O Amor Custa Caro (Intolerable Cruelty, 2003). Dir: Joel e Ethan Coen. Netflix. Nunca havia visto este filme dos irmãos Coen que, com razão, é considerado um dos mais fracos da dupla. É uma comédia romântica com bom elenco e alguns momentos engraçados (a cena do assassino asmático é sensacional), mas nada memorável.
George Clooney é um advogado especialista em divórcios. Catherina Zeeta-Jones é especialista em se divorciar de homens ricos. O roteiro é bem episódico e mostra como Clooney a derrota em um caso impossível de vencer, no tribunal; em seguida, Zeeta-Jones dá o troco se casando (e se divorciando) de um milionário do ramo do petróleo. Clooney fica obcecado por ela e, claro, se apaixona. Ela também se apaixona por ele... ou será que não? O final deixa bastante a desejar. Fotografia do grande Roger Deakins, colaborador habitual da dupla. Esquecível. Tá na Netflix.
À procura do amor (Enough said, 2013). Dir: Nicole Holofcener. Star+. Comédia romântica que tem a triste honra de ser um dos últimos filmes do ator James Gandolfini, que morreu de ataque cardíaco com apenas 51 anos. Gandolfini ficou famoso interpretando o mafioso Tony Soprano na série da HBO e ficou meio marcado pelo papel; aqui ele mostra um lado totalmente diferente, vulnerável, carinhoso. Roteiro e direção são de Nicole Holofcener, que se especializou em um tipo de comédia romântica mais inteligente que a média (como "Amigas com dinheiro", de 2006, e "Gente de bem", 2018).
Julia Louis-Dreyfus (a Elaine de "Seinfeld") é Eva, uma mãe divorciada que está passando por aquele drama bem americano; a filha está de partida para a faculdade, o que nos EUA significa sair de casa e praticamente cortar os laços com a família. Eva é massagista e carrega uma mesa de massagem para cima e para baixo em Los Angeles. Em uma festa, ela conhece um homem divorciado chamado Albert (Gandolfini), que é careca, gordo e meio desleixado. O fato de que ele também tem uma filha partindo para a faculdade acaba aproximando os dois, que engatam um romance inesperado. Na mesma festa, Eva conhece uma mulher misteriosa interpretada por Catherine Keener (de outros filmes com Holofcener), que se torna sua cliente de massagem.
Há algumas reviravoltas dignas de um "sitcom" mas, no geral, o roteiro é bom e o elenco tem coadjuvantes como a ótima Toni Collette. A trama da mãe sofrendo com a partida da filha para a faculdade foi reciclada por Holofcener na série "Mrs. Fletcher", da HBO, com Kathryn Hahn. Visto na Star+.
Há uma generosa dose de clichês em "O lado bom da vida". É daqueles filmes feitos para casais modernos, cheios de problemas (como todos os casais), em que as dificuldades serão superadas e tudo vai terminar no beijo final. Acrescenta-se uma dose de remédio tarja preta (também "na moda"), menções (mas não imagens) de sexo, cenas chorosas entre pais e filhos e, claro, uma competição a ser vencida. Ou melhor: duas. É de se admirar que o filme tenha sido feito pelo mesmo diretor de "Três Reis" (1999) e "O Vencedor" (2010), David O. Russell.
O roteiro (de Russell, baseado no livro de Matthew Quick) conta a história de Pat (Bradley Cooper), um cara que foi condenado a passar 8 meses em uma instituição psiquiátrica após ter surrado o amante da esposa. Ele sofre da versão hollywoodiana de "transtorno bipolar" e acredita piamente que a ex-esposa, Nikki (Brea Bee) vai voltar para ele. Ao sair da instituição ele vai morar com os pais, interpretados por Robert DeNiro e Jacki Weaver. DeNiro está um pouco melhor do que nos papéis fracos que tem feito ultimamente, embora ainda seja apenas uma sombra do talento do passado. Ele também tem problemas como transtorno obsessivo compulsivo e vício em apostas. Pat não perde tempo e, apesar de uma ordem judicial que o obriga a ficar longe da ex-esposa, tenta o tempo todo retomar o contato. Seria trágico se, neste filme, não fosse cômico. O roteiro arruma um par para Pat na figura também conturbada de Tiffany (Jennifer Lawrence, de "Inverno da Alma" e "Jogos Vorazes", mais adulta e bonita). O marido policial morreu recentemente e ela compensou a solidão transando com todos os homens (e mulheres) que encontrou pela frente, e tenta fazer sexo com Pat assim que o conhece. Ele, convicto, aponta para a aliança no dedo e diz que é casado. "Eu também sou", diz ela.
O roteiro de Russell perde oportunidades mas não perde a piada, e várias situações que poderiam render melhor dramaticamente são desperdiçadas. Não fica muito claro porque Tiffany deseja passar tanto tempo com Pat, a não ser pelo fato dele ser Bradley Cooper. O caso é que surge uma competição de dança que Tiffany quer participar e ela usa de chantagem emocional para transformar Pat, que nunca dançou na vida, em seu parceiro no torneio. Segue-se então aquelas montagens musicais em que vemos os dois ensaiando passos de dança no estúdio de Tiffany e, claro, os dois começam a se apaixonar. Só que ao invés de partir logo para um final "bonitinho" de comédia romântica, o filme estica mais meia hora misturando a trama do torneio de dança com uma aposta absurda feita pelo pai de Pat, que pode levar todos à ruína financeira. O lado sério do problema de jogo do personagem de DeNiro é esquecido em favor da piada fácil, e uma cena que deveria ser emocionante, em que DeNiro chora ao pedir para que o filho assista a um jogo com ele, perde o significado. Assim, "O lado bom da vida" é filme fácil para se assistir a dois em um sábado à noite, no DVD e comendo uma pizza. Apesar disso, ele foi indicado a oito Oscars: filme, direção, ator (Bradley Cooper), atriz (Jennifer Lawrence), ator coadjuvante (DeNiro), atriz coadjuvante (Jacki Weaver), edição e roteiro adaptado.