O grande ator Philip Seymour-Hoffman (46 anos) foi encontrado morto esta manhã em Nova York vítima de uma suposta overdose de heroína.
O ator venceu o Oscar por sua interpretação do jornalista e escritor Truman Capote em filme de 2005, mas era presença marcante em toda produção de que participava.
Entre suas dezenas de filmes, trabalhou com Sidney Lumet em 2008 em "Antes que o diabo saiba que você está morto"; com George Clooney fez "Tudo pelo Poder" (2011); emprestou a voz grave à animação "Mary e Max - Uma Amizade Diferente" (2010); uma de suas últimas e mais marcantes interpretações foi em "O Mestre" (2012), de Paul Thomas Anderson, em que interpretava um personagem baseado em L. Ron Hubbard, o fundador da Cientologia. Ele era figura frequente nos filmes de Anderson, tendo trabalhado em "Jogada de Risco" (1996), "Boogie Nights" (1997), "Magnólia" (1999) e "Embriagado de Amor" (2002)
Seymour-Hoffman encontrou tempo até para participar de "Jogos Vorazes: Em Chamas", e estava agendado para filmar as continuações da saga adolescente.
Um homem carismático, bem sucedido, capaz de convencer as pessoas das teorias mais improváveis. O outro é um veterano de guerra alcoólatra e com sérios problemas. Entre os dois surge uma amizade que é uma mistura de relação paternal, busca por aceitação, admiração mútua e, talvez até, interesse amoroso. "O Mestre" é o mais novo filme de um dos diretores americanos mais interessantes dos últimos 20 anos. Paul Thomas Anderson escreve e dirige os próprios filmes, caracterizados por uma estética apurada, duração longa e grandes interpretações. Filmes como "Boogie Nights" (1997), "Magnólia" (1999) e "Sangue Negro" (2007) exploraram temas adultos de forma ousada e, por vezes, bizarra.
"O Mestre" é a visão de Anderson sobre o criador da Cientologia, religião criada nos anos 1950 pelo escritor de ficção-científica L. Ron Hubbard; é citada frequentemente na mídia por causa de seguidores famosos como Tom Cruise ou John Travolta. No filme de Anderson, o personagem de Hubbard é chamado de Lancaster Dodd (o excelente Philip Seymour Hoffman, de "Tudo pelo Poder"), mas o foco principal está em Freddie Quell (Joaquin Phoenix, de "Amantes"). É do ponto de vista de Freddie que o espectador conhece Dodd, um homem bem falante, carismático e que conquistou um grupo de seguidores. Dodd escreveu um livro chamado "A Causa", que é uma filosofia que mistura autoconhecimento, cura de doenças e até "viagens no tempo" para buscar explicações para os problemas do presente. Dodd prega que os seres humanos são espíritos do passado que apenas mudam de corpos através do tempo, e que somos muito superiores aos animais, com seus instintos e desejo por prazer. Os dois se conhecem quando Freddie invade o barco em que Dodd está celebrando o casamento da filha, e os dois (opostos completos) se tornam amigos. Há uma cena extremamente bem interpretada por Joaquin Phoenix e por Hoffman em que Dodd, em uma espécie de sessão de terapia, repete a mesma pergunta várias vezes: "Qual é o seu nome? Qual é o seu nome? Qual é o seu nome?". Dodd pode ser um charlatão, mas passa suas idéias com a confiança e charme dos vendedores de carros usados. Mais assustadora é a esposa, a aparentemente doce Peggy Dodd, interpretada por Amy Adams. O rosto angelical e a barriga grávida passam um ar de fragilidade, mas não conseguem mascarar seu fanatismo quando ela começa a pregar.
A trilha sonora de Johnny Greenwood (do Radiohead) é um capítulo a parte; ao invés do acompanhamento tradicional, a música compete com a imagem, causando um choque. A narrativa lenta e enigmática levou alguns críticos a julgar que o filme não tem o que dizer, mas o fato é que "O Mestre" é tão ilusório ou redentor quanto o culto criado por seu protagonista. É constantemente intrigante, tem um belo visual (filmado originalmente em 70mm, apesar da exibição ruim e sem foco vista aqui) e interpretações acima da média (Philip Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix e Amy Adams foram indicados ao Oscar). Paul Thomas Anderson pode não ter feito um filme perfeito, mas recria o mundo do pós-guerra americano, com seus contrastes, riqueza, traumas e promessas vazias com maestria.