, ou um farol de navegação que não parece estar duas vezes no mesmo lugar. DiCaprio pode não ser um substituto à altura de Robert DeNiro (o antigo colaborador habitual de Scorsese), mas é bom ator e, aos poucos, vai passando ao espectador a sensação de que há algo errado com seu personagem. Ou será que o problema não é com ele? Será que Teddy é apenas paranóico ou há realmente um plano sombrio por trás do Dr. Cawley e os médicos da ilha? Ou, como diz uma piada de humor negro, "meus remédios para a paranóia estão tramando contra mim". Há, claro, ecos de Hitchcock em vários momentos do filme, de "Um Corpo que Cai" à "Psicose". E alguns toques de "O Iluminado", de Stanley Kubrick.

Dependendo de como se encara a trama (e o que é real ou não), o final pode ser tanto absurdo quanto aceitável. Não é um filme perfeito, e Scorsese já teve dias melhores. Mas, enquanto se desenrola, "Ilha do Medo" cumpre seu papel de intrigar e assustar o espectador.




PS: A trilha de "Ilha do Medo" foi organizada por Robbie Robertson. O tema principal do filme é a Sinfonia número 3 de Penderecki, que pode ser ouvida aqui:

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O Nevoeiro

O roteirista e diretor Frank Darabont é um caso de grande profissional com carreira irregular. Ele tem como espécie de marca particular um tipo de filme que, geralmente, prima pela classe, pelo ritmo lento e pelos bons atores. Darabont também se especializou em adaptar as obras de Stephen King que fogem dos filmes de terror mais rasos para obras em que o suspense é mais importante. "Um Sonho de Liberdade", de 1994, é um grande filme com Tim Robbins e Morgan Freeman que conta, de forma comovente, o dia a dia de um grupo de presos, um deles inocente, que planeja uma espetacular fuga. Já "À Espera de um Milagre", de 1999, não achei assim tão bom, nem tão sutil, mas ainda era um filme interessante. "Cine Majestic", de 2001, foi uma nostálgica homenagem ao cinema e aos filmes de Frank Capra e John Ford, com um roteiro que misturava a magia de Cinema Paradiso com os filmes sobre o período do Macartismo.

Agora ele retorna a Stephen King com a adaptação de "O Nevoeiro" (The Mist, 2007), filme que chega só agora às telas brasileiras. Infelizmente, é uma grande decepção. Em uma pequena cidade dos Estados Unidos, uma estranha névoa surge das montanhas após uma violenta tempestade. David Drayton (Thomas Jane), um desenhista de pôsteres de cinema, vai à cidade com seu filho comprar mantimentos quando a tal névoa chega e cobre tudo, trazendo junto uma ameaça desconhecida: um homem, desesperado e com sangue no rosto, diz que há "algo" dentro do nevoeiro, e que ninguém deve sair do supermercado. O cenário e a situação são típicos dos filmes "B" de ficção científica dos anos 1950, com seus personagens unidimensionais e seus monstros de borracha. Mas Darabont leva seu filme à sério, com um estilo que lembra os filmes de M. Night Shyamalan, que já fez filmes bons como "Sinais" (2002) ou equívocos como "Fim dos Tempos" (2008). O supermercado se torna uma espécie de radiografia dos Estados Unidos, com personagens que representam os diversos pontos de vista encontrados no país. Acuados, lá estão o advogado racionalista, Norton (Andre Braugher) que não acredita que haja monstros lá fora, o caipira ignorante (William Sadler), a loira de classe média (Laurie Holden), e assim por diante. O fanatismo religioso é representado pela Sra Carmody (Marcia Gay Harden, fazendo o que pode), que acredita que o fim do mundo chegou e que ela é a mensageira de Deus para salvar as almas da perdição.

Darabont põe tudo a perder na cena em que mostra as criaturas. Em um filme como este teria sido muito melhor deixar a imaginação do espectador funcionar e, junto com os personagens do filme, imaginar as ameaças que existem lá fora. Mas não. Darabont, na primeira oportunidade, mostra tentáculos gigantes (claramente feitos em computação gráfica) invadirem o estoque do supermercado e, em uma cena com muito sangue, fazer sua primeira vítima. Por que mostrar tanto, tão cedo no filme? E, para piorar, os tais tentáculos não têm relação com nada do que se vê depois. Há uma cena um pouco mais eficiente quando, ao cair da noite, insetos enormes começam a pousar no vidro do supermercado. Apesar de visualmente artificiais, os insetos ainda conseguem causar um temor natural que as pessoas têm de criaturas que elas podem reconhecer. Mesmo assim, logo a mão pesada dos efeitos especiais ataca novamente e criaturas inverossímeis começam a fazer vítimas. O estranho é que as ameaças, como em um videogame, chegam em fases. O desenhista David Drayton se torna uma espécie de líder da parte mais racional do grupo, enquanto os outros se juntam ao fanatismo da Sra Carmody. Mas o roteiro nem mesmo se decide com relação às ameaças lá fora. Em um momento sair do supermercado significa morte certa. Em outro, nada acontece. Tudo isso em longos 126 minutos, que terminam de forma artificial e afetada. Se for para ver um filme de monstros menos auto-importante e muito mais eficiente, veja "Cloverfield".