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segunda-feira, 12 de junho de 2023

Arnold (2023)

 
Arnold (2023). Netflix. Dir: Lesley Chilcott. Documentário em três partes sobre Arnold Schwarzenegger (ufa, sem copiar do Google), que focam nas três carreiras do astro: Atleta, Ator e Político. O tom é extremamente egocêntrico e autocongratulatório; Arnold narra o documentário e ocupa quase toda a duração do filme, seja falando direto para a câmera, narrando ou em centenas de imagens de arquivo. É inegável que ele teve uma vida e tanto.

Nascido em uma pequena cidade da Áustria, Arnold sempre se sentiu fora de lugar; o pai era veterano da 2ª Guerra Mundial e um policial rígido. A mãe também era dominadora. Um irmão mais velho era motivo constante de competição. Um dia Arnold estava no cinema e viu "Hércules", estrelado por Reg Park. Park era um fisiculturista inglês que venceu o título de Mr. Universo e foi descoberto pelo cinema. Arnold viu nele um modelo a ser seguido e passou a treinar todos os dias na academia. Ganhou tamanho, músculos e, ao longo dos anos, o mundo, vencendo diversos campeonatos de Mr. Universo e Mr. Olimpia.

Foi para os EUA e, depois de anos vencendo competições, decidiu mudar de rumo e se tornar ator. O físico e sotaque carregado (que tem até hoje) eram obstáculos mas, depois de alguns filmes sem importância, foi escalado para ser "Conan, O Bárbaro" (John Milius, 1982) e começou uma série de sucessos que incluiriam filmes de ação como a série "Exterminador do Futuro" e até comédias como "Irmãos Gêmeos" e "Um Tira no Jardim da Infância". O fato de que ele não sabia atuar era secundário. Com um carisma enorme e confiança tão grande quanto os músculos, Arnold surfou na onda nacionalista da era Reagan e conquistou Hollywood; teve também um adversário à altura, Sylvester Stallone. Stallone diz que não suportava o austríaco nos anos 1980. "Se eu fazia 'Rambo', ele fazia 'Comando para Matar', se eu matasse 15 pessoas em um filme, ele matava 30 no próximo". Pessoalmente, acho que Stallone era melhor (é diretor, roteirista e produtor, além de um ator menos ruim que Arnold), mas o próprio Stallone admite que Schwarzenegger se tornou o "rei".

O terceiro episódio, intitulado "Americano", fala da vida política de Arnold. Cansado dos sets de filmagens e depois de quase morrer em uma cirurgia cardíaca, o austríaco decidiu "defender o público da Califórnia" e se candidatou ao governo do estado (em uma eleição "diferente"; o governador da época estava com a popularidade em baixa e foi tirado do cargo em um plebiscito). Vale dizer que ele já havia se envolvido com a política ao se casar com uma herdeira da família Kennedy, Maria Shriver. A campanha para o governo de Arnold se tornou um verdadeiro circo, mas ele venceu a eleição (e se reelegeu alguns anos depois).

Apesar de bastante elogioso, o documentário não foge de algumas polêmicas que envolveram o astro. Cinco dias antes da eleição na Califórnia, o Los Angeles Times publicou uma reportagem em que mulheres acusaram Arnold e tê-las "apalpado" sem consentimento. A campanha ficou abalada por um momento, mas Arnold pediu desculpas e conseguiu se eleger de qualquer forma. No presente, ele diz para a câmera que o que fez foi errado, não importa há quanto tempo tivesse acontecido. Houve também um caso extraconjugal que terminou com o casamento com Maria Shriver.

Fiquei com a sensação, ao final do documentário, de que o Arnold atual é um homem rico, que realizou muitas coisas, mas que parece alguém sozinho em um grande castelo (o próprio modo como ele é filmado, sozinho em uma mansão enorme, reforça isso). As duas primeiras partes achei mais interessantes do que a terceira. Há depoimentos de James Cameron, Danny DeVito, Jamie Lee Curtis, Linda Hamilton e várias outras celebridades. Ninguém da família. Tá na Netflix.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Tudo pelo Poder

Falta pouco mais de dois meses para o próximo Oscar, o prêmio mais importante do cinema americano. É nessa época que os filmes do circuito comercial apresentam uma qualidade maior do que os tradicionais filmes de ação, efeitos especiais ou comédias românticas. "Tudo pelo Poder" chega como candidato sério a vários prêmios. George Clooney dirige, atua, produz e co-escreve o roteiro desta intriga política; ele interpreta Mike Morris, um dos finalistas à indicação de candidato oficial do Partido Democrata à presidência da república. Clooney é bom diretor, já tendo mostrado seu valor no ótimo "Boa noite e boa sorte" (2005) e em "Confissões de uma mente perigosa" (2002). Ele é abertamente liberal e simpatizante do Partido Democrata, o que não significa que "Tudo pelo Poder" seja um filme enaltecendo o partido. Pelo contrário, é um retrato cínico sobre os bastidores de uma campanha presidencial, em que não basta ser a "melhor pessoa" para ser o melhor candidato.

Ryan Gosling (de "Amor a toda prova") é Steve Meyers, um dos coordenadores da campanha de Morris ao lado do veterano Paul Zara (Philip Seymour Hoffman). Steve é competente mas tem uma característica que, no mundo da política, pode ser um ponto fraco; ele acredita que seu cliente seja não só o melhor candidato, mas um homem íntegro e honesto. "Ele é um político", lhe diz a jornalista interpretada por Marisa Tomei. "Ele vai decepcioná-lo". Morris está concorrendo à indicação democrata contra o Senador Pullman (Michael Mantell), mas seus inimigos verdadeiros estão entre os coordenadores da campanha do adversário, chefiados por Tom Duffy (Paul Giamatti). Como se pode ver, a produção tem um elenco acima da média; Gosling mostra a cada filme que é um ator de primeira e encara de frente feras como Clooney, Hoffman e Giamatti. Este último, como Tom Duffy, representa o tipo de assessor de imprensa que acredita que os fins justificam os meios.

Baseado em uma peça de Beau Willimon, o roteiro foi co-escrito pelo autor com Clooney e Grant Heslov, e é inevitável a comparação com os roteiros que Aaron Sorkin (Oscar de roteiro por "A Rede Social") escreveu para a série política de TV "The West Wing". Os diálogos são inteligentes e revelam o tortuoso processo democrático norte-americano, em que às vezes valem mais os votos dos delegados do que o voto direto da população (deve-se lembrar que George W. Bush chegou à Casa Branca mesmo tendo perdido no voto popular). Para dar mais tempero ao roteiro, Steve se envolve com uma bela estagiária (Evan Rachel Wood, de "O Lutador"), que carrega um segredo que, se revelado, pode se tornar uma "bomba" nas mãos da mídia. Contar mais seria estragar a trama. É curioso como Clooney tenta mostrar que talvez seja possível ser íntegro nas intenções mas podre na vida pessoal. Qual é o limite ético? É válido quebrar as próprias convicções para que o melhor programa de governo chegue ao poder?