
domingo, 18 de abril de 2010
Soul Kitchen

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
A fita branca

A nova obra do diretor austríaco Michael Haneke (de "Violência Gratuita" e "Caché"), de fato, não é um filme de entretenimento. Haneke é um realizador frio como gelo, preciso, metódico em seus movimentos de câmera, e misterioso em seus roteiros. "A Fita Branca" se passa no início do século XX, às vésperas da I Guerra Mundial, em uma pequena vila na Alemanha. Tem uma bela fotografia em preto e branco de Christian Berger, que infelizmente não estava boa na cópia digital apresentada no cinema, cinza e sem contrastes. A trama é narrada pelo professor primário da vila (Ernst Jacobi na narração, como um idoso, e interpretado por Christian Friedel como jovem) que, a bem da verdade, não conhece todos os fatos da história que está contando. O caso é que estranhos "acidentes" começam a acontecer na vila. Um médico se fere gravemente quando seu cavalo tropeça em um arame colocado entre duas árvores. O filho do Barão, o empregador de metade dos habitantes da vila, é sequestrado e surrado por desconhecidos, e encontrado vivo na floresta. Karli, um garoto portador de síndrome de Down e filho da parteira, também é atacado e quase fica cego. Quem estaria por trás destes crimes? Quem teria motivo para cometê-los? Por que, em todas as ocasiões, as crianças da vila são vistas por perto?
O desenvolvimento da trama pode sugerir um filme de suspense, em que o espectador tem que descobrir o "culpado", mas não é tão simples. Assim como no enigmático (e, para alguns, insolúvel) enigma de "Caché", Haneke não está preocupado em entregar respostas prontas. Os crimes são pontos culminantes de longas sequências de acontecimentos aparentemente cotidianos que vão montando um quadro de abusos, autoritarismo e fanatismo religioso. O pastor da vila (o ótimo Burghart Kasner) amarra os braços do filho durante a noite para que ele "não ceda às tentações de seu corpo jovem". O médico, quando volta do hospital, trata com crueldade extrema sua amante, a parteira, e aparentemente abusa sexualmente da filha. O Barão trata mal sua esposa e empregados. A todo momento há a sensação de que algo terrível está para acontecer. Há quem diga que este "algo", na verdade, é a própria história da Alemanha no século XX, prestes a entrar em duas guerras mundiais e viver para sempre com o estigma do Nazismo. O elenco orquestrado por Haneke é ótimo, e vale ressaltar a interpretação das crianças. O que dizer do diálogo em que a irmã mais velha tenta explicar o que é a morte para seu irmão mais novo? Ou o pavor da garota que conta a seu professor um sonho premonitório que ela teve? Ou a felicidade de um garoto ao conseguir convencer seu pai de que pode cuidar de um passarinho doente? Poderiam estas crianças, símbolos tradicionais de pureza e esperança, serem capazes do que o filme sugere?
Haneke não responde. Apenas mostra, no último plano, a vila reunida na igreja, os adultos em baixo, confusos e, no balcão acima, confiantes e cantando uma canção, os alemães do futuro. Eles eram felizes e não sabiam.
sábado, 29 de agosto de 2009
A Onda

Surpreso quando seus alunos dizem que seria impossível uma ditadura se estabelecer novamente na Alemanha, ele resolve fazer um experimento. Deixa de ser camarada com os alunos e começa a exigir ser chamado de "Sr. Wenger", além de alinhar todas as carteiras da classe. Todo aluno tem direito a falar, desde que peça permissão primeiro e se levante. Começa então a fazer perguntas hipotéticas sobre como se estabelece uma ditadura; do que ela precisa? É democraticamente eleito o líder do grupo, que também vota por usar um uniforme com camisas brancas. Os alunos que discordam são desprezados pelo grupo e colocados para fora. Por fim, decidem por um cumprimento próprio e por um nome, "A Onda". O processo, inicialmente, é benéfico para alguns alunos. Os mais tímidos, por exemplo, se sentem amparados pelo resto do grupo e acreditam ter achado um propósito para suas vidas. Os preguiçosos, motivados, decidem abrir um website para "A Onda" e criar seu logotipo. O problema é que o que começa como um exercício hipotético acaba ganhando força própria. Os membros da "onda" se sentem protegidos e especiais, mas começam a discriminar todos os que não são como eles. Uma noite, todos saem pelas ruas pichando os muros e espalhando adesivos com seu logotipo pela cidade. Atos de vandalismo e violência começam a ocorrer sem que o professor Rainer tenha conhecimento do que está acontecendo.
O roteiro foi baseado em um livro de Tod Strasser, que já havia sido adaptado para a televisão americana em 1981. A história é baseada em um fato real ocorrido nos Estados Unidos, mas o fato dessa versão se passar na Alemanha, claro, acaba por evocar o Nazismo. Dirigido por Dennis Gansel, o filme é por vezes um pouco simplista. Nem todo grupo exposto a idéias fascistas necessariamente agiria da mesma forma. A figura do professor também me pareceu muito inocente. A Alemanha Nazista chegou a extremos justamente por ter a figura carismática de um líder como Adolf Hitler no comando. Mas o filme é um alerta contra o preconceito e o fundamentalismo, que podem nascer de forma democrática e com a melhor das intenções.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Perfume - A história de um assassino

Tykwer mostra uma Paris que realmente parece mal cheirosa, suja, com suas ruas enlameadas, o chão do mercado coberto por restos de peixe, vermes, verduras, excremento. É neste ambiente que o recém-nascido Jean-Baptiste é abandonado pela mãe logo depois do parto. Ele é encontrado e levado a um orfanato, onde logo se vê que ele não é uma criança normal. A edição do filme mostra em planos rápidos as coisas que o bebê consegue cheirar com seu senso de olfato fora do comum. Além das imagens e da ótima reconstituição de época, a música também é usada para conseguir transmitir o cheiro das coisas. Há uma ótima seqüência quando vemos a primeira vez que Jean-Baptiste, já crescido (interpretado por Ben Whishaw), vai parar nas ruas de Paris. É lá que ele descobre o cheiro mais maravilhoso que já sentiu, o do corpo de uma vendedora de frutas, que ele passa a seguir. Mesmo adulto, ele ainda é como uma criança crescida e curiosa, e a garota acaba se tornando, acidentalmente, sua primeira vítima. Mas aparentemente ele nem se dá conta do que aconteceu. A única coisa que importa para ele é cheirar todo o corpo da moça, da cabeça aos pés. É então que descobre seu propósito na vida: ele quer descobrir como preservar o cheiro das coisas.