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domingo, 11 de setembro de 2016

O Homem nas Trevas (2016)

Stephen Lang é um veterano da guerra do Iraque que vive sozinho em um bairro pobre de Detroit. Ele ficou cego no conflito e divide a casa com um cachorro bastante assustador e uma série de travas na porta.

Rocky (Jane Levy), Alex (Dylan Minnette) e Money (Daniel Zovatto) são três jovens que se especializaram em pequenos assaltos em casas ricas da cidade, levando relógios e aparelhos eletrônicos que vendem por trocados para um chefão local. Rocky, particularmente, mal pode esperar para conseguir juntar dinheiro suficiente para deixar a decadente Detroit e se mudar para a ensolarada Califórnia com a irmã pequena. Um dia eles recebem a dica de que o veterano cego citado acima está sentado sobre uma bolada de dinheiro que ele teria recebido como indenização em acidente que matou a filha. Nada mais fácil do que roubar um velho cego, certo?

"O Homem nas Trevas" (Don´t breathe, no original) é um bom filme de suspense baseado nesta premissa simples. Os três jovens invadem a casa do cego (fazendo tanto barulho que, pelo jeito, eles também achavam que ele era surdo) e acabam enfrentando um antagonista muito mais preparado e letal do que eles imaginavam. O filme se passa quase todo dentro da casa, muito bem filmada pelo diretor Fede Alvarez (de "A Morte do Demônio") e seu fotógrafo, Pedro Luque. A câmera passeia pelos quartos e corredores com uma fluidez que me lembraram "O Quarto do Pânico", filme lançado por David Fincher em 2002. As primeiras cenas fazem um bom trabalho em explicar ao espectador a geografia da casa, o que vai ser útil ao longo do filme.


A premissa me lembrou também "Um Clarão nas Trevas" (1967), em que Audrey Hepburn fazia uma moça cega que tinha que enfrentar um grupo de ladrões. A diferença é que este filme é feito seguindo os passos de um filme de terror, ou seja, muitas cenas passadas na escuridão (quando o homem cego tem uma vantagem sobre seus oponentes), "jump scares" e suspense. Há também lugar para um segredo um tanto bizarro (e, sinceramente, difícil de acreditar) que o homem cego guarda na casa. Destaque para o elenco, principalmente pela escolha de Stephen Lang para interpretar o veterano. Por dois terços do filme ele mal diz uma palavra mas consegue passar medo apenas com seu rosto marcado.

"O Homem nas Trevas" não é nenhuma obra prima nem vai ficar para a História, mas é bastante competente em entregar o que promete: sustos e bastante suspense.

PS: o trailer abaixo contém vários SPOILERS, esteja avisado.

João Solimeo

domingo, 14 de março de 2010

Ilha do Medo

"Nenhum homem é uma ilha", diz o ditado. Mas quem estuda um pouco de psicologia sabe que, na verdade, somos todos ilhas. Não há nada mais individual do que o modo como cada um vê e interpreta o mundo ao seu redor. O que é a realidade se não o modo como percebemos e interpretamos as coisas?

O novo filme de Martin Scorsese se passa integralmente em uma ilha, Shutter Island, no leste dos Estados Unidos. É uma ilha sanatório, para onde são enviados os pacientes mais perigosos e violentos. A trama também se passa em outra "ilha", nas memórias do personagem principal, Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio, em mais uma parceria com Scorsese), traumatizado pela morte de sua esposa em um incêndio e pelas lembranças terríveis de quando libertou um campo de concentração nazista, na II Guerra Mundial. Teddy é um agente federal que é enviado à Shutter Island com seu parceiro Chuck (o sempre competente Mark Ruffalo) investigar o misterioso desaparecimento de uma paciente. Eles são recebidos pelo doutor Cawley (Ben Kingsley), que tem teorias próprias quanto ao modo de tratar os pacientes.

"Ilha do Medo" é um filme de suspense com toques de terror, e vai se tornando cada vez mais sinistro conforme a trama avança. Nem sempre o roteiro funciona, mas a competência impecável de Scorsese na direção e a boa interpretação do sólido elenco (que conta ainda com nomes como Max von Sidow e Emily Mortimer) contornam eventuais problemas. Scorsese é genial em mostrar que nem tudo é o que parece com pequenos detalhes, como a rápida cena em que um personagem "toma água" com um copo inexistente, ou um farol de navegação que não parece estar duas vezes no mesmo lugar. DiCaprio pode não ser um substituto à altura de Robert DeNiro (o antigo colaborador habitual de Scorsese), mas é bom ator e, aos poucos, vai passando ao espectador a sensação de que há algo errado com seu personagem. Ou será que o problema não é com ele? Será que Teddy é apenas paranóico ou há realmente um plano sombrio por trás do Dr. Cawley e os médicos da ilha? Ou, como diz uma piada de humor negro, "meus remédios para a paranóia estão tramando contra mim". Há, claro, ecos de Hitchcock em vários momentos do filme, de "Um Corpo que Cai" à "Psicose". E alguns toques de "O Iluminado", de Stanley Kubrick.

Dependendo de como se encara a trama (e o que é real ou não), o final pode ser tanto absurdo quanto aceitável. Não é um filme perfeito, e Scorsese já teve dias melhores. Mas, enquanto se desenrola, "Ilha do Medo" cumpre seu papel de intrigar e assustar o espectador.




PS: A trilha de "Ilha do Medo" foi organizada por Robbie Robertson. O tema principal do filme é a Sinfonia número 3 de Penderecki, que pode ser ouvida aqui: