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quinta-feira, 20 de julho de 2023

Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte 1 (Mission: Impossible - Dead Reckoning Part One, 2023)

Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte 1 (Mission: Impossible - Dead Reckoning Part One, 2023). Dir: Christopher McQuarrie. Antes de falar no Missão: Impossível, uma história; fui ao shopping tranquilo, achando sinceramente que chegaria lá e encontraria ingresso para assistir "Oppenheimer" no IMAX. Afinal, há algumas semanas fiz exatamente isso para ver "Indiana Jones" na estreia, sem filas e com cinema com meia lotação. Só que não; um MAR de garotas (e garotos... e gente não tão jovem assim) vestindo rosa tomava o shopping e o saguão do cinema. Uma "Barbie-mania" impressionante. Pior... quem não conseguiu ingresso para Barbie comprou para ver Oppenheimer e...fiquei sem entrar. Então...

O novo "Missão: Impossível" (que nem sei em que número está) é deliciosamente bom. Tom Cruise e sua trupe estão ótimos e o filme, como produto, é extremamente bem feito. A câmera de Christopher McQuarrie está sempre em movimento, mas você nunca perde a geografia das cenas ou o enquadramento dos personagens. A trama, claro, é absurda. Tem algo a ver com uma chave, que se divide em duas partes, que serve para controlar uma "Entidade". Não estamos falando de nada espiritual, mas do mais novo bicho papão da sociedade, a Inteligência Artificial. Em tempos de ChatGPT e Dall-E, o roteiro do novo M:I me pareceu bem atual, apesar de saber que o filme ficou em produção por anos.

O elenco habitual composto por Cruise, Simon Pegg e Ving Rhames é acompanhado por alguns que já vimos antes, como Rebecca Ferguson e Vanessa Kirby, e rostos novos, como Hayley Atwell e Shea Whigham. O Ethan Hunt de Cruise se tornou o novo 007 nos últimos anos e, pessoalmente, acho bem mais divertido. Há grandes cenas de perseguição e correria pelas ruas de Roma, os canais de Veneza, um aeroporto de Abu Dhabi e nas areias do deserto. Achei curioso como todas elas funcionam muito melhor do que nas cenas do recente "Indiana Jones". Cruise traz um humor bem vindo a estas cenas, principalmente contracenando com Hayley Atwell. E, sim, há a já famosa (e muito marketeada) sequência do salto com moto de um penhasco, em que Cruise realmente teria se lançado em queda livre de um pico dos Alpes. A cena é boa mas, sinceramente, achei bem mais interessante (e agonizante) uma sequência em que Cruise e Atwell tentam escalar os vagões de um trem caindo.

O curioso desses filmes é que, ao contrário de James Bond, é tudo bem assexuado. Há um bocado de mulheres bonitas soltando faíscas ao lado de Cruise, como Ferguson, Atwell, Kirby ou a canadense Pom Klementieff (que parece personagem de anime), mas o máximo que acontece é uns abraços e apertos de mão. Ethan Hunt já foi casado na série e a esposa (ou ex, não lembro mais) é mantida longe pela segurança dela, mas é curioso como, nos filmes recentes, ninguém mais transa (como diz um amigo meu). Ah, sim, este filme é só a primeira de duas partes; Cruise recentemente declarou que, assim como Harrison Ford, quer fazer filmes até os 80 anos, então é de se esperar que Missão: Impossível não vá embora tão cedo. Visto no cinema (cercado por fãs de Barbie). 

domingo, 28 de maio de 2023

Vidas sem Rumo (The Outsiders, 1983)

Vidas sem Rumo (The Outsiders, 1983). Dir: Francis Ford Coppola. Amazon Prime Video. O filme é de 1983, mas parece algum bom melodrama dos anos 1950. O filme de Coppola, visto hoje, parece meio teatral e até piegas, mas o que mais chama a atenção é o elenco: Patrick Swayze, Matt Dillon, C. Thomas Howell, Ralph Machio, Rob Lowe, Diane Lane, Emilio Estevez, Tom Cruise... todos muito novos, vários estreando nas telas.

O filme se passa nos anos 1960 e tem ecos de "Juventude Transviada" (Rebel without a Cause, 1955) e "West Side Story" (1961); jovens de diferentes classes sociais lutam por espaço e relevância em Tulsa, Oklahoma. Os jovens pobres Ponyboy (C. Thomas Howell) e Johnny (Ralph Macchio) são atacados por um grupo de jovens de classe alta; Johnny acaba puxando um canivete e matando um dos jovens ricos. Dallas (Matt Dillon) ajuda os rapazes e os esconde no interior, em uma igreja abandonada.

O filme foi restaurado em 2021 e a imagem da cópia da Amazon está linda. Há uma bela cena em que Howell e Macchio assistem a um nascer do Sol que é muito poética. Como disse, o roteiro às vezes é um tanto piegas e teatral, com personagens citando poesia e a câmera de Coppola exagerando nos closes e nas fusões de imagens. Mas é um filme bonito, que lançou muitos jovens atores e marcou época. Coppola lançaria outro filme em 1983 com Dillon, Diane Lane e Mickeu Rourke, o estilizado "O Selvagem da Motocicleta" (Rumble Fish), feito com praticamente a mesma equipe. Disponível na Amazon Prime Video.

sábado, 28 de maio de 2022

Top Gun: Maverick (2022)

Top Gun: Maverick (2022). Dir: Joseph Kosinski. "Tom Cruise: Maverick" talvez fosse um título mais apropriado. Digam o que quiserem sobre Cruise, seu egocentrismo, perfeccionismo em fazer cenas de ação e, provavelmente, um pacto para parecer jovem eternamente. O fato é que ele construiu seu lugar como o último astro de cinema. Mais de 30 anos depois do sucesso dos anos 1980, Top Gun, Cruise volta parecendo quase o mesmo, embora mais maduro, seguro e determinado em entregar um filme anti-Netflix, um espetáculo audiovisual para ser visto no telão do cinema.

"Top Gun: Maverick" não tem nada de memorável e bebe abertamente da fonte da nostalgia de onde tantos buscam "inspiração" hoje. Mas, caramba, como é eficiente. É também um filme "para meninos", não espere grandes mensagens inclusivas ou coisas do gênero; no máximo, entre os garotões cheios de testosterona que aparecem na tela há também uma mulher no cockpit de um dos caças. É tecnicamente bonito de se ver, com bela fotografia e uma edição que consegue o feito de não deixar o espectador perdido entre tantos aviões passando pela tela.

O roteiro? Bom, há uma missão que lembra muito o clímax de Star Wars (que já havia copiado filmes de aviação da 2ª Guerra Mundial); um inimigo não identificado está para colocar uma usina nuclear clandestina em funcionamento em poucas semanas. Maverick tem que treinar uma equipe de pilotos para voar por um desfiladeiro estreito, desviando de baterias antiaéreas e acertar um alvo com apenas três metros. "Use a Força, Cruise". As cenas aéreas são brilhantes e foram feitas dentro de caças de combate de verdade. Fica nítida a sensação de realidade na expressão dos atores quando enfrentam altas "forças G" e tem o rosto distorcido pela velocidade.

Há também o lado humano da trama, representado pela presença de Miles Teller interpretando o filho de "Goose", parceiro de Maverick que morreu no primeiro filme. Jennifer Connelly não tem muito o que fazer além de ser Jennifer Connelly como o "interesse amoroso" de Cruise (no lugar de Kelly McGillis que, aos 64 anos, está sendo vítima de várias postagens maldosas na internet). Jon Hamn, ainda tentando se encontrar pós Mad Men, é um almirante. O grande Val Kilmer, que interpretou o antagonista de Maverick em 1986, tem uma participação especial em uma cena realmente comovente com Cruise. Ao final, não tem como não se empolgar pelas cenas de batalhas e pela "vibe" geral do filme. Não sei se vai ter o status de "clássico", mas é bastante bom. Nos cinemas.

terça-feira, 10 de agosto de 2021

Val (2021)

Val (2021). Dir: Ting Poo e Leo Scott. Amazon Prime. Bom documentário sobre a vida do ator Val Kilmer. O filme apareceu sem nenhuma propaganda na Amazon Prime, mas eu o aguardava há algum tempo. Val Kilmer nunca chegou ao status de "astro" como Tom Cruise ou Harrison Ford, longe disso, mas foi sempre um ator marcante mesmo nas produções "B" que fizeram parte de seu currículo nos últimos anos. Recentemente foi atacado por um câncer de garganta que acabou com sua voz forte e debilitou sua aparência. Ele sobreviveu, mas é triste ver o que a doença fez com sua figura.

Sem poder falar (a não ser tampando um buraco na garganta com os dedos), Val Kilmer resolveu contar a própria história, usando centenas de horas de filmagens feitas por ele mesmo desde criança. Sim, é um projeto cheio de vaidade, mas Kilmer é um ator, acostumado à própria imagem a vida inteira. Ele e os irmãos brincavam de fazer filmes amadores em um rancho na Califórnia e Kilmer continuou gravando a própria vida; bastidores de filmes, testes para diretores como Scorsese (ele tentou o papel de Ray Liotta em "Os Bons Companheiros") e Stanley Kubrick, ensaios, conversas com a família, etc. Há cenas curiosas dos bastidores de "Top Gun", "Batman", "The Doors", "Fogo contra Fogo", "Tombstone" e o caos que foram as filmagens de "A Ilha do Dr. Moreau", com Marlon Brando.

Todo o "glamour" do passado contrasta com a situação presente de Kilmer. Há uma sequência bem desconfortável em que o vemos assinando centenas de autógrafos para fãs em uma convenção qualquer; Kilmer passa mal e tem que interromper a sessão de autógrafos. Sem poder fazer mais filmes, ele agora depende de aparições públicas para ganhar algum dinheiro. O documentário é narrado pelo filho de Kilmer, Jack, que tem a voz bem parecida com a do pai. O trabalho de edição é muito bem feito, misturando centenas de imagens de várias décadas diferentes para contar a história de um grande ator. Disponível na Amazon Prime.

sábado, 14 de junho de 2014

No limite do amanhã

"No Limite do Amanhã" usa uma variação da mesma premissa da comédia "Feitiço do Tempo" (Harold Ramis, 1993) e a transporta para uma aventura de ficção-científica. O que aconteceria se uma pessoa, ao morrer, voltasse sempre para o mesmo momento no tempo? Ela poderia fazer algo diferente ou estaria fadada a repetir tudo? Esta é a situação em que se encontra o Major Cage (Tom Cruise, do inferior "Oblivion"), um assessor de imprensa do exército que é enviado para a linha de frente por um general cruel. Cage não tem treinamento militar e, bem ao estilo "Dia D" (a invasão da Normandia, no final da 2ª Guerra Mundial), é despejado em uma praia vestindo uma armadura robótica tendo que combater centenas de aliens que vieram conquistar o planeta. Despreparado, Cage morre em poucos minutos, apenas para se ver vivo novamente no dia anterior à invasão; o ciclo se repete infinitamente, para desespero do Major, que Tom Cruise interpreta muito bem.

Tudo muda quando ele interage com uma heroína de guerra chamada Rita (Emily Blunt, de "Looper"), que lhe revela que ela também havia passado por isso. Cruise passa a se encontrar com Rita a cada reset e, aos poucos, vai treinando para se transformar em um soldado experiente. Eles têm que descobrir onde é que o "cérebro" dos aliens está escondido, para destruí-lo e vencer a guerra. Assistir a "No limite do amanhã" acaba se tornando muito similar a se jogar videogame. Os personagens conseguem chegar até certo ponto da história, quando morrem e voltam na "jogada" seguinte, mais experientes e sabendo o que vão encontrar pela frente. O diretor Doug Liman (especialista em filmes de ação como "A Identidade Bourne") faz um bom trabalho em explicar a trama e em conseguir filmar as mesmas situações, repetidas dia após dia, de forma ligeiramente diferente. (leia mais abaixo)


Há momentos em que você acha que Cage está passando por uma experiência pela primeira vez, até que ele acaba revelando que já passou por aquilo antes. A relação dele com a personagem de Emily Blunt é delicada, porque ele passa a conhecê-la intimamente e querer protegê-la, enquanto que, para ela, Cage é um estranho a cada vez que ele volta. Outro filme de ficção-científica recente, "Contra o Tempo" (de Duncan Jones) também explorava esta situação.

Uma pena que as sequências finais sejam pouco inspiradas e, francamente, não fazem muito sentido. Um ataque final ao esconderijo dos aliens seria muito mais inteligente se fosse feito de surpresa; ao invés disso, preferiram fazer uma explosiva (e impossível) cena de ação. Apesar de tudo, "No limite do amanhã" é inventivo e inteligente. Tom Cruise, apesar de já aparentar ser um cinquentão, ainda consegue levar um filme de ação nas costas sem problemas.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Oblivion

Terra, 2077. O planeta foi invadido por extraterrestres que, ao destruírem a Lua, causaram uma série de catástrofes naturais que arrasaram com todas as cidades e quase extinguiram a Humanidade. Ainda assim, eles foram derrotados e os humanos sobreviventes estão todos em órbita, em uma nave gigantesca, aguardando o momento de partir para um novo lar em Titã, uma das luas de Saturno. Apenas alguns poucos humanos ainda estão na Terra fazendo trabalho de manutenção nos drones, robôs automáticos que estão à caça dos extraterrestres que permanecem escondidos.

Tom Cruise é Jack Harper, um destes técnicos de manutenção. Ele vive em uma belíssima casa tecnológica que flutua acima das nuvens, acompanhado de Victoria (Andrea Riseborough), sua companheira e encarregada. Faltam apenas duas semanas para que o trabalho termine e eles possam embarcar para Titã, mas as coisas não são tão simples. Jack (que tem o nome gritado uma centena de vezes durante o filme, "Jack!", "Jack!") tem tido uns sonhos estranhos com uma mulher desconhecida, em uma época antes da guerra, em um claro "empréstimo" dos roteiristas da trama de "O Vingador do Futuro" (versões de 1990 e 2012). Para complicar as coisas, um dia cai do céu uma nave; contrariando ordens superiores, Jack vai investigar e resgata uma única sobrevivente, Julia (a modelo Olga Kurylenko), que é exatamente a mulher que tem aparecido em seus sonhos. Jack também descobre que há um grupo de rebeldes humanos na Terra liderados por Beech (Morgan Freeman e sua voz de Deus), que pretendem revelar a verdade sobre a guerra e o que aconteceu com o planeta.

Dirigido por Joseph Kosinski (de "Tron: O Legado"), "Oblivion" tem um visual fantástico, embora nada original, que mostra a cidade de Nova York, sempre ela, praticamente enterrada por toneladas de lama. A trama tem todos os ingredientes para um bom filme de ficção-científica, envolvendo memórias apagadas, preocupações ambientais, rebeldes e um herói que conhece muito pouco sobre ele mesmo. Por que, então, o filme não funciona? Apesar do todo o carisma de Tom Cruise (que simplesmente se recusa a envelhecer), os personagens não empolgam. Há diversas sequências de ação que causam menos entusiasmo do que um jogo de videogame e o roteiro, quando começa a revelar os "segredos" da trama, simplesmente desmorona. 

ATENÇÃO, SPOILERS, NÃO LEIA DAQUI PARA FRENTE SE NÃO VIU O FILME.

SPOILERS. ESTEJA AVISADO.

Por que os alienígenas precisariam de auxiliares como Jack e Victória? Por que se dar ao trabalho de criar estas histórias na cabeça deles? Se eles são tão superiores tecnologicamente, como claramente se pode ver, qual a necessidade de ter "técnicos de manutenção" humanos e, pior, cheios de memórias complicadas na cabeça? Por que não clonar um outro humano qualquer, criar milhares de escravos? Por que os alienígenas parecem saber tudo e ver tudo no planeta, em certas partes do filme, e serem completamente cegos em outros momentos? Como é que o personagem de Cruise (ou um de seus clones) estava exatamente no lugar certo na hora que a nave Odisseu caiu no planeta, e como é que ele conseguiu salvar, de todos os humanos presentes, exatamente sua mulher? Por que é que Cruise pode parar os drones com um comando de voz durante praticamente todo o filme, mas quando eles atacam o esconderijo dos rebeldes ele não faz isso? Por que é que os alienígenas iriam querer que ele levasse Julia para a nave mãe, convenientemente abrindo a porta para que ele entrasse com a bomba? O que eles teriam a ganhar ao vê-la?

Estas são apenas algumas das perguntas que podem ser feitas a partir dos absurdos apresentados pelo roteiro. Isso sem falar no final inacreditável, em que o marqueting de Tom Cruise é tão grande que ele pode, ao mesmo tempo, se "sacrificar" pelo planeta e ainda "voltar" para um final feliz (o que fizeram com os outros 50 clones de Jack Harper que, teoricamente, existem espalhados pelo planeta?). Assim, "Oblivion" pode ter visuais espetaculares e uma premissa interessante, mas não consegue responder às próprias perguntas.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Mestre

Um homem carismático, bem sucedido, capaz de convencer as pessoas das teorias mais improváveis. O outro é um veterano de guerra alcoólatra e com sérios problemas. Entre os dois surge uma amizade que é uma mistura de relação paternal, busca por aceitação, admiração mútua e, talvez até, interesse amoroso. "O Mestre" é o mais novo filme de um dos diretores americanos mais interessantes dos últimos 20 anos. Paul Thomas Anderson escreve e dirige os próprios filmes, caracterizados por uma estética apurada, duração longa e grandes interpretações. Filmes como "Boogie Nights" (1997), "Magnólia" (1999) e "Sangue Negro" (2007) exploraram temas adultos de forma ousada e, por vezes, bizarra.

"O Mestre" é a visão de Anderson sobre o criador da Cientologia, religião criada nos anos 1950 pelo escritor de ficção-científica L. Ron Hubbard; é citada frequentemente na mídia por causa de seguidores famosos como Tom Cruise ou John Travolta. No filme de Anderson, o personagem de Hubbard é chamado de Lancaster Dodd (o excelente Philip Seymour Hoffman, de "Tudo pelo Poder"), mas o foco principal está em Freddie Quell (Joaquin Phoenix, de "Amantes"). É do ponto de vista de Freddie que o espectador conhece Dodd, um homem bem falante, carismático e que conquistou um grupo de seguidores. Dodd escreveu um livro chamado "A Causa", que é uma filosofia que mistura autoconhecimento, cura de doenças e até "viagens no tempo" para buscar explicações para os problemas do presente. Dodd prega que os seres humanos são espíritos do passado que apenas mudam de corpos através do tempo, e que somos muito superiores aos animais, com seus instintos e desejo por prazer. Os dois se conhecem quando Freddie invade  o barco em que Dodd está celebrando o casamento da filha, e os dois (opostos completos) se tornam amigos. Há uma cena extremamente bem interpretada por Joaquin Phoenix e por Hoffman em que Dodd, em uma espécie de sessão de terapia, repete a mesma pergunta várias vezes: "Qual é o seu nome? Qual é o seu nome? Qual é o seu nome?". Dodd pode ser um charlatão, mas passa suas idéias com a confiança e charme dos vendedores de carros usados. Mais assustadora é a esposa, a aparentemente doce Peggy Dodd, interpretada por Amy Adams. O rosto angelical e a barriga grávida passam um ar de fragilidade, mas não conseguem mascarar seu fanatismo quando ela começa a pregar.

A trilha sonora de Johnny Greenwood (do Radiohead) é um capítulo a parte; ao invés do acompanhamento tradicional, a música compete com a imagem, causando um choque. A narrativa lenta e enigmática levou alguns críticos a julgar que o filme não tem o que dizer, mas o fato é que "O Mestre" é tão ilusório ou redentor quanto o culto criado por seu protagonista. É constantemente intrigante, tem um belo visual (filmado originalmente em 70mm, apesar da exibição ruim e sem foco vista aqui) e interpretações acima da média (Philip Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix e Amy Adams foram indicados ao Oscar). Paul Thomas Anderson pode não ter feito um filme perfeito, mas recria o mundo do pós-guerra americano, com seus contrastes, riqueza, traumas e promessas vazias com maestria.


sábado, 24 de dezembro de 2011

Missão: Impossível - Protocolo Fantasma

Tom Cruise, aos 49 anos, produz e estrela este quarto filme da série Missão: Impossível, que foi levada ao cinema pela primeira vez em 1996 por Brian De Palma. O segundo filme, dirigido pelo chinês John Woo em 2000, transformou a série em um veículo para o estrelismo de Cruise, que se tornou um James Bond alternativo. J.J. Abrams, em 2006, deu ao agente Ethan Hunt um motivo mais humano para lutar, colocando Michelle Monaghan como a namorada em perigo que ele tem que salvar.

Quando o tema já parecia esgotado, eis que surge Cruise novamente com direção de Brad Bird, que fez sua carreira no mundo da animação. Ele começou dirigindo episódios da série "Os Simpsons" e fez um ótimo longa metragem, "O Gigante de Ferro" (1999), que foi vítima de um mau lançamento dos estúdios Warner, tornando-se um fracasso. Os estúdios Pixar reconheceram seu talento e Bird fez dois sucessos em seguida, "Os Incríveis" (2004) e "Ratatoille" (2007). Quem viu "Os Incríveis" vai reconhecer o talento de Bird em criar cenas de suspense e de espionagem. As cenas em que o Sr. Incrível e a Sra. Elástico têm que invadir o quartel general do vilão Síndrome lembram muito "Missão: Impossível".

"Protocolo Fantasma" traz de volta o espírito de equipe da série original, assim como um senso de humor muito bem vindo. Ethan Hunt se vê envolvido em uma trama que retoma os temas da Guerra Fria quando um agente russo chamado Cobalto (Michael Nyqvist) rouba um lançador de mísseis nucleares do Kremlin. Ele tem um plano (apropriadamente maluco) de que a paz mundial pode ser alcançada após uma guerra nuclear, assim como Hiroshima e Nagasaki se tornaram símbolos depois da II Guerra Mundial. Hunt é acompanhado pelos agentes Benji (o britânico Simon Pegg), Jane (Paula Patton) e Brandt (Jeremy Renner) em uma aventura passada em Moscou, Dubai, Bombain e São Francisco. A sequência passada em Dubai é a mais espetacular e, paradoxalmente, a que menos faz sentido. Para alcançar os servidores do prédio mais alto do mundo, o "Burj Khalifa", Ethan Hunt tem que escala-lo por fora, estilo "homem-aranha", usando luvas especiais. A cena é muito bem feita, com Cruise pendurado a centenas de metros do chão, mas uma pergunta simples derruba qualquer verossimilhança: ninguém pode vê-lo de dentro do prédio? Mais interessantes são as cenas em que Hunt e Benji invadem o Kremlin usando uma tela que os faz invisíveis, ou a sequência em que Paula Patton usa seu "charme" para conquistar um playboy da mídia em Bombain, Índia.

Há uma tentativa de humanizar a história com uma subtrama envolvendo o passado do personagem de Renner e Cruise, mas este é, essencialmente, um filme de ação. Neste aspecto, "Missão: Impossível - Protocolo Fantasma" é extremamente bem sucedido. Brad Bird mantém a adrenalina alta o tempo todo sem atropelar o espectador. O filme é relativamente longo, com 133 minutos, e tem tempo de se desenvolver. O cinquentão Cruise tem várias cenas de heroísmo mas o roteiro dá chance aos outros personagens de ter seus momentos de aventura. A trilha de Michael Giacchino (o melhor compositor de trilhas atualmente) retoma o tema original de Lalo Schifrin, adaptando-o para os diversos países onde se passa o filme. Há uma cena final que deixa clara a possibilidade de outras contiuações; resta saber até quando Tom Cruise vai conseguir passar a imagem de galã de aventuras. Visto no Topázio Cinemas.


sábado, 27 de setembro de 2008

Morre Paul Newman

O cinema perde um de seus grandes astros, o ator Paul Newman (1925-2008), que faleceu de câncer sexta-feira, 26 de setembro. Conhecido pelos seus olhos azuis, o ator começou seguindo a linha de atuação "metódica" desenvolvida pelo Actor´s Studio, famosa escola de interpretação de onde saíram Marlon Brando, James Dean, Al Pacino e dezenas de outros. Newman era do tipo clássico do herói americano, rebelde, sarcástico, solitário. Mas alguns de seus maiores sucessos vieram com os dois filmes que fez com o colega Robert Redford. Em 1969 fez o western "Butch Cassidy and the Sundance Kid", retratando de forma romanceada a vida de dois assaltantes de trem. Das cenas famosas há a luta resolvida rapidamente por Newman com outro membro da gangue, um salto de um precipício para um rio e o famoso final, quando a dupla é emboscada em uma cidade da Bolívia. Em 1973 se juntou novamente com Redford e o diretor George Roy Hill e fez "Golpe de Mestre" (The Sting), que levou o Oscar de Melhor Filme. É dos melhores filmes de gângster do cinema e Newman faz o líder de um grupo que pretende dar um golpe em um gângster rival (vivido por Robert Shaw). Em tom nostálgico, o filme tinha bela direção de arte, a música de piano de Scott Joplin e um final surpreendente. No ano seguinte se juntou a um grande elenco para fazer "Inferno na Torre" (Towering Inferno, 1974), um dos vários filmes de desastre que se fez nos anos 1970. O filme contava com nomes como Steve McQueen, Fred Astaire, William Holden, Faye Dunaway no grande elenco.

Newman foi indicado ao Oscar de Melhor Ator diversas vezes, mas só levou em 1986 com "A Cor do Dinheiro", de Martin Scorsese. Newman interpretava Eddie Felson, papel que já havia vivido antes, em 1961, no filme "Desafio à Corrupção". Em "A Cor do Dinheiro", Newman é um vendedor de bebidas de segunda classe que fica impressionado com um jovem jogador de sinuca vivido por Tom Cruise. Ele se oferece para empresariar o jovem e sai Estados Unidos afora com Cruise e sua bela namorada (Mary Elisabeth Mastrantonio). Paul Newman havia completado 60 anos e era considerado um ator em decadência quando o filme saiu. O Oscar colocou o ator de volta no mercado e ainda gerou grandes interpretações como em "A Roda da Fortuna" (The Hudsucker Proxy,1994, dos irmãos Coen), ou "Estrada para a Perdição" (Road to Perdition, 2002, Sam Mendes). Uma de suas melhores interpretações, em minha opinião, foi em "O Veredito" (The Veredict, 1982, de Sydney Lumet), em que interpreta um advogado decadente e alcoólatra que é contratado para defender uma paciente vítiva de erro médico. Com elenco formado por atores como o grande James Mason e Charlotte Rampling, Neswman está estraordinário e vale o filme.

Casado com a atriz Joanne Woodward por mais de 40 anos, Newman também se interessava por corridas de carro (teve uma equipe de fórmula Indy) e tinha importante trabalho filantrópico, com uma linha de alimentos com seu nome cuja venda era revertida totalmente à obras de caridade. Ator que conseguiu prevalecer por várias fases do cinema, que trabalhou com grandes diretores como Alfred Hitchcock, Sidney Lumet, Robert Altman e Martin Scorsese, além de inúmeros outros, Newman fará falta por sua brilhante interpretação e por seu trabalho humanitário. Descanse em paz.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Leões e Cordeiros

Um filme com algumas das maiores estrelas do cinema americano, Robert Redford, Tom Cruise e Meryl Streep... conversando. Não só conversando, mas debatendo idéias, procurando e analisando causas e conseqüências relevantes para a situação política e histórica dos dias de hoje. Soa tedioso? Como teatro filmado? Pois é, muita gente achou que sim. O filme teve vida curta nos cinemas e em pouco tempo estava nas prateleiras das locadoras. Eu gostei.

Não é um filme “cinematográfico”, é verdade. São basicamente duas longas conversas entrecortadas por alguma ação. Em uma escola de Washington, o professor Stephen Malley (Robert Redford, que também dirige o filme) não está satisfeito com a performance de um aluno que, um dia, ele considerou brilhante. Ele é Todd Hayes (Andrew Garfield), um rapaz que tem boas notas, mas muitas faltas, e simplesmente perdeu o interesse nas aulas de Ciência Política ministradas por Malley. O professor lhe propõe um trato: ele não precisaria vir a mais nenhuma aula até o final do ano e ainda assim receberia nota “B” na média final. Ou então ele poderia decidir não faltar mais a nenhuma aula, mas teria que participar ativamente de todas elas, como costumava fazer. Por que ele perdera o interesse? O aluno explica que não tem mais esperança na política e que resolveu que iria apenas “fazer a sua parte”, pagar seus impostos, trabalhar e tirar proveito do que o país tivesse a oferecer, mas nada mais do que isso.

Enquanto isso, em outra parte de Washington, um senador republicano (Tom Cruise) chama para uma entrevista exclusiva a jornalista Janine Roth (Meryl Streep), com o objetivo de lhe passar uma nova estratégia militar que seria implementada pelo governo americano no Afeganistão. O que se segue é um longo debate entre os dois em que questões como a guerra do Iraque e o clima político pós 11 de setembro são discutidos. A nova estratégia consiste em usar um número menor de soldados no Afeganistão. Eles ocupariam as montanhas durante o inverno e teriam vantagem tática contra o Talibã quando o verão chegasse. A jornalista, que começou a carreira em plena Guerra do Vietnam, vê com desconfiança e sensação de “deja vu” tais táticas militares. Apesar da troca de gentilezas entre os dois, fica claro o clima tenso no ar, com acusações fundamentadas de ambos os lados. A jornalista levanta os vários erros militares cometidos no Iraque e as milhares de vidas perdidas. O político, por seu lado, pede para que ela se concentre no presente e a lembra de que a imprensa havia apoiado integralmente a ofensiva contra o Iraque.

Em uma terceira trama, acompanhamos a tática mencionada por Cruise sendo aplicada no Afeganistão. Mas nem tudo é simples como os engravatados em Washington imaginavam. Um helicóptero americano é atacado por uma bateria antiaérea no topo das montanhas geladas. Dois jovens soldados, Arian Finch (Derek Luke) e Ernest Rodriguez (Michael Pena), são jogados na neve lá embaixo. Os dois, ficamos sabendo através de flashbacks, foram alunos exemplares do professor Malley. As três histórias são entrecortadas durante todo o filme. Arian e Rodriguez eram alunos pobres que chamaram a atenção do professor durante um debate em classe, em que eles pregavam mais comprometimento por parte dos americanos para se criar uma sociedade melhor. Os outros alunos os chamaram de hipócritas, dizendo que eles também, no fundo, só estavam esperando a hora de entrar em uma boa universidade e ganhar dinheiro. Os dois resolvem provar seu comprometimento mostrando seus papéis de alistamento no exército. Redford não acredita que esta seja a melhor maneira de ajudar o país e tenta fazê-los mudar de idéia.

Tudo isso é discutido e debatido em longas conversas. Senti influência da série “The West Wing”, de Aaron Sorkin, famosa por conter debates políticos pelos corredores da Casa Branca. Repetindo, não é muito cinematográfico (a série, diga-se de passagem, era até mais dinâmica). Tudo se passa em duas salas em Washington (a sala do professor e o gabinete do senador) e na montanha gelada. Mas os pontos levantados são relevantes e é raro vê-los discutidos em um filme deste modo. Devemos simplesmente falar mal da política ou fazer algo a respeito? Há o que ser feito? O mundo aprendeu alguma coisa com as guerras do passado ou estamos repetindo os mesmos erros geração a geração? Pode não ser um filme muito “agitado”, mas vale pegar o DVD.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Morre ator e diretor Sydney Pollack



Morreu o ator e diretor americano Sydney Pollack, de 73 anos, de câncer, nos EUA. Além de diretor, Pollack era bom ator, econômico, e chegou a trabalhar com Stanley Kubrick, em "De Olhos bem Fechados" ("Eyes Wide Shut", 1999), no papel de um médico. Recentemente fez o papel do chefe de George Clooney em "Conduta de Risco" ("Michael Clayton", 2007), interpretando o inescrupuloso presidente de uma firma de advocacia. Fez participações especiais em diversos seriados como "Mad About You", "Família Soprano" e "Frasier".

Como diretor, trabalhou sempre com grandes astros como Paul Newman em "Ausência de Malícia" ("Absence of Malice", 1981), Dustin Hoffman na comédia "Tootsie" (1982), Tom Cruise em "A Firma" ("The Firm", 1993), Harrison Ford no romance "Sabrina" (1995) e no drama "Destinos Cruzados" (Random Hearts, 1999) e Sean Penn e Nicole Kidman em "A Intérprete" ("The Interpreter", 2005).

Pollack trabalhou com Robert Redford em quatro filmes, ganhando o Oscar de Melhor Diretor por "Entre dois amores" ("Out of Africa", 1985), também com Meryl Streep no elenco. Era um bom diretor, competente e cuidadoso com os atores e atrizes sob seu comando. Gostava muito de seu trabalho como ator também, sempre elegante e com classe. "Destinos Cruzados", com Harrison Ford e a britânica Kristin Scott Thomas, foi um filme pouco visto e considerado ruim, mas que eu acho bastante interessante. O roteiro sem dúvida é falho, mas gostei do modo como Pollack conseguiu elevar o material e criar um quadro muito bem feito das relações entre homens e mulheres e como cada um enfrenta de modo diferente a questão da traição e do adultério. "A Intérprete" também foi um suspense competente, explorando a trama e as boas interpretações de Sean Penn e Nicole Kidman. Uma perda considerável para o cinema.