Ruína
Azul (Blue Ruin, 2013). Dir: Jeremy Saulnier. Ótimo “filme de vingança”
feito praticamente na raça por Saulnier, que escreveu, dirigiu e fez a
belíssima direção de fotografia. Jeremy Saulnier dirigia filmes
comerciais e institucionais de empresas, mas tinha a ambição de dirigir
um filme para cinema. Fez uma comédia de terror independente, que não
deu em nada, em 2007. Resolveu se tornar
câmera e diretor de fotografia de filmes independentes, juntou uma
grana com o fundo de pensão próprio e da esposa, ganhou uns trocados em
uma campanha no Kickstarter e fez “Blue Ruin” com pouco mais de 400 mil
dólares.
O filme é estrelado por Macon Blair, um amigo de infância. Nada
disso transparece no filme, que é extremamente bem feito e
profissional. “Blue Ruin” acabou indo para o Festival de Cannes onde
ganhou um prêmio de crítica. O filme acompanha a vida de Dwight (Macon
Blair), que no início vive como morador de rua em uma cidade de praia.
Ele dorme em um carro todo enferrujado e vive de restos de comida. Um
dia ele fica sabendo que o homem que foi condenado por matar seus pais
vai ser solto da prisão, em Virgínia. Dwight empacota suas coisas, põe o
carro para funcionar, arruma uma arma e volta à sua terra natal para
vingar a morte dos pais.
O que se segue é um suspense sangrento, com
toques de humor negro que me lembraram dos irmãos Coen, realista e
extremamente bem fotografado. Também me pareceu uma crítica à quantidade
de armas que o americano comum tem. Quando tudo for “olho por olho,
dente por dente”, restarão apenas cegos e banguelas.
João Solimeo
Câmera Escura
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domingo, 30 de julho de 2017
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Mesmo se nada der certo
Este é daqueles filmes tão "bonitinhos" que está a um passo do piegas. "Begin Again" é escrito e dirigido por John Carney, que em 2006 surpreendeu o mundo com "Apenas uma Vez" ("Once"), filme de baixíssimo orçamento, gravado com câmeras semi-profissionais pelas ruas de Dublin (Irlanda), que caiu nas graças do público e chegou a ganhar um Oscar de melhor canção.
Neste percebe-se a intenção clara de repetir o sucesso anterior com os mesmos elementos: um roteiro simples, fortemente baseado na música, passado nas ruas de uma cidade grande (Nova York), e um romance não convencional. Se não fosse o enorme carisma do elenco (quem não quer ver Mark Ruffalo e Keira Knightley juntos?) o filme poderia se perder no caminho.
Ruffalo é Dan, um daqueles personagens comuns em filmes americanos, um produtor musical que já foi grande mas agora é o típico looser. Ele mora em um apartamento caindo aos pedaços, dirige um carro antigo, está sempre bêbado e não emplaca um sucesso há anos. Uma noite ele entra em um bar e vê uma bela garota inglesa, Gretta (Keira Knightley, de "Anna Karenina"), cantando no palco. O público não se entusiasma com a apresentação, mas os instintos musicais e empresariais de Dan o fazem querer gravar com ela. O problema é que ele havia sido despedido da gravadora naquela mesma manhã.
A trama é contada de forma não linear, e flashbacks nos mostram como é que Gretta foi parar naquele bar. Ela havia vindo a Nova York com o namorado, um músico em ascensão chamado Dave Kohl (interpretado pelo vocalista do Maroon 5, Adam Levine). Os dois eram como unha e carne, mas o sucesso subiu à cabeça do rapaz, que trai Gretta com uma garota da gravadora.
Assim, os personagens de Ruffalo e Knightley se conhecem quando estão no fundo do poço. Sem nada a perder e usando as novas tecnologias a disposição (em vários merchandisings da Apple), os dois decidem gravar um álbum pelas ruas de Nova York. (leia mais abaixo)
Carney dirige bem mas o filme, por vezes, passa a impressão de ser um "falso indie". Há aquelas inevitáveis montagens em que vemos os músicos gravando em vários pontos da cidade que nunca dorme, na cobertura de prédios, no metrô e até mesmo em barquinhos no Central Park. Tudo muito ensolarado e festivo, quase um institucional do urbanismo eficiente de Nova York.
A trama dá um pouco mais de profundidade ao personagem de Ruffalo, que tem que lidar com a ex-mulher (a grande Catherine Keener) e uma filha adolescente (Hailee Steinfeld, de "Ender´s Game") que se veste como uma garota de programa. Também emulando "Apenas uma Vez", Carney repete com Ruffalo e Knightley o mesmo tipo de amor platônico vivido por Glen Hansard e Markéta Irglova no outro filme. É um recurso que, sem dúvida, gera uma tensão sexual bem vinda, mas a repetição é um pouco frustrante e até previsível.
Apesar de bastante retrô, o filme flerta com conceitos modernos como a disponibilização de músicas na internet e a mudança do modelo econômico das gravadoras. Nada muito profundo, e tudo termina de forma apropriadamente agridoce, nem tão feliz nem triste. É fácil imaginar fãs do filme saindo por aí (de bicicleta, claro), com um iPhone no bolso, escutando a trilha sonora deste filme.
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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Indomável Sonhadora
O cenário em que se passa "Indomável Sonhadora" (o sul dos Estados Unidos) e o ponto de vista adotado para mostrá-lo (o de uma garota de seis anos) passam a impressão de que estamos assistindo a algum filme de ficção científica distópico, estilo Mad Max. Trata-se, porém, do mundo contemporâneo, representado por uma pequena comunidade que vive em extrema pobreza em uma região conhecida como "Banheira", na Louisiana. Lá vive uma garota chamada Hushpuppy (Quvenzhané Wallis) e seu pai Wink (Dwight Henry), um alcoólatra que tem uma doença incurável; ele cuida da garota desde que a mãe dela foi embora. Uma grande tempestade se aproxima da região e quase todos se mudam para áreas mais altas além do dique, mas Wink, Hushpuppy e um punhado de vizinhos resolvem enfrentar a natureza. A chuva vem, inunda ainda mais a "Banheira" e os sobreviventes tem que pescar peixes, crustáceos e qualquer outra coisa que conseguirem encontrar para comer. No alto, helicópteros da Defesa Civil procuram por sobreviventes, mas eles se recusam a sair.
O filme é visto do ponto de vista fantástico de Hushpuppy, que gosta de escutar o som do coração dos animais e tem visões de grandes bestas pré-históricas que vagam pela região. O filme foi escrito e dirigido por Benh Zeitlin, que adaptou a peça de Lucy Alibar. A garota, com o nome impronunciável de Quvenzhané Wallis, é realmente boa atriz, mas há muitos "truques" que fazem sua interpretação melhor do que realmente é. Grande parte do tempo, por exemplo, apenas vemos a garota andando de um lado para o outro, ou olhando para a câmera, pensativa. É uma narração em off que cria emoções e traz significados para os olhares da menina. Os americanos ficaram impressionados o suficiente para indicá-la, aos nove anos de idade, ao próximo Oscar de Melhor Atriz. "Indomável Sonhadora" é um filme independente, feito em 16mm por pouco mais de um milhão de dólares, e foi ganhando fama nos festivais pelos quais passou. Sua mistura de pobreza com fantasia infantil conquistou os críticos e o filme também foi indicado aos Oscars de Melhor Filme, Roteiro Adaptado e Melhor Diretor. "Indomável Sonhadora" é o "Ou Tudo ou Nada" (filme de baixo orçamento de 1997 que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, competindo com a superprodução "Titatic") de 2012.
O filme é lento e, apesar de ter uma proposta aparentemente "social", não tem muito compromisso com a realidade. Cenas bastante poéticas são intercaladas com planos discutíveis ou apelativos. "Indomável Sonhadora", o patinho feio do Oscar 2013, é interessante, mas não é para todos os gostos.
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