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sábado, 24 de junho de 2023

Era uma vez um gênio (3000 years of longing, 2022)

Era uma vez um gênio (3000 years of longing, 2022). Dir: George Miller. Amazon Prime Video. A classificação para este filme na Amazon está como "Infantil - Romance - Excitante - Estranho". Bom, a censura é 16 anos e, definitivamente, este não é um filme infantil. Estranho, sem dúvida. "Era uma vez um gênio" pode ser chamado de um conto de fadas adulto, feito por um dos diretores mais ecléticos de todos os tempos (George Miller dirigiu filmes tão diferentes quanto "Mad Max: Estrada da Fúria" e "Happy Feet").

Tilda Swinton é Alithea, uma acadêmica especializada em narrativas que vai participar de uma conferência em Istambul. Em um lojinha local ela encontra uma garrafa de vidro distorcida, que ela leva ao hotel. Ao limpar a garrafa na pia do banheiro, a tampa se solta e sai um gênio gigante interpretado por Idris Elba (com orelhas pontudas). Sim, pode até parecer o começo de uma história infantil, mas está longe disso.

O gênio, com de costume, oferece satisfazer três desejos da personagem de Swinton, mas a experiência dela diz que, geralmente, essas histórias não acabam bem. Ao invés de fazer os desejos, Alithea passa então a escutar a história de vida do gênio, que começa literalmente com a Rainha de Sabá. George Miller recria as histórias de Elba com atores e muitos efeitos especiais, que nem sempre funcionam direito. Grande parte do filme é passada dentro deste quarto de hotel, enquanto Alithea tenta decidir seus desejos e o gênio vai contando suas histórias. É bastante estranho, a bem da verdade.

Há muito simbolismo e mais de um toque de que a intelectual vivida por Swinton talvez não esteja bem da cabeça. Há ecos de uma tragédia no passado, envolvendo uma criança chamada Enzo. Na terceira parte, em Londres, quadros na parece e caixas no porão dão mais dicas sobre a vida de Alithea, mas nada fica muito claro. Se você embarcar no romance "infantil, excitante e estranho" da descrição, é um filme interessante, mas difícil, de encarar até o final. A direção de fotografia é do grande John Seale ("Estrada da Fúria", "O Paciente Inglês", "O ano em que vivemos em perigo") e a trilha sonora de Tom Holkenborg é bonita. Disponível na Amazon Prime. 

sábado, 17 de janeiro de 2015

O Conto da Princesa Kaguya

"O Conto da Princesa Kaguya" é o quinto filme dirigido por Isao Takahata para o estúdio Ghibli, gigante da animação japonesa fundado por ele e pelo mestre Hayao Miyazaki (de "Vidas ao Vento"). É também, provavelmente, o último longa do diretor, que vai completar 80 anos. "Kaguya" foi um dos indicados ao Oscar de "Melhor Animação", ao lado de filmes como "Operação Big Hero", "Como treinar seu dragão 2", "Os Boxtrolls" e "Song of the Sea".

A história é baseada em uma lenda japonesa do século 10 sobre um cortador de bambu que encontra na floresta uma linda princesa que, de tão pequena, cabe em sua mão. Ele leva a menina para casa e, junto com a esposa, a adota como filha. A animação é lindamente desenhada por Takahata e seus animadores, em uma técnica que parece feita com lápis de cor, carvão e aquarela. Em um mundo em que as animações tentam ser cada vez mais foto-realistas é um prazer ver a linda palheta de cores que Takahata pinta na tela.

As primeiras cenas que mostram a menina sendo adotada pelo velho casal e se transformando de princesa em um bebê são de grande beleza e sensibilidade. Note a habilidade dos animadores em desenhar a bebê se desenvolvendo e descobrindo o mundo em um ótima cena em que ela começa a engatinhar e seguir alguns animais da floresta, como sapos e insetos. Ela cresce como mágica, aprende a andar e a falar em pouco tempo e logo está correndo pela floresta na companhia de um grupo de garotos liderados por Sutemaru.

Eles levam uma vida feliz até que o pai da garota encontra ouro e roupas requintadas no mesmo bosque de bambus onde descobriu a filha. Ele acredita que os deuses da floresta estão lhe dizendo que a filha merece uma vida melhor e parte com a família para a capital, onde compra uma enorme mansão cheia de empregados e professores de etiqueta. A garota se transforma, a contragosto, na Princesa Kaguya (nome que significa "brilhante", "radiante") e tem que seguir uma série de regras em uma vida bem diferente da que ela levava na floresta. Sua beleza atrai um grande número de admiradores, mas Kaguya exige tarefas impossíveis de seus pretendentes, para desespero do pai, que a quer casada com algum príncipe. Até o Imperador do Japão tenta conquistar Kaguya, sem sucesso. Saudosa da liberdade, Kaguya se torna cada vez mais deprimida. (leia mais abaixo)


O ritmo do filme acompanha o estado de espírito de Kaguya. A primeira parte, passada na floresta e nas montanhas, é alegre e cheia de vida. A vida na corte, com suas obrigações e deveres, é mostrada de forma lenta e, por vezes, entediante. Como na maioria dos contos de fada originais, a história da Princesa Kaguya termina de forma agridoce. Sua melancolia cresce até a descoberta de que, de fato, ela não é deste mundo, levando a um final triste e trágico.

Vale lembrar que Isao Takahata dirigiu o que considero um dos filmes (animados ou não) mais trágicos de todos os tempos, "Cemitério de Vagalumes" (Hotaru no Haka, 1988), a história de um casal de irmãos durante a 2ª Guerra Mundial, que é implacável na descrição dos horrores da guerra. "O Conto da Princesa Kaguya" não está neste nível de dramaticidade, mas não tem o final feliz que geralmente se espera de um filme de princesas feito no ocidente.

Maravilhosamente desenhado e animado, com bela trilha sonora de Joe Hisaishi e direção de Takahata, "O Conto da Princesa Kaguya" é dos melhores animados do estúdio Ghibli. A indicação ao Oscar deve torná-lo mais acessível nos cinemas por aqui. Enquanto isso, você pode vê-lo na íntegra, com legendas em português, neste link.

João Solimeo

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Frozen: Uma Aventura Congelante

"Frozen" foi entusiasticamente recebido pelo público americano, o que fez os estúdios Disney soltarem não só um grito de alegria como de alívio. Desde a fusão com os estúdios Pixar a Disney anda com problemas de identidade. A empresa tem um longo e tradicional passado por trás mas, ao mesmo tempo, tenta ser moderna e revolucionária como a irmã mais nova. Não ajuda muito o fato de que John Lasseter, o gênio por trás de sucessos como "Toy Story", na Pixar, hoje comande as duas companhias. O sucesso inesperado de "Frozen" parece ter trazido novo fôlego ao estúdio. (O filme venceu o Globo de Ouro de Melhor Animação no último domingo, em uma manobra que colocou o principal concorrente, a animação japonesa "The Wind Rises", na categoria de "filme estrangeiro") 

"Frozen" é colorido, muito bem feito e divertido, mas o roteiro está longe da inovação e ousadia de produções anteriores da própria Disney e da Pixar, como "Valente" ou "Enrolados". Seguindo a tradição dos "filmes de princesas", a trama é levemente inspirada em uma história infantil do dinamarquês Hans Christian Andersen, "A Rainha da Neve". "Frozen" apresenta duas princesas, a sonhadora Anna e a irmã Elsa, que tem poderes mágicos. Ela é capaz de congelar as coisas com as mãos e, em uma brincadeira com Anna, quando crianças, quase congela a irmã. Isso faz com que elas sejam isoladas uma da outra no grande castelo e acabem crescendo em separado. Anos depois, já crescidas, o castelo é aberto ao povo para a coroação de Elsa. Ela sempre usa luvas para evitar congelar as coisas, mas ela perde o controle quando descobre que Anna se apaixonou à primeira vista pelo Príncipe Hans. Elsa assusta a todos os convidados e, desesperada, parte para as montanhas para viver isolada, deixando todo o reino em um inverno perpétuo. Resta a Anna ir atrás da irmã para tentar trazê-la de volta e salvar o reino. (mais abaixo)


A animação é tecnicamente bem feita. Já há alguns anos a computação gráfica atingiu um nível em que quase não é mais possível distinguir personagens feitos no computador dos tradicionais desenhos feitos à mão dos antigos longas da Disney. É também um filme feito para garotas do século XXI, com muitas canções modernas que os personagens cantam de dez em dez minutos (o filme foi claramente pensado para se tornar um musical da Broadway). Muito se escreveu sobre a ousadia do roteiro mas, repetindo, havia muito mais vontade própria e determinação em Merida, a protagonista de "Valente", do que nas duas princesas de "Frozen". Elsa e Anna, aliás, poderiam render muito mais se o roteiro lhes desse mais espaço. O humor está garantido na presença de um boneco de neve chamado Olaf, que foi protagonista de um curta-metragem exibido recentemente nos cinemas. Falando em curta-metragem, antes da exibição de "Frozen" o público assiste a um ótimo curta estrelado por ninguém menos que Mickey Mouse, com um "design" que presta homenagem aos primeiros desenhos animados feitos por Walt Disney. Quanto a "Frozen", é diversão garantida para crianças, principalmente meninas. Visto no Topázio Cinemas, em Campinas.

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