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domingo, 13 de novembro de 2022

Um lugar bem longe daqui (Where the Crawdads Sing, 2022).

Um lugar bem longe daqui (Where the Crawdads Sing, 2022). Dir: Olivia Newman. HBO Max. Típico "filme de Supercine", rs, "Um lugar bem longe daqui" é baseado em um bestseller de Delia Owens. Kya Clark (Daisy Edgar-Jones) é uma garota que mora em uma cabana no pântano, na Carolina do Norte. Ela é chamada de "Menina do Brejo" pelos habitantes da cidade vizinha, que sempre a trataram mal. Garotos de bicicleta descobrem o corpo de um rapaz no brejo e, claro, a garota é acusada de matá-lo. Nem fica muito claro se houve um crime ou se o rapaz simplesmente sofreu um acidente, mas a garota é presa e a trama se torna um filme de tribunal.

Longos flashbacks mostram como Kya, quando criança, sofreu nas mãos de um pai abusivo. A mãe, as irmãs e o irmão vão embora, um a um (sem nem se preocupar com a irmã mais nova?) e a criança, sozinha, aprende a se manter vendendo mariscos, que caça todas as manhãs. Quando adulta, Kya é interpretada pela inglesa Daisy Edgar-Jones, que mais parece uma boneca de porcelana do que com uma mulher que passou a vida inteira trabalhando sob o Sol. Com a ajuda de um rapaz, Tate (Taylor John Smith), ela não só aprende a ler e a escrever como consegue, nos anos 1960, publicar um livro sobre os animais e plantas da região (com ilustrações em aquarela e nome em latim e tudo). Detalhe: ela faz isso tudo por correspondência (home office?), sem nunca encontrar os editores. De uma cabana. No pântano.

Ah, sim, o filme de tribunal. O grande David Strathairn se oferece para ser o advogado na moça, mas o caso era tão sem fundamento, desde o início, que fica difícil se importar muito com o resultado. Uma das produtoras é a atriz Reese Whiterspoon, que comprou os direitos do livro (que vendeu 12 milhões de cópias). A adaptação para o roteiro foi escrita por Lucy Alibar, que escreveu outro livro sobre uma garota crescendo no brejo, "Indomável Sonhadora" (2012). Para passar o tempo. Disponível na HBO Max.

domingo, 5 de outubro de 2014

Garota Exemplar

Ok, por onde eu começo? Provavelmente, por David Fincher. Que diretor hoje teria a capacidade de pegar uma trama rocambolesca e novelesca como a de "Garota Exemplar" e conseguir, primeiro: lhe  dar coesão; segundo: não entregar uma telenovela? Não conheço o livro de Gillian Flynn que serviu de base para o roteiro (adaptado pela própria Flynn), mas ele parece ter todos os elementos de um best seller de sucesso sensacionalista escrito por figuras como Sidney Sheldon ou Patricia Highsmith.

Fincher é um técnico consumado que construiu sua carreira a partir de videoclips meticulosamente dirigidos (como Vogue, de Madonna), comerciais de TV e como técnico da ILM, a empresa de efeitos especiais de George Lucas. Apesar de uma estréia cinematográfica mal sucedida em "Alien³" (1992), estabeleceu sua visão de mundo um tanto sinistra em filmes como "Se7en - Os Sete Pecados Capitais" (1995), "Clube da Luta"(1997) e o excepcional "Zodíaco" (2007). Apaixonou-se pelo cinema digital (Fincher é um dos principais usuários das câmeras RED) e levou a técnica ao limite em filmes como "A Rede Social" (2010), "Os homens que não amavam as mulheres" (2011) e a série "House of Cards", da Netflix. Fez até algumas bobagens pelo caminho, como "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008) e filmes divertidos, mas menores, como "Quarto do Pânico" (2002).

Todo este preâmbulo para voltarmos a "Garota Exemplar", do qual é difícil falar da trama (ou das múltiplas tramas) sem revelar seus segredos. Fincher subverte as convenções do thriller e entrega algo a mais, um olhar afiado sobre a sociedade do espetáculo criada pela mídia com a colaboração do público.

No dia do quinto aniversário de casamento de Nick (Ben Affleck, de "Argo") e Amy (Rosamund Pike, de "Jack Reacher - O Último Tiro"), ela desaparece em pleno ar. A polícia encontra traços de sangue pela casa e outras pistas de um suposto crime. Nick é o principal suspeito, mas ele parece tão perdido que, a princípio, a polícia pega leve com ele. Amy era muito bonita e havia sido uma escritora de sucesso; seu desaparecimento poderia ter sido causado por algumas figuras do passado, como um obcecado ex-namorado, Desi (interpretado por Neil Patrick Harris, da série "How I met you mother").


Os pais de Amy, que haviam sido da alta sociedade de Nova York, organizam uma campanha na mídia para encontrar a filha e comovem a nação. O comportamento de Nick é considerado estranho. Ele não parece tão abalado com o sumiço da esposa e não consegue interpretar o papel do "marido desesperado" em frente às câmeras. Ele está escondendo alguma coisa?

Os segredos do casal são revelados aos poucos através de uma montagem paralela que mistura cenas do presente com trechos lidos por Amy diretamente do diário dela. Ela descreve um casamento que começou de forma perfeita mas, aos poucos, foi sendo minado pela crise financeira e supostos atos violentos por parte de Nick.

Fincher e o roteiro de Flynn brincam o tempo todo com a percepção do público. Logo descobrimos que não podemos acreditar piamente nas informações apresentadas, nem mesmo nos supostos flashbacks contando a história do casal (dizem que Hitchcock sempre se arrependeu de ter usado um falso flashback em um de seus suspenses, "Pavor nos Bastidores", de 1950, mas o recurso é muito bem utilizado aqui).

"Garota Exemplar" não tem a seriedade contida de filmes anteriores de Fincher, como "Se7en", cujo roteiro, racionalmente, também não fazia muito sentido. As várias reviravoltas transformam o filme em uma série de episódios cada vez mais absurdos, que Fincher contrabalança com o aumento da sátira e até mesmo com comentários metalinguísticos dos personagens. É bem vinda a entrada de um advogado interpretado muito bem por Tyler Perry, que faz uma espécie de contraponto satírico aos fatos da trama. Todo o elenco, aliás, está muito bem (a começar por Affleck e Pike); destaques para Carrie Coon (muito parecida com Joan Cusack), que interpreta a irmã gêmea de Affleck, e Kim Dickens como a policial que é a "voz da razão" do filme.

O final, bastante irônico, pode decepcionar àqueles que esperam uma resolução tradicional. "Zodíaco" também não terminava da forma "redonda" que muitos queriam. "Garota Exemplar", com sua mistura de suspense, sensacionalismo, sexo e muito sangue, porém, é um dos melhores filmes do ano.