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quinta-feira, 25 de maio de 2017

STAR WARS - 40 ANOS

Há 40 anos, em uma galáxia distante, um filme de ficção científica (uma fantasia espacial, na verdade) chamado "Star Wars" chegava aos cinemas americanos. O estúdio que pagou pelo filme (que custou menos que 10 milhões de dólares), a 20th Century Fox, achava que tinha uma bomba nas mãos. O filme era escrito e dirigido por um jovem chamado George Lucas, que tinha no currículo um grande fracasso (a distopia "THX 1138") e um grande sucesso (o filme juvenil "American Graffiti"). "Star Wars" havia sido rodado na Inglaterra e na Tunísia e os efeitos especiais haviam sido feitos por um bando de "maconheiros" na Califórnia, usando técnicas nunca antes testadas. Tinha tudo para dar errado.

"Star Wars", como todos sabem, se tornou não só um sucesso isolado como foi o início de uma saga cinematográfica que incluiria não só vários filmes mas milhares de produtos, bonecos, brinquedos, jogos, roupas e tudo o que se poderia imaginar com a marca.

George Lucas era um rapaz de uma pequena cidade americana chamada Modesto, na Califórnia. Até a adolescência, apesar de ler centenas de gibis e devorar histórias de aventuras, sua maior ambição era se tornar piloto de corridas. Um acidente de carro quase tirou sua vida e mudou o rumo da História. Lucas se tornou mais introspectivo e começou a se interessar por fotografia. Nos anos 1960 ele ingressou na University of Southern California (USC) e, aos poucos, começou a se interessar por cinema. Quem vê Lucas hoje, milionário por causa dos filmes "pipoca" que produziu, não imagina que ele tenha sido influenciado, quando jovem, por filmes experimentais como "21-87", de Arthur Lipsett, feito com sobras de imagens do National Film Board of Canada, em 1964.


O curioso é que o filme de Lipsett fala sobre uma "Força" que uniria os homens e a Natureza, algo que poderia ser confundido com "Deus". A edição não linear e o som fora de sincronia do filme influenciou não só os trabalhos que Lucas fez na faculdade como também seu primeiro longa metragem, a ficção científica "THX 1138" (1971), que foi produzida por Francis Ford Coppola. O número "2187" iria aparecer em "Star Wars" como o número da cela em que a Princesa Leia está presa na Estrela da Morte. "THX 1138" foi massacrado pelo estúdio e um fracasso de bilheteria, embora tenha se tornado um filme "cult" com o passar dos anos.

Deprimido com o fracasso de "THX 1138", Lucas começou a pensar em uma saga espacial baseada nos seriados de "Flash Gordon" que ele via quando criança. Ao revê-los novamente, já adulto, ele viu o quanto eles eram mal feitos e imaginou como seria um filme de aventura espacial produzido com mais dinheiro e efeitos especiais modernos, e começou a esboçar o que se tornaria "Star Wars".



Enquanto isso ele escreveu e dirigiu um filme que era uma homenagem a seus tempos de adolescência, quando passava noites guiando pelas ruas de Modesto, chamado "American Graffiti" (1973). O elenco tinha Richard Dreyfuss (que faria "Tubarão", "Contatos Imediatos do Terceiro Grau" e "Além da Eternidade" com Steven Spielberg), Ron Howard (antes de se tornar diretor) e um ator de 30 anos que também era carpinteiro nas horas vagas, Harrison Ford. "American Graffiti" foi um sucesso inesperado de bilheteria e colocou milhões de dólares no bolso de George Lucas, que ainda não tinha 30 anos.


Sem precisar se preocupar com dinheiro para sobreviver, Lucas embarcou na árdua jornada de transformar um monte de ideias desconexas e centenas de referências em um roteiro de cinema. Ao contrário da lenda que o próprio Lucas espalharia depois, ele não teve uma inspiração súbita que o fez criar uma grande saga de nove capítulos (ou três trilogias), das quais escolheu filmar primeiro a trilogia do meio. Ele escreveria quatro versões até chegar ao roteiro final, mas o começo era bem diferente do filme que chegou às telas em 1977. As fontes eram diversas; histórias de John Carter, Buck Rogers e Flash Gordon deram ao filme a figura do herói puro e inspirador, a heroína forte e dedicada e um vilão claramente delineado. Contos de fadas e o livro "O Herói de Mil Faces", de Joseph Campbell, serviram para estruturar a trama de acordo com mitos antigos e a Jornada do Herói. Filmes de Akira Kurosawa e Westerns de John Ford ajudaram também na estrutura. Munido da quarta versão do roteiro e auxiliado pelas pinturas do artista Ralph McQuarrie, Lucas conseguiu convencer a 20th Century Fox a produzir o filme.


O elenco era composto, na maioria, por atores desconhecidos ou estreantes. Harrison Ford ganhou o papel de Han Solo por sorte; ele estava instalando uma porta no estúdio em que Lucas estava fazendo testes de elenco e foi convidado a participar. Lucas conseguiu convencer uma verdadeira lenda do cinema britânico, Alec Guinness, a interpretar Obi-Wan Kenobi (claramente inspirado em Gandalf, de "O Senhor dos Anéis"). Guinness receberia 150 mil dólares (o mesmo que George Lucas estava ganhando) mais uma porcentagem da bilheteria, o que lhe renderia um bom dinheiro até o fim da vida.

O filme foi um sucesso e gerou duas sequências diretas, "O Império Contra-Ataca" (1980) e "O Retorno de Jedi" (1983), ainda sob supervisão de Lucas. Já no final do século XX, início do século XXI, Lucas voltou à saga escrevendo e dirigindo as famigeradas "prequels", ou os Episódios I, II e III, que receberam críticas mistas, para dizer o mínimo. Em 2012, os estúdios Disney compraram a "Lucasfilm" por mais de 4 bilhões de dólares e investiram pesado na marca Star Wars, lançando "Star Wars - O Despertar da Força" (2015) e "Rogue One" (2016).

O livro "How Star Wars Conquered the Universe", de Chris Taylor (que serviu de base para este artigo), fala sobre como Star Wars não só se tornou um campeão de bilheteria como se tornou parte da cultura mundial.  Mesmo as poucas pessoas que nunca viram o filme já ouviram falar em Darth Vader, Han Solo, Princesa Leia, Luke Skywalker e Yoda. O sucesso do filme mudou a indústria do cinema, salvou a 20th Century Fox da falência e se tornou o modelo do blockbuster moderno. Curioso que o criador disso tudo, no início, queria apenas fazer filmes experimentais e tirar fotografias.

João Solimeo
Câmera Escura

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Rogue One: Uma História Star Wars

Primeiro, aviso de SPOILERS. MUITOS SPOILERS. ESTEJA AVISADO.

Segundo, assisti "Rogue One" no dia da estreia aqui no Brasil mas, curiosamente, não consegui escrever a respeito do filme. Eu o achei fantástico, mas teria sido apenas resultado da baixa expectativa? Resolvi que só escreveria quando o assistisse novamente, o que foi hoje. O que me leva a....

Terceiro: estava a caminho da sala de cinema para rever o filme quando chega uma mensagem enviada por um amigo: "Morreu Carrie Fisher". E lá vou eu rever "Rogue One" com mais esta informação na cabeça. De repente, a cena final toma um significado todo especial. De repente, todas as mortes neste filme (e são muitas) se tornam mais marcantes.

"Rogue One", sem exagero, é um dos melhores filmes já feitos da franquia "Star Wars". O diretor Gareth Edwards (do apenas razoável "Godzilla") e vários roteiristas (Chris Weitz, Tony Gilroy, John Knoll, Gary Whitta) conseguiram a façanha de transformar aqueles títulos iniciais de "Star Wars: Uma Nova Esperança" (1977) em um filmão de guerra e aventura. "É um período de guerra civil. Espaçonaves rebeldes, atacando de uma base escondida, obtiveram sua primeira vitória contra o malvado Império Galáctico", dizia o famoso texto inicial de "Guerra nas Estrelas" (como, por muitos anos, era conhecido o filme). Pois bem, "Rogue One" trata exatamente sobre este feito dos rebeldes em roubar os planos secretos para a famosa "Estrela da Morte", a "destruidora de planetas", como cita um dos personagens. O roteiro vai além, ao explicar até o que sempre foi considerada uma falha na história original de George Lucas, que era a famosa fraqueza na estação espacial, o duto em que  (SPOILER, caso você não tenha crescido neste planeta) Luke Skywalker atira um torpedo e manda pelos ares a "arma final do Império". A fraqueza teria sido colocada lá de propósito pelo construtor da Estrela da Morte, Galen Erso (o grande Mads Mikkelsen), como uma vingança contra o Império que matou sua esposa Lyra e o afastou da filha, Jyn (Felicity Jones).

Não que o filme seja perfeito, veja bem. O começo, principalmente, quando os personagens estão sendo apresentados, patina bastante. É fato que o roteiro passou por grandes mudanças mesmo em estágios avançados da produção. O roteirista Tony Gilroy (dos filmes de Jason Bourne) teria recebido mais de 5 milhões de dólares para reescrever e refilmar grande parte da produção, fazendo mudanças que alteraram vários aspectos da trama, inclusive o final. Quem compara os trailers que foram lançados antes do lançamento com o filme final vai perceber que não só muitas falas foram cortadas como cenas inteiras estão diferentes.

O que importa, claro, é o produto final, e "Rogue One" faz a alegria não só dos novos fãs como dos antigos conhecedores da saga. Esqueça a lenga lenga política e conversas sobre "midichlorians" inventadas por George Lucas nos famigerados Episódios I, II e III. "Rogue One" resgata o ritmo acelerado da estonteante sequência final de "Uma Nova Esperança" e "O Retorno de Jedi" com o lado sombrio e trágico de "O Império Contra Ataca". É melhor até que o bom "Episódio VII", lançado ano passado por J.J. Abrams. Felicity Jones não é grande atriz mas ela está competente como Jyn Erso, uma personagem dividida cujo pai é, aparentemente, um colaborador do Império enquanto a Aliança Rebelde procura sua ajuda. Diego Luna interpreta um rebelde de moral também bastante duvidosa, como se vê em uma cena inicial em que ele mata a sangue frio um companheiro. Há também, claro, espaço para o humor; Alan Tudyk interpreta o robô K2SO, que pode não ser nenhum C3PO, mas tem algumas das falas mais engraçadas do filme. Há também dois atores chineses, Donnie Yen e Wen Jiang, que emprestam ao filme um lado oriental que já estava subliminar nos primeiros filmes de Lucas, fortemente influenciados pelos samurais de Arika Kurosawa. Há diversas sequências tiradas diretamente de filmes sobre o "Dia D", no final da 2ª Guerra Mundial; até o uniforme dos rebeldes lembram o desembarque dos Aliados na Normandia em 1944. 

E temos que falar, claro, da volta de Darth Vader (com a poderosa voz de James Earl Jones); ele faz apenas algumas cenas neste filme, mas o cinema literalmente vem abaixo quando ele luta com os os rebeldes na espetacular sequência final. Quem também está de volta é Grand Moff Tarkin, interpretado além túmulo por um Peter Cushing digital que nem sempre funciona direito, mas impressiona. O compositor Michael Giachinno, que eu sempre considerei o sucessor de John Williams, usa e abusa dos temas originais do mestre mas vai além, criando novos temas em uma das melhores trilhas sonoras de toda saga.

Em suma, "Rogue One" é um grande filme, que serve tanto de homenagem a uma das franquias mais famosas do cinema como também funciona com méritos próprios. As cenas finais, quando testemunhamos o sacrifício dos personagens em prol de "uma nova esperança", são tocantes e muito bem feitas. Curioso que é com uma Carrie Fisher digital, jovem e sorridente, que o filme termina e nos joga em um mar de estrelas, prenunciando o que está por vir.

João Solimeo