segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Ida

Cada frame de "Ida", se ampliado e colocado em uma moldura, poderia vencer um concurso de fotografia. Dirigido por Pawel Pawlikowski, "Ida" é um dos indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro (pela Polônia) e, claro, ao Oscar de melhor fotografia, de Ryszard Lenczewski e Lukasz Zal (segundo o site da American Society of Cinematographers, Lukasz Zal fotografou a maior parte do filme). Captado em digital com uma Arri Alexa 4:3 em cores, o filme foi cuidadosamente tratado para resultar na belíssima imagem final em preto e branco e em uma proporção quadrada que remete aos filmes feitos antes da invenção do Cinemascope, nos anos 1950.

Pode parecer apenas preciosismo técnico, mas o formato ajuda a transportar o espectador para a Polônia do pós-guerra, no início dos anos 1960. Anna (Agata Trzebuchowska, em seu primeiro papel) é uma noviça órfã que passou a vida toda em um convento gelado e austero. Ela está para fazer seus votos de castidade e obediência quando a madre superiora lhe diz que ela deve visitar a única parente viva, uma tia. Anna parte para a cidade grande e conhece Wanda Cruz (Agata Kulesza), sua tia. "Você sabe quem eu sou? O que eu faço da vida?", pergunta Wanda. Com um cigarro na mão, um homem desconhecido no quarto e vestindo roupas de baixo, Wanda parece uma prostituta barata, mas neste filme as aparências enganam. Wanda é, na verdade, uma juíza e Anna também não é quem achava que fosse. A tia lhe informa que seu nome verdadeiro é Ida Lebenstein, ela é judia e os pais foram mortos na 2ª Guerra Mundial. (leia mais abaixo)


Relutantemente, Wanda resolve ajudar Ida a descobrir seu passado; as duas partem em direção ao interior e o filme se torna um road movie. Elas formam um par estranho. Wanda é carnal, alcoólatra e fuma um cigarro atrás do outro. Ida, criada como freira, fala apenas o necessário e reza antes de fazer qualquer coisa. No caminho elas dão carona para um jovem músico (Dawid Ogrodnik) que fica encantado com a beleza de Ida. A adição do saxofonista à trama também muda a trilha sonora, inicialmente composta por clássicos, para o jazz. Passo a passo, sempre seguida por Ida, Wanda vai descobrindo o paradeiro dos pais da garota, cujos corpos estariam enterrados em uma floresta no interior. Ela também, logo descobrimos, está atrás de respostas para seu passado.

Encabeçado por grandes interpretações e maravilhosamente filmado por Pawlikowski, "Ida" é tão belo quanto profundo. A personagem principal é como uma tela em branco onde, aos poucos, formas e sombras são projetadas. A inocência dá lugar a questionamentos e descobertas. O plano em que Trzebuchowska solta os cabelos, olhando diretamente para a câmera, vai ficar na sua memória.

João Solimeo

Um comentário:

Carolina Cristina disse...

É, realmente, um filme sensacional!!! Os enquadramentos, em sua maioria fora do padrão, são o que mais me encantaram... Foi para meus favoritos, com certeza!!!