segunda-feira, 17 de maio de 2010

Um Homem Sério

Lawrence Gopnik (Michael Stuhlbarg) está revoltado. Ele é um “homem sério”; mora nos subúrbios, em uma daquelas vizinhanças planejadas dos Estados Unidos do pós-guerra, com a esposa e um casal de filhos. Ele também tem sido um bom judeu, matriculando os filhos na escola hebraica e se preparando para o “bar mitzvah” do caçula. Por que, então, Hashem tem sido tão duro com ele? A esposa (Jéssica MacManus) quer o divórcio. A filha só pensa em penteados e o filho está sempre fumando maconha no banheiro da escola. “Um Homem Sério” é a última produção dos irmãos Ethan e Joel Coen. Os dois têm uma invejável produção que consegue se manter dentro da linha tênue entre o cinema comercial e os produtos intelectuais, destinados a platéias mais exigentes. Os irmãos Coen escrevem, produzem, dirigem e editam os próprios filmes, e têm na carreira títulos como "Barton Fink" (1991), "A Roda da Fortuna" (1994), "Fargo" (1996), "O Homem que não estava lá" (2001) e "Onde os Fracos não Têm Vez" (2007). Por este último, ganharam o Oscar de melhores roteiristas e diretores, além do prêmio de Melhor Filme. O estilo deles é uma equilibrada mistura de um humor fino com bela técnica cinematográfica, além de roteiros provocativos.

“Um Homem Sério” tem todos os ingredientes de um trabalho pessoal dos irmãos. Situado no final dos anos sessenta (1967, para ser exato), o ambiente judaico e as situações vividas pelos personagens têm tons autobiográficos. Não é difícil imaginar os irmãos Coen aprendendo hebraico ou se escondendo para fumar maconha. Lawrence é um professor de física e matemática em uma escola secundária e, apesar de judeu praticante, tem muita fé na Razão e na certeza dos números. Sua vida organizada e “normal” é virada de pernas para o ar com o anúncio da esposa de que ela quer o divórcio. “Mas o que foi que eu fiz?”, pergunta ele, incrédulo. “Nada”, diz ela, “você não fez nada”. O choque do anúncio como que abre os olhos de Lawrence para os problemas de sua vida. Seu irmão Arthur (Richard Kind) mora de favor na casa dele, dorme no sofá e fica horas no banheiro, para desespero da filha de Lawrence. Para complicar, a esposa está tendo um caso com um viúvo (Fred Melamed) que insiste em ser extremamente gentil e compreensivo com Lawrence, que conforme vai ficando cada vez mais desesperado, imaginamos o que mais pode dar errado na vida dele. Como o roteiro dos Coen vai nos mostrar, muita coisa.

O final é abrupto e, assim como em “Onde os Fracos não Têm Vez”, totalmente aberto, o que deve revoltar muitos espectadores. Aparentemente, “Um Homem Sério” pode parecer uma simples comédia excêntrica, mas é muito mais do que isso. O choque enfrentado pelo personagem principal, na verdade, é o experimentado por toda sociedade americana (e também o mundo), nos turbulentos anos sessenta. Lawrence representa o americano médio, religioso, otimista, classe média, que acreditava na prosperidade econômica experimentada pelo país no pós-guerra. De repente, ele tem que enfrentar fatos como a revolução sexual, o feminismo, as drogas e a guerra do Vietnã. Sua fé na Matemática e em Deus (In God We Trust), de repente, não dá conta de enfrentar todas estas mudanças sociais e culturais. Os irmãos também fazem uma brincadeira bem humorada com a imagem do Deus tirano e vingativo do “Torá” (e do Velho Testamento), pronto para castigar aquele que sai do “caminho do bem”. Justo quando as coisas pareciam estar melhorando para o pobre Larry Gopnik. Indicado para os Oscars de Melhor Roteiro e Melhor Filme em 2010.


2 comentários:

Carolina Cristina disse...

Este filme é sensacional!!!
Bjos...

João Solimeo disse...

Oiê. Então foi ver? Legal, né? O filme tem MUITA coisa "escondida", para ser interpretada. Gostei muito. Bjo.