Mostrando postagens com marcador nazismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador nazismo. Mostrar todas as postagens

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Caçadores de Obras-Primas

Adolf Hitler era um admirador de arte. Pintor rejeitado pela escola de Belas Artes da Áustria, o líder de um dos regimes mais sangrentos da História imaginava um museu em sua homenagem, onde ele guardaria todos os tesouros e obras-primas saqueadas durante a 2ª Guerra Mundial. Há quem diga que ele nunca bombardeou Paris por causa dos quadros e esculturas que lá havia. Nos Estados Unidos, um grupo de especialistas em arte se juntou e foi à Europa tentar resgatar as obras roubadas pelos nazistas. O grupo ficou conhecido como "The Monuments Men".

Esta história real ganhou versão cinematográfica nas mãos de George Clooney ("Tudo pelo Poder"), que escreveu o roteiro, produziu, dirigiu e atuou em "Caçadores de Obras-Primas", ao lado de um ótimo elenco. O filme é leve (até demais) e bastante descompromissado. Mostra aquela versão da 2ª Guerra Mundial pré "O Resgate do Soldado Ryan", em um mundo aparentemente mais simples em que havia um vilão bem definido, os nazistas, e os americanos eram os salvadores do mundo. Há ecos daqueles clássicos em que astros como Steve McQueen, Charles Bronson, James Garner, entre outros, se reuniam em filmes como "Sete Homens e um Destino" ou "Fugindo do Inferno" (a trilha "assobiada" de Alexandre Desplat lembra um pouco este último); sem falar na série "Onze Homens e um Segredo" estrelada por Clooney e Matt Damon. (leia mais abaixo)


O filme peca pela falta de ambição. Com um elenco contando com figuras engraçadas como Bill Murray ("Moonrise Kingdom") e John Goodman ("Argo"), poderia ter sido uma grande comédia. No entanto, é o tipo de filme em que os bastidores devem ter sido muito mais engraçados do que o que se vê na tela. Há bons momentos, como quando Bill Murray e Bob Balaban encontram um soldado nazista perdido na floresta. Há também duas cenas emocionantes bem conduzidas por Clooney, como o sacrifício de um dos membros do grupo para tentar salvar uma escultura valiosa, ou a cena em que Bill Murray escuta, emocionado, uma mensagem de natal enviada pela família. Há, porém, oportunidades perdidas. Matt Damon ("Elysium") e a grande Cate Blanchett ("Blue Jasmine") ficam em um empasse por grande parte da trama. Ele é o curador do Museu Metropolitan de Nova York e está tentando descobrir o que aconteceu com as obras de um museu de Paris em que Blanchett trabalhava. Ela não confia em ninguém e fica guardando as informações por muito tempo. Até mesmo a sugestão de romance entre os dois não dá em nada.

"Caçadores de Obras-Primas" tem ótima direção de fotografia de Phedon Papamichael, que trabalha muito bem com o contraste entre cenas escuras e as cores vivas dos quadros de mestres como Monet e Rembrandt. Um filme que se assiste com um sorriso nos lábios, mas que não é tão bom quanto poderia ser.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A Chave de Sarah

Kristin Scott Thomas é Julia Jarmond, uma jornalista americana que construiu uma vida na França. Ela é casada, tem uma filha adolescente e está escrevendo uma matéria sobre um período pouco falado (e vergonhoso) da história francesa. Em julho de 1942, com a França ocupada pelo exército nazista, judeus franceses foram retirados à força de suas casas e levados a um velódromo de Paris, onde passaram cinco dias em condições sub-humanas. "Era necessário fechar a janela por causa do mau cheiro", diz uma vizinha do velódromo, anos depois, à jornalista.

O mais absurdo da situação é que os oficiais responsáveis pela operação não eram nazistas alemães, mas soldados franceses. Quando eles invadiram o apartamento da família Starzynski, em 1942, a pequena Sarah (Mélusine Mayance) levou o irmão Michel para um armário e o trancou lá, dizendo que voltaria para buscá-lo. Sarah e a família são levados primeiro ao velódromo e depois para campos temporários, onde os homens foram separados das mulheres e, depois, as crianças das mães. Sarah, apesar de cada vez mais fraca e doente, segura nas mãos a chave do armário onde trancou o irmão, imaginando um modo de fugir para resgatá-lo.

Dirigido por Gilles Paquet-Brenner, "A Chave de Sarah" alterna de forma eficiente a trama passada em 1942 e a pesquisa realizada por Julia em 2009. Apesar de mais de 60 anos separarem os dois eventos, há pontos em comum que deixam Julia cada vez mais incomodada. O apartamento em Paris que o marido está reformando, por exemplo, pertenceu à família dele desde a época da guerra. Um pesquisador sobre o Holocausto, depois de investigar o endereço, informa Julia que o apartamento havia pertencido à uma família judaica de nome Starzynski. Julia fica obcecada com a história trágica de Sarah e, depois de saber do irmão que havia sido deixado trancado no apartamento, se recusa a morar lá. A família do marido passa a questioná-la sobre o porquê dela estar desenterrando um passado que todos gostariam de esquecer. "A verdade tem um preço, para o bem ou para o mal", responde a jornalista.

Curioso que a trama de "A Chave de Sarah" também foi contada recentemente no filme "Os Nomes do Amor". Naquele filme, a mãe do personagem principal também era uma sobrevivente dos nazistas que havia sido criada em um orfanato, sofrendo com a perda da própria identidade. A colaboração dos franceses no massacre dos judeus é uma ferida aberta na história da Europa, que sofre até hoje com problemas de racismo e antissemitismo. Kristin Scott Thomas é uma ótima atriz que, assim como sua personagem, mudou-se para a França e construiu uma carreira sólida em filmes como "Partir", "Há tanto tempo que te amo" e vários outros. Ela interpreta Julia como uma mulher madura e cansada com a hipocrisia do mundo. Em meio à reportagem ela descobre que está grávida e se recusa a fazer o aborto que o marido gostaria que fizesse.

A parte final sofre pela longa duração e certo didatismo. A busca de Julia pela história de Sarah a leva aos Estados Unidos e depois à Itália, onde o ator Aidan Quinn faz uma participação especial como um filho de Sarah. Bom filme. Visto no Topázio Cinemas, Campinas.

Câmera Escura

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Os Nomes do Amor

É de se imaginar que uma história de amor entre um homem judeu e uma mulher árabe seja confusa, mas o filme de Michel Leclerc adicionou elementos ainda mais complicadores. Arthur Martin (Jacques Gamblin) é um quarentão que se define como o típico francês. Seu nome é tão comum que ele se sente como um membro da seleção de futebol coreana (em que mais da metade dos jogadores se chamava "Kim"). Já Bahia Benmahmoud (Sara Forestier) tem orgulho de ter um nome único, apesar de ser sempre confundida como brasileira. Ela é descendente de um imigrante ilegal argelino e de uma hippie francesa, mas suas feições (branca e com grandes olhos azuis) não aparentam sua origem. Já Arthur é filho de um ex militar francês que trabalha com energia nuclear e que se casou com uma judia com um passado difícil; os pais dela foram enviados ao campo de concentração de Auschwitz, e ela cresceu em um orfanato. Os pais de Arthur nunca conversavam sobre o assunto e ele passou a vida aprendendo a como falar com eles sobre "nada", já que não podia mencionar assuntos considerados tabu.

A família de Bahia, apesar de muito mais liberal, também guarda um segredo. Quando criança, ela foi abusada sexualmente por um professor de piano. Segundo os psicólogos, Bahia tinha duas opções quando se tornasse adulta: tornar-se pedófila ou prostituta. Ela decidiu tornar-se prostituta, mas de um tipo diferente. Seguindo o ditado "faça amor, não faça a guerra", Bahia tem como missão transar com homens da "direita" para mudar sua opção política. Assim, do encontro deste homem reprimido e careta, Arthur, com esta garota desinibida e política, Bahia, o roteiro faz uma bizarra história de amor. Mistura-se a isso uma forte dose de crítica aos problemas raciais e de imigração que existem hoje na França e se tem "Os nomes do amor".

O filme foi escrito pelo diretor Michel Leclerc e por sua esposa, Baya Kasmi, com grande quantidade de fatos autobiográficos. Há tantas questões sendo tratadas (racismo, imigração, nazismo, sexismo, política etc) que o roteiro peca por excesso. O ponto principal, quando todas estas diferenças acabam se chocando, demora a chegar em uma ótima cena em que Michel, Bahia e seus pais se encontram em um jantar. Sara Forestier é um vulcão em erupção o tempo todo, contrastando com o modo frio e controlado de Jacques Gamblin. Há partes românticas, como na delicada cena em que Arthur veste Bahia, misturadas a  outras  inverossímeis, como quando Bahia se esquece de colocar as roupas e sai nua pelas ruas. É usado o recurso (já um tanto batido) dos personagens falarem diretamente para o espectador, principalmente quando contam a história de seus pais. Em outros momentos, os personagens conversam com versões mais novas deles mesmos.

"Os nomes do amor" melhora quando diminui um pouco o ritmo para dar lugar à seriedade de certas situações, como a reação da mãe de Arthur ao ser confrontada pelo passado. A II Guerra Mundial ainda tem marcas profundas na Europa ("Things all long gone, but the pain lingers on", como diz a letra de Pink Floyd, The Wall), e a França teve um comportamento questionável na época. As consequências podem ser sentidas até hoje e o filme levanta, de modo leve, questões extremamente sérias. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.



sábado, 29 de agosto de 2009

A Onda

Em uma escola de ensino médio, na Alemanha, os alunos são convidados a estudar vários sistemas de governo. A turma do professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel) foi escolhida para estudar a "autocracia" (o governo de um só, ou de um grupo). Wenger é um professor jovem e moderno, que conversa de igual para igual com os alunos e veste uma camiseta do grupo "Ramones". Ele gostaria realmente de dar aula sobre "anarquia", mas o assunto já foi escolhido por outro professor.

Surpreso quando seus alunos dizem que seria impossível uma ditadura se estabelecer novamente na Alemanha, ele resolve fazer um experimento. Deixa de ser camarada com os alunos e começa a exigir ser chamado de "Sr. Wenger", além de alinhar todas as carteiras da classe. Todo aluno tem direito a falar, desde que peça permissão primeiro e se levante. Começa então a fazer perguntas hipotéticas sobre como se estabelece uma ditadura; do que ela precisa? É democraticamente eleito o líder do grupo, que também vota por usar um uniforme com camisas brancas. Os alunos que discordam são desprezados pelo grupo e colocados para fora. Por fim, decidem por um cumprimento próprio e por um nome, "A Onda". O processo, inicialmente, é benéfico para alguns alunos. Os mais tímidos, por exemplo, se sentem amparados pelo resto do grupo e acreditam ter achado um propósito para suas vidas. Os preguiçosos, motivados, decidem abrir um website para "A Onda" e criar seu logotipo. O problema é que o que começa como um exercício hipotético acaba ganhando força própria. Os membros da "onda" se sentem protegidos e especiais, mas começam a discriminar todos os que não são como eles. Uma noite, todos saem pelas ruas pichando os muros e espalhando adesivos com seu logotipo pela cidade. Atos de vandalismo e violência começam a ocorrer sem que o professor Rainer tenha conhecimento do que está acontecendo.

O roteiro foi baseado em um livro de Tod Strasser, que já havia sido adaptado para a televisão americana em 1981. A história é baseada em um fato real ocorrido nos Estados Unidos, mas o fato dessa versão se passar na Alemanha, claro, acaba por evocar o Nazismo. Dirigido por Dennis Gansel, o filme é por vezes um pouco simplista. Nem todo grupo exposto a idéias fascistas necessariamente agiria da mesma forma. A figura do professor também me pareceu muito inocente. A Alemanha Nazista chegou a extremos justamente por ter a figura carismática de um líder como Adolf Hitler no comando. Mas o filme é um alerta contra o preconceito e o fundamentalismo, que podem nascer de forma democrática e com a melhor das intenções.