quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Tangerinas (Mandariinid)

Este pequeno filme da Estônia é passado no espaço entre as poucas casas de um vilarejo. É o início dos anos 1990 e há uma guerra acontecendo, mas é daquelas guerras europeias em que é difícil saber quem está lutando e porquê. Um letreiro no início informa que a região da Abecácia, ao norte da Geórgia, foi ocupada no século 19 por imigrantes da Estônia. Em 1992 a Geórgia quis retomar o território e quase todos os estonianos fugiram. Apenas alguns permaneceram para trás.

É o caso de Ivo (o ótimo Lembit Ulfsak), um senhor que tem uma pequena madeireira, e de Margus (Elmo Nüganen), que tem um pomar de tangerinas e quer fazer uma última colheita antes de também fugir para a Estônia.

A paz dos dois é perturbada quando um tiroteio acontece no vilarejo. Ivo e Margus conseguem resgatar dois sobreviventes, um mercenário checheno chamado Ahmed (Giorgi Nakhashidze) e um soldado da Geórgia chamado Nika (Michael Meskhi). Os dois, inimigos mortais, se recuperam em quartos separados da casa de Ivo, que tem que lidar não só com os ferimentos deles mas com a rivalidade entre os soldados. "Você perdeu seu tempo tentando salvá-lo, velho", diz Ahmed. "Eu vou matar o georgiano na primeira oportunidade". (leia mais abaixo)


Ivo os trata como um avô trataria dois moleques mal educados, com firmeza, e consegue que eles prometam que, ao menos dentro da casa, não se matariam. Há uma cena engraçada que Margus questiona esta promessa e Ivo lhe diz que ainda há quem cumpra com sua palavra. "E você tem os dois em sua casa?", pergunta Margus.

O filme, escrito e dirigido por Zaza Urushadze, é um dos candidatos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2015. Com uma hora e vinte e três minutos de duração, "Tangerinas" é simples e direto, passando uma mensagem pacifista clara. Ahmed e Nika se odeiam por princípio, mas a convivência, aos poucos, vai quebrando seus preconceitos com relação ao outro. Todo o filme é passado no vilarejo, seja na casa de Ivo ou no pomar de Margus. Eles falam a mesma língua e têm um passado em comum, mas estão em guerra por um pedaço de terra.

A direção de Urushadze é elegante e econômica. A câmera está sempre fazendo movimentos lentos e precisos e os ótimos atores conduzem a narrativa. O final não chega a ser surpreendente, mas é melhor executado do que esperava. É um bom filme que mostra a estupidez da guerra sem precisar de grandes discursos.

João Solimeo
Câmera Escura

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