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quarta-feira, 7 de setembro de 2022

A Luz é para Todos (Gentleman´s Agreement, 1947)

 
A Luz é para Todos (Gentleman´s Agreement, 1947). Dir: Elia Kazan. Star+. De vez em quando gosto de ver algum filme antigo, principalmente quando está escondido em um serviço de streaming. Este é de 1947 e venceu os Oscars de "Melhor Filme", "Diretor" (Kazan) e "Melhor Atriz Coadjuvante" (Celeste Holm). Gregory Peck é um jornalista da Costa Oeste que se muda para Nova York para escrever um artigo sobre antissemitismo para uma revista. Cristão, ele passa algumas semanas sem saber como abordar o tema quando... eureka! Ele decide que vai se apresentar como judeu a todos que encontrar, incluindo companheiros de trabalho e os familiares da nova namorada, Kathy (Dorothy McGuire). O roteiro, escrito por Moss Hart e adaptado de um livro de Laura Z. Hobson, é cheio daqueles "discursos" que você escuta de personagens em filmes mais antigos (ou alguns filmes brasileiros, hoje, rs). Não é uma reclamação, é só um fato... interpretação, diálogos e a própria cadência das falas eram mais teatrais naquela época (Hollywood havia saído dos filmes mudos há duas décadas).

Gregory Peck nasceu para fazer personagens íntegros e ele está muito bem no papel. O filme causou certa polêmica na época por expor o "acordo de cavalheiros" (título original do filme) que havia entre as pessoas de discriminar judeus no mercado de trabalho, nas escolas ou em contratos imobiliários. O personagem de Peck começa a ter problemas com a namorada porque, apesar dela apoiar a ideia, a coisa muda de figura quando ela tem que fingir que está se relacionando com um judeu.

É um bom filme, embora, visto hoje, pareça um pouco ingênuo. Como disse o crítico Peter Bradshaw no "The Guardian", simplesmente dizer que é judeu não torna uma pessoa um. Em nenhum momento Gregory Peck enfrenta problemas com a cultura judaica, a comida, religião, costumes, etc. Um judeu de verdade provavelmente perceberia que ele estava fingindo, mas ele interage com vários e ninguém percebe. O filme, hoje, provavelmente seria acusado de "lacração". A propósito: a cópia no Star+ está ótima, provavelmente passou por uma restauração.

quarta-feira, 5 de maio de 2021

Dois Estranhos (Two Perfect Strangers, 2020)

Dois Estranhos (Two Perfect Strangers, 2020). Dir: Travon Free e Martin Desmond Roe. Curta metragem (32 minutos) vencedor do Oscar, "Dois Estranhos" pega a premissa de "Feitiço do Tempo" (e vários outros filmes depois) e coloca forte componente social e racial. Um cartunista, Carter James (Joey Bada$$) acorda toda manhã ao lado de uma garota (Zaria), com quem ele passou a noite. Está tudo ótimo, Bruce Hornsby toca na trilha sonora, mas cada vez que ele tenta sair do prédio e ir para casa ele é interpelado por um policial racista chamado Merk (Andrew Howard). O resultado é sempre trágico, mas Carter acorda novamente com a garota, na mesma manhã, tenta ir embora...e assim por diante. Bastante bem feito e atual. Tá na Netflix.

terça-feira, 13 de abril de 2021

Coded Bias (2020)

 

Coded Bias (2020). Dir: Shalini Kantayya. Netflix. Bom documentário que segue de perto o que foi apresentado em "O Dilema das Redes" (também na Netflix), mas que acrescenta um viés mais social. O documentário parte da descoberta de uma cientista negra do MIT chamada Joy Buolamwini, que notou que os sistemas de reconhecimento facial da Amazon tinham dificuldade em identificar seu rosto (negro). Quando ela colocava uma máscara branca, o computador facilmente identificava as características de olhos, nariz, boca, etc. Um algoritmo pode ser "preconceituoso"? De acordo com o documentário, sim, principalmente pelo fato de que estudos em Inteligência Artificial sempre foram feitos predominantemente por homens brancos.

O assustador é que o algoritmo de reconhecimento facial da Amazon estava sendo compartilhado pelo FBI. Quantas pessoas foram identificadas erroneamente por causa disso? O documentário alega que "inteligência artificial" nada mais é do que uma criação matemática que reage dependendo dos dados que lhe são "alimentados". O resultado é que preconceitos do mundo "real" acabam sendo absorvidos pela inteligência artificial. Algoritmos são usados de forma não regulamentada cada vez mais no mundo todo. Setores de RH de empresas usam inteligência artificial para selecionar candidatos; cartões de crédito fazem uma previsão de quem vai pagar suas contas ou não; há algoritmos que são usados para determinar qual a chance de alguém se tornar um criminoso, ou voltar a praticar um crime. Não é surpresa que em todas estas situações os resultados têm se mostrados tendenciosos. Bem interessante, e assustador. Tá na Netflix.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Distrito 9

Eles chegaram em 1982. Sua gigantesca espaçonave não parou sobre Nova York, ou Paris, ou Londres, mas sobre Joanesburgo, a maior cidade da África do Sul. Após três meses sem dar sinal de vida, os humanos resolveram invadir e lá dentro encontraram os "Camarões", extraterrestres parecidos com crustáceos, famintos e doentes. Havia um milhão deles, e eles foram trazidos para a cidade e fechados em uma região chamada "Distrito 9". Lá eles foram separados dos humanos e permaneceram desde então, vivendo em condições sub-humanas, ou melhor, sub-extraterrenas, em uma gigantesca favela onde reina o contrabando de armas, o mercado paralelo de armas, drogas e prostituição. Vinte e oito anos depois, a empresa privada MNU (Multinational United) foi contratada para remover pacificamente os 1,8 milhões de extraterrestres de Joanesburgo para uma área fora da cidade. Eles não são bem vindos aqui.

"Distrito 9" é um dos filmes mais originais de ficção científica dos últimos anos. Ele tem todos os ingredientes do gênero, como espaçonaves vindas dos confins do Universo, extraterrestres, armas com alta tecnologia e efeitos especiais. Ao mesmo tempo, é uma alegoria bem bolada dos problemas que afligem o nosso planeta. Este é um filme de monstros em que os vilões, curiosamente, não vêm de fora. Os monstros somos nós. "Distrito 9" mostra como os seres humanos podem ser preconceituosos e violentos com o que é diferente. Os milhares de extraterrestres são mostrados em situações degradantes na grande favela que virou seu "campo de refugiados". Vivem procurando comida no lixo, inclusive "crianças pequenas", e sentimos repugnância pelo seu modo de vida. Feito como se fosse uma pseudo-reportagem, o filme lembra um pouco o estilo empregado em "Cloverfield", ano passado, que foi feito todo em "primeira pessoa", simulando um visual amador. "Distrito 9" é menos radical, mas o diretor Neill Blomcamp usa muito de câmeras operadas sem tripé e do ponto de vista de um repórter cinematográfico que foi chamado para acompanhar o "despejo" dos extraterrestres.

O resultado é um filme muito interessante, que ainda conta com entrevistas de "especialistas" como psicólogos, políticos e jornalistas. A companhia MNU é claramente baseada nas empresas militares privadas que os Estados Unidos tem usado em suas campanhas no Iraque. Composta por mercenários, eles são assassinos comandados pelo Coronel Koobus (David James). O personagem principal de Distrito 9 é Wicus van der Merwe (Sharlito Copley), genro do dono da MNU e o encarregado pela evacuação do Distrito para fora da cidade. Wicus é um burocrata da pior espécie, político e sorridente para as câmeras mas claramente um cafajeste. Ele toma uma dose do próprio remédio quando, infectado por um líquido estranho, começa a se tornar um extraterrestre. Ele é levado para o quartel general da MNU, que vê sua metamorfose com interesse, visto que as armas alienígenas só respondem ao DNA dos extraterrestres. Novamente, a situação é uma alegoria da ganância das empresas militares multinacionais, que fariam de tudo para lucrar com uma situação. A parte final é um pouco decepcionante, composta por perseguições impossíveis, explosões e tiroteios. "Distrito 9" foi produzido por Peter Jackson, de O Senhor dos Anéis, que também produziu todos os efeitos especiais. O título é uma menção ao "Distrito 6", região que teve muitos problemas, na Cidade do Cabo, durante os anos do Aparthaid.

sábado, 29 de agosto de 2009

A Onda

Em uma escola de ensino médio, na Alemanha, os alunos são convidados a estudar vários sistemas de governo. A turma do professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) foi escolhida para estudar a "autocracia" (o governo de um só, ou de um grupo). Wenger é um professor jovem e moderno, que conversa de igual para igual com os alunos e veste uma camiseta do grupo "Ramones". Ele gostaria realmente de dar aula sobre "anarquia", mas o assunto já foi escolhido por outro professor.

Surpreso quando seus alunos dizem que seria impossível uma ditadura se estabelecer novamente na Alemanha, ele resolve fazer um experimento. Deixa de ser camarada com os alunos e começa a exigir ser chamado de "Sr. Wenger", além de alinhar todas as carteiras da classe. Todo aluno tem direito a falar, desde que peça permissão primeiro e se levante. Começa então a fazer perguntas hipotéticas sobre como se estabelece uma ditadura; do que ela precisa? É democraticamente eleito o líder do grupo, que também vota por usar um uniforme com camisas brancas. Os alunos que discordam são desprezados pelo grupo e colocados para fora. Por fim, decidem por um cumprimento próprio e por um nome, "A Onda". O processo, inicialmente, é benéfico para alguns alunos. Os mais tímidos, por exemplo, se sentem amparados pelo resto do grupo e acreditam ter achado um propósito para suas vidas. Os preguiçosos, motivados, decidem abrir um website para "A Onda" e criar seu logotipo. O problema é que o que começa como um exercício hipotético acaba ganhando força própria. Os membros da "onda" se sentem protegidos e especiais, mas começam a discriminar todos os que não são como eles. Uma noite, todos saem pelas ruas pichando os muros e espalhando adesivos com seu logotipo pela cidade. Atos de vandalismo e violência começam a ocorrer sem que o professor Rainer tenha conhecimento do que está acontecendo.

O roteiro foi baseado em um livro de Tod Strasser, que já havia sido adaptado para a televisão americana em 1981. A história é baseada em um fato real ocorrido nos Estados Unidos, mas o fato dessa versão se passar na Alemanha, claro, acaba por evocar o Nazismo. Dirigido por Dennis Gansel, o filme é por vezes um pouco simplista. Nem todo grupo exposto a idéias fascistas necessariamente agiria da mesma forma. A figura do professor também me pareceu muito inocente. A Alemanha Nazista chegou a extremos justamente por ter a figura carismática de um líder como Adolf Hitler no comando. Mas o filme é um alerta contra o preconceito e o fundamentalismo, que podem nascer de forma democrática e com a melhor das intenções.


domingo, 26 de abril de 2009

O visitante

Curioso este momento de transição pelo qual passamos. Os oito anos de governo Bush deixaram um gosto amargo na política internacional dos EUA, única potência do mundo e mais xenofóbico e assustador do que nunca. A chegada de Barack Obama à Casa Branca vem carregada de esperança para o futuro, mas ainda há muita desconfiança entre os países do mundo e o fantasma do 11 de setembro ainda permanece na memória recente das pessoas. Com Bush ou sem, o fato é que há uma enorme desigualdade social no Brasil e no mundo, o que força cada vez mais as pessoas a fugirem de seus países em busca de uma vida melhor em outro lugar. E Nova York ainda mantém o posto não oficial de capital do mundo, com a Estátua da Liberdade dando boas vindas aos imigrantes famintos, desde que eles consigam fugir da imigração americana. É neste cenário que se passa "O Visitante", produção sensível escrita e dirigida por Thomas McCarthy.

Walter Vale (Richard Jenkins, perfeito) é um professor universitário cuja vida está estagnada. Ele repete a mesma aula há anos sem muito interesse tanto de sua parte quanto de seus alunos. Tenta sem sucesso, nem muito esforço, aprender a tocar piano, tendo trocado várias vezes de professor. Viúvo de uma pianista, ele agora passa seus dias sozinho, dando poucas aulas e reservando tempo para escrever um livro. Sua vida muda ao ter que ir para Nova York falar em um congresso. Ao chegar ao apartamento que tem na cidade, mas que não visitava há anos, ele encontra um casal de imigrantes morando lá. Tarek (Haas Sleiman) é um percussionista da Síria, e sua mulher Zainab (Danai Gurira) é do Senegal e vende bijuterias. Os dois foram enganados por um homem que se dizia dono do apartamento e já estavam morando lá há dois meses. Inicialmente Walter os manda embora, mas muda de idéia e acaba deixando que eles permaneçam ali até encontrarem outro lugar. Uma improvável amizade se estabelece entre Walter e Tarek, que têm um amor em comum, a música. Richard Jenkins, que concorreu ao Oscar de melhor ator por este filme, é minimalista ao fazer de Walter Vale um senhor aparentemente sem nenhum atrativo. Aos poucos, porém, percebemos que ele não é má pessoa. Apenas passou muito tempo sozinho e sem desafios. O encontro com o jovem casal de imigrantes desperta nele as memórias da própria esposa e a vontade de fazer algo diferente da vida. Aos poucos Walter começa a ter aulas de tambor com Tarek e há cenas muito engraçadas dos dois batucando.

Acontece, no entando, de Tarek ser preso injustamente pela polícia de Nova York. Como está no país ilegalmente, ele é enviado a um presídio da imigração no Queens, bairro afastado de Nova York. Walter está tão envolvido com o percussionista que passa a visitá-lo na prisão e tenta encontrar uma saída para o problema. Ele também tem que lidar com a mãe de Tarek, Mouna (Hian Abbass, do belo "Lemon Tree"), que vem de Michigan procurar pelo filho. Aos poucos Walter descobre como é difícil a vida para um imigrante ilegal nos Estados Unidos quando este é preso pela imigração. Tarek pode ser enviado para qualquer parte do país ou mesmo deportado sem aviso prévio, e os oficiais da imigração não estão dispostos a dar muitas informações.

O filme poderia cair em um drama fácil ou em um protesto político superficial, mas mantém o foco no lado humano dos personagens. Walter, ao se envolver com os imigrantes, percebe como sua vida tem sido vazia, e a presença feminina de Mouna também desperta sentimentos há muito esquecidos. A trama me lembrou do filme que Peter Weir fez em 1990, "Green Card, Passaporte para o Amor", em que Gerard Depardieu simulava um casamento com Andie MacDowell para tentar ficar nos Estados Unidos. As duas produções tem a música como um dos focos principais (o personagem de Depardieu também era músico) e em ambos aparece um músico de rua que toca percussão em uma lata. "O visitante", porém, é um filme mais sério e mais realista sobre as condições de vida nos Estados Unidos. Digamos que "Green Card" seja uma fantasia dos tempos anteriores ao 11 de setembro, enquanto que "O Visitante" mostre como o mundo mudou, infelizmente para pior, nesse período.


sábado, 25 de abril de 2009

Escritores da Liberdade

“Escritores da Liberdade”, de 2007, foi escrito e dirigido por Richard Lagravenese. O filme é mais um exemplar de uma espécie de “gênero” do cinema, o “filme de professor”. São vários os exemplos de produções que seguem mais ou menos a mesma fórmula: um professor idealista e exemplar tem que enfrentar alunos indisciplinados, quase criminosos, em alguma escola decadente. Um dos primeiros e mais famosos do gênero é “Um Mestre com Carinho”, dirigido por James Clavell em 1967, em que Sidney Poitier interpreta um professor negro que consegue disciplinar uma turma baderneira de uma escola de Londres. Podemos citar também "Mentes Perigosas", com Michelle Pfeiffer; ou "O clube do Imperador", com Kevin Kline; "Mr. Holland", com Richard Dreyfuss; "Sociedade dos Poetas Mortos", com Robin Williams e assim por diante, todos seguindo variações da mesma fórmula.

“Escritores da Liberdade”, apesar de formulaico, consegue ser original em alguns momentos e certamente tem uma mensagem interessante. O filme é baseado na história real da professora Erin Gruwell (interpretada por Hillary Swank), que ao enfrentar uma turma multirracial em uma escola americana teve que lidar com todo tipo de problemas. A classe é formada em grande parte por filhos de imigrantes que foram aos Estados Unidos fugidos da pobreza ou violência de seus países de origem. Dentro da escola esses adolescentes acabam por imitar os problemas que enfrentam fora da sala de aula, como a violência e o preconceito. Cada grupo racial se senta junto e não se comunica com o grupo ao lado. A professora começa a mudar isso misturando os alunos dentro da sala e, através de um exercício de perguntas e respostas, consegue mostras aos jovens que, apesar das diferentes origens, todos compartilham problemas em comum. Ela também usa a história do holocausto judeu na Segunda Guerra Mundial para ensinar lições como intolerância e perseguição política.

A dedicação da professora Gruwell a seus alunos é tamanha que ela acaba por negligenciar a vida familiar, o que acaba com seu casamento com um arquiteto fracassado. Ela enfrenta também problemas com a direção da escola, que vê os alunos como meros delinqüentes sem solução. Ao distribuir diários para seus alunos, a professora acaba mostrando que cada um deles tem uma história própria e um motivo para agir da maneira que age. Todo mundo, no fundo, precisa aprender a ser respeitado para poder respeitar o colega de classe, o vizinho ou aquele que, a princípio, parece tão diferente mas que, no fundo, é um ser humano como qualquer outro.