Mostrando postagens com marcador rosamund pike. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador rosamund pike. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 19 de maio de 2021

O Informante (The Informer, 2019)

O Informante (The Informer, 2019). Dir: Andrea Di Stefano. Netflix. Bom filme policial produzido em 2019 mas que passou anos na "gaveta" por problemas financeiros. Tem vários clichês, mas o bom elenco compensa. Joel Kinnaman é Pete Koslow, um ex-presidiário que trabalha infiltrado na máfia polonesa; uma ambiciosa agente do FBI (Rosamund Pike) quer usá-lo para derrubar um chefão do narcotráfico polonês conhecido como "O General" (Eugene Lipinski). Só que acontece um problema em uma operação e um policial de Nova York é morto. Kinnaman é enviado de volta para a prisão e sua única chance de ficar livre é entregar toda rede de tráfico que acontece na cadeia.

Complicado? Pois é, mas o roteiro faz um bom trabalho em apresentar as várias tramas que cercam o personagem de Kinnaman. O FBI precisa das informações dele. A polícia de Nova York (representada por um policial interpretado pelo rapper Common) quer desvendar a morte de um de seus homens. A máfia polonesa quer distribuir um grande carregamento de heroína dentro da prisão. E Joel Kinnaman tem que se manter vivo em meio a tantas facções diferentes e ainda proteger a esposa (a cubana Ana de Armas) e a filha. Clive Owen faz seu tradicional papel de babaca como um diretor do FBI. A direção é do ator, diretor e roteirista italiano Andrea Di Stefano. Tá na Netflix.
 

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Radioactive (2019)

Radioactive (2019). Dir: Marjane Satrapi. Netflix. Biografia da cientista Marie Curie (Rosamund Pike), a primeira mulher a ganhar não só um, mas dois prêmios Nobel. Pena que o filme seja tão quadradinho. A Marie Curie interpretada por Rosamund Pike tem só dois humores: combativa ou sorridente, não há meio termo. Na tentativa de ser didático, o filme se transforma em um "especial de TV" em momentos em que uma arte em computação gráfica aparece na tela para ilustrar algum conceito científico. Vemos representações de átomos e reações físico-químicas como em algum documentário da BBC, por exemplo, enquanto Marie Curie explica para alguém o que ela está estudando.


Mais estranho ainda são cenas que aparecem do nada mostrando acontecimentos no futuro, envolvendo radiação. O problema é que estas cenas são entrecortadas com os acontecimentos no começo do século XX, e para um desavisado vai parecer que o discurso que Pierre Curie fez ao receber o Prêmio Nobel em 1903 aconteceu ao mesmo tempo que o lançamento da bomba de Hiroshima em 1945, por exemplo. Isso é repetido em outros momentos, aleatoriamente, com recriações de testes nucleares em Nevada nos anos 1950 ou mesmo o desastre nuclear de Chernobyl, em 1986.

Por fim, para uma biografia, há vários problemas históricos. No filme, apenas o marido de Marie, Pierre, vai receber o prêmio Nobel, o que causa uma cena de revolta e ciúmes em Marie. Tenho certeza que Marie Curie sofreu muito preconceito por ser uma mulher, mas por que inventar uma situação que não aconteceu, justamente com o prêmio Nobel? Rosamund Pike faz o que pode com o papel, que é mal escrito. A direção é de Marjane Satrapi, que fez a ótima animação "Persépolis" (2007). Tá na Netflix.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Garota Exemplar (com SPOILERS)

escrevi sobre este filme aqui no blog, mas após rever o longa de David Fincher resolvi falar mais a respeito. Ao contrário do outro texto, em que tentei ser o mais vago possível, este é um texto voltado a quem já assistiu ao filme. Esta crítica contém spoilers, considere-se avisado.

É possível tecer várias teorias válidas a respeito de "Garota Exemplar". Vou tentar expor algumas ideias que me ocorreram durante as duas vezes que me deixei levar por este filme singular.

Uma imagem me chamou a atenção nesta segunda visita. No terço final do filme, quando Amy volta para casa após ter matado o personagem de Neil Patrick Harris, ela é interrogada pelo FBI e pela polícia. Ela é colocada em xeque pela policial Boney (Kim Dickens), mas consegue se safar. É então que a vemos no banco de trás de um carro, sendo levada para casa. Ela está surpresa com a quantidade de repórteres e curiosos que estão esperando por ela, e podemos ver uma expressão de alegria quase infantil em seu rosto. Após passar pelo inferno (mesmo que um inferno causado por ela mesma), ela retorna para casa como uma espécie de heroína. E, fato importante, as pessoas estão vibrando por ela e não por "Amazing Amy", a personagem de ficção que os pais haviam criado (e feito uma fortuna com ela) em uma série de livros infantis. Eu me pergunto se Amy não fez tudo aquilo apenas para conseguir finalmente superar seu alter-ego literário.


É importante voltar a uma cena no início do filme em que Amy e o futuro marido, Nick, estão em uma recepção para celebrar o casamento fictício da personagem. Amy descreve como os pais haviam transformado a garota fictícia em uma versão perfeita da filha; se a Amy real era ruim em esportes, "Amazing Amy" era uma atleta, e assim por diante. Apesar de filha única, Amy teve que competir a vida toda com uma "irmã" exemplar. O que também nos leva à relação entre Nick e a irmã gêmea dele, Margo (Carrie Coon). Reparem com que desprezo Amy diz ao FBI, na cena descrita acima, que Nick guardava na garagem da irmã as coisas que ele comprou com o cartão de crédito. "Eles são muito próximos", ela sussurra.


Amy quer ser alguém. Ela quer ser uma escritora de verdade, não uma mera colunista de uma revista feminina. Ao mesmo tempo, ela se ressente da família amorosa do marido (que saiu de Nova York para cuidar da mãe doente) e, ao descobrir que ele a está traindo com uma aluna, quer se vingar dele. Mas não creio que vingança seja o único desejo dela. Ela não quer uma simples vingança. Ela quer planejar a história perfeita, o "livro" perfeito. Perceba com que paixão literária ela mergulha na escrita do diário falso em que descreve seu relacionamento. A policial, quando o encontra na cabana do pai de Nick, mal consegue parar de lê-lo. Nós da platéia também embarcamos na ficção de Amy. Ela usa de clichês românticos como o encontro por acaso em uma festa ou a criação de "símbolos" afetivos do casal, como o cobrir do queixo do marido quando está dizendo a verdade. Ela cria "caças ao tesouro" a cada aniversário de casamento, forçando o marido a seguir pistas, como em um ensaio para o crime perfeito que ela fará um dia.

Amy, mesmo em fuga e morando em um motel barato, não consegue ficar longe dos programas sensacionalistas da TV que a transformaram na heroína que ela sempre quis ser. Falhando em ser uma escritora na vida real, ela decidiu se tornar autora do próprio drama doentio, e planeja levar a todos com ela.

Nick, no final, parece estar ciente disto tudo. "Vocês devem estar muito orgulhosos dela", ele diz aos sogros em uma cena em que Amy está há quatro horas dando autógrafos. A ironia do texto de Gillian Flynn e do filme de David Fincher é que, no fundo, as pessoas fariam de tudo para ser bem sucedidas e famosas. E para manter um relacionamento, por mais doentio que seja. Apesar de tudo o que passou com a esposa, Nick Dunne se rende às maquinações de Amy e entra no jogo dela. É o advogado (sempre prático) que diz: "Vocês têm um contrato para fazer um filme, um livro, o bar vai virar uma franquia...você deveria agradecer à ela". E acrescenta: "Só não a irrite".

Kim Novak em "Um Corpo que Cai" (1958)

Janet Leigh em "Psicose" (1963)

Rosamund Pike em "Garota Exemplar"

Um parênteses para as várias referências ao mestre Hitchcock. Rosamund Pike é a perfeita loira de Hitchcock, e estaria à vontade em um filme dele. Há várias referências a "Psicose", como a cena do chuveiro (o sangue escorrendo pelo ralo), ou a cena em que um policial encontra Amy dormindo dentro do carro e ela vai embora. Há toques de "Um Corpo que Cai" também. O filme de Hitchcock ficou famoso por revelar seu segredo no meio da trama, e não no final, e o mesmo acontece em "Garota Exemplar". Há também o tema de alguém querer transformar outra pessoa em um imagem idealizada, como James Stewart faz com Kim Novak em "Um Corpo que Cai". A questão do casamento, suas alegrias e problemas, também foi usado por Hitchcock em "Janela Indiscreta", em que Grace Kelly quer se casar com o fotógrafo James Stewart, que está reticente a respeito. Ele assiste a vários tipos de relacionamentos (inclusive um que termina em morte) pela janela do apartamento, onde está preso com uma perna quebrada, e não acha que é uma boa ideia.  

Várias outras teorias podem ser feitas a partir do filme de Fincher. Assista o filme e desenvolva a sua.

João Solimeo

domingo, 5 de outubro de 2014

Garota Exemplar

Ok, por onde eu começo? Provavelmente, por David Fincher. Que diretor hoje teria a capacidade de pegar uma trama rocambolesca e novelesca como a de "Garota Exemplar" e conseguir, primeiro: lhe  dar coesão; segundo: não entregar uma telenovela? Não conheço o livro de Gillian Flynn que serviu de base para o roteiro (adaptado pela própria Flynn), mas ele parece ter todos os elementos de um best seller de sucesso sensacionalista escrito por figuras como Sidney Sheldon ou Patricia Highsmith.

Fincher é um técnico consumado que construiu sua carreira a partir de videoclips meticulosamente dirigidos (como Vogue, de Madonna), comerciais de TV e como técnico da ILM, a empresa de efeitos especiais de George Lucas. Apesar de uma estréia cinematográfica mal sucedida em "Alien³" (1992), estabeleceu sua visão de mundo um tanto sinistra em filmes como "Se7en - Os Sete Pecados Capitais" (1995), "Clube da Luta"(1997) e o excepcional "Zodíaco" (2007). Apaixonou-se pelo cinema digital (Fincher é um dos principais usuários das câmeras RED) e levou a técnica ao limite em filmes como "A Rede Social" (2010), "Os homens que não amavam as mulheres" (2011) e a série "House of Cards", da Netflix. Fez até algumas bobagens pelo caminho, como "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008) e filmes divertidos, mas menores, como "Quarto do Pânico" (2002).

Todo este preâmbulo para voltarmos a "Garota Exemplar", do qual é difícil falar da trama (ou das múltiplas tramas) sem revelar seus segredos. Fincher subverte as convenções do thriller e entrega algo a mais, um olhar afiado sobre a sociedade do espetáculo criada pela mídia com a colaboração do público.

No dia do quinto aniversário de casamento de Nick (Ben Affleck, de "Argo") e Amy (Rosamund Pike, de "Jack Reacher - O Último Tiro"), ela desaparece em pleno ar. A polícia encontra traços de sangue pela casa e outras pistas de um suposto crime. Nick é o principal suspeito, mas ele parece tão perdido que, a princípio, a polícia pega leve com ele. Amy era muito bonita e havia sido uma escritora de sucesso; seu desaparecimento poderia ter sido causado por algumas figuras do passado, como um obcecado ex-namorado, Desi (interpretado por Neil Patrick Harris, da série "How I met you mother").


Os pais de Amy, que haviam sido da alta sociedade de Nova York, organizam uma campanha na mídia para encontrar a filha e comovem a nação. O comportamento de Nick é considerado estranho. Ele não parece tão abalado com o sumiço da esposa e não consegue interpretar o papel do "marido desesperado" em frente às câmeras. Ele está escondendo alguma coisa?

Os segredos do casal são revelados aos poucos através de uma montagem paralela que mistura cenas do presente com trechos lidos por Amy diretamente do diário dela. Ela descreve um casamento que começou de forma perfeita mas, aos poucos, foi sendo minado pela crise financeira e supostos atos violentos por parte de Nick.

Fincher e o roteiro de Flynn brincam o tempo todo com a percepção do público. Logo descobrimos que não podemos acreditar piamente nas informações apresentadas, nem mesmo nos supostos flashbacks contando a história do casal (dizem que Hitchcock sempre se arrependeu de ter usado um falso flashback em um de seus suspenses, "Pavor nos Bastidores", de 1950, mas o recurso é muito bem utilizado aqui).

"Garota Exemplar" não tem a seriedade contida de filmes anteriores de Fincher, como "Se7en", cujo roteiro, racionalmente, também não fazia muito sentido. As várias reviravoltas transformam o filme em uma série de episódios cada vez mais absurdos, que Fincher contrabalança com o aumento da sátira e até mesmo com comentários metalinguísticos dos personagens. É bem vinda a entrada de um advogado interpretado muito bem por Tyler Perry, que faz uma espécie de contraponto satírico aos fatos da trama. Todo o elenco, aliás, está muito bem (a começar por Affleck e Pike); destaques para Carrie Coon (muito parecida com Joan Cusack), que interpreta a irmã gêmea de Affleck, e Kim Dickens como a policial que é a "voz da razão" do filme.

O final, bastante irônico, pode decepcionar àqueles que esperam uma resolução tradicional. "Zodíaco" também não terminava da forma "redonda" que muitos queriam. "Garota Exemplar", com sua mistura de suspense, sensacionalismo, sexo e muito sangue, porém, é um dos melhores filmes do ano.