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domingo, 8 de janeiro de 2023

Robert Downey Sr. (Sr., 2022)

Robert Downey Sr. (Sr., 2022). Dir: Chris Smith. Emocionante documentário sobre o pai do Homem de Ferro, ou melhor, Robert Downey Jr. Cineasta alternativo (e meio maluco), Downey Sr. começou a fazer filmes nos anos 1960, com quase nenhum dinheiro, sem roteiro e com atores amadores. O primeiro filme, baseado no mito de Édipo, era sobre um cara que se casava com a própria mãe. Ele ganhou fama de cineasta "cult" e viveu de filme em filme, chegando a fazer longas metragens em 35mm que renderam algum dinheiro e público. Em meio a isso tudo havia um garoto chamado Robert Downey Jr., que cresceu em sets de filmagens, foi apresentado à bebida e drogas cedo e se tornaria um dos maiores exemplos de "volta por cima" do cinema.

Tudo isso é mostrado, meio aos trancos e barrancos, em um documentário com uma estrutura bem livre (assim como os filmes de Downey Sr.). O ator mais bem pago do cinema, Robert Downey Jr. resolveu tentar conhecer melhor o pai colocando uma equipe de filmagem atrás dele por três anos. "É assim que sempre fizemos na minha família", ele explica ao psicólogo em uma cena. "Havia sempre uma câmera 16mm na nossa cara e, 40 anos depois, tentávamos dar algum sentido àquilo". O resultado é um documentário que, aos poucos, vai te conquistando. O velho é uma figura, sempre com um sorriso maroto e imaginando a próxima cena. Downey Jr., um dos caras mais carismáticos do planeta, se torna meio garoto quando está perto do pai (como todos os filhos), e tenta não só contar a história do velho como entender a própria.

O filme toma ares mais sérios conforme a doença do pai (mal de Parkinson) vai se agravando e fica claro que ele não vai viver por muito tempo. O documentário é uma mistura de cine verdade com terapia familiar, entrecortado por cenas dos filmes (malucos) do pai e entrevistas com algumas pessoas de fora (como o ator Alan Arkin e o produtor Norman Lear, que está com 100 anos). Tudo em belo preto e branco. Tá na Netflix.

domingo, 11 de novembro de 2012

Argo

"Argo" é o terceiro filme dirigido por Ben Affleck que, como ator, é bastante limitado. Como diretor, porém, Affleck atingiu a maturidade com este filme inteligente que, baseado livremente em fatos reais, é uma boa mistura de entretenimento e suspense. Em novembro de 1979, a embaixada americana no Irã foi invadida por uma multidão que apoiava o Aiatolá Khomeini. Vários americanos foram feitos reféns mas, durante a confusão, seis diplomatas conseguiram fugir para a casa do embaixador do Canadá, onde ficaram escondidos por várias semanas, aguardando serem resgatados.

Ben Affleck interpreta Tony Mendez, um especialista da CIA em repatriar reféns. Ele é chamado pelo Departamento de Estado para dar sua opinião e, após refutar vários planos (um deles sugeria que os reféns pedalassem 500 quilômetros até a fronteira ao norte), criou um plano tão absurdo que poderia dar certo. Inspirado pelos filmes de ficção-científica e fantasia que viraram moda nos Estados Unidos no final dos anos 1970 (principalmente após o lançamento de "Star Wars", em 1977), Mendez sugere que a CIA crie uma companhia de cinema fictícia que iria procurar por locações exóticas no oriente para um filme B chamado "Argo". Para dar mais verossimilhança à ideia, Mendez contrata um produtor real de Hollywood chamado Lester Siegel (o ótimo Alan Arkin) e um especialista em efeitos especiais chamado John Chambers (o igualmente competente John Goodman). Os dois ficam responsáveis por espalhar  por Hollywood a notícia de que "Argo" é uma produção real, inclusive promovendo uma leitura de roteiro e publicando cartazes  do filme em jornais e revistas especializadas como a "Variety". Mendez então viaja ao Irã para treinar os seis reféns americanos, que fingiriam ser a equipe de filmagem de "Argo" e, se tudo desse certo, sairiam do país diretamente pelo aeroporto internacional, debaixo dos narizes da polícia fanática do aiatolá.

O filme é uma junção competente de filme de suspense, espionagem e, de quebra, mostra os bastidores de Hollywood. O roteiro (de Chris Terrio) lembra bastante "Mera Coincidência" (1997), de Barry Levinson, em que um produtor de Hollywood (Dustin Hoffmann) era contratado para criar uma guerra fictícia e desviar a atenção da imprensa de um escândalo da Casa Branca. Alan Arkin e John Goodman estão muito bem como produtores reais criando um filme irreal. Hollywood é uma força tão grande na imaginação coletiva mundial que a ideia "maluca" de Mendez de dizer que está no Irã para fazer um filme de ficção-científica em plena crise dos reféns não soa inverossímil. Há uma cena muito boa que mostra os guardas iranianos maravilhados com o "storyboard" de "Argo" enquanto o oficial superior tenta checar a história de Affleck. A recriação de época é muito boa e o filme transporta o espectador para o início dos anos 1980. Ben Affleck ficou tão orgulhoso com este aspecto do filme que "Argo" termina comparando imagens reais da época com outras recriadas para o filme. "Argo" estreou bem no mundo todo e há grandes chances de ser escolhido um dos candidatos ao próximo Oscar. Vale lembrar que Ben Affleck, junto com Matt Damon, já tem um Oscar de "Melhor Roteiro Original" por "Gênio Indomável", filme que escreveu em 1997.

Um aspecto que deve ser mencionado é o fato de que as relações entre os EUA e o Irã hoje vão de mal a pior, com grandes chances de uma intervenção militar por causa de supostas armas nucleares que o Irã estaria fabricando. Um filme como "Argo", que mostra os iranianos como fanáticos ignorantes, cai facilmente no gosto do público no momento político atual. Independente disso, é um ótimo filme de entretenimento, que pode dar a Affleck uma indicação ao Oscar de Melhor Diretor.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

GATTACA


Esses dias revi Gattaca, esta inteligente ficção-científica escrita e dirigida por Andrew Niccol em 1997. Niccol é o competente roteirista por trás de "O Show de Truman", dirigido por Peter Weir em 1998, que tratava de um reality show que acompanhava a vida inteira de um rapaz (Jim Carrey) sem que ele soubesse. Niccol se dedica a tocar na ferida de certos aspectos da nossa sociedade, como a exposição da mídia (em "O Show de Truman" ou em "SIMONE", escrito e dirigido por ele), ou as consequências do comércio de armas (em "O Senhor da Guerra", com Nicholas Cage, roteiro e direção de Niccol). Em "Gattaca", Niccol imaginou uma sociedade em que, segundo uma frase do próprio roteiro, a discriminação foi levada ao nível da ciência. O código genético não só já foi todo desvendado como os pais podem encomendar os filhos segundo as maiores probabilidades de sucesso físico e mental. Os membros desta nova geração são chamados de "válidos" e, por força do próprio código genético, têm lugar garantido nos melhores postos da nova sociedade. As crianças geradas no modo tradicional são chamadas de "filhos de fé", "filhos do amor" ou, mais preconceituosamente, de "inválidos". A eles são destinados os postos de faxineiros e outras ocupações "menores", a não ser que haja um modo de burlar o sistema.

É aqui que entra Vincent (Ethan Hawke), um "inválido" que desde criança sonhava em trabalhar em GATTACA, a empresa responsável por enviar astronautas para o espaço. O nome GATTACA foi criado por Niccol a partir das bases do DNA, Guanina, Timina, Adenina e Citosina. Todos os funcionários, ao entrar na firma, têm que colocar o polegar em um identificador que tira uma gota de sangue e analisa o DNA. Para enganar o sistema, uma terceira classe de indivíduos existe nessa sociedade; eles são chamados de "escadas emprestadas", fraudadores que usam amostras de sangue, tecido, unhas, urina e qualquer outra forma de identificação genética de outras pessoas. Vincent usa a identidade de um antigo nadador chamado Jerome Morrow (Jude Law, no papel que o revelou no cinema). Jerome tentou se matar após pegar "apenas" segundo lugar em uma competição no exterior, mas acabou em uma cadeira de rodas. Ele vive escondido da sociedade e "empresta" (aluga, na verdade) seu material genético para Vincent, que usa pontas de dedo falsas, por exemplo, para enganar os identificadores genéticos de GATTACA. No início do filme vemos como Vincent limpa impecavelmente sua estação de trabalho para tirar os seus traços genéticos. Ao mesmo tempo ele discretamente espalha fios de cabelo e pedaços de unha de Jerome pelo local. O esquema está funcionando bem e Vincent, por seus próprios méritos (apesar do código genético "inferior"), vai subindo de posição na empresa e é o selecionado para a próxima missão a Saturno. O problema é que, mesmo nesta sociedade "superior", um brutal assassinato acontece em GATTACA e uma investigação cuidadosa é iniciada. Será que Vincent vai conseguir enganar até a polícia e seus métodos de investigação cuidadosos?

O filme tem orçamento relativamente baixo mas é muito inteligente no uso de cenários (a escada do apartamento de Jerome, por exemplo, lembra uma dupla hélice de DNA), no figurino "retrô" baseado nos filmes de detetive, no roteiro inteligente e no elenco que inclui Uma Thurman, Alan Arkin e Gore Vidal. Niccol levanta questões relevantes nessa sua parábola tecnológica. Até que ponto o mundo proposto por ele é plausível? Já há hoje uma espécie de "seleção genética" que discrimina pessoas apenas pela aparência, idade, porte físico e cor da pele. Empresas realizam processos de seleção cada vez mais elaborados que incluem o estudo da grafologia (o modo de escrever), dinâmicas de grupo, jogos, entrevistas e, sim, um exame médico completo. O que as impedirá de, em um futuro próximo, selecionar (ou discriminar?) pela informação genética? Niccol também levanta pontos interessantes sobre o determinismo. Uma pessoa bem nascida, portadora de um código genético "perfeito", tem garantia de ser uma pessoa bem sucedida? E quanto à força de vontade? Ela existe ou também pode ser meramente genética?

É um filme extremamente inteligente que pode render várias leituras. É interessante notar certos detalhes que Niccol acrescentou ao roteiro. Jerome, em sua cadeira de rodas, se considera um "inválido" mas empresta seu código genético "válido" para Vincent (que é visto como "inválido pela genética). Há também uma história paralela envolvendo um irmão de Vincent que foi criado geneticamente e, assim, seria "superior" a ele. Mas ele não consegue vencer Vincent em uma prova de natação no mar. Interessante notar que Jerome, quando ainda era atleta, era justamente um nadador e agora é praticamente um "irmão" de Vincent.

O filme foi lançado recentemente em DVD duplo e imagem restaurada. Recomendo também os outros filmes de Niccol citados acima (apesar de "SIMONE" ser fraquinho). Niccol nos faz pensar como poucos nos dias de hoje.